domingo, dezembro 31, 2006

VOLTO PARA O ANO

















Até lá, divirtam-se. Um bom Ano Novo. Bebam à-vontade, mas façam o favor de não conduzir. Chega de desgraça.

EPITÁFIO AO CAIR DE 2006



EPITÁFIO

Mais do que senti-lo,
pressinto-o no instante que se imobiliza:
De novo este ruído surdo,
persistente, de areia fina em movimento.
Este eco inaudível de inutilidade
escorrendo sem fim pelas escuras
paredes do tempo.
Esta presença impalpável, porém objectiva,
firmando-se em luminosa interioridade,
agudo ângulo que a noite vai rectificando.

Em essa voz ciciada me consumo,
mas a paixão inútil que sou
arde por amor dos homens.

(Rui Knopfli, in Máquina de Areia, 1964)

TEXTOS DA MINHA VIDA (9)

Meu querido …..

Num primeiro impulso, pensei “escrever-te” logo após o teu telefonema, cuidando saber do resultado da minha consulta em ……..

De seguida, porém, pareceu-me melhor deixar arrefecer uma notícia que, tal como eu esperava, não podia ser boa.

Sei como estou e a minha formação profissional persiste em subtrair-me ao engano das miragens.

Não tenho mais, portanto, do que continuar a viver (ou a existir) num mundo paralelo ao da maioria das pessoas e esperar que o meu tempo se esgote.

De resto, ao longo da minha vida – que se vai tornando estupidamente longa – eu fui um homem que, quase sempre, viajou sozinho.

Dizendo de outra maneira: a solidão que há perto de trinta anos montou cerco à minha volta é uma velha conhecida, embora nestes últimos tempos de muito difícil e, por vezes, mesmo penosa convivência, mas não vou erguer mais o muro das lamúrias!

Volto a agradecer os recortes de jornais que enviaste.

Com o Rui Knopfli relacionei-me amistosamente, mercê de sentimentos, ideias e gostos que, em grande parte, partilhávamos.

Colaborei, episodicamente, no suplemento literário de “A Tribuna”, jornal que ele muito impulsionou e veio a dirigir por altura da “abrilada moçambicana”.

Por outro lado, num dos seus livros publicados no começo dos anos 60, dedicou-me um pequeno poema a que deu nome de “…………”.

Do texto em si, já não me recordo, mas o título ficou como um sinal de presságio. Não sei se ele tinha os olhos perfurantes e longos dos videntes. Já chega de falar de mim.

(...)

Quanto ao que escreves para os jornais, já te mandei dizer, talvez de forma arredondada aquilo que penso. Tenho para mim que não é quixotismo denunciar toda e qualquer forma de injustiça, mas é minha convicção também que os valores e interesses instalados, seja qual for o poder que os suporte, são como moinhos de vento, contra os quais quase sempre é inútil arremeter.

De quanto me foi possível deduzir, as barricadas parisienses de Maio de 68, foram erguidas contra alguns desses interesses e valores – só que o foram pelas mãos de um revolucionarismo inconsequente – por romântico, por demagógico e por outras razões mais que eu não sei. Passadas três décadas, os “moinhos” lá continuam no seu afã e, varridas as ruas do entulho revolucionário, já nada deve restar nos vazadouros municipais.

A velha máxima latina “primum vivere deinde filosofare” podia servir de epitáfio (ideia minha) para certos acontecimentos e situações. Sem dúvida, viver está sempre primeiro!

Longe de mim, com estas palavras, pretender desviar-te do que tu sintas como imperativo.

Penso que conheces minimamente o chão que pisas e o meio que te rodeia.

Assim sendo, “sem te queimares” aproveita o teu “sol de Primavera”, porquanto como tantas outras coisas nesta vida, também o sonho é fugidio.

Pegando nesse “sem te queimares” veio-me à lembrança o diálogo havido nas vésperas de Alcácer, entre D. Sebastião e um velho fidalgo que desaprovava a empresa africana. Ao reticente conselheiro, terá o Rei perguntado qual era a cor do medo. A resposta terá sido, mais ou menos esta: “Senhor, o medo, por vezes, tem a cor da prudência”.

Evidentemente que não pretendo que sejas medroso; mas é evidente, também que te peço que sejas prudente. Eu, nem sempre o fui, e hoje em dia não posso vangloriar-me de não ter sido.

É que paguei sempre por alto preço os meus erros maiores. Ao percorrê-los, mentalmente, não estou certo de ter feito bem ditando parte destas linhas, porquanto me parece que deixei transparecer algum do meu cansaço. Não era esse, no entanto, o meu propósito. Para outra vez será melhor.

Um beijo para ……….. e outro para ti com um grande e saudoso abraço do teu muito amigo

………………..
Esta é a minha prenda de Natal, atrasada, eu sei, para os leitores deste blogue. A todos desejo um fabuloso Ano de 2007. Eu voltarei para o ano, se Deus quiser, com ideias mais frescas e uma esperança renovada no futuro.

TEXTOS DA MINHA VIDA (8)




















Quand on n’a que l’amour
A s’offrir en partage
Au jour du grand voyage
Qu’est notre grand amour
Quand on n’a que l’amour
Mon amour toi et moi
Pour qu’éclatent de joie
Chaque heure et chaque jour
Quand on n’a que l’amour
Pour vivre nos promesses
Sans nulle autre richesse
Que d’y croire toujours
Quand on n’a que l’amour
Pour meubler de merveilles
Et couvrir de soleil
La laideur des faubourgs
Quand on n’a que l’amour
Pour unique raison
Pour unique chanson
Et unique secours

Quand on n’a que l’amour
Pour habiller le matin
Pauvres et malandrins
De manteaux de velours
Quand on n’a que l’amour
A offrit en prière
Pour les maux de la terre
En simple troubadour

Quand on n’a que l’amour
A offrir à ceux-là
Dont l’unique combat
Est de chercher le jour
Quand on n’a que l’amour
Pour tracer un chemin
Et forcer le destin
A chaque carrefour
Quand on n’a que l’amour
Pour parler aux canons
Et rien qu’une chanson
Pour convaincre un tambour

Alors sans avoir rien
Que la force d’aimer
Nous aurons dans nos mains,
Amis le monde entier

(Jacques Brel)

O PREÇO DE VIVER EM FARO E NÃO SER CAPAZ DE ESTAR CALADO!



Idálio Revez, jornalista do Público, revela na edição de hoje, que numa das duas cidades que cobra os preços mais altos de água, esgotos e lixo de todo o Algarve (a outra é Tavira), “os preços da água, do saneamento básico e da recolha de resíduos sólidos vão aumentar significativamente em Faro, mas ainda não se sabe quanto”. Esclarece o referido jornalista que “o aumento depende de uma auditoria que está a ser feita à empresa municipal Fagar”, empresa que foi constituída em Setembro de 2005 pelo município de Faro, com 51%, e por capitais privados. O vereador Augusto Miranda, número dois do município, profissional aplicado e uma excelente pessoa, esclareceu que o aumento dos preços encontra justificação no financiamento de novos investimentos e na incorrecta avaliação resultante das transformações verificadas no sector com a entrada no negócio das “Águas do Algarve”. Até pode ser que seja mesmo assim.

Mas numa cidade que é, seguramente, uma das mais caras e porcas do país, com ruas pejadas de dejectos caninos, a começar pela porta do meu escritório e da minha casa, em que os contentores de lixo, velhos e imundos, têm as tampas sistematicamente abertas, em que muita gente larga o lixo ao lado do recipiente adequado, onde não existe uma política de cidadania que aplique multas a quem suje os passeios, urine indiscrimindamente pelas ruas, deixe comida para os gatos na soleira da porta ou atire o lixo para qualquer lado, em que ainda por cima já há quem tenha dificuldade – por razões económicas e de feitio – em tomar um banho higiénico, o aumento de preço que se irá verificar só pode ter um sentido: acentuar o mau cheiro e imputar esse mau cheiro à ria.

Depois do Estádio Algarve, do arrastamento da obra do Mercado de Faro, sabendo-se do estado de degradação da cidade, dos buracos e remendos que aparecem a toda a hora no alcatrão da cidade e da passsadeira vermelha dos dez mil euros, suja, esburacada e remendada com fita isoladora, por toda a zona pedonal, há quem chame a isto incompetência. Outros há, como um amigo meu, por natureza inconveniente e que diz as verdades quando não deve, que me sopra ao ouvido ser este o caminho para a regionalização. Eu chamo-lhe apenas tristeza.
P.S. Será que o Apolinário e o vereador Miranda não podem fazer mais nada do que conformarem-se com este estado de coisas? Já bastou o Vitorino!

UM NOJO



Deitei-me ontem à noite com a notícia da execução de Saddam Hussein. Acordei esta manhã com a imagem dele, de baraço à volta do pescoço.

Se ao erro da guerra sucedeu o erro de um julgamento fantoche, seguido de enforcamento “ao vivo e a cores”, isso não significa que haja necessidade de se persistir no erro. E o erro, neste caso, mete nojo. Não sei a quem possa interessar a repetição ad nauseam das imagens da execução de Saddam. Como se não fosse já suficiente termos tido acesso aos actos preparatórios da execução, logo apareceu alguém com essa praga dos anos modernos chamada telemóvel a gravar em directo e na íntegra as imagens da execução, que logo as televisões se apressaram a reproduzir. Estas últimas definem bem o que tem sido o desastre iraquiano e reflectem a insânia, o servilismo e a falta de pudor que se apoderou do Ocidente e da sua comunicação social.

As imagens da execução de Saddam marcam o regresso à idade das trevas. Não das trevas tecnológicas, mas ao abismo ético e moral, aquele em que hoje irresponsavelmente medramos.

Depois de ter feito ontem uma visita particularmente sensibilizadora ao Refúgio Aboim Ascensão (Faro), onde durante mais de duas horas vi o esforço que gente modesta, empenhada e anónima faz pela construção de uma sociedade mais decente, onde pude ver o sorriso terno, doce e ingénuo de centenas de crianças vítimas de uma sociedade que as abandona e continua a ignorar os velhos, não podia deixar de manifestar aqui, na única tribuna que me resta, a minha repulsa, o meu asco, pela dupla barbárie que constituiu a execução do ex-ditador e a divulgação das imagens daquela.

Não sei se será com exemplos destes que se conseguirá a pacificação do Iraque, o progresso da Europa, a diminuição da sinistralidade nas nossas estradas ou a melhoria da qualidade de vida das nossas crianças. Mas de uma coisa estou certo: são exemplos e imagens como as que vi que me continuarão a enojar e me obrigarão a gritar, até que a voz me doa, e a escrever, até que a electricidade falte ou o computador pife, que não é esta a democracia por que luto, não é esta a minha liberdade, não é esta a sociedade que quero construir. A violência gratuita e sem sentido não pode continuar a fazer escola num mundo minado pela guerra, pela fome, pela doença, pelo abandono infantil, pela miséria moral. Poderá não servir para nada, e disso me perdoarão os mais sensíveis, mas nesta altura só me apetece perguntar se não há ninguém que possa mandá-los para a p...* que os pariu.

Oxalá que 2007, mesmo que não traga mais nada, possa emprestar alguma inteligência à sua alma e lucidez aos seus espíritos.
* - censurado num rebate de consciência

RUI MACHETE NO DN

O eterno problema do recrutamento da classe política volta a dar que falar neste final de ano. Embora sem trazer nada de novo, convém ler o que Rui Machete escreveu no Diário de Notícias de hoje (31/12/2006). Gostava que ele nos tivesse esclarecido em que medida o nível medíocre da classe política está presente no seu próprio partido (PSD). Mas num país em que tudo tem de ser politicamente correcto, até mesmo a crítica, o melhor mesmo é não fazer ondas e ir dizendo de mansinho o que se quer. Pode ser que o novo ano nos traga novidades nesta matéria.

A renovação da classe política
(Rui Machete, Advogado)
O 25 de Abril foi, a um tempo, um golpe de Estado feito por militares por razões basicamente corporativas, libertando-se de um regime caduco, e uma manifestação revolucionária de quem sonhava implantar colectivismos marxistas - uma minoria - e dos que pretendiam apenas que Portugal fosse um país normal do Ocidente europeu, com instituições democráticas pluralistas - a grande maioria dos portugueses. Constituiu também ocasião para uma profunda renovação da classe política, substituindo os defensores ou acomodados à dita- dura por quem lhe era contrário. O primado da política que então se viveu levou a que se dedicassem à causa pública muitos dos melhores das gerações mais jovens. As camadas dirigentes e, de modo particularmente nítido, a Assembleia Constituinte e os deputados das primeira e segunda legislaturas são disso prova clara.Pouco a pouco a normalização da vida política permitiu que as actividades económicas e profissionais retomassem o seu lugar habitual. Tem-se vindo, porém, a assistir a uma preocupante degradação na qualidade dos que se dedicam à política e à vida pública em geral, uma vez mais evidenciada nas actividades parlamentares, nos dirigentes partidários e nos autarcas.A opinião pública faz eco da falta de qualificação da classe política, contribuindo ainda mais para o seu desprestígio. Pareceria até que se trata apenas de matéria risível, sem qualquer importância; e, no entanto, a qualidade da governação é, tal como a qualificação dos gestores nas empresas, decisiva para o progresso das nações. O êxito do desenvolvimento económico e social conseguido pela Irlanda entre os membros da União Europeia, tal como o insucesso de muitos países africanos, deve-se em grande medida à qualidade dos seus governantes. Não pode assim deixar de surpreender a leveza com que em Portugal, não apenas em pasquins mas em jornais responsáveis, se discute e admite a possibilidade de esta ou aquela pessoa, sobretudo se situada na oposição, poder ser um candidato credível a primeiro-ministro ou a um outro posto político importante apenas porque é um presidente de uma câmara, um dirigente partidário regional, um economista ou professor universitário mais ou menos competentes. O modo infeliz como se resolveu a sucessão do primeiro- -ministro Durão Barroso constituiu um mau precedente, que ajudou ainda mais a este facilitismo. Seria bom que os critérios de escolha dos candidatos se tornassem bem mais exigentes e sobretudo que apenas alguma experiência nos cargos públicos de certa relevância autorizasse as extrapolações que se pretende fazer.A resolução das dificuldades no recrutamento de uma classe política competente constitui uma questão difícil que se insere, aliás, no problema mais amplo das disfuncionalidades do sistema político português.As causas dessas dificuldades são múltiplas e não se eliminam por decreto. Existem razões profundas e de longo prazo. Citemos apenas uma: a ausência de programas educativos no nível secundário e também no universitário, preocupados em ensinar as metodologias adequadas à abordagem e compreensão das questões públicas, de modo a permitir uma valoração mais informada e objectiva das políticas e dos comportamentos dos políticos. A actual posição marginal que o ensino da ciência política de orientação empírica, anglo-saxónica, com estudo dos casos é demonstrativo do nosso atraso neste domínio. Sem eleitores capazes de formu- lar juízos críticos fundamentados e exigentes é muito difícil conseguir elevar os critérios de selecção dos políticos, quer dos que façam da política profissão quer dos que a ela se dediquem só em certo momento da sua vida.Há também causas próximas de efeitos convergentes mas mais limitados. Indiquemos também apenas uma: a pouca relevância da Assembleia da República na vida do País, derivada da diminuta capacidade legislativa que na realidade possui face à competência do Governo, da agenda das questões que debate, que passam muitas vezes ao lado dos problemas reais mais sentidos pela população, e ainda do pouco nível e do modo retórico como habitualmente são discutidas as matérias de que se ocupa. No sistema político português uma coisa é o normativo constitucional e a posição atribuída ao órgão de soberania Assembleia da República, outra coisa é o seu real papel no domínio dos factos. As interpretações e as teorias explicativas podem certamente variar. Mas duas coisas parecem certas nesta questão crucial: é que sem maior exigência no recrutamento e na valoração dos comportamentos dos políticos dificilmente a qualidade da governação do País registará substanciais melhorias; e que sem melhor educação política e cívica não se conseguirão os juízos críticos do eleitorado com o grau de exigência requerido e necessário.

sexta-feira, dezembro 29, 2006

E NÃO É QUE O SÓCRATES TINHA OUTRA VEZ RAZÃO!


É, e desta vez a maioria nem sequer foi tangencial. Por 10 votos contra 3, o Tribunal Constitucional deu razão ao Governo do Engº Sócrates na questão da Lei das Finanças Locais. Cavaco Silva fez o que tinha a fazer e não ganhou nem perdeu nada. Apenas reafirmou a sua posição no quadro constitucional e institucional português. Ganharam José Sócrates, António Costa, Teixeira dos Santos e Eduardo Cabrita. Perderam todos os do costume, a saber: Marques Mendes e seus acólitos, a começar pelo inenarrável Miguel Frasquilho, mas também Fernando Ruas e a ANMP, Alberto João Jardim e os comunistas dos amigos Jerónimo e Bernardino. Ah, e já me esquecia, também perdeu a Drª Ana Gomes, que nestas coisas e com o seu radicalismo vai remando sempre para onde não deve e levando por tabela. Só fica por apurar se para além da imediata transparência e rigoroso controlo que a nova lei vai impor, os portugueses ganharam alguma coisa mais. Saberemos isso dentro de dois anos e meio. Até lá é beber o champagne. O malfadado ano de 2006 não podia ter fechado melhor para o Governo.

TEXTOS DA MINHA VIDA (7)


Juegas todos los días con la luz del universo.
Sutil visitadora, llegas en la flor y en el agua.
Eres más que esta blanca cabecita que aprieto
como un racimo entre mis manos cada día.

A nadie te pareces desde que yo te amo.
Déjame tenderte entre guirnaldas amarillas.
Quién escribe tu nombre con las letras de humo entre las estrellas del sur?
Ah déjame recordarte cómo eras entonces, cuando aún no existías.

De pronto el viento aúlla y golpea mi ventana cerrada.
El cielo es una red cuajada de peces sombríos.
Aquí vienen a dar todos los vientos, todos.
Se desviste la lluvia.

Pasan huyendo los pájaros.
El viento. El viento.
Yo sólo puedo luchar contra la fuerza de los hombres.
El temporal arremolina hojas oscuras
y suelta todas las barcas que anoche amarraron al cielo.

Tú estás aquí. Ah tú no huyes.
Tú me responderás hasta el último grito.
Ovíllate a mi lado como si tuvieras miedo.
Sin embargo alguna vez corrió una sombra extraña por tus ojos

Ahora, ahora también, pequeña, me traes madreselvas,
y tienes hasta los senos perfumados.
Mientras el viento triste galopa matando mariposas
yo te amo, y mi alegría muerde tu boca de ciruela.

Cuándo te habrá dolido acostumbrarte a mí,
A mi alma sola y salvaje, a mi nombre que todos ahuyentan.
Hemos visto arder tantas veces el lucero besándonos los ojos
y sobre nuestras cabezas destorcerse los crepúsculos en abanicos girantes.

Mis palabras llovieron sobre ti acariciándote.
Amé desde hace tiempo tu cuerpo de nácar soleado.
Hasta te creo dueña del universo.
Te traeré de las montañas flores alegres, copihues,
avellanas oscuras, y cestas silvestres de besos.

Quiero hacer contigo
Lo que la primavera hace con los cerezos.


(Pablo Neruda)

NOVO CARTÃO DE SÓCIO DO FCP


Os meus agradecimento vão direitinhos para o meu amigo Rui Afonso, que de Macau me fez chegar esta "preciosidade". Não lembraria nem ao Gato Fedorento!

AMADEO


A exposição de Amadeo de Souza-Cardoso na Fundação Gulbenkian é uma excelente prenda de Natal para quem ainda não a viu. Pena é que a iluminação fique muito a desejar. Em todo o caso a não perder. Em dois pisos. Só até dia 14 de Janeiro. E se não quiser ficar horas na bicha, o melhor mesmo é entrar entre as 13h e as 14h, quando o povo está a almoçar.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

NATAL


Cristo na Cruz de Diego Velázquez (1631-2)

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

(Vinicius de Moraes)

Volto depois do Natal. Com as prendas.

Até lá, aproveitem para pensar um pouco. É gratuito.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

UM BOM DISCO PARA ESTE NATAL

Trata-se de um gravação excepcional da Harmonia Mundi, de um compositor de quem Corot disse "Celui qui, le premier, joua des oeuvres de Locatelli fut l'apôtre de la nouvelle musique". A prestação da Freiburger Barockorchester e de Gottfried von der Goltz é irrepreensível. Se eu não tivesse já o disco gostaria que mo oferecessem este Natal. Mas quem não tem e tiver bom gosto irá adorá-lo.

FRASES QUE ME FAZEM TER SIMPATIA POR QUEM NÃO CONHEÇO


A procuradora-geral adjunta escolhida pelo Procurador-Geral da República para coordenar o processo do “Apito Azul”, perdão, “do “Apito Dourado”, Maria José Morgado, deu uma entrevista à Sábado. Depois da efémera passagem da senhora pela PJ, de quando em vez ouvia falar nela, lia umas linhas aqui outras ali e ouvia-a perorar de tempos a tempos sobre o fenómeno desportivo, a corrupção e o crime de colarinho branco. Embora não tivesse gostado de ler o bilhete que enviou a Adelino Salvado, entendi que lhe devia ser dado o benefício da dúvida. Não é todos os dias que se vêm neste país de brandos costumes e inefável vida, magistrados tesos, incómodos, a falar de forma livre e responsável, sem que com isso puxem os galões das suas corporações.

Com a breve entrevista que deu à Sábado, Maria José Morgado, mostrou que merece bem mais do que o benefício da dúvida. Já não estamos no campo do mero voluntarismo ou da ingenuidade, mas perante uma mulher de corpo e alma entregue ao seu munus. E isso é bom.

Deixo aqui algumas das frases que foram por ela proferidas e que, sinceramente, espero que não venham a ser corrigidas:

O meu tempo é nenhum e para tal vou ser muito exigente

Todos os processos têm alguma solução. A justiça tem de explicar as coisas num tempo definido.”

O mal do Ministério Público é não haver competição, parecermos todos muito, muito bons e muito, muito iguais.”

O sindicalismo em Portugal foi pernicioso, porque apresentou uma magistratura a olhar para o umbigo e preocupada com meios que são instrumentais, e nunca apresentou uma estrutura preocupada em estar ao serviço do cidadão. É contrário à natureza do sindicalismo, é aquilo a que chamo o espírito sindicaleiro

É, pois, reconfortante saber, como cidadão e advogado, que no meu país também há magistrados a pensar assim. Por estas e por outras é que eu, neste país cheio de bananas armados em homens, recordando o Cinatti, continuo a gostar muito de “mulheres ao alto, ao lado, ao fundo e, adormecido, sonhar fora do mundo”.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

TEXTOS DA MINHA VIDA (6)

Le miroir d’un moment

Il dissipe le jour,
Il montre aux hommes les images déliées de l’apparence;
Il enlève aux hommes la possibilité de se distraire.
Il est dur comme la pierre;
La pierre informe,
La pierre du mouvement et de la vue ;
Et son éclat est telle que toutes les armures, tous les masques en sont faussés.
Ce que la main a pris dédaigne même de prendre la forme de la main,
Ce qui a été compris n’existe plus,
L’oiseau s’est confondu avec le vent,
Le ciel avec sa vérité,
L’homme avec sa réalité.

(Paul Eluard, in Capitale de la douleur, Gallimard, 1966)

A COZINHA DA JOANA


Descobri-o hoje, graças a um post de Eduardo Pitta no seu blogue. Chama-se A Cozinha da Joana e vai passar a ser de consulta quase diária. Sugestões, receitas e crítica gastronómica. E a Joana ainda nos dá os endereços de mais cinco (5!) blogues para gourmets (O Avental do Gourmet, Cinco Quartos de Laranja, Elvira's Bistrot, Chucrute com Salsicha e Momentos da Minha Vida).

terça-feira, dezembro 19, 2006

TEXTOS DA MINHA VIDA (5)


"Meu caro jovem poeta
Pedem-me que lhe escreva, como se o amigo tivesse começado por enviar-me poemas seus, solicitando a minha opinião. Pedem-me também que o considere o jovem poeta ideal, aquele que imaginamos o certo para escutar-nos. Pedem-me enfim — embora isso não seja dito — que eu me suponha o Rilke escrevendo a um jovem que não seja o medíocre a quem ele dizia tão belas coisas. Creio que é pedir demasiado.
De um modo geral, os poetas de reputação firmada, ou que se julgam ou são julgados tais (ninguém tem a sua reputação firmada em literatura, nem depois de séculos de ninguém nos ler e de todos repetirem que somos génios, a não ser que isso importe aos interesses ou desinteresses de alguns professores e críticos), costumam receber poemas ou poetas jovens que solicitam opinião. O poeta "velho" toma tal facto como uma vénia, um reconhecimento, que ele teme perder, por parte da juventude. Mas o que o poeta jovem na verdade procura não é bem uma opinião de alguém mais experiente (qual o poeta jovem que, no fundo, se não sente superior a qualquer mesmo admirado poeta "velho"?), mas sim uma oportunidade de entrar, pela mão de alguém, naquele mundo maravilhoso dos poetas vivos, da poesia pessoalmente, etc., que ele descobrirá ser um sórdido e torpe mundo, inteiramente igual, se não pior (porque se sustenta de uma importância que realmente não tem), àquele, tão comum e familiar, que, nas suas frustrações juvenis, o poeta jovem julga que detesta. Instintivamente, ele sabe que, se não pedir a bênção de alguém, dificilmente fará sem amarguras o seu caminho. Porque a vida literária é uma maçonaria como qualquer outra, onde é escusado imaginar-se que alguém entra forçando as portas. Tudo, na vida, funciona por camarilhas que oferecem a seus membros a tranquilidade de se imaginarem importantes ou, mais ainda, a ilusão de que estão vivos.
Se um conselho, ab initio, se pode e deve dar a um jovem poeta, é o de que perca a inocência juvenil, se venda, se prostitua (o próprio corpo, se necessário for, porque às vezes lho cobiçarão), se dedique à adulação da mediocridade triunfante, ouça respeitosamente as opiniões dos críticos mais influentes porque mais cretinos, e receba em troca a paz triunfal dos sucessos mundanos e literários. Se, depois disto, puder continuar a ser o poeta que havia nele ou que ele sonhava que seria, é um outro caso — mas, por esse segredo, poderá estar certo que ninguém perguntará. Forçar as portas, com um livro, dois livros, uma crítica, duas, muitas, dirigidas contra a infecta pesporrância dos estabelecidos; pedir justiça, em vez de amabilidade; exigir inteligência, em lugar de um comércio de retribuições; procurar a camaradagem limpa, e não aceitar os gestos dúbios; enfim, tudo o que diz respeito à dignidade humana e da poesia, em vez da complacência com tudo e todos — não rende. Nem em vida, nem na morte. Porque as histórias literárias, com raras excepções arquivo de tudo o que a mediocridade alguma vez disse sem ter lido, guardarão longamente, em benefício da posteridade, todo o veneno que os contemporâneos lançaram sobre aquele que, por pretender ser uma pessoa, e um poeta, lhes ameaçava, só por isso, a segurança. Ao jovem poeta, é preciso dizer-se que desconfie do grande poeta vivo que receba consagração geral. Se a recebe, é porque algo está podre naquele reino da Dinamarca.
Quanto aos seus poemas, meu caro poeta, como V. é um poeta inexistente, cujos poemas são imaginários, e como eu não acredito na Poesia, com maiúscula, preexistente aos poemas em que ela exista, que lhe direi? Eu não faço ideia alguma da espécie de poeta que o meu amigo é. Cultiva as imagens e as metáforas, no seu anseio juvenil de seguir uma das modas, e de parecer que diz coisas extremamente profundas, sem na verdade dizer nada? Ou prefere as palavras despedaçadas, uma letra para cada canto, ou os graciosos joguinhos do pata, peta, pita, pota, etc? Isso também se usa muito, e granjeia grande prestígio. Acaso faz ou não faz sonetos, pelo melhor modelo (que é o que funda a tradição parnasiana, um pouco erótica, para a masturbação em família, com os ornamentos do mais safado mas sempre brilhante gongorismo)? Ou está preocupado com os destinos do mundo ou os da pátria, e confunde-os com aquela inacabável tradição que manda os poetas imitar os Nerudas & C.a? Ou a sua poesia é extremamente vaga e diáfana, confortavelmente distante de qualquer afirmação excessiva, neste duvidoso mundo? Ou, pelo contrário, é amplamente discursiva, transbordante de riqueza (termo este muito usado pelos críticos em petição de matéria substantiva)? Como vê, meu amigo, não posso mais que aventar hipóteses, segundo as linhagens mais ilustres do momento. Oh, mas esquecia-me de outra: acaso será herdeiro do surrealismo, com alguma tintura de beatniks e de psiquedélicos da Califórnia e arredores, e compraz-se em insultar o mundo, insinuando perversões horríveis, e despejando sobre ele os palavrões sagrados, por extenso? Não? Não?! Então, meu caro amigo, das duas uma: ou a sua poesia é um regresso aos velhos padrões arcádico-românticos, e sem dúvida terá êxito ainda nos salões de uma profunda província, ou, na verdade, o senhor é um poeta. E, sendo poeta, é-o de tal modo, que a sua poesia não pode ser reconhecida, nem o senhor tem o direito de esperar que ela o seja. Daqui a vinte ou trinta anos, quando estiver alquebrado, exausto, esgotado, descrente da poesia a que sacrificou a sua vida e a de quantos tiveram a desgraça de depender de si, talvez então comecem a reconhecer que o senhor existe. Claro que muito a contragosto, muito de má vontade, com muita reticência... Eles, meu caro, serão sempre os génios; o senhor será também um génio, um génio imenso, um génio enorme, mas um génio mas, um génio adversativo. E pode ter a certeza de que assim ficará nas histórias literárias: sempre com um mas tanto maior, quanto pior seja o génio que não possam negar-lhe.
A poesia, querido amigo, não é o que pensa, não. Ela não lhe pode trazer, se verdadeira for, essa satisfação que transparece da sua tão trémula confiança em si mesmo. Isso, se me permite que lhe diga, é uma ilusão da sua juventude. A poesia não é essa alegria de fazer alguma coisa que nem todos os outros fazem, e que eles aliás desprezam. Não é também esse prazer enganoso de que possui com palavras o amor que lhe escapa, as coisas que não consegue, as ideias que perpassam na sua cabeça, antes ou depois da solidão. A poesia, caríssimo, é a solidão mesma: não a que vivemos, não a que sofremos, não a que possamos imaginar, mas a solidão em si, vivendo-se à sua custa. Já pensou no que isso é? Por ela, o senhor será egoísta, sendo altruísta; será mesquinho, sendo nobre; trairá tudo, para ser fiel a si mesmo. Por ela, o senhor ficará completamente só. E, quando, de horror, penetrar lá onde supõe que o "si mesmo" está para lhe fazer companhia, verificará, em pânico, a que ponto ele não existe, ou já não existe, ou nunca existiu senão como uma miragem, ou existiu, sim, mas também ele o senhor vendeu à poesia, a isso que não tem qualquer realidade senão como abstracção do que o senhor pensa e escreve, e que, por sua vez, é já uma abstracção do que o senhor viveu ou não. Medite um pouco no significado terrível deste ou não, e nunca mais escreva versos ou prosa poética, ou lá que é que escreve para se julgar poeta.
Se for um poeta de verdade, meu caro, o melhor é com efeito não escrevê-los, e deixar de o ser. Porque a única alternativa é pavorosa: ou prostituta, dando à cauda, entre as madamas; ou monstro solitário, rangendo os dentes na treva, ainda quando só tenha visões de anjos tocando flauta, numa apoteose (ou epifania, que é mais elegante, e era o que o Joyce dizia). Guarde os versos, rasgue os versos, esmague os versos, arrase com eles. É isso o que pretende: ranger os dentes, mesmo postiços, pelo resto da vida? Se é, meu caro amigo, então não mande os seus versos a ninguém, não peça opiniões que ninguém pode dar-lhe, não espere conselhos de uma experiência que é pessoal e intransmissível, não solicite uma atenção que não haverá quem lha conceda. A menos que, para fim de festa, pretenda tirar, para seu uso, a contraprova de que a humanidade como humanidade, os povos como povos, as nações como nações, as classes como classes, os grupos como grupos são sempre colecções mais ou menos numerosas de infames bestas. Ou a contraprova de que, individualmente, ninguém vale para além do orgasmo, ou do olhar de simpatia, ou do gesto de ternura. Ainda quando sejam poetas, meu caro, ainda quando o sejam.
Não lhe estou dizendo que não publique os versos, uma vez que tenha ânimo e força para aguentar-se no equilíbrio instável entre a condição de prostituta e a condição de mons­tro. Na verdade, se a tentação que sente é irresistível de escrevê-los, se não procura a fama ou o proveito, se a dor de escrevê-los só se cura com a dor maior de escrever outros, se se sente vazio e triste quando eles estão escritos, e sofre de sentir-se vazio quando vai escrevê-los, e não sabe nunca o que vai escrever, e acha horrível tudo o que escreveu mas não é capaz de destruí-lo, então publique-os, publique-os sempre. E mande-os a toda a gente. Toda. Mas não peça opiniões ou conselhos a ninguém. Deixe que eles todos fiquem amarrados, para sempre, à culpa de o não terem lido, de o não terem sentido, de o não terem admirado. Dê-lhes, se a glória tiver de ser sua, o castigo da sua glória, implacavelmente. No fim das contas, lá onde nas trevas os dentes lhe rangem furiosamente, que isto lhe sirva de alguma consolação: todos eles passarão, como os ratos passam. Mas alguma coisa não passará, por mais que na morte, no silêncio, na paz dos túmulos ou das histórias literárias, se desfaçam em tranquila cinza: essa culpa que, dentro de alguns anos, será tudo o que se recordará deles todos tão poetas, tão aplaudidos, tão queridos das damas e/ou dos efebos, e tão estudados, tão bibliografados, tão comemorados, tão tudo o que lhe terão recusado entre dois abraços e dois sorrisos. Outros ratos virão — mas a culpa fica. Bem sei, meu caro, que não adianta muito, sobretudo se a gente não acredita na imortalidade, ou mesmo que acredite. Consola porém alguma coisa. E dá coragem à gente até ao poema seguinte. É quanto basta. Ou tem de bastar, porque não há mais nada.
Sempre seu (que o manda para o Inferno que é nossa província)
Jorge de Sena"

É MESMO...


Com as minhas limitações e miopias, (…) procurei sempre, (..), ser um homem independente de espírito. Entre parêntesis, exercício particularmente difícil num país como o nosso onde todos se conhecem, se cumprimentam, se abraçam, se felicitam, se elogiam, se invejam e se recomendam”.

(Marcello Duarte Mathias, in Diário de Paris 2001-2003, p. 180)

PRESSÕES ILEGÍTIMAS OU EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA?


Sobre a notícia, que me foi agora transmitida e que pude confirmar no Diário Digital, de que o primeiro-ministro tinha escrito uma carta para o Tribunal Constitucional a juntar 5 pareceres de diversos constitucionalistas, no que foi encarado por alguns actores políticos como um acto ilegítimo de pressão sobre o tribunal e os seus juízes, transcreve-se o n.º 1 do artº 63º da Lei 28/82, de 15 de Novembro (Lei sobre a Organização, Funcionamento e Processo do Tribunal Constitucional), de acordo com as alterações introduzidas pela Lei 143/85, de 26 de Novembro, pela Lei n.º 85/89, de 7 de Setembro, pela Lei n.º 88/95, de 1 de Setembro, e pela Lei n.º 13-A/98, de 26 de Fevereiro:

Artigo 63º(Debate preliminar e distribuição)
1. Junta a resposta do órgão de que emanou a norma, ou decorrido o prazo fixado para o efeito sem que haja sido recebida, é entregue uma cópia dos autos a cada um dos juízes, acompanhada de um memorando onde são formuladas pelo Presidente do Tribunal as questões prévias e de fundo a que o Tribunal há-de responder, bem como de quaisquer elementos documentais reputados de interesse.

Não me foi passada procuração pelo engenheiro Sócrates, mas quaisquer outros comentários são despiciendos. Se a parte visada não se puder defender perante o tribunal, então perante quem se há-de defender?
Adenda: António José Teixeira lembrou ontem (19/12/06) na SIC Notícias que os pareceres foram pedidos antes da aprovação da lei e que situação idêntica ocorreu durante o governo de Durão Barroso. Tomo por boa essa informação, que aliás não foi desmentida, e fico-me por aqui.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

SÓ ATÉ 7 DE JANEIRO

(Pedro de Camprobín, Cesto con melocotones y ciruelas)

A exposição "Lo Fingido Verdadero" ou "The Imitation of the Real" estará patente ao público até 7 de Janeiro de 2007, no Museu Nacional do Prado. Os quadros que compõem esta mostra foram recentemente incorporados nas colecções do Museu do Prado. Constituem a famosa colecção de D. Rosendo Naseiro (Villalba, Lugo, 1935) e foram dados ao Estado espanhol por via de uma dação para pagamento de impostos do Banco Bilbao Vizcaya Argentaria. A não perder.

NÃO É SÓ NO CORTA-FITAS QUE É SEXTA-FEIRA


A fantástica Heidi Klum com umas meias que andam a fazer furor por aí. A ver se os pés não lhe arrrefecem.

UMA MÁ NOTÍCIA


A notícia hoje publicada no Público de que foi declarada a extinção dos golfinhos brancos que habitavam o rio Yangtsé (China). Quem há mais de uma dúzia de anos procurava defender a espécie e teve o privilégio de apoiar, ainda que apenas adquirindo t-shirts e envergando-as, as primeiras campanhas de protecção do WWF, não pode ficar indiferente a essa notícia. Como amante da natureza, mergulhador e apaixonado dos golfinhos brancos, hoje é um dia muito triste para mim. Oxalá seja apenas mais uma má notícia sem confirmação. E que dentro de alguns dias, meses ou anos, eles voltem a dar sinal da sua alegria.

UMA BOA NOTÍCIA

A nomeação de Maria José Morgado para coordenar a investigação do processo “Apito Dourado” é a todos os títulos uma boa notícia.

Desde logo, porque vamos todos ficar a saber, até que ponto a senhora procuradora tinha razão quando se queixava da falta de meios da PJ e da ineficácia de algumas investigações.

Depois, porque se não houver agora novas queixas quanto aos meios colocados ao seu dispor, será possível perceber até onde vai a capacidade de coordenação e a operacionalidade da senhora magistrada.

Em terceiro lugar, porque sendo a investigação coordenada por um dos magistrados reconhecidamente mais capazes e competentes da corporação, com largo currículo e experiência na área do combate à corrupção e ao crime económico, se não forem obtidos resultados aceitáveis num prazo razoável, não poderá depois o Sindicato dos Magistrados do Ministério Público vir dizer que a investigação foi dirigida por gente de fora pouco habilitada.

E, finalmente, em quarto lugar, é ainda uma boa notícia porque dá sinal da atenção e importância dedicada ao caso pela hierarquia da Procuradoria, da vontade do senhor Procurador-Geral da República de envolver a estrutura do MP na sua acção e de não serem dadas tréguas à corrupção e ao actual clima de impunidade, suspeição e promiscuidade que, varrendo todas as estruturas do futebol português, acaba salpicando a magistratura e poder político.

Vamos aguardar pelos próximos capítulos.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

A SEGUIR COM ATENÇÃO

O jornal Tribuna de Macau (JTM) revela hoje, a propósito da detenção na passada semana do ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas do executivo da RAEM, que "Pequim tem sido sempre uma sombra muito presente sobre o processo de Ao Man Long". Acrescenta o referido jornal que "a dúvida prende-se com a própria extensão do envolvimento do Governo Central no início do processo" e que o matutino “South China Morning Post”, de Hong Kong, "escrevia, na semana passada, que a Comissão Independente contra a Corrupção de Hong Kong (ICAC na sigla inglesa), ao deparar-se com alegados movimentos financeiros suspeitos, colocou Pequim ao corrente do caso". De acordo com o referido jornal, "teriam sido as autoridades do Governo Central que pressionaram o Executivo de Macau para que fosse levada a cabo a detenção de Ao Man Long". A notícia não pôde ainda ser confirmada pelo JTM, mas não deixa de suscitar preocupação.
A ser verdade, isso significaria uma intromissão grave de Pequim na vida política, judicial e administrativa de Macau, enquanto Região Administrativa Especial da RP da China. E, nesse caso, o Governo Português teria que tomar uma posição. Tal intromissão representaria uma clara e flagrante violação da Declaração Conjunta Luso-Chinesa sobre o Futuro de Macau, assinada em 1987, pelo hoje presidente, então primeiro-ministro, Cavaco Silva. Mais um caso a seguir com muita atenção, não vá o diabo tecê-las.

REGIONALIZAÇÃO MUSICAL


Anuncia-se, com toda a pompa e circunstância, a estreia absoluta do "Hino do Algarve", que tem música do maestro Armando Mota e a letra do senhor vice-presidente e arquitecto que dirige os destinos da cultura da Câmara de Vila Real de Santo António. Só gostava de saber se os ouvintes vão ter de se levantar e os homens de destapar a cabeça. É que com o frio que está...

... e depois ainda falam em regionalização.


YOLANDA CASTAÑO


A senhora que está na imagem podia ser um modelo. Mas não é. Trata-se de Yolanda Castaño, poetisa, escritora, cronista e critica literária. Natural de Santiago de Compostela, onde nasceu em 1977, além de ser uma mulher belíssima, escreve admiravelmente. Foi secretária da asociação de escritores de língua galega e recebeu o prémio da crítica espanhola em 1998. "Elevar as pálpebras", "Delicias", "Vivimos no ciclo das erofanías", "Edénica" e o "Libro da egoísta" são os títulos das suas obras. Um nome a reter no actual contexto da nova poesia que vem de Espanha. Ah!, já me esquecia, este mês passou a colaborar com a GQ. A edição espanhola está claro.

A NÃO PERDER



Começou dia 5 de Dezembro e vai terminar no dia 4 de Março de 2007. Para quem aprecia estas coisas, os desenhos espanhóis da Sociedade Hispânica da América são fantásticos. Do Século de Ouro a Goya. No Museu do Prado.

MADRID ME MATA (2)



O Plato Y Placer fica numa das zonas mais castiças de Madrid, próximo da estacão de metro de La Latina e da Plaza de La Paja, em plena Calle de La Morería, 9. Cozinha de autor de bom nível, decoração curiosa, uma boa carta de vinhos e sobremesas excepcionais. Recomendo vivamente as alcachofras com presunto e ovos de codorniz e o arroz de lavagante (bogavante). O chefe de mesa não é particularmente simpático, em especial se chegar atrasado, mas se não lhe fizer caso ele manda outra pessoa atendê-lo.



O Ølsen é um restaurante de inspiração nórdica, com cadeirões confortáveis, uma carta de dezenas de vodkas de diferentes sabores macerados artesanalmente. A música é de Josep Arrom. Tem um site em http://www.olsenmadrid.com/. Quanto à comida apenas se pode dizer que é excelente. Das entradas de queijo de cabra com beterraba ao melão com salmão e caviar vermelho, dos raviolis de veado ao lombo de porco com frutos silvestres, sem esquecer as sobremesas e os vinhos, tudo num ambiente desempoeirado e atencioso. Fica logo ali, na Calle Prado, 15.

TEXTOS DA MINHA VIDA (4)



















(Extracto de uma tradução do Rui Knopfli)
(…)
V

Se a palavra perdida perdida é, se a palavra proferida proferida é
Se a ensurdecida, emudecida palavra
Está emudecida, ensurdecida;
Inerte é a palavra emudecida, o Verbo ensurdecido,
O Verbo sem palavra, o Verbo dentro
Do mundo e para o mundo;
E fez-se luz nas trevas e
Contra o Verbo o mundo perturbado ainda rodopiava
Em torno do Verbo silencioso

Ó meu povo, que fiz eu de ti.

Onde se achará a palavra, onde ressoará
A palavra? Não aqui, aqui não há silêncio bastante
Nem no mar ou nas ilhas, nem
Na terra firme, no deserto ou nas regiões pluviosas,
Para aqueles que caminham nas trevas
Tanto durante o dia como durante a noite
A hora certa e o lugar certo não são aqui
Não há lugar de conforto para os que evitam o rosto
Não há hora de júbilo para os que caminham por entre o ruído
E renunciam à voz. (...)


(…)
V

If the lost word is lost, if the spent word is spent
If the unheard, unspoken
Word is unspoken, unheard;
Still is the unspoken word, the Word unheard,
The Word without a word, the Word within
The world and for the world;
And the light shone in darkness and
Against the Word the unstilled world still whirled
About the centre of the silent Word.

O my people, what have I done unto thee.

Where shall the word be found, where will the word
Resound? Not here, there is not enough silence
Not on the sea or on the islands, not
On the mainland, in the desert or in the rain land,
For those who walk in darkness
Both in the day time and in the night time
The right time and the right place are not here
No place of grace for those who avoid the face
No time to rejoice for those who walk among noise
And deny the voice. (…)

(T.S. Elliot, in Ash-Wednesday, 1930)

terça-feira, dezembro 12, 2006

O DILEMA DA LUZ


Onde é que eu já vi este filme?


“El dilema de la luz

La revisión de las tarifas eléctricas par 2007 ha situado al Gobierno en una situación confusa y delicada. Así se desprende tras el vodevilesco episodio de la semana pasada. Primero se informó de una subida media del 10% y después se rectificó con promesas de que el encarecimiento se acompasaría al IPC. El fondo de la cuestión es más fácil de explicar que de creer: el actual sistema de fijación de tarifas genera cada año un déficit cuantioso – 3800 millones en 2005 y unos 4.000 millones en 2006 –, producido por la diferencia entre los ingresos que se obtiene en función de la tarifa que fija ele Gobierno y el dinero que reciben por ley las empresas, que se calcula en función de los costes; para evitar el déficit, la tarifa tendría que aumentar en torno al 20% o 25%, lo cual es políticamente impensable; y si se autorizan aumentos más moderados, el déficit obligará a pagos aplazados durante los siguientes 15 o 20 años, de forma que pagarán la factura las generaciones posteriores.

El equipo económico se encuentra ante una decisión conflictiva. Un encarecimiento significativo de la luz tendría una comparición desfavorable con las rebajas de tarifa aplicadas durante los primeros años de gestión económica del PP e incluso con las subidas por debajo del IPC decididas en 2003 y 2004. Las eléctricas soportaron las rebajas iniciales y las moderadas subidas posteriores debido a la reducción de costes derivados del descenso de los tipos de interés, al petróleo barato y a la bolsa de Costes de Transición a la Competencia (CTC), graciosamente donada por ele primer Gobierno de Aznar. La situación hoy, con el precio del dinero y del petróleo subiendo, es distinta y se advierten los efectos perniciosos de la Ley Eléctrica aprobada por ele PP en 1998, una combinación extravagante de tarifas públicas con un remedo de mercado cuyo precio de referencia pueden manipular fácilmente las empresas.

Lo más correcto seria subir las tarifas de forma sustancial. Por dos motivos: el consumidor debe hacer frente al aumento de los costes de la electricidad, y el precio más caro de la luz puede tener un efecto disuasorio sobre el consumo. Pero no sólo hay que actuar directamente sobre los precios. También hay que cambiar la Ley Eléctrica y desmantelar el seudomercado mayorista, insuficiente y manipulado, por el procedimiento de fijar precios de referencia de volúmenes crecientes de producción eléctrica mediante contratos a largo plazo.”
(Editorial, El Pais, 11/9/2006)

GQ



A edição de Dezembro da GQ espanhola é um portento pela qualidade da imagem e de alguns textos. Para além das fantásticas fotografias de Heidi Klum, das novidades literárias e gastronómicas, há uma entrevista com Francis Obikwelu, esse novo fruto da globalização e da luta contra a adversidade, e um texto sobre Lorca, poeta do século XXI, da autoria de Manuel Francisco Reina. Para quem de quando em vez lê as congéneres portuguesas que por aí pululam, com fotografias de sopeiras armadas em rainhas da moda e textos cujo estilo e conteúdo são de arrepiar, não há nada como ler este número da GQ.

MADRID ME MATA (1)


Voltar a Madrid é sempre uma festa. Há sempre qualquer coisa de novo, de diferente, de único. Na Gran Via 11 abriu um hotel. Até aí nada de especial. Esse hotel tem um restaurante. Quase todos o têm. O que foge à regra é ser um hotel com livros, que logo à entrada do elevador tem uma citação de Júlio Cortazar. E de ter um restaurante com livros que é um verdadeiro deleite para os sentidos. Ao lado do guardanapo um cartão simpático com um curto conto de Natal, alusão à época, de Ray Bradbury. Depois, a decoração é toda ela em tons de laca preta e vermelha, vidros, aço, luzes discretas, mesas negras, design irrepreensível, com um bar simpático, gente bonita, confecção e apresentação exemplares, pessoal atencioso, vinhos de altíssimo gabarito, uma música agradável e o preço…uma agradável surpresa. Para quem gosta de fazer vida de sibarita, nem que seja por apenas um dia, vale a pena ir ao hotel e restaurante “De las Letras” ou, como é mais conhecido “DL’s”.
Aliás, em que outro sitio do mundo me poderiam dar um cartão com o nome do restaurante e uma citação extraída dos Ensaios de Montaigne? Para que não nos esqueçamos que esta vida (e espero que também a outra) está repleta de livros aos quais nem sempre damos a devida atenção. “DL’s” definitivamente.

DE LUVA BRANCA


Mas não foi só em Portugal que aconteceram coisas. Ou, como dizia o poeta, que o mundo pulou e avançou como bola colorida entre as mãos de uma criança. Em Macau, foi detido e exonerado o secretário para os Transportes e Obras Públicas do Governo de Macau. Ao Man Long foi engavetado com mais uma dezena de pessoas, incluindo um irmão e uma cunhada e mais uma série de gente ligada às obras públicas, com funções de responsabilidade. Bastaram 150 horas e uma denúncia para a investigação apresentar resultados. Num dia o secretário apresentava as linhas de acção governativa na Assembleia Legislativa, no outro era detido. Entre outras coisas, as autoridades apanharam-lhe mais de cem mil patacas e dólares de Hong Kong numa gaveta, títulos diversos e com a colaboração da poderosa autoridade de luta anti-corrupção de Hong Kong conseguiram chegar a diversas contas bancárias, imóveis e sociedades ligadas ao ex-governante. Dizem os jornais que nalgumas das suas contas até foram depositados cheques dos casinos de Macau. O seu advogado, o ex-juiz desembargador Mendonça de Freitas, que foi também director da Polícia Judiciária de Macau e Alto Comissário Contra a Corrupção e a Ilegalidade Administrativa no tempo da anterior adminsitração, queixou-se da exposição pública do caso. Fica-lhe bem.

Mas ao dar este sinal, a Região Administrativa Especial de Macau demonstra não estar disposta a pactuar com o espírito e a atitude contemporizadora da antiga Administração portuguesa em matéria de corrupção. Durante décadas, em especial entre 1989 e 1999, Portugal foi incapaz de fazer aquilo que o avolumar e adensar de múltiplas e públicas suspeitas exigiam. Dessa forma se minou aos olhos dos chineses a imagem, a credibilidade e a reputação de Portugal, dos governantes portugueses e da trabalhadora comunidade portuguesa de Macau.

Agora, a RAEM em vez de fugir do problema encarou-o de frente. A China sabe que décadas de laxismo, nepotismo e peculato só serviram para institucionalizar práticas corruptivas no território e desvirtuar alguns costumes chineses.

Edmund Ho continua a dar cartas e depois do caso da Fundação Jorge Álvares esta é mais uma bofetada de luva branca que vai inteirinha para Jorge Sampaio, para o general Rocha Vieira e para antiga potência administrante. Há lições que tardam mas acabam por chegar. Pena é que quem devia não o tivesse visto a tempo.

DOIS DIAS ÚTEIS

Nesta terra onde a vida se tornou inefável, acontece tudo quando eu cá não estou. Bastaram dois dias úteis fora de casa e ficou tudo num pandemónio. A ex-menina de Pinto da Costa e da claque dos dragões escreveu um livro. Quem diria que ela sabia escrever? As arribas desaparecem nas praias e o ministro do Ambiente deu entrevista à beira-mar. A Fundação Soares fez dez anos, o ex-presidente convidou o primeiro-ministro e a seguir meteu os pés pelas mãos quando lhe perguntaram porque não convidou Cavaco Silva. Enquanto isso, a “primeira dama” – que designação mais pirosa e provinciana! – anda a promover presépios. Os trabalhadores da EDP ovacionaram João Tallone, certamente para espanto de Carvalho da Silva e dos seus comparsas sindicalistas. Freitas do Amaral rompeu o silêncio e deu uma entrevista. Paulo Portas veio dizer que os políticos espanhóis são melhores que os nossos (melhores, mais cultos e mais civilizados), ao mesmo tempo que o PSD Algarve voltava a escolher Mendes Bota para seu líder. O Grupo Espírito Santo contratou Maria de Belém para lhe prestar assessoria. A senhora, por seu turno, considerou perfeitamente compatível essa sua situação com o estatuto de deputada…

E eu que pensava que neste país só havia futebol.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

INTERMEZZO

Este blogue não está de férias, nem fechou para obras. O seu autor é que tem andado ocupado, mas espera regressar, em força, a partir do próximo dia 12.

Até lá...fiquem com a Sophia.

Os navegadores


O múltiplo nos inebria
O espanto nos guia
Com audácia desejo e calculado engenho
Forçámos os limites –
Porém o Deus uno
De desvios nos protege
Por isso ao longo das escalas
Cobrimos de oiro o interior sombrio das Igrejas

(Sophia de Mello Breyner, in Ilhas, 1990)

sexta-feira, dezembro 01, 2006

POR OCASIÃO DA RESTAURAÇÃO















IBÉRIA




Partir o tempo em dois
Criar um antes e um depois
Imperceptíveis. Vermelhos.

Por fim, separá-los por uma longa hera
Verde,
E percorrer então cada segundo de ti,
Poro a poro, paciente,
A refazer-te.

PROPOSTAS INDECENTES

O Expresso revela hoje que o presidente da concelhia de Lisboa do Partido Socialista e líder deste partido na Assembleia Municipal, pretende reeditar a coligação com o Partido Comunista nas próximas eleições autárquicas. E quer ainda que o Bloco de Esquerda participe nessa mesma coligação.

Do senhor Miguel Coelho só lhe conheço o patusco penteado e meia dúzia de declarações, algumas das quais inoportunas. Não tenho nada contra. Também não tenho nada a favor. Mas custa-me perceber a lógica deste tipo de coligações.

Lisboa tem sido um manancial de erros para o Partido Socialista depois da saída de Jorge Sampaio e do consulado de João Soares. Decisões politicamente inoportunas, erros de estratégia de bradar aos céus, candidatos que têm sido um desastre, listas cozinhadas entre os maiorais do partido. Eleições sucessivamente perdidas para fantasmas que andam por aí. Depois veio um desastre chamado Carrilho, com a petulância elevada à condição divina, e uma campanha medíocre. Seguiu-se mais recentemente o edificante episódio Gaioso...


Há casamentos que não são aceitáveis para as pessoas decentes. Nem mesmo de conveniência, porque também há conveniências inaceitáveis. Se Miguel Coelho pretende enterrar de vez o PS em Lisboa é avançar rapidamente para a coligação. Quanto mais cedo melhor. Essa é a única forma dos eleitores ficaram definitivamente esclarecidos sobre o grau de aselhice da concelhia de Lisboa. No mesmo momento em que o PCP é severamente criticado pelas suas atitudes – absolutamente normais no partido que é – em relação à forma como gere a sua bancada parlamentar, descartando-se da sua tralha e escorraçando os servos que lhe prestaram relevantes serviços, a pretexto de uma renovação, não de mentalidades ou de atitudes mas para colocação de servos mais jovens, o que se faz zombando do sistema parlamentar e da representação proporcional, eis que surge Miguel Coelho a querer reeditar a asneira. A asneira é como a mentira. Por muitas vezes que se repita não deixa de ser asneira. E Lisboa já o demonstrou por mais do que uma vez.

Quando será que o PS vai perceber que perdeu a Câmara de Lisboa, não por não estar coligado com o PCP, mas apenas por incompetência nas escolhas, por notória falta de perfil dos candidatos, por uma má condução da campanha e, em especial, por querer submeter a vontade dos seus eleitores aos terratenentes do aparelho lisboeta do PS?

TEXTOS DA MINHA VIDA (3)





FACTO


Tenho aprendido muito convosco, ó amigos homens,
a gostar de aventuras e, sobretudo,
mulheres ao alto, ao lado, ao fundo
e, adormecido, sonhar fora do mundo.

7/12/76 (Ruy Cinatti)