A procuradora-geral adjunta escolhida pelo Procurador-Geral da República para coordenar o processo do “Apito Azul”, perdão, “do “Apito Dourado”, Maria José Morgado, deu uma entrevista à Sábado. Depois da efémera passagem da senhora pela PJ, de quando em vez ouvia falar nela, lia umas linhas aqui outras ali e ouvia-a perorar de tempos a tempos sobre o fenómeno desportivo, a corrupção e o crime de colarinho branco. Embora não tivesse gostado de ler o bilhete que enviou a Adelino Salvado, entendi que lhe devia ser dado o benefício da dúvida. Não é todos os dias que se vêm neste país de brandos costumes e inefável vida, magistrados tesos, incómodos, a falar de forma livre e responsável, sem que com isso puxem os galões das suas corporações.
Com a breve entrevista que deu à Sábado, Maria José Morgado, mostrou que merece bem mais do que o benefício da dúvida. Já não estamos no campo do mero voluntarismo ou da ingenuidade, mas perante uma mulher de corpo e alma entregue ao seu munus. E isso é bom.
Deixo aqui algumas das frases que foram por ela proferidas e que, sinceramente, espero que não venham a ser corrigidas:
“O meu tempo é nenhum e para tal vou ser muito exigente”
“Todos os processos têm alguma solução. A justiça tem de explicar as coisas num tempo definido.”
“O mal do Ministério Público é não haver competição, parecermos todos muito, muito bons e muito, muito iguais.”
“O sindicalismo em Portugal foi pernicioso, porque apresentou uma magistratura a olhar para o umbigo e preocupada com meios que são instrumentais, e nunca apresentou uma estrutura preocupada em estar ao serviço do cidadão. É contrário à natureza do sindicalismo, é aquilo a que chamo o espírito sindicaleiro”
É, pois, reconfortante saber, como cidadão e advogado, que no meu país também há magistrados a pensar assim. Por estas e por outras é que eu, neste país cheio de bananas armados em homens, recordando o Cinatti, continuo a gostar muito de “mulheres ao alto, ao lado, ao fundo e, adormecido, sonhar fora do mundo”.
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