terça-feira, janeiro 31, 2012

Rolling Stone Itália

A edição italiana da Rolling Stone faz nove anos e atinge o número 100. Como forma de comemorar o evento e para os apaixonados da música italiana, traz uma lista dos 100 discos mais belos dos últimos 50 anos que ainda vai dar que falar. Ela pode ser vista aqui.

Lapsos a mais

Não é por nada, mas a data dos despachos e a da respectiva publicação - 27 de Janeiro - faz-me pensar que há lapsos a mais. Independentemente das razões para as nomeações, que aqui não coloco em causa, se os subsídios não são para serem pagos, pelo menos enquanto durar o programa da troika, por que razão os despachos, que podem ser consultados via internet no original do Diário da República e sem as desagradáveis marcações a vermelho, não tem mais um número a dizer isso mesmo? Se isso fosse feito dissipavam-se muitas dúvidas e eu deixava de receber este tipo de "correspondência" que depois circula por aí e só serve para indispor quem já estava nos serviços e foi brindado com os cortes.
Gabinete da Ministra
Despacho n.º 1210/2012
1 — Nos termos do disposto no n.º 3 do artigo 2.º do Decreto -Lei n.º 262/88, de 23 de julho, nomeio o licenciado Ricardo José Galo Negrão dos Santos, para realizar estudos, trabalhos e prestar conselho técnico ao meu Gabinete no âmbito da área da informática e das novas tecnologias, pelo período de um ano, renovável automática e tacitamente por iguais períodos, podendo a presente nomeação ser revogada a todo o tempo.
2 — Ao nomeado é atribuída a remuneração mensal correspondente a € 3892,82, acrescida dos subsídios de férias e de Natal de igual montante, subsídio de refeição, bem como das despesas de representação fixadas para os adjuntos dos gabinetes dos membros do Governo.
O presente despacho produz efeitos a 1 de janeiro de 2012.
19 de janeiro de 2012. — A Ministra da Justiça,
Paula Maria von Hafe Teixeira da Cruz.                             205646465

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Justo destaque

Embora nunca tivesse sido meu professor, lembro-me dele no meu primeiro ano de Direito, pois tive oportunidade de ouvi-lo uma ou outra vez. Mais tarde, a propósito de uma investigação que fiz no âmbito de um mestrado, comecei a acompanhar mais de perto a sua produção científica e, também, a "jornalística". Naturalmente que a forma frontal e cristalina e a justeza de muitas das suas teses, nem sempre consensual, aliada à dimensão enciclopédica dos seus conhecimentos e à sua formação humanista e cívica, granjearam-lhe as merecidas reputação e notoriedade pública. A publicação do Abecedário Simbiótico é mais um passo nesse caminho há tanto trilhado de afirmação do homem e do intelectual. Não é um livro que se leia como um romance. É mais do tipo para se ir lendo e reflectindo, sem pressas, devagar, pelo caminhar dos dias. Afinal a única forma de se ir percebendo e apreciando a beleza das coisas.    

Sinais (58)

" A austeridade que nos estamos a autoinfligir tem dois únicos méritos: a desalavancagem de uma economia demasiado habituada a viver a crédito e a redução da despesa do Estado, que atingiu proporções absurdas na última década. Mas a velocidade a que estamos a tentar atingir esses objetivos está a provocar efeitos colaterais demasiado graves. E, paradoxalmente, vai acabar por pôr em causa a consolidação orçamental. A receita fiscal está condenada a ficar abaixo do previsto pelo Governo". - Ricardo Costa, Expresso, 28/01/2012. 

Sinais (57)

"Sim, é verdade. Tive de me vergar ao Governo da República" - Alberto João Jardim, presidente do Governo Regional da Madeira, em resposta a um jornalista.

A ler

Muitos já escreveram sobre a autárquica aldrabice. Eu também me incluo nesse número e foi com muita atenção que li o texto de Pedro Marques Lopes. Refiro-me ao  artigo do Diário de Notícias que aquele  comentador, assumidamente do PSD e que publicamente confessou apoiar e ter votado nesse partido, hoje fez publicar. Reafirma-se a aldrabice da reforma para "inglês  ver". Pedro Marques Lopes desmascara-a com a incisividade e a honestidade habituais. A direita não são aqueles senhores que transitoriamente ocupam a cadeira do poder. Na direita também há gente séria, gente que pensa e que não vai atrás de cantigas.

sábado, janeiro 28, 2012

Sinais (56)

"Uma outra ‘poll' da Reuters junto de 20 economistas mostra que a economia portuguesa deverá registar uma quebra de 3,2% este ano - pior do que a contracção de 3,1% prevista pelo Banco de Portugal e do que a quebra de 3% antecipada pelo Governo e pela troika - e estagnar em 2013. Na última sondagem realizada em Novembro, os economistas esperavam, em média, uma contracção de 0,9% do PIB no próximo ano." - Diário Económico

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Manuel Carvalho da Silva

Durante mais de duas décadas foi o rosto da contestação sindical permanente. Percorreu o país de norte a sul, sozinho, com os seus, às vezes também com os outros. Foi para muitos, durante todo o tempo em que liderou a CGTP, o rosto da desgraça, o mentor da revolta. Irritou muita gente. Outros estar-lhe-ão agradecidos. No intervalo das lutas sindicais aproveitou para crescer como homem. Estudou, doutorou-se. Enquanto liderou falou com todos, com os mais fortes, com os mais fracos, com os mais ricos, com os mais pobres, e também com os outros, com os que vivem abaixo da linha de água. Nunca tive por ele outra  admiração que não fosse a de reconhecer nele um lutador, muitas vezes mesmo pensando que ele estava fora do seu tempo. Ainda hoje creio que assim será em muita coisa. Mas não posso deixar de registar aqui o percurso político e humano de Manuel Carvalho da Silva. Outros enriqueceram no sindicalismo e à custa das lutas sindicais. Ele sai como entrou. Com as convicções de sempre, de mãos e peito aberto, sem medo. Como sempre esteve. Só isso já seria suficiente para merecer duas linhas. Mas numa terra de gente medrosa e onde muitos continuam a ter receio de expor as suas convicções com medo que lhes falte o pão ou que sofram represálias de quem tem a faca e o queijo na mão, é duplamente reconfortante saber que ainda há homens desta têmpera, com carácter. Ainda que quase sempre ele tenha estado num azimute muito diferente do meu. Convém não confundir as coisas. É isso, e só isso, que quero sublinhar aqui.   

Sinais (55)

"PSD e CDS-PP dividem poder na Direcção Regional de Agricultura - Partidos do Governo acedem a lugares-chave à frente das principais instituições da região" - Postal, Semanário Regional, 27/01/2012

Ó Relvas! Então este não era dos vossos?

"Não esperava ter razão tão depressa. Melhor: não esperava que o diagnóstico realizado pelo grupo de trabalho para o serviço público de comunicação social se revelasse tão certeiro tão depressa: é que foi há apenas dois meses que dissemos temer o "modelo de informação que o Governo aparenta defender, por considerarmos que permitirá perpetuar a influência, quando não a interferência, do poder político" na televisão e na rádio públicas. Ora, aí está: por mais justificações pífias que se procurem, não restam muitas dúvidas sobre a relação directa entre um lamentável programa emitido pela RTP a partir de Angola e o fim das crónicas de Pedro Rosa Mendes nas manhãs da Antena 1.

A primeira vergonha começou com a emissão, a partir de Luanda, de um Prós e Contras rebaptizado como Reencontro. Quando conheci o objectivo da produção luandense coreografada por Fátima Campos Ferreira temi o pior - quando assisti à emissão, o pior foi ainda pior. Não fiquei apenas pessoalmente incomodado, senti que a democracia portuguesa saía dali enxovalhada.

Pedro Rosa Mendes, um profundo conhecedor de Angola, foi magistral na sua crítica àquela vergonha. (...)

Por isso não duvido de que Pedro Rosa Mendes não falta à verdade quando revela que lhe foi dito que 'a administração da casa não tinha gostado da última crónica sobre a RTP e Angola'. (...)

Tenho por hábito ser frontal e inconveniente, pelo que não posso fingir que não vejo. E quem, na RTP, deu a cara pelo fim da série de crónicas Este Tempo, que incluía a contribuição de Pedro Rosa Mendes, não foi a administração, pois esta sacudiu rapidamente a água do capote."

"(...) Isso é tanto mais verdade quanto os tempos são de crise e, no país, como disse Rosa Mendes, se instalou "uma noção puramente alimentar da dignidade individual". Ora se isso se traduz em "está caladinho para guardares o trabalhinho", se no país os governos já têm poder a mais, então que não tenham também tanto poder numa área tão sensível como a rádio e a televisão. (...)

"(...) Portugal, infelizmente, não se tem dado ao respeito na sua relação com Angola e com as autoridades de Luanda. O preço que pagamos são humilhações constantes e endoutrinações sobre as virtudes de caminhar de espinha vergada".  

Vale a pena ler os dois textos de José Manuel Fernandes, no Público, de hoje, intitulados, respectivamente, "RTP, episódios de uma eterna servidão" e "Não ganhamos nada com a vassalagem a Angola" . Seis meses bastaram, seis delirantes meses com Miguel Relvas a baralhar e a dar jogo. Foi o suficiente para se acabar o stock de Haze e a pocilga começar a feder. Quem não os conheça que os compre. E falavam eles dos outros...
(imagem "surripiada" no Alto Hama)

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Sete décadas gloriosas

Podia ter sido maior do que o mundo. Podia ter sido presidente da República, rei, princípe, administrador de empresas, maçon, banqueiro, político, sei lá, o que ele quisesse. Mas não foi nada disso. Foi apenas tudo e mais alguma coisa. Para além das botas de ouro, das taças dos campeões europeus, dos campeonatos e das taças de Portugal, foi um excelente professor de geografia e homem como poucos: nas lições de vida, no exemplo, no profissionalismo, na sinceridade, na humildade, nos grandes e nos pequenos momentos da vida. Dele será pouco provável que o ouçamos queixar-se de alguma coisa, menos ainda do valor da sua reforma. Por isso é que setenta anos depois temos todos o dever e também a sorte de podermos festejar os seus setenta anos. O seu nome marcou uma era. Em Portugal há um futebol a.E. e um d.E. Há um antes de Eusébio e um depois de Eusébio. Depois dele nada ficou igual. Por isso podia ter sido tudo. Não quis. Preferiu continuar a ser apenas o Eusébio. E isso, no caso dele, é tudo. O suficiente para fazer dele um imortal. Parabéns, patrício. Que Deus e a Luz te continuem a iluminar.

terça-feira, janeiro 24, 2012

Sem emenda

Já perdi a conta ao número de vezes que o PR teve de vir esclarecer o que tinha dito antes. Uma vez mais escusava ter-se dado ao trabalho. Para dizer o que disse não valia a pena. Porque todos percebemos muito bem o sentido das suas pausadas e ponderadas palavras. Admito que o PR não queira ficar à margem dos sacrifícios exigidos a todos os portugueses. Ninguém quer ficar mal visto aos olhos dos seus concidadãos. Ele não é diferente destes. Mas o ideal seria que quem tem de fazê-lo o fizesse de modo a que não fosse necessário mexer nas suas próprias pensões. Foi o que eu percebi do esclarecimento. Não é por nada, mas creio que isso já tinha ficado bem claro. Isso e mais algumas coisas que não foi preciso esclarecer.

segunda-feira, janeiro 23, 2012

A ler

O artigo de Pedro Marques Lopes no Diário de Notícias. É a queda de um mito. De latão.

Sinais (54)

"O rigor de sempre deu lugar a uma frase demagógica que podia ter sido dita por qualquer membro do governo de Sócrates. Há cerca de um ano, mais precisamente no dia 12 de Janeiro de 2011, o governo português acordou a tremer com uma notícia do "Financial Times Deutschland" que garantia que Bruxelas tinha preparado um pacote de resgate para Portugal. Mas, nessa mesma manhã, Portugal conseguiu emitir 1200 milhões de euros de dívida pública e o gabinete de Sócrates garantiu que aquela emissão era um momento de viragem. Viu-se..."

"Espero, e acredito, que numa segunda fase promovam crescimento, igualdade de oportunidades, e justiça. Mas até lá, por favor, não falem em sinais que não existem." - Ricardo Costa, Expresso, 21/01/2012  

domingo, janeiro 22, 2012

Orquídea de aço

Gosto de cinema. Gosto de uma história bem contada. O filme de Luc Besson é uma história sem pretensões mas que nos vem recordar a luta dessa flor de aço que é Aung San Suu Kyi e o drama que foram os últimos anos da sua vida, dilacerada entre o amor ao seu povo e a fidelidade ao marido. Michael Aris acabaria por falecer vitimado por um cancro, longe da mulher que sempre amou e que ele ajudou a conquistar o Nobel. Vi "The Lady" numa sala em que eramos apenas dois, longe do barulho e do cheiro das pipocas. O filme de Besson e a excelente interpretação da malaia Michelle Yeoh são um grito contra o esquecimento, um alerta para que não nos esqueçamos do drama daquele povo. Visionar "The Lady" é uma forma de censurarmos os crimes dos militares birmaneses e uma justa homenagem ao estoicismo e à beleza da incansável lutadora.  

O ministro é que sabe como elas se fazem

Uma desgraça nunca vem só

Há momentos em que valeria a pena ser cego, surdo e mudo. Na segurança da sua casa um cidadão pode imaginar o que seria esse luxo mantendo todas as suas capacidades. Um Presidente da República não.

Na sexta-feira passada, o País foi abalado por uma declaração de Aníbal Cavaco Silva. Não foi o cidadão quem falou, foi o Presidente da República. O PR aproveitou um encontro com jornalistas, no meio de uma das muitas visitas que faz, para se queixar do valor da sua reforma. É natural que quem não está satisfeito se queixe, que proteste, que vá para as ruas de megafone. E tire partido daqueles que lhe põem à frente. Já não é normal que um Presidente da República em exercício o faça como se fosse um cidadão qualquer, um contestatário anónimo.

Mas, afinal, o que disse o PR? Queixou-se, qual Calimero, do valor da “sua reforma”. A “sua reforma” que, afinal, são três: uma da Caixa Nacional de Pensões, outra do Banco de Portugal e, ainda, uma subvenção vitalícia pelo tempo em que exerceu cargos políticos. Quem em casa o ouviu ficou a pensar que o PR não recebe o salário inerente à função que desempenha, mas apenas uma reforma da Caixa Nacional de Pensões de € 1300,00 (mil e trezentos euros). Só que a dado passo, certamente traído pelo número de microfones, Aníbal Cavaco Silva disse que “tudo somado, o que irei receber do fundo de pensões do Banco de Portugal e da CGA quase de certeza que não dá para pagar as minhas despesas”.   

Eu não sei quais serão as despesas do Presidente da República. Também não sei quais serão as despesas do reformado Aníbal Cavaco Silva. Mas todos os portugueses sabem que, fiando-se no que diz, não será homem de vícios. Não bebe, não fuma, não se droga, não consta que frequente lupanares. E qualquer cidadão perceberá facilmente que, enquanto PR, o cidadão Aníbal não paga renda de casa, água, luz, gás, a maior parte das refeições, gasolina, estacionamento ou empregada doméstica. E no dia em que o cidadão Aníbal deixar de ser PR passará a auferir de uma pensão que, “tudo somado”, andará, não pelos € 1.300 que ele insinuou, mas pelos € 9.000,00 (nove mil euros).

Custa perceber o que pode levar o PR, o cidadão Aníbal Cavaco Silva – o mesmo que trepava coqueiros em São Tomé como se fosse um símio, que ajudou a promover gente como Oliveira e Costa, Duarte Lima ou Dias Loureiro, e que mantém como assessor um fulano que depois de andar metido num obsceno caso envolvendo um jornalista do Público acabou há dias a explicar num jornal brasileiro que a sua concepção da democracia, em matéria de liberdade de imprensa, não será muito diferente da de um general birmanês –, a fazer afirmações do jaez da que produziu.

Também não sei se o PR tem a exacta noção do que disse. Sei, todavia, que omitiu aos portugueses uma parte substancial dos seus rendimentos. Induziu-os em erro. Porque quem fala como ele falou sabia do que estava a falar. E se formos a analisar os casos em que este PR andou metido, verificaremos que, para além dos episódios relativamente recentes das escutas e da protecção ao seu assessor Fernando Lima, omitiu aos portugueses, numa outra declaração pública, os seus ganhos em Bolsa por via do BPN e das ligações a Oliveira e Costa ou os dados relevantes sobre a forma como adquiriu uma casa na Urbanização da Coelha. Bastará recordar a forma como fez de conta, enquanto pôde, dos problemas em que Dias Loureiro estava envolvido, disfarçando ser este um homem da sua máxima confiança, para acabar desvirtuando o sentido da sua vitória eleitoral com um discurso que destilou acinte. Era pouco. Por isso, esta semana veio queixar-se dos trocos que tem no bolso. Ou melhor, da sua falta.

Já todos tínhamos desconfiado da sua posição quanto ao corte dos subsídios imposto por um governo da sua cor e confiança. E foi patente a sua falta de nível quando referiu, em plena campanha eleitoral, o valor da reforma da sua mulher. Como se esta fosse uma desgraçadinha enjeitada acolhida por ele. Agora, Cavaco Silva, o PR, desceu a um nível nunca visto. Fê-lo sem decoro. Pior, sem a noção do ridículo.

Não se espera de um PR que faça discursos miserabilistas. Que assuma o papel do desgraçadinho ou que omita deliberadamente factos públicos e notórios relacionados com a sua pessoa só para se proteger. Menos ainda que assuma o papel de um merceeiro avarento para se queixar do valor das reformas que recebe.

Para quem descontou durante os mesmos trinta ou quarenta anos que o PR e recebe uma pensão de 500, 600 ou 1000 euros por mês, será fácil perceber que com valores dessa ordem de grandeza seja difícil pagar as todas as despesas do mês. Para qualquer cidadão será muito mais complicado compreender como é possível receber cerca de € 9.000,00 por mês, não gastar um cêntimo com o exercício ou por causa das suas funções, e no final encontrar justificação para ainda assim se queixar.

O cidadão Aníbal Cavaco Silva não merece ser Presidente da República. Não tem atitudes dignas da função que desempenha. É o meu juízo objectivo. O cidadão em causa, pela forma como exerce as suas competências, pelas declarações miserabilistas que profere, revela não ter, nunca ter tido, estatura para desempenhar o cargo. A vitimização não faz parte da nossa herança histórica. Quem diz o que o PR disse esta semana, da forma como o disse, sem gaguejar, desvirtuando os factos para ganhar a compaixão dos seus concidadãos, ofendendo de forma gratuita e insultuosa a maioria dos portugueses que nem em sonhos terão uma reforma como a dele, demonstra não ser digno da História de Portugal. Os cidadãos que diariamente fazem fila na Segurança Social e no Centro de Emprego de Faro para tentarem obter os meios que lhes permitam pagar a água, a luz ou a escola dos filhos, não percebem o que disse o cidadão Aníbal Cavaco Silva. Nunca perceberão. Ninguém no seu perfeito juízo, à direita ou à esquerda, lavrador ou administrador de empresa, alcança as declarações do PR.

Limito-me a confirmar o que sempre pensei dele. Do cidadão e do político. O que foi dito não constituiu um lapso. É um traço do seu carácter. O seu discurso, mesmo que não pudesse ser visto à luz do seu passado político, é mais do que um simples complexo. Ou uma confissão. É a prova do fracasso da educação na formação do carácter. Os conhecimentos, a mobilidade e a ascensão social que a formação académica lhe proporcionou, foram incapazes de lhe moldar ou alterar o carácter. O seu discurso denota a existência de falhas graves na formação da sua personalidade, com reflexo cada vez mais evidente no desempenho das suas funções políticas. No discurso de Estado. É triste, pois é. Mas como escreveu o insuspeito António Ribeiro Ferreira, “as crises servem para muitas coisas, até para descobrir as pessoas, o seu carácter e a forma como estão na vida. A natureza humana revela-se sempre nestas alturas, no pior e no melhor”. Lamentavelmente, esta crise tem revelado, além de um Presidente da República incapaz de corresponder às exigências do momento, o pior do cidadão Aníbal Cavaco Silva.

Sinto-me envergonhado. Estou triste. E revoltado. Ser um mau Presidente da República é um azar. Pode acontecer a qualquer um que exerça as funções. Na pior das hipóteses dura dois mandatos. É um custo da democracia para o qual todos estão preparados. Já um cidadão com uma personalidade mal formada é para sempre. É um vírus que afecta toda a nação. Um cidadão perdido. Uma alma penada. Nunca se está preparado para uma tragédia.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Já me falta a paciência

Mas este tipo não se enxerga? Olhe, Senhor Presidente, aperte o cinto, mude de hábitos. É o que nós também fazemos. Em vez de ir ao Sueste comer um robalinho, agarre na sua madame e nos netos e vá ao McDonald's comer uns douradinhos. Talvez assim a reforma já lhe chegue. Enxergue-se, homem, tenha vergonha.

Este também foi indicado pelos accionistas?

Não está em causa o mérito do nomeado, de quem aliás sou admirador da escrita e da superior valia cultural e intelectual. Mas politicamente, depois de tudo o que tem acontecido nos últimos dias, será sensato continuar a nomear desta forma? Não há ninguém competente fora da área do Governo? Nem um para a amostra? Só os fundamentalistas ligados ao PSD têm currículo para aceder à manjedoura? A lista de favores nunca mais acaba de ser paga? Lucidez já se viu que é coisa inexistente, mas vergonha também não há? Como é possível pôr o País a tresandar em tão pouco tempo? 

Sinais (53)

"Em Portugal, está visto, não basta privatizar uma empresa para que as mãos do governo se afastem do destino dos negócios, e suspeito que de tal não estava a troika à espera. É por isso que temos de fazer muito mais, se quisermos realmente um Portugal diferente deste Portugal paroquial e nepotista que é, de certa forma, o Portugal de sempre" - José Manuel Fernandes, Público, 20/01/2012

Sinais (52)

"Ministro vê "sinais" e "viragem", mas risco de incumprimento está nos 66%"

"Gaspar vê pontos de viragem onde os mercados vêem default"

"As taxas de juro no mercado secundário voltaram a bater recordes"

Público, 20/01/2012

A LER

"(...) no fundo ninguém parece levar a sério, sabendo que da 'promoção do empreendedorismo' à 'redução dos custos de contexto' ou a outra qualquer política fantasista e misericordiosa nada passará de conversa para iniciados." - Vasco Pulido Valente, Público 

O ANO DO DRAGÃO

Começará à meia-noite de 23 de Janeiro para só terminar no dia 9 de Fevereiro de 2013. Trata-se do quinto signo do zodíaco chinês e significa sorte. E este será um ano do dragão vermelho, o que poderá ser ainda mais auspicioso. É então altura de desejar a todos os leitores e aos meus amigos os melhores votos, e que os deuses lhes tragam tudo aquilo que a troika e Passos Coelho lhes tem tirado. Em especial a esperança num Portugal melhor, numa sociedade que não se envegonhe dos seus cidadãos.

新年愉快! 恭喜發財! 身體健康! 萬事如意
 Kung Hei Fai Choi!  Gong Xi Fa Cai!

Regabofe em sessões contínuas

Enquanto o DN continua à espera que sejam reveladas 192 nomeações que não foram publicitadas, melhor seria dizer que foram omitidas, no portal do Governo, nós deparamo-nos com estas pérolas. Neste caso nem valerá a pena tapar o nome. Porque está tudo no Diário da República. A nomeada não tem culpa, mas não deixa de ser estranha a atribuição de dois abonos suplementares em Junho e Novembro. Uns ficam sem os subsídios, outros ganham abonos suplementares. E, curiosamente, o despacho foi agora publicado com efeitos a 28 de Junho do ano passado. Um aldrabão pode ter várias identidades, apresentar um discurso simpático e até merecer o benefício da dúvida. Mas só os tontos se deixam enganar por um par de "jotinhas" alaranjados.

P.S. Como não passou, corrigiram.

quinta-feira, janeiro 19, 2012

É por estas e outras ...

Diferenças ideológicas à parte, quase tudo o que Pacheco Pereira diz com a sua habitual frontalidade e eloquência correspondem à verdade. É incómodo? É. Tinha de ser dito? Tinha. Eu próprio já o referi várias vezes, quer aqui, quer no Delito de Opinião, no tempo em que por ali escrevia. Agora Pacheco Pereira vai um pouco mais longe e dá os nomes às coisas. Ainda bem que ele o faz. Não há crise que justifique o adormecimento das consciências, o apagamento da oposição ou que obrigue a tudo engolir como se fossemos, na expressiva linguagem da Clara Ferreira Alves, uns servos da gleba. Se neste país tivéssemos mais meia dúzia, já nem peço mais, de pessoas como ele, à esquerda e à direita, seguramente que não estaríamos no atoleiro em que estamos e entregues a parlapatões. Mas como a frontalidade e a honestidade em política pagam um preço muito elevado, contentemo-nos com a mobília que temos, com os tarecos que nos calharam em sorte.

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Às vezes as escolhas dos accionistas dão nisto

(imagem Epa, Enzo Russo)

A explicação que foi dada por Francesco Schettino para abandonar o "Costa Concordia" quando ainda havia centenas ou milhares de passageiros e de tripulantes no navio a aguardarem por auxílio, não fosse dar-se o caso de estarmos perante um tragédia perfeitamente evitável e que acabou por ceifar a vida a uns quantos, deixou outros tantos órfãos e provocou prejuízos de centenas de milhões, para além do susto e da angústia causados em muitos milhares, até nos faria sorrir. Dizer que caiu acidentalmente para um salva-vidas para justificar a fuga é tão absurdo quantas as razões que foram dadas para as escolhas de nomes para o Conselho Geral e de Supervisão da EDP ou as Águas de Portugal. A avaliar pelo nível dos argumentos que quanto a estes últimos foram usados, Schettino tem um padrão de argumentação que, se fosse português, faria dele uma potencial escolha para qualquer uma dessas entidades, para integrar um grupo de trabalho sobre a renovação da marinha mercante ou até ser ministro de um governo de Passos Coelho. O facto da justiça italiana não se comover com a sua sorte, e dele ir agora passar um bom par de anos em velocidade de cruzeiro atrás das grades, no que foi um azar dele, das seguradoras e dos accionistas da empresa armadora, poupa-nos, felizmente, a um cenário desses. Ao menos que por lá se faça justiça, já que aqui isso é coisa de filmes.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Vindo dele deve querer dizer alguma coisa, não?

Quando um analista como João Pereira Coutinho, reconhecidamente situado à direita e inteligente, faz uma análise destas, isso deve querer dizer alguma coisa, não?

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Boy por boy eu prefiro girls, se possível simpáticas

"O anterior Governo socialista tinha feito o mesmo: colocar naqueles lugares pessoas da sua confiança política, muitas vezes ex-candidatos autárquicos. Algumas dessas pessoas, no passado como hoje, têm ocupado cargos na administração pública e até no universo da segurança social" - Sol

Já muitos o salientaram. De Pacheco Pereira a António Lobo Xavier. De Marques Mendes a Rebelo de Sousa. Mas se não o tivessem feito não seria por essa razão que deixaríamos de ter notado. Em especial as parecenças. Catroga foi escolhido pelos accionistas da mesma forma que anteriormente Vara, na banca, ou Afonso Camões, na Lusa, também tinham sido escolhidos pelos accionistas. Gente estúpida, naturalmente, porque não pensa nas consequências. Na semana passada, numa conferência promovida pelo DN, Passos Coelho em vez de falar do tema do encontro falou de cartões de militantes e de nomeações. Menos de quarenta e oito horas depois, na sequência de vários desmentidos e da risota que a sua intervenção provocou, o site oficial do Governo corrigiu os números do primeiro-ministro: as cento e poucas nomeações como que por milagre passaram a ser 720 novas nomeações. Em sete meses. São menos? Pois são, mas os desempregados também são muitos mais e os que diariamente saem da "zona de conforto" fazem reduzir  o número de candidatos  dos que aqui ficam. É tudo proporcional à crise. O número de canastrões também. Quanto à   inteligência e à vergonha é que seguem agora outra bitola: aumentou a falta de ambas. Os argumentos são os mesmos, já estavam estafados e ainda assim continuam a ser usados. Em vez de se perder tempo a justificar aos portugueses as opções políticas e as escolhas que interessam ao futuro colectivo, discutem-se pastéis de nata e o número de leitões com acesso ao chiqueiro. Nada de novo, portanto. O problema é congénito.

sábado, janeiro 14, 2012

Diário irregular

14 de Janeiro de 2012

I democratici che non vedono la differenza tra una critica amichevole e una critica ostile della democrazia sono anch’essi imbevuti di spirito totalitário. Il totalitarismo, naturalmente, non può considerare come amichevole alcuna critica, perché il principio dell’autorità finisce necessariamente col contestare il principio dell’ autorità stessa” – Karl Popper, La società aperta e i suoi nemici. Platone totalitário, Roma, Armando Editore, 1973, vol. I, pp. 265.


Volta o Diário quando os dias começam timidamente a prolongar-se pela tarde. Ainda quando o céu sobe e se espraia azul, as sombras permanecem seguindo-nos, inexoráveis, como as algemas que tardam em libertar-se. Portugal tem sido assim. Temo que assim continue por mais uns longos anos.

As natas”, diz o fulano. Fala “delas” sem que eu o perceba. Alguém a meu lado traduz e diz-me que se refere a pastéis. Pastéis de nata. Não os imaginava no feminino, mas se calhar o homem até tem razão. Se há quem mude de género porque não gosta ou teve azar naquele que lhe saiu em sorte, por que não também os pastéis? Com tanto videirinho e chico-esperto a ocupar a pantalha só faltava entrar um patusco para dar cor e animação ao enredo.

Atropelam-se nas justificações, tropeçam nas suas próprias palavras. Há uma forma totalitária de olhar para os outros nas palavras e nas acções. Ao totalitarismo estatal que a todos se impõe e que é atrofiante da mais ligeira ousadia sucede-lhe agora o totalitarismo dos gangues. O Estado a gente sabe como combater. Os gangues não. E tudo se torna mais difícil quando não se percebe de onde eles chegam. A percepção é a de que saem do nada. Aparecem na lista e pronto.

Não vale a pena olhar para o que está a acontecer focalizando. Neste caso, a focagem retira a visão de conjunto, tende a estriar a atenção entre sulcos paralelos. Convém perceber a forma como tudo se articula e conjuga na aparência do desconhecimento, da casualidade, da conjugação astral. Felizmente que nem todos são tolos.

Os magistrados queixam-se de que não são respeitados, de que não lhes dão ouvidos. O poder político tem sido medíocre nessa relação mas são cada vez mais os que não se dão ao respeito. Se é verdade o que o JN hoje escreve na primeira página, é incompreensível que alguém, que pelo menos aos olhos da lei e da imprensa é apresentado como sendo do sexo masculino, deponha num tribunal de cabeça tapada, com um barrete de leopardo enfiado até às orelhas. A justiça não devia ser um circo ainda que os palhaços aí sejam ouvidos. Um tribunal não é um bordel.

Os anos que passei com os chineses, trabalhando entre, com chineses e não raras vezes em exclusivo para eles, convivendo com empresários, militares, artistas e simples batoteiros ou vigaristas, permitiram-me perceber a lógica deles melhor do que o prof. Catroga. Este diz que ficou “agradado com a lista”. Para ele foi tudo claro, simples, linear. Tudo se resumiu a uma questão de caras conhecidas. A um ex-ministro com o seu currículo devia ser proibido fazer figuras tristes. O homem parece não se importar. Antes não se importou de fazer de bibelot para dar a ideia de que o Governo de José Sócrates não nomeava só os da sua cor para as empresas públicas. Agora esqueceu-se de dizer que foi por um triz que Jaime Pacheco, o treinador de futebol do ano no Beijing Goan, não foi parar ao Conselho de Supervisão da EDP. Imagine-se o que seria, segundo a sua percepção do critério dos chineses, se Júlia Pinheiro, Teresa Guilherme ou uma daquelas aventesmas que regularmente passa pelos seus programas fossem conhecidas na China? Estariam agora sentadas entre o ex-patrão do primeiro-ministro e o general reformado Rocha Vieira a tratar dos “pintelhos” das eólicas.

A nomeação de Catroga, Rocha Vieira, Paulo Teixeira Pinto, Ilídio Pinho ou Celeste Cardona – esta senhora devia estar presa por ser a responsável pela pior e mais maléfica reforma que alguma vez se fez na Justiça, a da acção executiva, e que em muito foi responsável pela chegada da troika – é escabrosa.

Mas mais escabroso é que tipos com a situação financeira de Catroga –  a receber uma reforma de quase uma dezena de milhar de euros –, de Rocha Vieira – que embolsou milhões em Macau, mais um subsídio de integração no final do mandato e agora goza os prazeres de uma reforma de muitos milhares na Quinta Patiño –, de Ilídio Pinho – milionário – ou de Paulo Teixeira Pinto – ex-presidente do BCP reformado por doença e a receber uma pensão vitalícia de centenas de milhares de euros – ainda vão receber mais uns milhares para o tal Conselho de Supervisão. Se Cristo descesse à terra mandava-os crucificar no alto de um monte alentejano. Por falta de solidariedade cristã para com o seu semelhante. Por ainda não terem dito uma palavra de renúncia em relação àquilo que vão receber, sem que precisem ou lhes faça falta para viverem confortavelmente, a favor de instituições de apoio à pobreza. É nestes momentos que se vê quem enche a boca com a doutrina social da Igreja e quem a pratica. Os portugueses que sofrem com as actuais condições do País precisam de gestos simples, de palavras oportunas, em especial de exemplos decentes.  
   
A ministra da Justiça está preocupada com a Maçonaria. Se um dia fizer parte dessa ou de outra organização congénere serei o primeiro a referi-lo na minha declaração de interesses. Quanto a isso podem ficar tranquilos. Mas a senhora ministra, que é uma pessoa estimável, ao contrário do que pensa o meu bastonário, está equivocada quanto à essência do problema. Bastar-lhe-ia ter passado por Macau para ter percebido que há uma diferença entre a fidelidade a princípios e a valores e a fidelidade a grupos. A destes é irracional, canina, mais dificilmente perceptível porque mascara a realidade. Pergunte ao seu chefe de gabinete como foi Macau no “último terço da transição”. Estou certo de que o meu amigo João Miguel Barros lhe explicará com toda a paciência, como é seu timbre, que há ligações transparentes bem mais perigosas e menos higiénicas para uma democracia do que a falta de escrutínio de algumas consciências de que se desconfia.

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Sinais (51)

"Nós precisamos de "despartidarizar" a nossa a administração" - gritava então o Dom Sebastião de Massamá , corria o bonito dia 12 de Maio de 2011. Com os ventos de mudança a soprarem a favor, tudo o que saía daquela boca parecia ser sincero, habituados a ser aldrabados todo o santo dia - de há seis anos aquela parte - era sopinha no mel .  Outra pérola do senhor Primeiro Ministro, na altura ainda candidato ao cargo e em data que não me recordo, rezava assim: "eu não quero ser primeiro ministro para dar empregos ao PSD" e  "não vamos andar a nomear os boys do PSD". - Tiago Mesquita, no Expresso


Nem tanto à terra...

Não, caro Pedro Santana Lopes, lamento desiludi-lo mas vossemecê, além de já não ter idade para ser um boy, já experimentou quase tudo. Quando muito diria que é um dandy. Todos os governos têm os seus.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Aplauso

Esteve bem, muito bem, o Prof. José Adelino Maltez, ontem na SIC-Notícias, com Mário Crespo, e depois na TVI24, com José Alberto Carvalho, Vera Jardim e Marques Mendes. É com intervenções como a dele que se desmistifica o fenómeno maçónico, se combate a ignorância, o atavismo, o populismo fácil e o preconceito.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Sinais (50)

"Por esta lógica, ainda veremos Ângelo Correia ou José Luis Arnaut assomarem numa das próximas nomeações (a próxima é já a Portugal Telecom). O problema é que, enquanto isso, milhões de portugueses estão a perder salários, empregos, a pagar mais impostos, mais pelas rendas ou pela saúde. Estas nomeações são uma provocação social. Porque enquanto muitos tratam da sua vida, alguns tratam da sua vidinha.

As nomeações da EDP, como antes as da Caixa, são um mau sinal dentro da EDP e da Caixa, e são um mau sinal do País. Já não é descaramento, é descarrilamento. A indignação durará uns dias, depois passa, cai o pano sobre a nódoa. A nódoa fica
." - Pedro Santos Guerreiro, no Jornal de Negócios 

domingo, janeiro 08, 2012

Uma nomeação que é um insulto à China e aos portugueses

A escolha pelo Governo das personalidades que irão integrar o Conselho de Supervisão da EDP é a prova de como ao fim de seis meses Passos Coelho já perdeu todo o controlo do Executivo. Já não bastava o caso das Secretas e das suas inacreditáveis ligações à Ongoing e aos falhados da Loja Mozart49. Faltava a cereja no topo do bolo com a escolha de seis acólitos da sua área política e governativa, alguns dos quais sem quaisquer indicações que aconselhassem a sua nomeação para tão importante órgão numa altura crucial em que era fundamental dar ao País sinais de mudança. Mas chegar ao ponto de escolher Vasco Rocha Vieira, o último governador de Macau,  para tal Conselho, é a prova acabada de que Passos Coelho perdeu o norte. E o tino. Um homem que foi desconsiderado, insultado e humilhado pelos chineses em múltiplas ocasiões, e que deixou o seu nome indelevelmente ligado a uma fundação constituída da mais forma mais vergonhosa de que há memória, a Fundação Jorge Álvares, ser nomeado para o Conselho de Supervisão da EDP só demonstra a inexperiência, incompetência e ignorância de quem o nomeou. Há gente no gabinete de Miguel Relvas que deve estar varada com a nomeação. Afinal a evidência de que seis meses bastaram para que Passos Coelho e a sua trupe de videirinhos se rendessem a quem fez do nepotismo e da distribuição de benesses com o dinheiro dos contribuintes a sua imagem de marca. Uma nomeação que define quem o nomeou. Os chineses devem estar a rir-se. A coisa começa bem. E promete.

Em tempo: Há para aí uns espertalhões que dizem que as escolhas não são da responsabilidade do Governo ou de Passos Coelho mas sim dos accionistas da EDP. Formalmente até têm razão, mas o argumento de tão medíocre nem resposta merece. Com os filmes reais mas de péssima realização que temos andado a ver desde 21 de Junho pp., só um mentecapto poderá estar em condições de acreditar que as propostas desses nomes partiram livremente dos accionistas da empresa e que não foram "sopradas" com toda a força e mais alguma por um dos gangues que agora manda.

sábado, janeiro 07, 2012

A LER

"«Tipo esquisito...», pensou Jasselin quando ele saiu, e, como acontecera anteriormente muitas vezes, pensou em todas aquelas pessoas que coexistem no coração de uma mesma cidade sem razão especial, sem interesses nem preocupações comuns, seguindo trajectórias incomensuráveis e separadas, por vezes reunidas (cada vez mais raramente) pelo sexo ou (cada vez mais frequentemente) pelo crime. Mas pela primeira vez este pensamento - que no princípio da sua carreira de polícia o fascinava, que lhe dava vontade de averiguar, de saber mais, de penetrar ao fundo nessas relações humanas - já só provocaca nele obscuro cansaço" - Michel Houellebecq

Recebeu o Goncourt, foi traduzido por Pedro Tamen e a 1ª edição data de Outubro de 2011. Os encómios são mais que muitos e foi aclamado por essa Europa fora. Pela que sabe ler e pensar. A sociedade contemporânea com olhos de ver. 

sexta-feira, janeiro 06, 2012

Chegaram os ouriços

Já chegou há alguns dias mas confesso que só hoje tive tempo para andar por lá. E para já gostei. Espero que nos proporcione bons momentos e não nos pique em demasia. Chama-se O Ouriço e pela amostra promete. Um Bom Ano, uma longa vida, é o que vos desejo.

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Diz-me com quem andas


Bem que gostaria de poder corresponder a tão amável e generoso convite, mas por cada dia que passa menos vontade tenho. Enquanto não houver uma limpeza que separe as águas, nada feito. Isto anda tudo ligado porque são sempre os mesmos e os critérios de selecção e recrutamento foram idênticos. Diz-se que tudo tem que ver com princípios e valores porque, em boa verdade, nada tem que ver com princípios e valores. E é pena, porque eu acredito em ambos. A políticos de treta correspondem hoje maçons da tanga. E isto aplica-se a todos indistintamente. O resultado só poderia ser aquele que se vê.

Se Mozart imaginasse que à sombra do seu nome, em vez de se albergar o génio e o talento, se iriam reunir uns tipos obscuros à procura de ascensão social, de poder, formal e informal, do vil metal e de honrarias várias, teria proposto a Salieri trocarem de nome.

Sinais (49)

terça-feira, janeiro 03, 2012

Acabadinho de sair

Com a publicação deste "ensaio" ficam respondidas as minhas dúvidas abaixo colocadas. Espero conseguir comprar um exemplar antes da edição se esgotar.

Estas coisas não podem passar despercebidas

Tratando-se de números oficiais (vale a pena "clicar" na imagem para se ver melhor), é evidente que estas "barrinhas" tinham de ter aqui eco. Já basta os "irmãos" do ministro da propaganda mandarem emendar os relatórios dos senhores deputados para se proteger a "organização".

P.S. O valor atribuído a Durão Barroso/Santana Lopes, atendendo ao curto período em que estiveram em funções, permite imaginar o que teria sido se lá tivessem ficado até ao final da legislatura.

Mais uma contribuição para o empobrecimento nacional

É legítimo mudar a sede fiscal de uma empresa para uma jurisdição onde a carga fiscal é inferior por razões de mera conjuntura política, financeira e fiscal quando se tem responsabilidades empresariais e sociais? É legítimo fazê-lo quando no passado por diversas vezes se foi contundente nas críticas à ineficiência e incompetência do poder político? É legítimo fazê-lo quando se institui uma fundação que, entre outras coisas, se dedica à publicação de pequenos ensaios destinados a estimularem o conhecimento, a cidadadania, a participação e uma intervenção cívica responsável? E é legítimo concretizá-lo numa altura de profunda crise económica e de valores quando seria mais importante dar sinais de solidariedade, de esperança e de conforto a quem não goza dos mesmos meios e prerrogativas? E se essa deslocalização não tem por base razões fiscais, admitindo-se que outras há, será que estas são suficientes para justificarem a bondade de tal atitude?
Quando exemplos como o da deslocalização da sede fiscal são dados por uma entidade e um grupo empresarial com a responsabilidade social da Jerónimo Martins, pouco poderá ser exigido a quem convida e empurra os portugueses para os braços da emigração.
Gostava de ouvir o que António Barreto pensa sobre isto, ele que dirige a Fundação Manuel dos Santos, a mesma onde foi publicado "Justiça Fiscal", do meu saudoso mestre Saldanha Sanches. Afinal, tal como este ali escreveu, citando as conclusões de Miguel Poiares Maduro no caso "Halifax" (C-255/02), "o direito fiscal não deve tornar-se numa espécie de faroeste jurídico, em que praticamente todo o tipo de comportamento oportunista tem de ser tolerado desde que seja conforme com uma interpretação formalista estrita das disposições fiscais relevantes e que o legislador não tenha expressamente tomado medidas para impedir esse comportamento".
O grupo Jerónimo Martins acabou de dar uma valiosa contribuição a Passos Coelho e a Vítor Gaspar para o empobrecimento nacional. E um exemplo daquele tipo de atitudes que o responsável máximo desse grupo tanto criticava em José Sócrates. O sr. Soares dos Santos acabou de perder toda a autoridade ética e moral para se insurgir contra todos aqueles que de uma forma ou de outra e usando de expedientes vários deixam de contribuir para a satisfação das responsabilidades do Estado.

Cícero desdenharia comprar nas lojas do grupo Jerónimo Martins. Eu também. Não suporto hipócritas.