domingo, dezembro 31, 2006

EPITÁFIO AO CAIR DE 2006



EPITÁFIO

Mais do que senti-lo,
pressinto-o no instante que se imobiliza:
De novo este ruído surdo,
persistente, de areia fina em movimento.
Este eco inaudível de inutilidade
escorrendo sem fim pelas escuras
paredes do tempo.
Esta presença impalpável, porém objectiva,
firmando-se em luminosa interioridade,
agudo ângulo que a noite vai rectificando.

Em essa voz ciciada me consumo,
mas a paixão inútil que sou
arde por amor dos homens.

(Rui Knopfli, in Máquina de Areia, 1964)

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