sexta-feira, janeiro 30, 2009

ALGUMAS NOTAS SOBRE O FREEPORT

1 - Segredo de Justiça: já era
Ontem todos ouviram a Drª Cândida Almeida dar as explicações que, no seu entender, se impunham. Com maior ou menor comedimento lá se ficou a saber que foram as autoridades portuguesas de investigação, e não os ingleses, que em 2005 meteram o primeiro-ministro no rol dos suspeitos. Cerca de duas dezenas no total. O Diário de Notícias publica hoje a tradução da carta recebida de Inglaterra. O segredo de justiça em Portugal é um segredo de polichinelo.

2 - Trapalhadas: é o outro nome do caso Freeport
Já todos perceberam que a história está muito mal contada e que os ingleses que andam metidos ao barulho não são flor que se cheire. Mas que necessidade havia de andar a dar o dito por não dito? Afinal quem esteve nas reuniões, quantas houve e que competências tinha a Smith & Pedro que a recomendasse aos ingleses? Em que outros projectos estiveram envolvidos antes do Freeport? Que trabalhos fizeram nos anos de 2004 e 2005 que justificasse a facturação apresentada? Por que razão um ministro se envolve numa trapalhada destas e com gente daquela?

3 - Rogatórias: uma dor de cabeça
Qualquer rogatória pedida às autoridades inglesas leva meses ou anos a ser cumprida. Por vezes vêm devolvidas por cumprir, com dúvidas e interrogações do magistrado que a recebeu, com pedidos de esclarecimento e conclusões do tipo "a pergunta não faz sentido". Por que motivo haviam de ser mais céleres com o caso Freeport? E por que raio havia o Ministério Público de fazer o que as autoridades inglesas queriam? Já era tempo da União Europeia ter uniformizado o cumprimento das rogatórias. Aí é que a cooperação internacional faz todo o sentido, não na fixação do diâmetro das ervilhas ou na medida dos preservativos.

4 - José Sócrates: o alvo a abater
O primeiro-ministro é o alvo a abater nas sucessivas violações do segredo de justiça, nas frases sibilinas que alguns adversários políticos vão deixando cair ao mesmo tempo que lhe dão um voto institucional - não pessoal, note-se - de confiança. Ser um alvo a abater não pode justificar declarações/conferências de imprensa como as de ontem. Ficam todos mal na fotografia: o primeiro-ministro, pela imagem que dá - não serve de nada vir aos berros para a praça pública proclamar inocência -, o PS, que governa com o credo na boca, os militantes que os apoiam e os eleitores que neles confiaram. A escolha dos dirigentes tem de ser mais criteriosa.

5 - Ministério Público: sempre aos soluços
Não há investigação que se preze que não ande aos soluços, aos repelões, aos encontrões. Os timings estão cada vez mais obscuros. Depois é preciso vir dar explicações, mas a maioria dos cidadãos ainda não percebeu o que se está a passar, nem qual a dificuldade para ainda não se ter arrumado a coisa e tirado conclusões. Há demasiada gente a falar muito sem dizer nada.

6 - Offshores: alguém tem de dar o passo
Portugal devia tomar a iniciativa neste capítulo. Acabe-se com a farsa.

7 - Autarquias: sempre presentes
Não há escandaleira neste país que não meta uma autarquia ou um autarca ao barulho. Enquanto não houver uma revolução a esse nível não se livram da má fama. Pelos pecadores pagam os justos.

8 - Ideias peregrinas: são em catadupa
Do "chumbo estratégico" do projecto para afastar um autarca comunista até às apressadas conclusões de Pacheco Pereira. Mas as mais estapafúrdias estão a sair de onde não seria possível imaginar: dos próprios jornalistas. Parece que lhes está dar qualquer coisa. Confundirem uma empresa de prestação de serviços com um escritório de advogados que funciona ao lado não é brilhante, em especial quando em causa está o sigilo profissional destes últimos. Mas o bom e bonito foi quando ouvi Carlos Magno na RTPN. Pensei que ele delirava ao sair-se com aquela proposta da suspensão de funções do primeiro-ministro durante uns meses para se poder acabar a investigação. Tanto querem perorar na crista da onda que depois saem pérolas destas. Sem desculpa.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

MAIS UM CASO DE POLÍCIA

(foto Correio da Manhã)

Quem olhe sem grande atenção para a fotografia que ilustra este pequeno post é capaz de pensar que se trata da entrada de alguma casa de alterne. Uma porta discreta, uma senhora preparando-se para entrar no prédio com um vestido curto, deixando antever um pouco da coxa, de salto alto e malinha debaixo do braço. Sucede que a porta em questão não é de uma casa de alterne, mas a entrada de um dos edifícios do Banco Privado Português (BPP). O tal da estratégia do retorno absoluto. A fotografia que o Correio da Manhã publica, como se viu, pode levar as pessoas a fazerem associações pouco simpáticas para o BPP, só que à medida que se vão sabendo os pormenores das investigações em curso, verifica-se que para além da simples má gestão e irresponsabilidade de quem gere fundos alheios, o BPP se assume como mais um caso de polícia. Saber-se que depois de requerida a intervenção do Estado, numa altura em que os depositantes pretendiam já reaver o seu dinheiro, se efectuou uma transferência de fundos para a Suiça, por ordem de um accionista, no valor de 15 milhões de €uros, não pode deixar de ser visto como uma "safadeza", mais própria de uma alternadeira do que de uma instituição séria a quem gente de boa fé entregou as suas poupanças para serem geridas e o Estado confiou. Aos poucos, o cidadão comum vai tendo umas luzes sobre a utilidade das sociedades off-shore. Confesso que neste ponto a minha visão da coisa está bem mais próxima das de Manuel Alegre, Saldanha Sanches e Francisco Louçã do que da de José Sócrates. Quando as autoridades que investigam o BPP começam a falar, ao lado da gestão danosa, de branqueamento de capitais, abuso de confiança e falsificação de documentos, fica a ideia, uma vez mais, de que o mundo empresarial e financeiro deste país tem demasiados casos de polícia para poder ser levado a sério. As notícias de hoje no Correio da Manhã, no Diário de Notícias e no Público são deveras preocupantes. Com excepção de João Ulrich (BPI), até agora, pouca gente disse alguma coisa sobre este caso. Há silêncios que falam por si. Isto está a precisar de uma grande desinfestação.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

FAZER DOS OUTROS PARVOS

Dias Loureiro, ilustre conselheiro de Estado, esteve ontem na Assembleia da República para ser ouvido pela comissão parlamentar de inquérito ao caso BPN e não desiludiu quem o quis ouvir. Depois da entrevista que havia dado a Judite de Sousa, em que quis fazer dos telespectadores palermas, voltou a bater nas mesmas teclas, mas agora perante os deputados. Eu não sei se algum deles acreditou numa palavra que fosse de Dias Loureiro, mas ele mais não fez do que se desqualificar. Loureiro, embora fosse administrador executivo, demorou um ano e meio a perceber que o BPN era gerido como uma mercearia e depois de ser tratado como verbo de encher - "sem nenhuma função", disse ele - por Oliveira e Costa, ainda ficou mais uns anos como administrador não-executivo. Certamente que o fez para ver se compreendia o "modelo de gestão one-to-one" do banco e se aprendia alguma coisa. Era, como ele próprio disse, um "tempinho" aqui, um "tempinho" ali e nada de reuniões, nada de actas. Ficou preocupado, diz ele, mas como se sabe agora não agiu em conformidade com a sua preocupação. Limitou-se a pedir "explicações" a Oliveira e Costa e ficou satisfeito com as que lhe foram dadas. As empresas, tal como as suas dúvidas, evaporaram-se num ápice, mas ele aceitou a explicação para a sua evaporação. Enquanto o diabo esfregava um olho elas passaram do estado sólido ao gasoso. Vai daí, Loureiro fez a mala e em vez de denunciar a escandaleira e bater com a porta, que era o que qualquer homem que se preze faria, estacionou na prateleira do lado. Por mais um "tempinho", onde sempre ia "pingando" mais algum. Dias Loureiro, para além de ter violado os seus deveres para com os accionistas da instituição e o regulador, já que lhes devia ter transmitido - por escrito para que não restassem dúvidas e porque as palavras são levadas pelo vento - oportunamente as suas preocupações e alertado para o que se estava a passar, comportou-se como um qualquer pacóvio oportunista disposto a silenciar e a dobrar a cerviz perante um merceeiro para poder garantir uma tença. Optou pelo caminho mais cómodo e mais fácil, o que não é admissível num homem com a sua craveira intelectual e percurso político. Foi lamentável. Se já tinha sido um mau administrador, agora fica a certeza de que não pode ser bom conselheiro de Estado. A mim bastou-me um "tempinho" para o perceber. As declarações de ontem só vieram confirmá-lo.

terça-feira, janeiro 27, 2009

FRANK LANGELLA

O filme de Ron Howard até pode não ser grande coisa para a crítica, mas a soberba interpretação de Frank Langella faz dele uma das estrelas da temporada. Já com cinco nomeações para os óscares, seria um "crime" não ver Frost/Nixon. Em especial agora que se fala tanto em Freegate, perdão, Freeport.

A MADEIRA NO GUINESS BOOK OF RECORDS

Está a dar brado o artigo publicado no El Pais sobre a permanência no poder de Alberto João Jardim. Depois de ser comparado a Khadafi, pela circusntância de estar há quase tantos anos no poder quanto aquele, o presidente do Governo Regional da Madeira tem direito a alguns mimos: carácter histriónico; modos caudilhescos que o levam a desvalorizar, insultar e incomodar adversários políticos, incluindo os do seu bando; produto genuinamente madeirense catapultado em partes iguais pela Igreja e pelo antigo regime; caudilho local do PS; o regime político da Madeira tem todos os tiques de uma república das bananas...
Em meia dúzia de linhas, o soba regional teve direito aos quinze minutos de fama de que tanto gosta. Vamos ver se desta vez também processa o El Pais ou se prefere impedir a entrada na ilha do seu correspondente em Portugal. O artigo está todo aqui no original, estando a versão nacional acessível no Público on-line.

DÚVIDAS E CONTRADIÇÕES

"Foram constituídas com dinheiro meu, ganho de forma honesta", esclareceu o tio de José Sócrates, no comunicado que emitiu, a propósito das suas contas offshore. O Diário de Notícias faz eco destas declarações, mas seria conveniente que já agora se esclarecesse por que raio gente que ganha a vida de forma "honesta" precisa de ter contas offshore: será para poder pagar à gente "desonesta" que por aí trafica favores e facilita licenciamentos?

CURIOSO

O Correio da Manhã resolveu, na edição de hoje, ir buscar o nome de Manuel Pedro, o sócio da Smith & Pedro - Consultores Associados, Ldª, cuja dissolução foi registada no passado mês de Dezembro, para fazer a associação entre este e o Partido Socialista. A lama quando salpica suja todos os que estão à volta, mas talvez o Correio da Manhã desconheça que Manuel Pedro integrou a cúpula dirigente do PSD na Faculdade de Direito de Lisboa, na 1ª metade dos anos 80. António Preto e Sérgio Lipari Pinto devem-se lembrar bem dele. Independentemente do que possa vir a ser apurado e devidamente esclarecido, uma coisa é certa: a associação que o jornal faz é claramente abusiva e via manchar o nome do PS.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

O FUTEBOL PODE ESPERAR

Quando Hermínio Loureiro decidiu congregar apoios para se candidatar à direcção da Liga de Clubes, logo prometeu credibilidade e responsabilização e garantiu que iria promover o futebol e levá-lo ao encontro das pessoas. Na altura, conhecendo a pobreza do seu currículo técnico e político e o seu percurso profissional, percebi o que estava por detrás dessa candidatura e desse discurso. Os objectivos de Loureiro e do seu clã falavam em coisas como transparência, em explicar a arbitragem à sociedade civil e em tecnologia ao serviço da verdade desportiva. Pelo caminho, Hermínio Loureiro manifestava vontade de rever regulamentos caducos e obsoletos. Desde o vazio discurso da tomada de posse, em 2 de Outubro 2006, até hoje, já passaram mais de 2 anos. Os resultados começam a aparecer: confusão total no seio da Liga, prepotência e incompetência de muitos árbitros, regulamentos mal feitos, desconhecimento de coisas tão banais como o conceito de "goal average", interpretações de regulamentos que revelam desprezo pelas regras do jogo e pelo público. Agora o chefe de fila dos árbitros e maioral da Liga, Vítor Pereira, até convida as pessoas que não acreditam na arbitragem a ficarem em casa. Inacreditável. Está visto que foi melhor árbitro do que alguma vez será dirigente. Os erros são em catadupa. Não há jogo da I Liga que não seja ganho ou perdido à custa de erros da arbitragem. A desconfiança é geral. E, não obstante, a vida continua como se nada se passasse. Quando a confusão aperta Loureiro desaparece, refugia-se no silêncio. Aos poucos tornou-se no símbolo maior da promiscuidade entre a medíocre política, o futebol e a arbitragem. Consagrou-se como a mais acabada imagem do status quo. O futebol português está em acelerado processo de desintegração. Mas Hermínio Loureiro e a sua gente seguem anafados e impantes. A mesa pode parecer um chiqueiro, a toalha estar cheia de nódoas, os guardanapos sujos estarem espalhados por todo lado e os convivas ao redor da mesa a arrotarem e a palitarem os dentes. Ainda assim continuam todos na cavaqueira. Discutem a jornada, interpretam regulamentos, riem-se muito e sorriem para as câmaras. De vez em quando franzem a testa. O cheiro pode incomodar, mas logo disfarçam e continuam. Enquanto o barril não acabar e houver caracóis para espetar, não há nada que não se resolva. A cerveja engorda, mas o futebol pode esperar.

KUNG HEI FAT CHOI

Este é o primeiro dia do novo Ano Lunar do touro. É tempo de celebrar e de desejar a todos os leitores deste blogue e companheiros da blogosfera os maiores sucessos, num ano que vai ser de muita luta e de muito trabalho em busca da prosperidade. O touro é o melhor símbolo do combate que nos espera, mas também a maior garantia de empenho e de dedicação. As previsões estão aqui.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

O SOL A FINAR-SE

Há três anos atrás, praticamente na mesma altura em que este blogue conheceu a luz do dia, e com a cagança de quem tinha o Sol no umbigo, José António Saraiva desdobrava-se em entrevistas auto-elogiadoras, anunciando um projecto inovador na área da comunicação social. Prometeu vendas de 50 a 70 mil exemplares no prazo de 3 meses e a chegada à liderança dos semanários portugueses no final do primeiro ano. No prazo de 3 anos, proclamava então, seria "o maior e mais influente semanário português". Tinha slogans como "um jornal como nunca se viu" e "jornalismo da 4ª geração". Outras frases como "em três anos seremos o maior jornal português, não só batendo o ‘Expresso’, como qualquer outro semanário que apareça entretanto", "não é preciso muito para [o Sol] se tornar líder e ser o jornal mais influente do país" e "a altura em que o jornal é lançado é tão favorável, quer em termos de [situação do] país, quer em termos de mercado, que seria preciso ser muito mau e muito aselha para que isso [a liderança] não acontecesse", tornaram-se banais. Pelo caminho, para se demarcar desses "ciganos" que oferecem talheres e chinelas, dizia que não oferecia brindes, coisa que logo nos primeiros meses foi desmentida. Há pouco fiquei a saber que o semanário Sol já está com dificuldades para pagar salários e que o arquitecto Saraiva anseia por se livrar do buraco que criou. O jornalismo da 4ª geração afinal é um fiasco total. Bastaram menos de três anos para se perceber que quem tinha razão era Francisco Pinto Balsemão. O optimismo e a profundidade das análises do ex-director do Expresso não resistiram à crise. Mais dia menos dia vamos todos ler que o Sol se finou e que não passou de um sonho megalómano promovido por aselhas. Terrivelmente, continuará a ser este o drama de Portugal. O semanário Sol, mais o BPN, o BPP - quando será a próxima conferência de João Rendeiro? - , a Qimonda, as declarações de Miguel Cadilhe no Parlamento, as de alguns dirigentes do PSD sobre o TGV ou as de Mendes Bota sobre a escolha da concelhia de Olhão para as autárquicas, são o melhor sinal dos tempos. Bancários exercem funções de banqueiros, jornalistas são administradores de empresas, docentes universitários são empresários, simples amanuenses são políticos e até há advogados que se intitulam "médiuns", têm "visões" e, presumo, falam com os mortos. Um espectáculo! É, pois, natural que este seja um país entregue a aselhas. O Sol é o melhor espelho disso mesmo.

FALTA DE VERGONHA

Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos da América e tomou posse. De repente, todos os que ao longo dos últimos 8 anos apoiaram o deprimente espectáculo de George W. Bush, que alinharam com a fantochada dos Açores, com o desconchavo iraquiano e com as sucessivas violações dos direitos humanos, com os atentados contra o ambiente, com a insânia de Guantánamo, e que fizeram de conta que os voos da CIA nunca existiram, vêm agora proclamar-se obamistas, esquecendo os anos em que foram acérrimos bushistas. Esta manhã na Assembleia da República até o CDS/PP manifestou a sua satisfação pela investidura de Obama e aplaudiu as primeiras decisões da nova administração em matéria de direitos humanos. Durante anos não se lhes ouviu uma palavra sobre esta matéria. Já não bastava ler o que o José Manuel Fernandes e alguns cronistas de ocasião passaram a dizer e a escrever. Amanhã ainda vamos ouvir Durão Barroso dizer que nunca esteve nos Açores e que a intervenção no Iraque só existiu no Second Life.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

VENTURA LEITE

A Airbus foi no passado uma fonte de problemas para um Governo de Cavaco Silva. Agora volta a sê-lo para José Sócrates. Só que desta vez não se tratam de fumos de corrupção, mas de ligeireza na acção governativa, o que sendo igualmente deplorável sempre é menos mau para o primeiro-ministro que lidera. O Público retoma hoje, e bem, as questões levantadas pelo deputado do PS Ventura Leite, a propósito das contrapartidas da Airbus na aquisição dos aviões da TAP. Infelizmente, continuo a ter a pior das impressões de Mário Lino, não quanto à sua competência técnica ou profissional, mas quanto ao seu desempenho político e a forma como enfrenta os problemas que lhe surgem pelo caminho. Primeiro disfarça, faz de conta que não é nada com ele. Depois, quando não pode contornar a questão, arranja uma justificação estapafúrdia, e no final, quando a coisa aperta e fica sem argumentos, espalha-se. Com ele o problema não é de corrupção ou de falta de idoneidade ética ou moral. Em causa está apenas a sua falta de jeito e o espírito, certamente herdado da sua longa passagem pelo PCP, de querer tapar o sol com uma peneira e tentar controlar o que manifestamente lhe escapa. De tempos a tempos lá vem mais uma bordoada. Quando um relatório parlamentar, elaborado por um deputado da maioria, aponta erros e negligências com a amplitude dos que ali constam, confirmados pela carta da Airbus de 2005, o primeiro-ministro não pode ficar indiferente. Eu sei que ele vai ignorar. E é pena. Após o que aconteceu com a OTA e depois das intervenções desabridas de Lino, desmentido pelos factos e ultrapassado pelos acontecimentos à velocidade de um raio, o que agora se sabe deste caso da Airbus se conhecido há um ano atrás certamente que teria consequências diferentes. É óbvio que Mário Lino não poderá ser substituído nesta altura, a meia dúzia de meses das eleições. Os ganhos seriam inferiores às perdas. Ao menos que sirva de lição. Ventura Leite, que na suas próprias palavras recusa "a ideia de ser uma espécie de vereador no Parlamento", cumpriu a sua função de deputado. Seria bom que se percebesse isso. A começar por José Sócrates e pelos que no parlamento fazem de vereadores. É isso que dignifica o PS, não o contrário.

BOM SENSO

A decisão do Governo de alterar as propostas que previam a adjudicação de obras sem concurso para montantes até 5,1 milhões de euros é uma decisão sensata. A única excepção contemplada é agora a construção de escolas, mas aí o escrutínio será maior e mais directo. O que não se admite é que numa altura destas ainda se cometam erros de palmatória. José Sócrates não pode continuar a ser tão tolerante com os erros cometidos em casa. O amiguismo não pode ser critério.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

PALAVRAS-CHAVE EM QUALQUER PARTE DO MUNDO

A nova imagem da Casa Branca e a antevisão das mudanças que aí vêm são já perceptíveis no novo site. A primeira mensagem aí colocada pelo novo director de comunicação da Casa Branca, Macom Phillips, é sinal de uma nova atitude na relação entre o poder e os cidadãos e vai buscar três palavras que são hoje a chave do sucesso de qualquer democracia que se preze: comunicação, transparência e participação. Quem tiver ouvido e se recordar da brevíssima intervenção que fiz há três meses atrás, em Lagoa, não poderá deixar de sorrir. E não sou bruxo!

terça-feira, janeiro 20, 2009

JANUARY 20, 2009

"We have chosen hope over fear"

"All are equal, all are free and all deserve a chance to pursue their full measure of happiness"

"In reaffirming the greatness of our nation, we understand that greatness is never a given. It must be earned"

INAUGURATION DAY

O número não pode deixar de fazer sorrir os mais supersticiosos. Dentro de poucas horas tomará posse como o 44º presidente dos Estados Unidos da América. Uma capicua, um número perfeito para o numerologista Will Bontrager. Número cujos algarismos somados fazem o 8, dirão os chineses. Pronunciado como "ba", o que soa algo parecido com prosperidade, é para estes um número que apresenta uma geometria perfeita, uma esplêndida simetria. É sinal de equilíbrio. Dele, já não do número mas do homem, se espera tudo. Até o impossível. Mais do que um presidente normal e decente, muitos milhões gostariam que dentro de quatro anos o seu nome não fosse apenas um sinónimo de confiança, mas que a palavra esperança, qualquer que seja a língua, se escreva e pronuncie como o seu nome. Good luck, Mr. Obama!

UMA FRONDA A SUL

Tal como se previa, a Comissão Política Distrital do PSD/Algarve aprovou a escolha de Gonçalo Amaral como candidato do partido à Câmara Municipal de Olhão. Dizem as notícias que tem um currículo "brilhante" e "valioso", que não é um candidato "contra-natura" (sic), nem "importado à última hora", pois reside no Município de Olhão desde Março de 2003, local de "onde é oriunda a família da esposa" (!), além de que no seu perfil "não existe (...)uma única sílaba que não corresponda na íntegra ao perfil aprovado pelos órgãos nacionais do partido". Perante a solidez dos argumentos avançados para a reafirmação da escolha, há quem espere os aplausos da direcção do partido para tanta consistência. Creio que a Drª Manuela, perante tais argumentos e um resultado digno dos congressos do Partido Comunista Chinês - 27 votos a favor e uma abstenção -, não deixará de apreciar o repto. E depois, bom, ou a Comissão Política Nacional engole mais este gelatinoso sapo ou o PSD terá nova fronda a caminho da Lisboa. Só por isto, o presidente do PSD/Algarve já merecia uma comenda.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

DUAS PEDRADAS NO CHARCO

O Expresso tornou-se num jornal maçudo e chato. As mais recentes alterações, em especial na Revista "Única", tornaram-no numa coisa sem qualquer interesse, à excepção dos artigos de Pereira Coutinho, Clara Ferreira Alves e, por vezes, do Comendador Marques de Correia e de Inês Pedrosa. Quanto ao mais, verifica-se que as reportagens são de interesse nulo. Luís Pedro Nunes deve ser um óptimo entertainer mas não escreve nada que se se deixe ler e a organização gráfica e temática da revista dificulta a leitura. Mas de quando em vez o jornal que teimosamente vou comprando, lá vem com um ou outro naco de prosa decente. Foi o que aconteceu este fim-de-semana com o artigo de Nicolau Santos, no caderno de Economia, a propósito das "convicções" de Miguel Cadilhe, que este considera verdades únicas e imutáveis, e com a reportagem do 1º caderno sobre os negócios da Gebalis com a Hidrauliconcept, a Duolínea e a Cotefis. Quanto a estes últimos, a imagem que se vai desvendando da teia de relações entre os negócios e a política e a forma como tais relações se consolidaram ao longo dos anos, confere um amargo gosto napolitano a tudo isto. E isto não tem qualquer relação com o apelido do empresário e militante do PSD que aparece nessas estranhas relações comerciais. A verdade é que a forma como a facturação se fazia, as fiscalizações recíprocas, em claro conflito de interesses, e a notícia dos trabalhos de muitos milhares que foram encomendados e pagos sem concurso e nunca realizados, deixam-me com a sensação de que a Camorra não saberia fazer melhor. Quantos dos que contribuíram para que a Gebalis chegasse a tamanha promiscuidade e bandalheira, mesmo não tendo cometido ilícitos de natureza criminal, continuam a militar no PSD e aparecerão nas suas listas prontos para assumirem cargos de responsabilidade nas autarquias ou no parlamento?

domingo, janeiro 18, 2009

UM CASO EXEMPLAR

Paulo Portas, o líder do único partido unipessoal existente em Portugal (o Bloco de Esquerda é mais do género "cooperativa"), conseguiu reforçar o seu poder dentro do CDS/PP. Os resultados do XVIII Congresso são sintomáticos da situação que por aquelas bandas se vive. Num partido com apenas 11 deputados, depois da deserção de um dos que tinha sido eleito, praticamente sem quadros e sem tropas, Paulo Portas conseguiu a proeza de triplicar o número de vice-presidências da sua comissão política. Passou de 2 para 6, dando a ideia de que pode não ter soldados, mas generais não lhe faltam. É natural que quem assim procede tenha depois um discurso a propor o emagrecimento da Administração Pública, dos institutos públicos e das entidades similares, e seja o primeiro a criticar a distribuição de lugares que o PSD e o PS costumam fazer quando estão no poder. Confirma-se assim que Paulo Portas assimilou a velha ideia clientelar e autoritária de que a melhor forma de consolidar o poder é distiribuir cargos e benesses. Com sorte, no próximo congresso, o CDS já terá mais vice-presidentes do que deputados, o que garantirá a Paulo Portas um lugar no Guiness World of Records.

UM DEBATE ACTUAL

Nasceu em Madrid no dia 30 de Janeiro de 1968. Nesse mesmo dia de 1986, quando completou 18 anos, jurou perante as Cortes Gerais de Espanha fidelidade à Constituição e ao Rei. Está quase a completar mais um ano. Por isso mesmo, o número de Janeiro da GQ (edição espanhola da "Revista Masculina con más estilo del Mundo") resolveu abrir o debate sobre Felipe de Borbón e a sucessão de Juan Carlos I. Formulou um conjunto de perguntas (Qual será o perfil deste Rei?; Carisma ou formação académica, o que deve ser preponderante num chefe de Estado do século XXI?; Ser rei na actualidade obriga à revalidação diária da monarquia?; Qual a chave para a soberevivência da Monarquia em Espanha?) e ouviu, sem qualquer censura, gente tão distinta como Antonio Muñoz Molina, Andrés Merino Thomas, Ángel Esposito, Ferran Adrià, Iñaki Gabilondo, Jesús del Pozo, José Antich, Fernando Savater, Iñaki Anasagasti, Victoria Prego, Antonio Gala, Roberti Verino, Gonzalo Suarez, Pilar Rahola ou Inés Sabanés. Para além de ficarmos a saber que apesar de saber pilotar jactos F-18, o herdeiro do trono de Espanha não sabe galego, nem catalão, nem basco, é interessante verificar a disparidade de opiniões, quer sobre a sua formação, quer sobre o que gente influente de Espanha pensa sobre o futuro da monarquia. Uma coisa é certa: a liberdade e a democracia estão profundamente enraizadas e sem estas um debate destes nunca se faria. Qualquer que seja o campo, monárquico ou republicano, isso é o fundamental e a melhor garantia para o futuro.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

OS MEUS HERÓIS TÊM NOME

Graças ao sangue frio e à perícia deste homem evitou-se mais uma tragédia. Não só cumpriu exemplarmente a sua função, como ainda teve tempo para se certificar de que não havia mais ninguém dentro do avião que caiu no Hudson, antes de abandoná-lo. São homens destes que dão sentido à vida e nos mostram a grandeza de Deus. Chama-se Chesley B. Sullenberger, mais conhecido por "Sully". Outros pormenores podem ser encontrados aqui.

MEDIATISMO INSUFICIENTE

Pelo que se percebeu da entrevista de ontem da líder do PSD, para se ser candidato à Câmara Municipal de Olhão não basta ser de Olhão e ter olhão, como também não chega ter acesso ao Correio da Manhã, ao 24horas e à TVI ou ter o apoio de alguns acéfalos locais e do soba distrital. A esta hora ainda deve haver muito regionalista a recuperar do choque.

SÓ CONTOU PARA ELE

"Manuela Ferreira Leite (...) disse-me que eu estivesse descansado que ia ganhar ao Sócrates", Alberto João Jardim dixit. Será que ela contou só para ele? E ele acreditou?

quinta-feira, janeiro 15, 2009

SONDAGENS IRRITANTES

Não sei o que exasperará mais o PSD e os seus militantes, se as intervenções de José Sócrates na Assembleia da República, se o resultado das sondagens. Esta é mais uma machadada na sobrevivência da actual iderança.

AINDA NÃO DISSERAM NADA

Os escribas que normalmente são lestos a atacar as arbitragens quando o Benfica é beneficiado, nas raríssimas vezes em que isso acontece, ainda nada disseram sobre o golo com que o Sporting brindou ontem o Rio Ave. Desta vez emudeceram. É o sistema a funcionar.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

O Cardeal Patriarca, D. José Policarpo, um homem raro e inteligente, numa conversa informal ocorrida na Figueira da Foz, alertou para os problemas que poderiam resultar das uniões entre mulheres portuguesas católicas e homens muçulmanos. Fê-lo de uma forma clara, sem qualquer intuito ofensivo, apenas alertando para as dificuldades de relacionamento e entendimento que daí poderiam resultar. Agora vai para aí um escarcéu, como se o homem tivesse dito alguma coisa do outro mundo. A intolerância árabe em relação ao Ocidente sempre que em causa estão assuntos religiosos não é novidade e ciclicamente reaparece sob as formas mais bárbaras (como na reacção aos Versículos Satânicos e no caso dos cartoons na Dinamarca para só referir as mais violentas). Querer pegar a parte pelo todo para atacar D. José Policarpo (e eu não gosto de padres) é uma estupidez. Não alinho com essa cambada. Não se vê em quê que um homem que diz coisas como "Nós somos muito ignorantes, queremos dialogar com muçulmanos e não gastámos uma hora da nossa vida a perceber o que é que eles são. Quem é que em Portugal já leu o Alcorão?” e “Se queremos dialogar com muçulmanos, temos de saber o bê-a-bá da sua compreensão da vida, da sua fé. Portanto, a primeira coisa é conhecer melhor, respeitar” pode estar a atacar a religião ou a fé dos crentes em Alá. Continua a haver por aí muito fundamentalista ignorante e bacoco que reage epidermicamente a qualquer referência ao Corão e a Alá, confundindo o direito a pensar e a liberdade de expressão com a sua própria intolerância religiosa.

FIM DA LINHA

Esta notícia merece um comentário do meu amigo Pedro Correia e de todos os fãs de Luiz Filipe Scolari. Então o homem não é um génio? Não trabalhava muito bem o balneário? Não foi quase campeão da Europa? Não se fartou de fazer bons resultados? Tal como eu previa, em Inglaterra, com as mesmas armas dos outros, o homem não aguentaria mais do que seis meses.

terça-feira, janeiro 13, 2009

A COMISSAO DA CERTIFICAÇÃO ENERGÉTICA

Hoje recebi este e-mail:

"Bom dia:
Encontro-me presentemente a fazer certificação energética de imóveis.
Em anexo junto tabela de preços, consoante o tipo de imóvel.
O ficheiro tem 3 folhas: uma com as comissões, outra PVP incluindo comissões e outra PVP apenas com os meus honorários.
Tomei a liberdade de incluir uma comissão de 25% para si. Caso prescinda dela, poderá aplicar a tabela apenas com os meus honorários aos seus clientes.
Refira-se que consigo garantir um prazo de entrega do certificado energético definitivo de 5 dias úteis
."

Em "A Corrupção e os Portugueses - atitudes, práticas, valores" (Luís de Sousa, João Triães, Editor Rui Costa Pinto, Outubro de 2008), escreveu-se que "os portugueses são muito tolerantes em relação a uma série de práticas não reguladas ou de difícil regulação, nomeadamente, conflitos de interesses, 'cunhas', 'amiguismos', favorecimentos, patrocinato político, etc." E um pouco mais adiante que "a cultura de corrupção é um problema e uma realidade da sociedade portuguesa. Todavia, este problema resulta mais da demissão, ancorada na legalidade, dos juízos morais e éticos dos cidadãos, do que das características do regime democrático"

Depois de ler aquele e-mail que me enviaram perguntei quantos mais não virão, e quantos não aceitarão, com a crise que por aí grassa, tão indecente comissão? Esta gente pode não ter a noção do que é um advogado, mas quando o disparate ganha acolhimento comunitário e é transposto para a legislação interna, o resultado só pode ser este. Desta forma tão simples, de uma penada, a UE e o Governo contribuem para que se lixe a democracia, se eternize o actual estado de coisas e se mande a cidadania às malvas. Este país assim não vai lá.

E AOS COSTUMES DISSE NADA

Quando ouvi dizer que Oliveira e Costa ia ser convocado para ir à Assembleia da República, a fim de prestar declarações à Comissão de Inquérito que investiga o caso BPN, julguei não ter percebido bem o alcance do "convite". Tendo em atenção o estatuto de Oliveira e Costa, ex-administrador bancário, arguido e detido em prisão preventiva, fiquei sem perceber muito bem o que ele lá ia fazer. Sabendo-se que o arguido tem o direito ao silêncio e que mesmo depois de ter deixado as suas funções no BPN continuaria vinculado ao dever de guardar sigilo, era normal e natural que nada dissesse. Foi o que efectivamente aconteceu. Mas os responsáveis pela convocação de Oliveira e Costa parecem ignorar o estatuto do arguido e a sua situação processual. Vai daí, resolveram pôr a carroça à frente dos bois. É claro que a dita não saiu do mesmo sítio e a passeata de Oliveira e Costa à Assembleia só serviu para meter mais uns quantos jornalistas ávidos de sangue na rua, justificar alguns directos, desprestigiar a Assembleia da República e humilhar o arguido. Vir agora dizer-se que a Assembleia saiu bem deste filme e que se compreende o silêncio do arguido, como faz o deputado Hugo Velosa do PSD, é o mesmo que não querer ver a falta de senso que por ali existe. Audição à porta fechada, queriam eles. Mas para quê? Obtiveram o silêncio de porta escancarada e ainda fizeram uma triste figura.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

E QUE TAL UMA "MANIF"?

O retrocesso democrático na Nicarágua, depois da fraude das últimas eleições, ainda não deu origem a nenhum comentário. Entre nós, é claro. Lá fora, designadamente na nossa vizinha Espanha, já se sabe como é. Espero que o Bloco do indefectível Fazenda mostre agora que não tem dois pesos e duas medidas e convoque rapidamente uma "manif" em solidariedade com o povo da Nicarágua e para defesa da democracia que tem vindo a ser enxovalhada e postergada por Daniel Ortega e a sua clique.

OPORTUNOS

Só não vê o óbvio quem não quer. Estes dois textos de dois críticos indiscutíveis do primeiro-ministro, que Tomás Vasques oportunamente colocou no seu blogue e que aqui com a devida vénia se reproduzem, dizem tudo sobre o convite de Manuela Ferreira Leite e a resposta de José Sócrates ao pedido para um debate na televisão:

«A dr.ª Manuela Ferreira Leite "desafiou" o eng. Sócrates para um debate na televisão sobre política económica. Augusto Santos Silva rejeitou imediatamente a ideia. O primeiro-ministro, disse ele, debate com a oposição na Assembleia da República e em mais parte alguma; e não é culpa do Governo que a dr.ª Ferreira Leite não seja deputada. Por muito que nos custe, Augusto Santos Silva tem razão. Excepto em campanha eleitoral, nenhum primeiro-ministro aceitou até hoje o género de proposta que Ferreira Leite resolveu fazer. E nenhum a deve aceitar. Não se põe de parte, ou subalterniza, um órgão de soberania por causa da conveniência ou do estatuto de um qualquer indivíduo. O regime precisa de mais dignidade, não precisa de menos. E o destino do país não se pode decidir entre uma telenovela e um concurso.
A situação de Manuela Ferreira Leite não é, de resto, única. Que me lembre, antes dela, Marcelo Rebelo de Sousa e Pedro Santana Lopes (por um tempo) também ficaram de fora. Isto em certa medida mostra o amadorismo ou, se quiserem, o diletantismo das grandes personalidades do PSD. Mas não só delas. Desde o princípio que não houve coragem para estabelecer, como em Inglaterra, a regra simples de que os membros do Governo (do primeiro-ministro para baixo) e das direcções dos partidos saíam obrigatoriamente da Assembleia. E o resultado foi que a Assembleia se tornou, em grosso, um repositório de mediocridades, colectivamente subordinada aos privilegiados que de facto mandam. O deputado médio é hoje um triste figurante, sem influência e sem prestígio e, sobretudo, sem futuro
.» - Diletantismo, Vasco Pulido Valente, Público, 10.01.09

«José Sócrates tem razão. À manifestação de disponibilidade para um debate com o primeiro-ministro, expressa por Manuela Ferreira Leite, Sócrates mandou responder que não discute os planos do Governo da maneira que ela pretendia, mas só o faz no Parlamento. Por uma vez, não é possível acusar o primeiro-ministro de autoritarismo e de não querer debater com a oposição. Na verdade, é no Parlamento que estas coisas se discutem, é ali, ou deveria ser ali, que os esclarecimentos se fazem. À vista de todos, sob observação da imprensa, sem recados nem notícias dirigidas e com ampliação pela televisão e pela rádio. Com a possibilidade de conceder livre acesso à sociedade e aos grupos de interesses.
A situação de Manuela Ferreira Leite, que não é deputada, é ou deveria ser considerada anormal. Em certo sentido deveria mesmo ser evitada. Mal ela foi eleita presidente do partido, logo se percebeu que acabaria por tropeçar neste problema. O fenómeno não é novo e traduz a pouca importância que se dá em Portugal ao Parlamento. (…)
Tudo, no nosso sistema político, parece feito para diminuir o Parlamento. Até a eleição directa dos chefes, consagrada agora pela maioria dos partidos parlamentares, é, além de uma concessão despudorada ao populismo, uma facada na Parlamento. Sem falar, evidentemente, nos hábitos adquiridos de dar o primado à televisão para os debates, os anúncios de medidas e as tomadas de posição. Discuta-se no Parlamento. Dê-se liberdade aos deputados. E, se assim se fizer, talvez um dia o Parlamento tenha vida
.» - Razões, António Barreto, Público, 11.01.09

sexta-feira, janeiro 09, 2009

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS EM 19 DE JULHO

Vasco Pulido Valente antecipa hoje no Público, com a sua habitual simplicidade e inquestionável brilhantismo, o dilema de Cavaco Silva quanto à marcação da data das eleições legislativas, face à estratégia seguida por José Sócrates e ao desgoverno do PSD. De facto, a eventual marcação das legislativas para 19 de Julho poderá causar problemas à liderança de Manuela Ferreira Leite, pois, como ele diz, em cinco meses "não há maneira de Ferreira Leite unir e disciplinar o PSD". Eu diria mais: nem em cinco em em vinte, o PSD é ingovernável, não é partido que se queira unido e disciplinado. Porém, Vasco Pulido Valente erra quando considera que a antecipação das eleições legislativas para essa data poderá ser-lhe favorável, visto que, segundo ele, a crise continuará a agravar-se. Acontece que é aqui que a previsão do cronista falha. Desde logo, porque a tomada de posse de Obama e as primeiras medidas do seu programa irão provocar um significativo recuo da crise, não só pela confiança que irá transmitir ao mercado, interna e externamente, como pelo desencadear de um efeito paralelo na Europa. Se a isto somarmos uma suspensão, se não mesmo o fim das hostilidades em Gaza - até 20 de Janeiro o Hamas estará totalmente inoperacional -, com a consequente estabilização do preço do petróleo e a previsível ultrapassagem do diferendo sobre o gás, é mais do que natural que os sinais da crise tendam a esbater-se exactamente a partir dessa altura, podendo os Estados Unidos e a Europa dedicar-se ao que interessa. Mas mesmo que o argumento de VPV pudesse ter algum acolhimento, há uma razão de interesse nacional que aconselha o Presidente da República a marcar as eleições para 19 de Julho. Todos sabemos que em 19 de Julho já o país se prepara para o abrandamento estival. A realização das eleições nessa data permitiria que se ganhasse o resto do mês de Julho e o mês de Agosto para o apuramento final dos resultados, indigitação do novo primeiro-ministro e formação do Governo, de maneira a que em Setembro já tivéssemos um novo executivo em funções e pronto a iniciar a preparação do OGE para 2010, tendo na sua posse os números do primeiro semestre. Qualquer outra data posterior a 19 de Julho, independentemente de favorecer José Sócrates ou a oposição, desfavorece objectivamente o país e constituirá mais um atraso para a saída da crise. Seria bom que Cavaco Silva pensasse nisto antes de tomar uma decisão.

A SOLUÇÃO PARA CRISE

Este texto do Schwartz Center for Economic Policy Analysis contém um programa para a recuperação económica e a reconstrução financeira do sistema que quase colapsou. É subscrito por alguns dos maiores especialistas mundiais na matéria, das mais prestigiadas universidades. O texto dos "progressive economists", assim se proclamam as sumidades, está datado de 31 de Dezembro de 2008, mas diz respeito ao encontro ocorrido no final de Novembro na Universidade de Massachusetts Amherst. Pela sua actualidade, deixo-o aqui para que todos os leitores deste blogue - e também alguns políticos e académicos da nossa praça - tenham acesso à melhor e mais recente informação sobre a matéria. Talvez se possa evitar mais algumas asneiras.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

AGUARDAM-SE AS REACÇÕES

Depois da berraria que o PSD fez sobre uma decisão recente do Governo sobre a mesma matéria, e com razão, esta primeira página do Público que anuncia a dispensa de concurso para obras até 5 milhões nas autarquias, deverá dar origem a uma reacção no mínimo tão violenta como a anterior, nomeadamente por parte dos autarcas do PSD. E podem começar pelo Algarve. De baixo para cima será ainda mais notório.

ELITES INEXISTENTES, PARTIDOS SEM QUADROS E UMA DEMOCRACIA MEDÍOCRE

Esta notícia aparentemente não traz nada de novo. Em tempos já o PSD candidatara um tal de Moita Flores em Santarém, conhecidos experts em matéria futebolística noutras câmaras, cantores e outros do mesmo calibre por esse país fora. À porta de novo ciclo autárquico aparecem de novo nomes como os dos jornalistas Hernâni Carvalho, o das reportagens sobre casos de polícia, e Cecília Carmo, esta uma ex-ginasta. O actor João Carvalho é outro que figura no rol dos presumíveis candidatos. Não é que haja alguma coisa contra tão respeitável gente, mas gostaria de saber que qualificações têm que os recomende para presidentes de câmara. O único critério que parece ser comum a todos eles é o mediatismo, de tal forma que já se voltou a admitir, ao contrário do que aconteceu com Marques Mendes, que arguidos integrassem as listas. Compreende-se. Nos tempos que correm mais mediáticos do que arguidos só jogadores de futebol, mas estes, os bons, estão fora, escasseiam, e os que estão por cá não precisam de ir para uma câmara para melhorarem a vidinha, a não ser que tenham salários em atraso. O perdão para Isaltino e Valentim tardou mas chegou. Quanto à maior parte dos nomes indicados até agora não se lhes conhece qualquer obra, passado político ou intervenção para lá dos estreitos limites das respectivas profissões ou das páginas do 24Horas e do Correio da Manhã. Mas todos se acham capazes e competentes para desempenharem funções executivas no mais importante órgão autárquico. Alguns ainda têm o bom senso de dizer que estão a ponderar, mas para a maioria deve ser a oportunidade de toda uma vida, uma espécie de euromilhões. Esta é a renovação que temos, o que me leva a perguntar se vale mesmo a pena ter uma lei de limitação de mandatos para depois se ter candidatos destes. Importará agora saber se nomes como os de Júlia Pinheiro, Elsa Raposo, Manuel Luís Goucha, Paula Bobone ou Mariza Cruz também vão fazer parte das listas do PSD ou de qualquer um dos outros partidos. Vamos aguardar, talvez seja ainda um pouco cedo para concluir. A realidade é que quando um partido como o PSD, que pretende ser alternativa de poder, precisa de andar a trocar candidatos de umas câmaras para outras e de ir buscar nomes destes para os colocar à frente das listas, imagine-se então os nomes que virão a seguir e que aceitam vir depois daqueles. De quatro em quatro anos a situação repete-se e com tendência para o agravamento. As bancadas parlamentares, e não apenas do PSD, já não enganavam. As eleições autárquicas pioram o panorama. É o resultado de não se cultivar a formação de elites, o melhor prémio para o cinzentismo e o carreirismo. Os partidos não têm quadros e têm de ir buscar gente sem qualquer categoria ou experiência para formar as listas. Não estamos a falar de lugares intermédios ou de suplentes sem qualquer hipótese de serem eleitos, mas de cabeças de lista. Um desastre do qual só daqui a uns anos teremos a noção exacta da respectiva dimensão. Até lá, a nossa democracia continuará a levar tratos de polé e a não passar do nível da mediocridade. Um perfeito horror.

BEM ME PARECIA...



... que há nozes que não servem para todos os dentes, mesmo quando se é rico. Estas são imagens do Ferrari que era conduzido por Cristiano Ronaldo quando hoje se espatifou num túnel de Manchester. As imagens dizem tudo e são da AP (mais fotos aqui). O rapazinho saiu ileso.

quarta-feira, janeiro 07, 2009

NÃO PODIA VIR EM MELHOR ALTURA

Para o presidente da Câmara Municipal de Lisboa não podia ter vindo em melhor altura o chumbo às contas de Santana Lopes relativas aos anos de 2002 e 2003. Agora que o menino-guerreiro anunciou a sua candidatura, apoiada pela Drª Manuela Ferreira Leite, bem pode António Costa pensar que Natal será sempre que o Tribunal de Contas quiser.

DUAS FACES DA MESMA MOEDA

Já é oficial para quem ainda não tivesse a certeza. Estamos em recessão. Milagres ninguém os fará. Se as previsões de Constâncio estiverem correctas, o rendimento das famílias irá aumentar em 2009 por via da crise, graças à redução da pressão inflacionista. Não servirá de grande coisa se entretanto o panorama internacional não mudar. O reverso da moeda serão, ao que parece, mais 90 mil desempregados. Curioso é que face ao pacote de propostas anti-crise do governador do Banco de Portugal ninguém tenha reparado que os mesmos que aqui há uns meses criticavam o valor "elevado" do subsídio de desemprego e o tempo, segundo eles, excessivo durante o qual os desempregados o recebiam, sejam os mesmos que vêm defender a "melhoria temporária das condições e duração dos subsídios de desemprego". Com oráculos destes sair-nos-ia mais barato confiarmo-nos ao Banco de Espanha.

CHEGOU O INVERNO

(foto de Luca Ranconi, CdS)
Via Govone, Milão

(foto CdS)
Il Duomo

ESQUECIMENTOS QUE DIZEM TUDO

Reza a notícia que o presidente Bush, na hora da partida, resolveu condecorar uns quantos aliados e amigos pelo seu papel na cruzada anti-terrorista. Entre esses estão o colombiano Álvaro Uribe e Tony Blair. De fora ficaram José Maria Aznar e José Manuel Durão Barroso. Mais uma constatação de que o servilismo não rende, nem votos nem medalhas. Quando muito uma nota de rodapé nos livros de história.

terça-feira, janeiro 06, 2009

UM COMUNISTA HORMONAL

O artigo no Corriere della Sera sobre Saramago não pode deixar de ser lido. Não vou à bola com a(s) sua(s) altivez, sobranceria e múltiplas incoerências, não gosto do que escreve, salvo raras excepções, mas reconheço que vende bem e que não deslustra as nossas letras. Confirmo que o Diário de Notícias no distante ano de 1975 era mesmo um jornal revolucionário e que ele próprio já não se livrará da reputação de estalinista, depois do que fez nesse jornal com a camarilha do PCP. Há coisas que a memória pode esquecer, mas a história não se apaga. Por muito que se tente e por muitos prémios que se ganhem. Comunista hormonal? É ele e o amigo Fidel.

UMA REVISTA DECENTE

"(...) On that first day, in January 2001, the president instructed his chief of staff, Andy Card, to send directives to all the executive departments with authority over environmental issues, ordering them to put on hold more than a dozen new regulations left over from the Clinton administration. The regulations he and his vice president, Dick Cheney, wanted scrapped included everything from those that lowered acceptable arsenic levels in drinking water to new standards that would reduce releases of raw sewage. Bush and Cheney also set about eliminating rules that limited logging, drilling, and mining on public lands, and others that would have increased energy-efficiency standards. Aditionally, the administration wanted to repeal the ban on snowmobiles in Yellowstone and Gran Teton National Parks. Bush's track record as governor of Texas should have prepared us for his assault on the environment. When he left office in Austin, his home state topped the nation in manufacturing-plant emissions of toxic and ozone-causing chemicals, in discharge of carcinogens, in release of airbone toxins, and in production of cancer-using benzene and chloride. Texas was also the No. 1 state when it came to violations of clean-water discharge standards and the release of toxic waste into underground wells. By the time Bush left the governor's office, Houston had passed Los Angeles as the American city with the worst air quality. And a third of Texa's rivers were so polluted they were unfit for recreational use" - from the Editor's letter.

Continua a ser uma das revistas mais badaladas do mundo, depois da GQ é claro, mas nem por isso deixa de ser menos interessante. O número de Janeiro de 2009 é a melhor prova de que há revistas que nunca envelhecem. Para além das fantásticas fotografias de Tina Fey tiradas por Annie Leibovitz, de um longo texto sobre o casal Buckley e de um artigo sobre os gostos de YSL, recomendo vivamente a leitura do artigo "Capitalist Fools" de Joseph E. Stiglitz, um laureado com o Nobel, sobre a crise do sistema financeiro e as falhas de controlo que estiveram na sua base, para lá do magnífico texto de Graydon Carter já acima parcialmente transcrito.

O REAL ULTRAPASSA A FICÇÃO

Quando se descobre que os protagonistas do filme foram detidos por serem camorristas, apenas se pode dizer que a realidade supera a ficção. Com esta prova será que alguém ainda duvida da justeza do Óscar?

segunda-feira, janeiro 05, 2009

DELITO DE OPINIÃO

Ficam aqui o registo e as boas vindas para o Delito de Opinião. Votos de boas escritas para todos e um abraço especial para o Pedro, para o Carlos e para o João. Irei ficar atento ao que por ali de bem se escrever, para com propriedade poder censurar.

COERÊNCIAS

(foto CM)
Ainda todos se recordam de a um ter chamado "Sr. Silva", como se fosse um qualquer merceeiro, e de a outro ter tratado sempre de forma deselegante e desprimorosa, ignorando que era o líder do Partido Socialista e primeiro-ministro português, chamando-lhe o "Sr. Pinto de Sousa". Sempre que podia atacava-os, em especial ao segundo, proferindo ameaças e insultos. Quando se trata de ser solidário com outros é sempre o primeiro a criticar o apoio que possa ser dado pelo Governo da República. Agora que está de tanga e sem dinheiro para continuar a distribuir pela camarilha que os contribuintes nacionais sustentam, diz que o Governo é insensível, lembrou-se de ir pedir ajuda ao Presidente da República e descobriu que no Estado democrático existem instituições que têm de cooperar entre si para que a Madeira sobreviva. É altura de fazê-lo engolir tudo o que disse antes e de mandá-lo ir pedir ajuda a outro.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

UMA ENTRADA VIOLENTA

O ano de 2009 entrou como terminou 2008, isto é, sob o signo da violência. E também da intolerância. De Bilbau a Gaza, os sinais da violência extremista continuaram a manifestar-se, ao mesmo tempo que por esse mundo fora se queimavam toneladas de fogo-de-artíficio. Esperemos que essa violência seja apenas uma despedida tardia do ano que findou e não o recomeço de mais um ano violento, agora que o pesssimismo e o catastrofismo parecem tomar conta de tudo. Bastaria ter ouvido as mensagens de Ano Novo do Presidente da República e do Cardeal Patriarca para perceber o diapasão. É verdade que a economia não ajuda e que nem mesmo o Papa consegue, com a sua voz de falsete e o característico tom monocórdico que marca as suas intervenções, afastar as piores perspectivas para o ano que agora entrou. A Europa mostra a sua impaciência enquanto os Estados Unidos da América aguardam que a mudança comece a produzir-se. Em Cuba espera-se o mesmo. Por agora sabe-se que Obama terminou as férias e que prepara a mudança para a Casa Branca. Quem sabe se não será esse movimento, aparentemente inócuo e em resultado de uma eleição que de 4 em 4 anos se repete, a primeira das muitas mudanças prometidas? Por cá vamos esperar para ver, calmamente, sem falsas ilusões, mas com a esperança, que é também uma certeza, de que não há mal que sempre dure.