segunda-feira, junho 30, 2008

A MINHA ALMA IBÉRICA

(foto El Pais)
Há momentos em que a minha alma também fala castelhano. E não falo só da poesia de Alberti, de Machado ou de Lorca. Falo de coisas mais simples, mais próximas da calle, do sentir da gente. Venceram os melhores, os mais capazes, os mais trabalhadores, os mais espectaculares, os mais merecedores. Espero que Scolari tenha aprendido a lição de Aragonés. E Ricardo a de Casillas. Por uma vez o futebol falou verdade, subiu mais alto que o erro ou a trapaça. Ainda bem.

quarta-feira, junho 25, 2008

VOLTAR À IDADE MÉDIA

(fotomontagem do Correio da Manhã)

O Correio da Manhã dá conta do diálogo travado na Assembleia Municipal de Viseu entre o deputado do CDS e membro daquela câmara, Hélder Amaral, e o presidente da Câmara Municipal de Viseu e presidente da Associação de Municipios, intercalado pelas declarações de Correia de Campos. O que ali foi dito por Fernando Ruas é esclarecedor quanto à sua forma de pensar e de estar. Não bastava o convite que fez há uns tempos atrás para as populações correrem à pedrada os fiscais públicos. Agora voltou a investir para que todos ficassem a saber que mais de 30 volvidos sobre a instauração da democracia em Portugal ainda há autarcas que distinguem os regimes em função da cor da pele e apontam o dedo a cidadãos nacionais de origens africanas. Num país civilizado aquilo que Ruas disse deveria fazê-lo perder imediatamente o mandato. Em Portugal é indiferente. Fernando Ruas vai continuar em funções sem que nada lhe aconteça. Uma vergonha e um atentado aos valores da civilização. É o regresso à idade média.

terça-feira, junho 24, 2008

IMPERDÍVEL

Esta lição é imperdível. Graças à Câmara dos Comuns. Um achado. A mulher é loura e humorista, não é professora de geografia.

ANTECIPAÇÃO

Estava a pensar escrever umas linhas sobre o caso do senhor do Bentley, mas o João Gonçalves antecipou-se e disse muito mais, e melhor, do que eu poderia dizer. Aqui, no Portugal dos Pequeninos. Estranho é que ele, sendo hoje elucidativo da imagem da Justiça deste país, não tenha chegado a presidente do STJ. Deve ser por os regulamentos ainda não preverem as candidaturas de sociedades offshores de mérito. Talvez um dia, quem sabe?

OS RECADOS PARA JOSÉ SÓCRATES

Do conclave laranja vieram os sinais para José Sócrates. Antes de mais, convém que o primeiro-ministro se consciencialize de que Manuela Ferreira Leite é uma senhora, o que não querendo aparentemente dizer nada quer dizer tudo num país que ainda hoje suspira por Maria de Lurdes Pintasilgo. Não pelo que ela representava e representou. Mais pelo facto de ser mulher, tal como a Senhora de Fátima, e deste ser um país sempre pronto para a oração, para a lágrima e para ouvir a palavra serena de uma mãe. Bem sei que Sócrates já tem uns quantos cabelos grisalhos, mas qualquer erro, por pequeno que seja, legitimará a recriminação maternal, com a qual o país real será sempre condescendente. Também importa que ele não se esqueça de que Marques Guedes não tem o estilo nem a verve de Ribau Esteves e que Paulo Rangel, além de ser um homem culto e preparado, não é dado ao espectáculo populista, a la Roberto Leal, que Santana Lopes gostava de protagonizar de quinze em quinze dias para os lados de São Bento. Aos gritos da peixeirada vão suceder-se agora as declarações discretas, acutilantes, inteligentes. E a inteligência só pode ser combatida ainda com mais inteligência, não com o discurso trapalhão, com o exibicionismo bacoco ou com a laracha fácil. A entrada em cena da nova direcção do PSD vai obrigar o PS a redireccionar o discurso, a deixar de piscar o olho ao Bloco de Esquerda. Esta é uma boa altura para começar a esvaziar o Bloco e o PCP, retirando-lhes tempo de antena - por via da discussão política e não através do ministro Santos Silva ou da ERC. Sócrates vai ter de perder alguns trejeitos autoritários, recuperar uma certa fleuma dos primeiros tempos quando for confrontado com as atoardas de Portas e de Louçã. Talvez não fosse mal visto que o ministro Pedro Silva Pereira começasse a pensar num rejuvenescimento da imagem do partido e que houvesse um realinhamento dos porta-vozes sectoriais do partido, eventualmente com a escolha de novos rostos. A crise do subprime, os problemas energéticos ou ambientais podem ter servido de desculpa para muita coisa. O TGV, o novo aeroporto ou a crise do Tratado de Lisboa ainda podem desviar algumas atenções. Nada disso justificará uma perda da maioria absoluta. É bom que ele não se esqueça disso.

CONGRESSO DO PSD: UM PROBLEMA DE VARIZES


Foi Alberto João Jardim quem, numa penada, e antes mesmo do seu termo, fez o resumo do Congresso do PSD, que decorreu no fim-de-semana passado e durante o qual os congressistas aproveitaram para entronizar Manuela Ferreira Leite como sua nova líder. Ao dizer que não iria a Guimarães porque não tinha tempo para andar a brincar aos partidos e tinha problemas de varizes, que recomendavam que não viajasse frequentemente de avião, o soba da Madeira mesmo sem querer garantiu a excelente votação que a Drª Manuela obteria nas listas apresentadas, reforçando o resultado das directas. A brincar Jardim deu o mote: acabar com a brincadeira e secar as varizes. Ora, é isso mesmo que a nova líder se propõe fazer que, comos e vê, tanta irritação causou na Madeira e no Algarve sem justificação alguma. Desde a precipitada fuga de Durão Barroso, seduzido pelo tilintar dos Euros e dos badalos da vaca de Bruxelas, que o PSD teimava em não conseguir arrumar a casa. Como é natural numa casa com muitos filhos, cuja mãe nunca apareceu e que já era órfãos do pai desde a fatídica noite de 4 de Dezembro de 1979, a saída de Barroso deixou tudo num pandemónio. O mais traquina, que não o mais velho, quis tomar conta da economia familiar e o resultado produziu-se em meia dúzia de meses: Pedro Santana Lopes, incapaz de pôr ordem no quarto dos brinquedos, acabou também ele aos tiros no corredor, deixando no ar um irritante cheiro a fulminantes, as torneiras abertas depois dos duches matinais, as luzes acesas toda a noite, o volume da música sempre no máximo, as irmãs esquecidas na discoteca por causa dos shots de tequilla e as contas dos iogurtes por pagar na mercearia, ante o desconforto da vizinhança que ficou toda em polvorosa com tamanho arraial. Marques Mendes ainda tentou remediar a coisa, fechando portas e janelas e tentando dar um ar sério à sua actuação, mas sua pública e notória inépcia e falta de talento, não impediram que um grupo de adolescentes sedentos de protagonismo se unisse contra o tutor, desatando a berrar contra ele pelos ralos das portas e pelas condutas de ar, assustando os demias condóminos, ao mesmo tempo que se queixavam de inexistentes maus tratos, só tendo descansado quando subiram à chaminé da casa e subsituíram o tradicional pavilhão da família social-democrata por uma bandeira de fundo azul dos índios da Quarteira. Nessa altura Marques Mendes desistiu. O que se seguiu é de todos conhecido. Durante mais seis meses os fantamas andaram pelo corredor, discutindo aos berros com os senhores de fato castanho e camisas de nylon às riscas e com os cobradores, enquanto os vizinhos telefonavam para um tio por afinidade e bardudo que trabalhava numa empresa chamada Quadratura do Círculo a ver se ele dava uma mãozinha. E deu. A entrada de Manuela Ferreira Leite, vem, suponho eu, colocar um ponto final na bagunça vivida naquela casa. O Congresso do PSD representou o epílogo das reuniões preliminares dos múltiplos conselhos de família que foram as campanhas e as directas. Durante uns tempos não vai haver quarto de brinquedos para ninguém. Os mais traquinas vão para um colégio interno, os índios que foram da província engordar para a capital vão começar a dieta. Já tresanda a creolina. Quanto às varizes, tanto quanto me foi dado perceber Alberto João Jardim pode ficar tranquilo. Ele na Madeira poderá cuidar das suas, começando por secar as da bazófia, do clientelismo e da regionalização, que quanto à Drª Manuela, pelas horas em que tem estado de pé, pela determinação de que tem dado provas e pela gente de que se rodeou, não terá o mesmo problema. Tanto barulho para nada.

INSISTÊNCIA

Começa a ser tão vergonhosa a insistência de Gilberto Madaíl em querer escolher um seleccionador para o lugar de Scolari, apesar de já ter jurado a pés juntos uma dúzia de vezes que está de saída da Federação, que não só não se percebe tamanha vontade de dinamitar o caminho ao próximo presidente, agarrando-o à escolha que agora faça, como se arrisca a ficar com os fundilhos colados à cadeira. Se agora o espectáculo não é bonito, imaginem então como será depois quando o virmos levantar-se e sair às arrecuas para não nos mostrar os remendos nas calças.

CASCAIS CONVIDA

Como acontece com muitos outros artistas, nem sempre é possível encontrar e estar com a Isabel Mello quando se quer. Mas de vez em quando ela lá dá um sinal e quando menos se espera é possível vê-la, e ao resultado do seu trabalho, onde menos se espera. Desta vez a Isabel vai aparecer em Cascais. É já no próximo dia 3 de Julho, pelas 18.30, na Casa de Santa Maria, ali à Avenida Rei Humberto II de Itália, que vai ser inaugurada a sua mais recente exposição. A Câmara Municipal de Cascais continua a apoiar os bons artistas e só por isso já merecia receber os parabéns. Para quem ainda não conhece o trabalho da Isabel Mello vale a pena fazer uma visita ao seu site em www.isabelmello.com. Para quando uma exposição no Algarve?

segunda-feira, junho 23, 2008

LIVING

Em contrapartida daquilo que recentemente aconteceu nas Dunas Douradas, ali mesmo ao lado, em Vale do Lobo, procura-se corrigir o que de menos bem e de disparatado se fez anteriormente. A venda do resort, há pouco mais de um ano, a um grupo liderado pela CGD, que colocou à frente do seu Conselho de Administração Diogo Gaspar Ferreira, constituiu um novo fôlego. A recente publicação do n.º 1 da revista Living, cuja qualidade gráfica é irrepreensível, é disso mesmo exemplo. Por ela se dá conta da revitalização da imagem do empreendimento e da adopção de conceitos mais modernos e de padrões mais condizentes com a qualidade que o resort reclama e merece. A futura construção de um novo hotel de 5 estrelas, a introdução de passeios nos arruamentos e a construção de uma nova entrada, são a prova inequívoca de que se exigia a adopção de uma gestão profissional e rigorosa que acautelasse o futuro e retirasse o empreendimento do marasmo em que se encontrava. Espero que em breve seja também possível remodelar a velha praça, dando-lhe um estilo menos piroso, menos acanhado e mais arejado.

"CRIME" CONSUMADO

Esta semana, a revista Única, do Expresso, traz um anúncio promovendo a venda de apartamentos e moradias na chamada urbanização das Dunas Douradas. Quem olha para a fotografia que ilustra o anúncio publicado no semanário em causa, não imagina que aquela imagem idílica não tem rigorosamente nada a ver com aquilo que está no local. Já anteriormente tinha chamado a atenção para o crime urbanístico e paisagístico que estava a ser cometido nas Dunas Douradas, com o beneplácito da C.M. de Loulé e o apoio a nível de consultadoria de um conhecido político local, tanto quanto me foi transmitido, ligado ao PSD. Ontem, tive oportunidade de comprovar o desastre que aconteceu nas Dunas Douradas. Onde antes estavam pinhais e uma paisagem de grande conforto e beleza para quem saía da praia, passou a estar um conjunto disforme de monos de betão que se atropelam mutuamente, todos de um profundo mau gosto - as chaminés são aos montes e indescritíveis, os candeeiros da via pública dos mais feios que há, as balaustradas do mais ordinário, o restaurante está pintado de cinzento... - enfim, um hino ao mau gosto e à fealdade, um verdadeiro desastre para os olhos a menos de cinquenta metros da duna. Convido Luísa Schmit, a investigadora e a interessada cidadã, e a Inspecção-Geral da Administração Local (IGAL) a visitarem este aborto e a esclarecerem como foi possível permitir uma barbaridade destas. Alguém devia ser chamado à pedra.

sexta-feira, junho 20, 2008

SERVIÇO PÚBLICO

(www.glamour.com)

Prestado pelo Público ao divulgar este vídeo de Lara Logan. É o que se chama uma mulher de coragem. Há muito macho para aí que não tem os ... dela. Uma jornalista de mão cheia.

MADE IN ALVALADE...

... with the help of Mr. Luiz Filipe Scolari, our Lady of Caravaggio and a bunch of idiots.

FREDERICO GIL

É a maior certeza do ténis nacional. Passou o qualifying de Wimbledon e entrou no quadro principal do mais importante torneio do Grand Slam. Este não nos deixa ficar mal. Os números não enganam.

ELE DEVE-NOS UMA EXPLICAÇÃO

Esta tarde, entre as 14 e as 15, ouvi no Rádio Clube Português, uns especialistas em bola, que estiveram 3 semanas acampados na Suiça, dizerem que o presidente da Federação Portuguesa de Futebol já sabia da saída de Scolari antes do início do Europeu. Isto ter-lhes-a sido confidenciado pelo próprio Gilberto Madaíl. Se isto é verdade, e não há razão para duvidar que os repórteres falavam verdade, é muito grave, em especial vindo de quem não fez mais nada se não proteger o seu próprio lugar na manjedoura e o do seleccionador nacional durante cinco anos e meio. Só por isso ele deve-nos uma explicação.

PREVISÃO PARA O FIM-DE-SEMANA

Sol em todo o país, com excepção de Guimarães, onde se esperam alguns aguaceiros clientelares e vários números de circo. Para quebrar a modorra e ajudar a carpir as mágoas da bola.

FUTEBOL SEM TRISTEZA

É já amanhã que os craques do Conselho Distrital de Faro da Ordem dos Advogados vão mostrar o que valem. Mete banda filarmónica, almoçarada, jantarada... e tudo! Para mais informações podem ir até aqui. Quem quiser aparecer será bem recebido.

UM DIA ELES IAM DEIXAR-NOS FICAR MUITO MAL


Ainda bem que terminou. Nem todos os corações são de ferro. Aconteceu aquilo que já se antevia. Beatice e teimosia nunca deram bom resultado. O descalabro era previsível e apenas a sorte, esse insondável desígnio do destino, foi adiando o epílogo. Ainda bem que terminou. Cinco anos e meio depois verifica-se que Luís Filipe Scolari mostrou não estar à altura da matéria-prima que lhe foi dada. Ofereceram-lhe diamantes para com eles fazer tiaras e gargantilhas e ele, teimoso, deu cabo das pedras no processo de lapidagem, acabando por só conseguir pulseiras pirosas e meia dúzia de anéis. Cometeu o milagre de perder um campeonato da Europa em casa, sem ter de se qualificar, perdendo duas vezes com a Grécia, numa equipa que tinha Figo e Rui Costa. Foi ao Mundial de 2006 para cometer os mesmos erros de sempre. Passou a primeira fase jogando com equipas do 2º e do 3º nível. Enquanto a sorte ajudou por lá andou. Saiu com duas derrotas, a última das quais contra a Alemanha. A mesma que ontem nos derrotou e nos voltou a meter três golos. De novo os mesmos erros, de novo a mesma teimosia, de novo a mesma ilusão. Para que serviu aquela humilhação contra a Suiça? Para quê insistir em Ricardo? Ricardo voltou a mostrar ser um guarda-redes medíocre, mostrou não estar à altura da confiança que nele foi depositada e justificou plenamente a razão de ser suplente no Bétis de Sevilha. Saímos sem honra nem glória, pela porta baixa. O legado de Scolari na federação é uma selecção de marretas, uma equipa que só faz bons resultados contra equipas como o Cazaquistão e a Geórgia e que claudica nos momentos decisivos. Uma equipa que apenas vive do talento e do trabalho de alguns e que repousa toda a sua força numa beatice serôdia. Uma equipa que não consegue ganhar à Polónia, que tem Ricardo como titular e cujo treinador anuncia entre dois jogos de uma fase final de um campeonato da Europa que vai deixar o lugar, numa jogada do mais puro mercenarismo, não merecia ir mais longe. Desde 1996 que não fazíamos tão má figura. Ainda bem que chegou ao fim o pesadelo. Um dia eles iam deixar-nos ficar muito mal. Eles, o Madaíl e toda aquela gente do "clube Portugal".

quinta-feira, junho 19, 2008

TRISTE FIGURA

(foto ÙNICA)

Quando um homem atinge determinado estatuto devia estar ao abrigo de algumas figuras. Mário Soares é um desses casos. Por tudo aquilo que foi, por tudo aquilo que ainda é, devia ser poupado a fazer alguns papéis que lhe assentam mal. Primeiro foi aquela coisa de se candidatar ao Parlamento Europeu. Não que ele não fosse, e não seja, um europeísta, mas porque o fez para ser presidente do PE, numa altura em que já não podia falhar, e falhou o objectivo. Depois, foi o regresso à política interna e a candidatura à Presidência da República que, qual Benfica, o atirou para a UEFA da política nacional. Da sua coragem nós nunca duvidámos. Mais recentemente Soares deu umas entrevistas, medianamente interessantes se descontarmos o estilo e a pose, a Clara Ferreira Alves. Podia ter ficado por aí. Mas não. Ainda não era suficiente. Ontem ouvi-o a entrevistar, se é que aquilo se pode chamar uma entrevista, Hugo Chávez. Enquanto este tuteava, Mário Soares lá fazia que colocava umas perguntas. Durante larguíssimos minutos entrevistador e entrevistado desfiaram um rosário de banalidades e propaganda. Dir-se-ia que estavam a gostar de se ouvir. Alguém devia dizer a Mário Soares para se poupar a estas figuras, já que fretes sei eu que ele não faz a ninguém (eu também não). Não é por nada, mas quem fez o que ele fez pela democracia em Portugal e tem o estatuto dele devia ser mais comedido, mais criterioso nas suas aparições e nalgumas iniciativas que toma. Para que a memória das futuras gerações não fique turvada pela sua ânsia de protagonismo e indisfarçável egocentrismo. Ou por uma já inultrapassável vetustez. Não há nada de mal nisso. É a lei da vida. Oxalá que os meus amigos me poupem a tais figuras, se eu um dia, chegando à idade de Mário Soares, não tiver consciência delas.

SER OU NÃO SER

O Jornal de Negócios revela que os municípios do litoral, principalmente do Algarve, são os que cobram mais impostos e taxas municipais por habitante. Sendo certo que alguns desses muncípios são dos que pior funcionam, como é o caso do de Loulé, seria bom que os arautos da regionalizaçao explicassem qual a razão para que o nível de tal cobrança não tenha correspondência na qualidade do serviço prestado aos munícipes e no funcionamento das autarquias. Também será culpa da centralização macrocéfala do país? Os dados constam do Anuário Financeiro dos Municípios Portugueses de 2006 e serão hoje apresentados na Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas.

RECORDE

Mais um recorde de Scolari: conseguiu que a equipa nacional fosse a única vencedora de um grupo na fase preliminar do Euro 2008 que acabou com 6 pontos. Todas as outras acabaram com 9, mesmo jogando com segundas escolhas. Espera-se que logo possa deixar outra imagem do país.

O ESPELHO DA REPÚBLICA


Quem se der ao trabalho de hoje dar uma vista de olhos pela edição do Diário da República não poderá deixar de ficar entusiasmado com a imagem de trabalho e de labor que é dada pelo Estado. A diferença entre o DR e os tradicionais almanaques vendidos à porta do metro ou nos engarrafamentos de algumas cidades é que os segundos também trazem as previsões para a agricultura e a indicação dos santos do dia. O DR deixou de ser o repositório dos actos de governo para se tornar no boletim da caça e dos caçadores e isso diz tudo sobre as preocupações deste país e o interesse do jornal para a generalidade dos cidadãos, mesmo tendo passado a ser de acesso universal e gratuito.

terça-feira, junho 17, 2008

POR CAUSA DO RODOVALHO

Manjar de reis, figura incontornável da melhor literatura queirosiana - mais recentemente repescado por Miguel Sousa Tavares no seu "Equador" -, companhia apreciada de um branco fresquinho de Colares, tive, aqui há dias, graças à generosidade e simpatia da A. e do H., o raro privilégio de comer um magnífico rodovalho. Foi num restaurante escondido de Sagres. Como sei que este blogue ainda não são as páginas amarelas, posso dizer que o local consta dos roteiros como "O Retiro do Pescador" e fica à entrada da vila, numa rua lateral, do lado direito da estrada em relação a quem vem de Vila do Bispo, por detrás de uma bomba de gasolina. Por causa dele dei comigo acampado num colega da blogosfera, cujo autor desconheço mas que tem o sugestivo nome de O Avental do Gourmet. Pois bem, para além de uma nova receita de rodovalho, descobri um local que é um verdadeiro hino aos sentidos gastronómicos. E desde já vos recomendo a visita, sem prejuízo de declinar a partir deste momento qualquer responsabilidade nos previsíveis aumentos dos vossos níveis de colesterol e ácido úrico.

segunda-feira, junho 16, 2008

UM SENHOR

A entrevista que o Prof. André Gonçalves Pereira deu à Única é bem reveladora do espírito e da categoria do entrevistado. Sem rodeios, porque quem tem o seu estatuto já não corre o risco de ser inconveniente nem mal interpretado, em meia dúzia de palavras fez o diagnóstico dos males nacionais e apontou as razões para o nosso atávico atraso. Gostei de saber que no seu escritório os advogados têm de seguir "um código de vestuário e não contam nem com as sextas-feiras para relaxar". Infelizmente, há muita gente que não percebe isto. Nem outras coisas que ele diz. Sem prejuízo de recomendar a sua leitura, aqui ficam alguns excertos que eu assinaria por baixo:

"O país é pequeno, e é evidente que o conhecimento pessoal é importante. Nunca pedi a nenhum advogado que exercesse tráfico de influência, primeiro porque é um crime, segundo porque não gosto disso".

"Provavelmente, as razões pelas quais eu defendo que há incompatibilidade entre ser advogado e ser deputado não são as mesmas que as do bastonário. Ele receia que os deputados façam leis para atender aos clientes, mas eu não concordo. Acho é que deviam dedicar mais tempo à advocacia".

"A Justiça, e muito bem, é independente, como não o era no Antigo Regime, sobretudo em questões políticas. O problema é que a qualidade da Justiça baixou. O que me preocupa não é tanto a morosidade mas a qualidade dos nossos juízes".

"A classe política baixou ainda muito mais do que as outras classes. É hoje péssima".

FUTEBOL DE PRAIA

(foto Público - Stefan Wermuth, Reuters)
A selecção nacional teve ontem em Basileia uma prestação miserável. O seleccionador nacional resolveu inventar. Vai daí, quis fazer descansar profissionais que recebem milhares de euros por dia para jogar futebol, quis revolucionar a equipa e mexeu em todos os sectores. Dos titulares nos jogos anteriores ficaram o impagável Ricardo, especialista em deixar bolas à entrada da área para os avançados contrários, Paulo Ferreira, um jogador lento e faltoso, e Pepe. O resultado foi o que se viu: uma selecção desconchavada, onde cada um jogava como queria. Faltas sobre faltas, entradas à margem das leis, passes transviados, jogadas sem qualquer sentido, muitas bolas perdidas, falta de empenho colectivo. Num campeonato da Europa não há jogos a feijões e não se pode brincar dessa forma com o prestígio nacional. Para a história só contam os resultados e quando daqui a alguns anos se olhar para as estatísticas, nessa altura ninguém saberá se Scolari esteve a fazer a "gestão do plantel" ou se jogou com uma equipa de futebol de praia. Jogadores sem chama, sem classe, sem alma, individualistas, mal fisicamente, outros mal enquadrados e fora das posições, enfim, uma amálgama de jogadores sem qualidade nem categoria para serem titulares num campeonato da Europa arrastaram-se pelo relvado de Basileia. Para quem pagou bilhete e foi ao estádio, para quem acreditou na equipa, para os milhares de emigrantes que têm sido incansáveis no apoio à selecção, foi tudo muito triste e demasiado feio para ser verdade. Aquela equipa que ontem jogou foi uma sombra da tal vontade de vencer. Não passou de um arremedo de equipa que nem os erros de arbitragem perdoam.

sexta-feira, junho 13, 2008

THEY SAID NO TO LISBON

Ou como de uma assentada os irlandeses acabaram de lixar uma data de grandes "carreiras políticas".

DO MEU HETERÓNIMO

Acabadinho de nascer, pouco passava das 15h e 20m, ali no n.º4 do Largo de São Carlos, dei comigo, cento e vinte anos depois, na Rua de Portugal, debaixo da canícula que entra pela clarabóia. Hoje sou um paradoxo, sempre vivo, que já não procura por mim. Enfim,

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

O PARAÍSO É JÁ ALI

(foto de Franz Emmerich, via Espírito Azul, Formigas, Açores, Agosto de 2007)

Agora que o Verão está aí, nada como tirar uns dias onde o mar é mais quente, mais azul, mais belo, mais livre e mais silencioso, num local sem portagens nem camionistas, sem buzinas, com gente simpática e educada, longe dos debates quinzenais na AR e das conferências de imprensa de Scolari. O Carlos Paulos pode tratar de tudo e agora com o blogue e o site ainda chegamos lá mais depressa.

UMA INDISCUTÍVEL MAIS-VALIA

Maria de Lurdes Rodrigues, a ministra da Educação. Ontem, noite dentro, enquanto uns marchavam na Avenida da Liberdade e comiam sardinhas, lá continuava ela estoicamente a explicar, demorada e pacientemente, a política do seu ministério e as convicções que a movem. Sempre com clareza, de forma frontal e directa, a autarcas, professores e simples cidadãos, respondendo à crítica ponto por ponto, revelando trabalho e humildade. A batalha da Educação poderá não ficar vencida durante o seu mandato, mas o país sairá fortalecido. Foi em Faro, na Biblioteca Municipal, na véspera do feriado municipal de Lisboa. Manuel Alegre devia lá ter estado.

3 minutos e 18,513 segundos!

Espera-se que Pedro Lamy tenha a partir de amanhã a sorte e a rapidez necessárias para levar de vencida as 24 H de Le Mans 2008. Para já fica o fasntástico tempo canhão que lhe garantiu a pole position.

quinta-feira, junho 12, 2008

MORATÓRIA

Ao que parece, a greve dos transportadores e camionistas encontra-se em stand-by. O deboche continuará dentro de seis meses, à beira das eleições. E nessa altura, seguramente, com custos maiores e mais graves para o Estado de direito e as liberdades democráticas, quando o petróleo já estiver quase nos 200 dólares por barril. Será que José Sócrates tem a noção do disparate que foi o acordo alcançado por Mário Lino? Ou está a contar com Hugo Chávez para depois debelar a crise?

ESTRANHOS CRITÉRIOS

Scolari anunciou ontem, depois do jogo com a República Checa, aquilo que já se dizia à boca grande em Inglaterra: que iria para o Chelsea a partir do dia 1 de Julho, perseguindo o sonho milionário (e mercenário). Há quatro anos atrás, exactamente nas mesmas circunstâncias, rompeu com o Benfica porque o momento não era oportuno para divulgar a sua contratação, entendia que esse assunto devia ser tratado depois do Euro 2004, e que a divulgação prematura dessa notícia perturbaria a equipa em período de concentração. Quando durante o Mundial de 2006 a selecção inglesa veio à baila, a conversa não foi diferente. Agora, curiosamente, entendeu oportuno fazer exactamente o contrário, depois do Chelsea ter divulgado a notícia no seu site e de em Londres toda a gente saber da sua contratação. Qualquer que seja o resultado que venha a ser alcançado, e oxalá que seja o melhor, Scolari sempre poderá dizer que tinha de tratar da vidinha. Tudo o mais que acrescentar será conversa para burros e pacóvios.

quarta-feira, junho 11, 2008

CADA VEZ MELHORES

Malgré toutes les différences, e são imensas, cada vez aprecio mais as pequenas crónicas, melhor diria apontamentos, de João Pereira Coutinho na revista "Única". É a prova de que há gente jovem que sabe reflectir e escrever com estilo, simplicidade e clareza. Rascas são os medíocres, os invejosos e os pobres de espírito. Não são os jovens.

A SENHORA "PERCA"

Na passada sexta-feira, "O Expresso da Meia Noite", programa habitual da SIC-Notícias teve, entre outros, como convidada Joana Amaral Dias. Já no passado, por diversas vezes, tinha reparado no estilo da sujeita. Ao que me dizem é deputada e professora universitária, mas as suas intervenções, mais diria aparições, não o confirmam. Bem pelo contrário. Não só alinha pelo estado de permanente azia e agressividade do chefe de fila do seu partido, como exibe uma petulância incompatível com o estatuto de professora universitária e deputada da Nação. Não haverá ninguém que lhe diga que aquilo não são maneiras de participar? E, já agora, que existe uma diferença entre "perda" e "perca"? Bem sei que há muitos trolhas que também não o distinguem, como também não percebem qual a diferença entre "porrada" e "pancada", mas esses não são deputados nem professores universitários. Para quem tem tanta sobranceria não ficava mal aprender alguma coisa antes de botar sentença. A ignorância e a falta de humildade não se disfarçam com a convicção.

SILÊNCIO INCÓMODO

Pedro Santana Lopes e Telmo Correia mantêm-se silenciosos após a divulgação do parecer da Procuradoria-Geral da República sobre o caso do Casino Lisboa. Este início de época estival pode ter levado muita gente a banhos e haver quem queira contar com ele para passar uma esponja sobre o assunto. Todavia, é bom que este assunto não seja esquecido. A incompetência, o favorecimento, o clientelismo, não podem ser lavados com uma simples notícia de jornal ou um encolher de ombros.

ESTADO DE BAGUNÇA GERAL

A greve dos transportadores que há três dias tomou conta do país e que se segue à paralisação dos pescadores, começa a assumir foros de insânia incompatíveis com a legalidade e a manutenção da ordem no Estado de direito. É a segunda vez num curtíssimo período que este é posto em causa. Que haja transportadores apostados em fazer greve e que impeçam os seus motoristas de trabalhar, violando de forma grave a proibição constitucional do lock-out (artigo 57º n.º 4 da Constituição), não é nada de estranho num país em que a ignorância campeia e quase ninguém tem a noção do que pode e não pode fazer. Mais grave é que a coberto da paralisação se pratiquem actos de violência gratuita sobre pessoas e de destruição danosa de bens alheios. É, além disso, inaceitável que três dias depois do inicío da greve, numa altura em que os postos de abastecimento de combustíveis já entraram em ruptura e os bens de primeira necessidade começam a escassear nos supermercados e mercados, a actuação das autoridades se limite à escolta de um ou outro comboio de camiões. Aquilo que tem estado a acontecer com a actuação dos famigerados piquetes de greve não pode prosseguir. Do apedrejamento de veículos à destruição de pneumáticos, da intimidação à violência directa sobre quem quer trabalhar, tudo tem acontecido. Se Mário Lino e o ministro da Administração Interna não têm coragem nem capacidade para fazerem impor a lei em todo o território nacional, importa que José Sócrates actue. Num país em que há gente com dificuldades para comprar bens de primeira necessidade não pode ser tolerado que haja vacarias a deitarem leite fora por não terem possibilidade de escoá-lo devido à greve dos transportadores. O Governo tem de actuar e tem de fazê-lo de forma firme, rápida e incisiva, ainda que isso tenha custos políticos e eleitorais. É inconcebível que o ministro dos Transportes se prepare para aguardar até 6ª feira para tomar uma decisão. O estado de bagunça geral em que estamos a entrar não pode continuar, sendo imperioso que a autoridade do Estado se faça sentir, nem que para isso seja necessário avançar para uma requisição civil ou pôr a tropa que está nos quartéis a fazer os transportes. Não estamos no Chile de Allende nem o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas se chama Augusto Pinochet.

sexta-feira, junho 06, 2008

RIDÍCULO

Santana Lopes continua convencido de que é o grande Gautama. Tendo perdido as eleições no PSD para Ferreira Leite, apressou-se a marcar eleições para a liderança do grupo parlamentar para o dia 11. Compreendem-se os motivos para tanta pressa, ainda mais sabendo-se que vai haver debate no dia 12 de Junho. A nova liderança do partido rejeitou a ideia e manifestou a sua vontade de que as eleições tivessem lugar depois do congresso que se realizará em Guimarães. Dito e feito, Santana escusou-se a retirar a marcação das eleições, embora ele próprio já tenha afirmado que não haverá candidatos. Pedro Santana Lopes não enxerga o ridículo da sua posição, mas ainda assim teve o desplante de prestar declarações á TSF afirmando que não percebia qual a dificuldade da nova liderança em encontrar uma direcção para o grupo parlamentar uma vez que, aqui está a explicação, ele próprio tinha formado um governo em oito dias! É verdade, foi tudo tão rápido que o partido, ou melhor, as "bases", que nunca o deixaram ficar mal, demonstraram-lhe o apreço que tinham pelo serviço prestado dando-lhe o 3º lugar nas últimas directas. Santana só se esqueceu de dizer que formou tão depresssa esse notável governo que houve ministros que só quando os chamaram para tomar posse perceberam as suas áreas de competência e as designações dos seus ministérios. Paulo Portas que o diga.

UM TIRO DE ZAGALOTE NO PÉ

Luís Filipe Vieira, o inconfundível presidente do SLB, que tem tanto de voluntarioso e genuíno como de caixeiro, resolveu investir contra o presidente da Federação Portuguesa de Futebol a propósito do caso da suspensão do FCP. Percebe-se a intenção do sujeito, mas a forma desastrada e inoportuna como intervém são de bradar aos céus. Vieira não entende que o desatino das suas declarações e do comunicado só podem prejudicar o SLB. Uma coisa é querer que a verdade desportiva seja respeitada, outra é querer tirar dividendos de um momento de fraqueza alheio. Aquilo que neste momento se poderia esperar do SLB era contenção e tanto quanto possível discrição. Só que até este pouco é muito para Vieira. Aqueles que em vida foram poupados a este espectáculo devem agora andar às voltas na tumba. Uma verdadeira infelicidade.

COMPORTAMENTOS ABUSIVOS

A ser verdadeira a notícia que o Diário Económico hoje publica de que a SONAE de Belmiro de Azevedo ganhou 97% dos processos que lhe foram instaurados pelo fisco, e nada há que permita concluir que a notícia não seja verdadeira, ela deveria fazer reflectir a Administração Fiscal e o Governo, em especial o ministro das Finanças, sobre a legitimidade e o interesse público da instauração de muitos desses processos que, como se vê, acabam por serem reveladores do enorme desperdício de recursos públicos e privados, atento o tempo que levam - em média 5 anos - e as consequências no tecido económico e empresarial. Diz Belmiro de Azevedo que o seu grupo tem mais de 103.000 processos em tribunal, sendo a maioria de recuperação fiscal de dívidas. Os números são avassaladores. Uma Administração Fiscal que se pautasse por padrões de exigência, rigor e legalidade não deixaria de ficar incomodada e de rapidamente dizer algum coisa sobre isto.

quinta-feira, junho 05, 2008

RESULTADO HISTÓRICO

A vitória, que neste momento é certa, de Obama na corrida para a nomeação como candidato presidencial dos democratas constitui o primeiro resultado verdadeiramente surpreendente destas primárias. Não tanto porque não fosse plausível a hipótese de Obama vir a obter a vitória na corrida com Hillary Clinton, mas pelo que ela representa. Trata-se do prelúdio de um momento de viragem na política recente dos EUA, de um desafio aos poderes tradicionais e aos lobbies mais poderosos. Certamente que o candidato não estará ao abrigo destes, mas é natural que estes repensem a sua forma de intervenção. O modo como Barack Obama se comportou durante o percurso que o trouxe até aqui, não obstante os ataques de que foi alvo e o apoio dispensável de um certo pastor, revela um homem de estatura claramente acima da média que nos tinha sido dada em anteriores eleições por outros candidatos, um homem bem preparado e conhecedor dos dossiers. O facto de ter vencido a senhora Clinton, apesar desta ainda não ter inexplicavelmente aceitado a derrota, só vem reforçar a sua vitória e dar-lhe o brilhantismo que dos seus discursos já transparecia. Espera-se que não dilua o capital de prestígio acumulado e o voto de confiança que os eleitores democratas lhe deram.

quarta-feira, junho 04, 2008

4 DE JUNHO

Passa hoje mais um aniversário sobre o massacre de Tiananmen. Pena foi que Miguel Urbano Rodrigues, que ainda ontem deu uma excelente entrevista a Ana Lourenço, na SIC Notícias, não tenha aproveitado para falar no assunto. Admira que quem se preocupa tanto com os direitos humanos no Afeganistão, no Iraque e nos Estados Unidos, e se dedica a emular os guerrilheiros das FARC, considerandos-os uns heróis, não se tenha lembrado do que aconteceu na R.P. China em 1989 e ainda há dias se repetiu no Tibete. Mas compreende-se quanto é difícil ser objectivo e isento quando se levou a vida toda a ler e ouvir ler sempre a mesma cartilha.

POR UM CANUDO

Tal como se esperava, a UEFA não esteve com meias medidas e puniu o FC Porto com um ano de suspensão de todas as competições internacionais. Há recurso? Pois há, mas não há memória de alteração de decisões no órgão de apelo. Menos ainda em matérias deste jaez. A culpa é de Madaíl? De Pinto da Costa? De Carolina Salgado? Dos Loureiros? Não, a culpa é de todos aqueles, como Miguel Sousa Tavares (vd. a edição de hoje d' A Bola), que consideravam normal e não punível a oferta de favores sexuais e outros a árbitros só porque se haviam banalizado, bem ao contrário do que ele opina noutros jornais em relação aos vícios de alguns autarcas e a uma certa promiscuidade, também ela banalizada, entre patos bravos e políticos. Felizmente que a UEFA não vai em cantigas, como também não foi quando puniu jogadores da selecção nacional e do Benfica por actos de indisciplina. A decisão servirá para acalmar todos aqueles que ainda acreditavam que o crime compensa quando é bem gerido e apoiado numa máquina regional bem oleada de aliciamento e controlo da opinião pública e das estruturas do futebol nacional. Fico satisfeito pelo Rui Costa e por todos aqueles que sempre se bateram pela verdade desportiva, dentro e fora do campo. Lamento pelos jogadores do FC Porto que não mereciam este desfecho e por todos aqueles que não se diferenciando de Pinto da Costa, na essência, agora sairão a terreiro para colher os louros da desgraça alheia.

PRISIONEIRO DO PASSADO

Manuel Alegre, um incansável lutador, poeta de altíssimo nível e prosador de excelência, que a tudo isso alia o facto de ser socialista, deputado e vice-presidente da Assembleia da República, resolveu iniciar uma cruzada contra o seu próprio partido (será?) e o Governo de José Sócrates, por discordar das opções deste último. De há uns tempos para cá, sempre que pode, Alegre critica alto e bom som as políticas do seu partido, o que é um direito seu e uma virtude dos inconformistas não formatados. Ontem resolveu associar-se a uma manifestação promovida pelo Bloco de Esquerda, pomposamente designada por comício-festa, no melhor estilo da esquerda festivaleira, onde todos falam e ninguém diz nada de útil. Levou com ele Helena Roseta, Henrique Neto, Ana Benavente e mais uns quantos. Pelo que percebi, entre outras coisas, reclamam o direito de se encontrarem com quem querem e onde querem. Parece-me bem. A liberdade é isso mesmo e não ter vergonha dos amigos. Só que por momentos senti que todos os convivas terão mergulhado numa espécie de PREC (renovado) prenhe de saudosismo. Cantaram canções de intervenção, algumas horríveis, desancaram numa certa esquerda que não alinha na sua encenação e Alegre aproveitou para fazer um discurso no melhor estilo do demagógico populismo bolivariano cultivado por Chávez. É verdade que há pobreza, que muita é escondida, que há desemprego e dificuldades. Nada disso é novo. Alegre diz ter um compromisso com os cidadãos que votaram socialista e que hoje estão desempregados. Clamou pela liberdade e pelo direito à diferença, como se estes estivessem ameaçados e só porque um qualquer aparatchik do partido o criticou. Apesar de tudo continua a parecer-me bem que haja gente como o Manuel Alegre. O que me causa alguma espécie é por que razão sendo ele militante do Partido Socialista se presta a associar-se a manifestações destinadas, não a discutir a esquerda ou os caminhos que esta deverá seguir, mas a gerarem maior insatisfação e crispação. Será que Alegre preferia que tudo estivesse como estava, que as reformas, designadamente as da Administração Pública e da Segurança Social, não fossem feitas, e que o défice continuasse a crescer? Por momentos pensei que este Manuel Alegre não tivesse nada a ver com aquele outro que foi a Macau caucionar as políticas neo-marcelistas e spinolistas de Rocha Vieira, Jorge Rangel e Alarcão Troni. Depois cheguei à conclusão que só podia ser o mesmo. O Manuel Alegre que eu me habituei a ler e a admirar tinha outra têmpera, outra fibra, e não era dado a folclores ou a alinhar em aproveitamentos ignóbeis das dificuldades alheias. É certo que nunca o vi como um bom samaritano, mas também sempre pensei que nunca seria pessoa de ficar contrariada ou a remoer. O PS tornou-se apertado e curto para Alegre. Já não é só um problema de baínhas. Se o fato já não lhe serve é altura de ele mandar fazer outro, para que se sinta melhor. A liberdade é isso mesmo. O direito à escolha, à livre opção. Uma coisa é a crítica livre e certeira. Outra é alinhar numa paródia demagógica, trauliteira e desprestigiante. Alegre arrisca tornar-se num fantasma, prisioneiro do passado e de um quixotismo destemperado. E é pena. Tem categoria para muito mais e para muito melhor.

IMPRESCINDÍVEL

O artigo de Baptista-Bastos no Diário de Notícias de hoje é mais uma pedrada no charco, no atoleiro de imbecilidades gerado pelo "fenómeno futebol" e por essa saga de indescritíveis tugas que se apoderou dos destinos da Federação Portuguesa de Futebol. A sua leitura é imprescindível porque, para além de não envelhecer, Baptista-Bastos mantém a grande virtude da lucidez e a coerência que é apanágio dos grandes espíritos. Que há muitos a ver o óbvio todos sabemos. Mas raros são os que têm a coragem de enfrentar este espírito patrioteiro, futeboleiro e foleiro que inundou as televisões e que assenta numa revisitação incessante da pobreza de espírito. O jornalista Luís Baila é o expoente máximo televisivo desse estilo cultivado por Madaíl e Scolari que mistura o culto da Senhora do Caravaggio com as canções de Roberto Leal e as aparições de Tony Carreira. Tudo em nome da idiotia, da falta de sentido das realidades e da ausência de noção das proporções. Aqui.

terça-feira, junho 03, 2008

DESAPARECIDO EM ACÇÃO

A avaliar pelo seu silêncio, alguém deve ter colocado uma rolha no presidente do FC Porto. A decisão da UEFA de analisar o processo da Liga ainda vai fazer correr muita tinta. Para já uma coisa é certa: é que qualquer que venha a ser a decisão o tempo da esperteza saloia está a chegar ao fim. A decisão do FC Porto de não recorrer, aceitando a punição na presente época para evitar o arrastamento do processo para a próxima época, mais do que uma aceitação da culpa foi uma manobra típica de um chico-esperto. É óbvio que a eventual punição dos campeões nacionais vai ter reflexos na imagem do futebol português, mas mais graves serão as consequências na imagem do FC Porto. Contudo, é também evidente que se houve tentativa de corrupção as sanções não poderiam ser inócuas sob pena de se estar a ser complacente com o crime e com os seus agentes. Não é a circunstância, estou em crer, dos factos remontarem a 2004 que vai impedir a UEFA de punir o FC Porto, em especial depois do que aconteceu com o Milan. A Liga do Sr. Hermínio quis agradar a gregos e a troianos com um simulacro de punição, punindo sem punir. O Sr. Madaíl antes de seguir de férias para a Suiça aproveitou para tentar sacudir a água do capote, no que é já um procedimento habitual por parte da casa que dirige. Agora estão todos aflitos. Amanhã se saberá um pouco mais.

ESTÁ FEITO

(FOTO CORRIERE DELLA SERA)