quinta-feira, março 28, 2013

José Sócrates na RTP1

O homem não era um santo, nunca o foi, bem pelo contrário. Não terá o background académico e profissional exigível a qualquer homem que se abalance a ser primeiro-ministro. E, apesar disso, depois de ter sido corrido da forma que foi, justa ou injustamente, o que ontem se viu na RTP1 foi uma lição de comunicação política.
Sócrates mantém os defeitos e as qualidades. Foi igual a si mesmo. E divertiu-se. Percebe-se agora melhor o temor que PSD e CDS/PP tinham em ver o homem a ser entrevistado no horário nobre da televisão pública. 
O que ontem se viu foi de facto uma lição de comunicação política, provavelmente a primeira de várias que se seguirão, por parte de um político profissional que quis ajustar contas com o passado recente. Mas será que depois de tudo aquilo que o acusaram esperavam que o "animal feroz "viesse "mansinho"? 
Não tenho saudades dele como primeiro-ministro, nem como líder do PS. Menos ainda de muitos dos que o rodeavam e que Seguro herdou no grupo parlamentar, nuns casos, ou que, noutros, acabou por colocar nos órgãos nacionais do seu partido. Porém, o que se viu deve ter chegado para muitos portugueses que assistiram ao descalabro dos últimos vinte meses compreenderem o grau de incapacidade política, incompetência comunicacional e má-fé de quem actualmente nos governa.
Espero que Passos Coelho, Gaspar, Santos Pereira e Miguel Relvas tenham visto, pois tiveram uma boa oportunidade de aprender alguma coisa sobre comunicação política. 
Quanto ao Presidente da República, lamento dizê-lo, no seguimento da "esperteza" (não tem outro nome mas está ao nível daquilo a que ele nos habituou) do prefácio, da história das acções da SLN/BCP, das "andanças" de alguns assessores que foram por si protegidos, e da forma como não tem sabido gerir nem a crise nem os silêncios, teve o tratamento que merecia. Não foi bonito, pois não. Mas tendo-se  colocado várias vezes a jeito, algum dia acabaria por levar como levou. Perderam-se algumas, mas a seu tempo virão.
Quanto ao mais, algumas coisas foram esclarecidas, os entrevistadores mostraram pouco à-vontade para contraditarem a avalanche de números e de factos, e o tempo de emissão pareceu-me excessivo.
De qualquer modo, valeu a pena. Depois de tantos meses a ouvir um líder de oposição com estratégia e estilo de seminarista, enquanto "o Relvas" se pavoneia e goza com a Grândola, já fazia falta alguém que desse uma bordoada "nessa gente". Pena que tenha tido que ser José Sócrates a fazê-lo. Os portugueses também não mereciam isso, embora hoje lhe devam estar agradecidos.        

quarta-feira, março 27, 2013

Absolutamente genial


Se há livro que vale o preço, e não me refiro ao papel, é este. Está lá praticamente tudo, tudo, o que de mais e de menos básico se deve saber sobre este período da história europeia. O resto, o que não está neste magnífico livro, está nas restantes obras que Tony Judt nos deixou e que em boa hora foram editadas entre nós. O editor que se abalança a uma obras destas merece uma palavra de apreço. E de estímulo.
Uma escrita clara, simples, cativante. Uma simplicidade desarmante na forma como aborda as questões, a medida exacta do tempo e da importância dos factos.
Tony Judt partiu numa altura em que ainda tinha imenso para nos dar, mas o que deixou acompanhar-nos-á, a todos os que tivemos o privilégio de lê-lo, e saboreá-lo, pela vida fora. Deus não dorme.   

terça-feira, março 26, 2013

Reavivar a memória


A foto é do "The Guardian" e ilusta um texto sobre a ajuda grega e espanhola à Alemanha do pós-Guerra. A chanceler Merkel, que além do mais vivia na zona leste da Alemanha, sob domínio russo, pode ignorar o que então aconteceu, mas é bom que alguém lhe diga o que se passou.  

Lição de bom português

"Para grande parte de nós, Chipre não significará grande coisa, razão que talvez explique - mas não que justifique - que se ande a grafar por aí "o Chipre", acrescentando-lhe um artigo que o país dispensa. Afinal, não passa pela cabeça de ninguém escrever "a Andorra", "o Cabo Verde", "a Angola", "a Paris", "a Cuba", "o Gibraltar", "a Londres" ou "o Istambul", tudo exemplos descaradamente roubados a Mário de Carvalho" - Ana Cristina Leonardo, Expresso, 23/03/2013 
 
Pode ser que com a insistência (Miguel Esteves Cardoso já tinha escrito há algumas semanas um artigo sobre isto no Público) alguns portugueses com responsabilidades, como alguns jornalistas que ganham milhares sem saberem falar, aprendam o básico e deixem de influenciar (mal) aqueles portugueses que os ouvem e nunca tiveram oportunidade de aprender.  

sábado, março 09, 2013

Bem lembrado, melhor escrito

"Com a mudança de Governo e a chegada da troika, Cavaco Silva mudou também. Dantes tão claro, presente e decidido, hoje tão dúbio, ausente e temeroso, parece ter desistido - se não de exercer a função, pelo menos de trabalhar para a História. É para isso que serve o segundo mandato de um Presidente, mas este, por medo ou impotência, tem vindo a apagar-se quando mais se esperava que brilhasse, tantas vezes invocou a sua qualidade de economista para convencer os eleitores de que era o mais preparado para o exercício do cargo." - Fernando Madrinha, Escutar as Vozes, Expresso, 09/03/2013.

segunda-feira, março 04, 2013

Leituras (7)

 
"Em 1957, Corrêa d'Oliveira, à semelhança dos relatórios preparados pela OECE ao longo do período, era da opinião de que os principais problemas que a economia portuguesa enfrentava eram a criação de infra-estruturas de base, a reforma do ensino, o aumento das competências técnicas e a reforma do sistema fiscal. Segundo o relatório económico sobre o país realizado pela OCDE em 1999, e que se mantém actual, as prioridades de Portugal eram o melhoramento de infra-estruturas, o aperfeiçoamento das competências técnicas e a revisão do sistema fiscal. Por conseguinte, não é tão surpreendente que o Portugal democrático tenha adoptado uma política europeia semelhante à do regime autoritário de Salazar. A diferença reside no facto de o Estado Novo não ter reconhecido que a ditadura e o império eram anacronismos". - cfr. página 281.

sábado, março 02, 2013

Leituras (6)

 
"[E]ssential reading in the extent and depth of democratization in the early twenty-first century" - Ian McAllister, Distinguished Professor of Political Science, The Australian National University