quarta-feira, setembro 26, 2012

Seis anos depois


"A sabedoria não nos é dada. É preciso descobri-la por nós mesmos, depois de uma viagem que ninguém nos pode popupar ou fazer por nós." - Marcel Proust
 
Seis anos depois é tempo deste blogue entrar em pousio. É o que acontecerá a partir deste belo mês de Setembro. Nos próximos meses, talvez até meados do próximo ano, acompanhando as agruras que aí vêm, o autor deste blogue entra numa nova fase da sua vida. Não sabe o que irá dar mas tem a certeza de ter muito trabalho pela frente. Espera sobreviver. E que um dia voltem a ter notícias dele. De preferência melhores do que as que Vítor Gaspar nos tem dado. Entretanto, até lá, não desistam, não desanimem, qualquer que seja o vosso projecto ou o vosso sonho. Continuem a desinfectar este país e não se esqueçam de ler, de ler muito, e bem. E de depois reflectirem sobre o que leram, separando o trigo do joio. Para não ficarem como quem nos governa. 
 

segunda-feira, setembro 17, 2012

Gostava de lá voltar (17)


Cebu, Filipinas

Crise? Não, que raio de ideia

"É muito revelador que o PSD tenha sido lesto a convocar a Comissão Política para reagir às declarações de Paulo Portas de domingo e tenha ficado mudo e quedo ante as manifestações de Sábado. O medo usado pelo Governo foi devolvido pelo povo. Quando o país desparalisou, paralisou o Governo.
 
Os erros de Pedro Passos Coelho estão listados. É dele e só dele a responsabilidade da crise política que desaba. É dele e só dele o romper abrupto da estabilidade social que acumulava quinze meses de austeridade tolerada. Passos Coelho errou em tudo. No que decidiu, no que comunicou, no que não fez, até na atitude desleal demonstrada na sua última oportunidade. Na entrevista à RTP, os portugueses quiseram ouvi-lo – foi das entrevistas com mais audiência dos últimos anos. Mas o primeiro-ministro voltou a exibir insensibilidade e incoerência, ao culpar os portugueses pela recessão, tinham consumido menos do que era esperado. Como aqui escreveu Manuel Esteves, somos agora acusados de viver abaixo das nossas possibilidades. Como sintetizou Teresa de Sousa, Passos disse que, afinal, o Governo cumpriu, os portugueses não.

As manifestações de Sábado foram muito mais do que numerosas. A tensão e raiva que lá se sentia fizeram das manifestações do 12 de Março (há um ano e meio) uma caminhada pela paz e amor. Nestas, pedia-se justiça, demissões, convulsões. Cada pessoa a quem se perguntava "por que razão está aqui?" respondia com o seu próprio drama. Muitas de lágrimas dos olhos. E agora?

"E agora?" é uma das perguntas que os cépticos das manifestações, e alguns amnésicos sobre o que é a sociedade, costumam perguntar no fim. Como se uma manifestação tivesse apenas dois propósitos: enrolar as bandeiras ou usá-las para partir montras. Errado. Os manifestantes é que perguntam, exigem, "e agora?". É Passos Coelho quem tem agora de responder.

O Governo responde com ameaça de cisão. Paulo Portas respondeu com cinismo a Passos Coelho, dando sequência ao processo de autodestruição da coligação. O pior cenário que temos pela frente é o de eleições, mas deixar apodrecer um Governo de traidores é como usar uma máscara de farinha ao vento. É altura de Cavaco Silva intervir. E resolver.

Passos Coelho já perdeu esta luta porque já perdeu todas. A própria "chamada" de Cavaco Silva a Vítor Gaspar ao Conselho de Estado, tornada pública, é um atestado de menoridade e um insulto ao primeiro-ministro. Cavaco chamou "quem sabe" e quem sabe é Gaspar. É esta a mensagem.

Da manifestação de 15 de Setembro à apresentação da proposta do Orçamento do Estado decorrerá precisamente um mês. Já não é possível reconstituir o que havia colando os cacos, mas é preciso reerguer algo. O aumento da taxa social única para os trabalhadores tem de cair. Até porque, como disse ontem Maria João Rodrigues, há alternativas. Mesmo sendo alternativas de austeridade.

Este é o principal dano provocado pelo Governo: ter destruído a disponibilidade para a dor que existia, porque vigorava o sentimento de que este era um caminho duro mas de injustiça justamente distribuída. Esse selo foi quebrado, irremediavelmente. Como perguntou José Gomes Ferreira, como vão ser agora aceites as próximas medidas de austeridade, que obviamente surgirão daqui até 15 de Outubro? Porque disso não nos livramos. Depois das medidas extraordinárias deste ano (que incluem a concessão da ANA, em vez de privatização), há um ror de austeridade para 2013 que não poderemos evitar. Os cortes na Função Pública e nos pensionistas, os impostos para trabalhadores.

Na delirante mensagem que deixou vai para dez dias no Facebook, o amigo, cidadão e pai Pedro escreveu uma frase certa: "Esta história não acaba assim". Pois não. Acabará de outra maneira. Acaba mal para Passos Coelho. Mas não pode acabar mal para o País." - Pedro Santos Guerreiro, no Jornal de Negócios 

sexta-feira, setembro 14, 2012

Avivar a memória

Vale a pena ler este pequeno mas muito bem conseguido trabalho da Rádio Renascença. Não há nada como ir avivando a memória. Este primeiro-ministro, tal como eu previa, já tem um lugar especial na galeria. Ao lado do anterior.

quinta-feira, setembro 13, 2012

Gostava de lá voltar (15)


Seul, Coreia do Sul

O que nos espera

"Tomei a decisão de convocar eleições legislativas tendo em conta a objectiva e indiscutível degradação da situação política nacional, que é evidenciada, desde logo, pela crescente dificuldade do Governo minoritário que resultou das eleições de 2009 e da Oposição em estabelecerem entendimentos em torno das medidas necessárias para ultrapassar os problemas económicos e sociais com que Portugal se defronta.
É visível para todos os Portugueses o aumento da falta de confiança recíproca entre as diversas forças políticas e a ausência de diálogo e de negociação entre o Governo e os partidos da Oposição.
Concluí, assim, que só através da realização de eleições e da clarificação da situação política poderão ser criadas novas condições de governabilidade para o País." - Presidente da República, 31/03/2011

O que acima se transcreveu faz parte da declaração do Presidente da República, apresentada no ano passado, na qual foram elencadas as suas razões para aceitar a demissão do primeiro-ministro José Sócrates e convocar eleições antecipadas.

Em relação ao cerne das justificações, a dificuldade de se obterem "entendimentos em torno das medidas necessárias para ultrapassar os problemas económicos e sociais com que Portugal se defronta" mantêm-se. O mesmo se diga quanto ao aumento da falta de confiança recíproca entre as diversas forças políticas e a ausência de diálogo e de negociação entre o Governo e os partidos da Oposição. Só que agora o quadro tem a agravante de estarmos com um Governo maioritário de coligação, que apresenta fissuras estruturais quando acabámos de entrar no segundo quarto da legislatura. Assustador.

Naturalmente que a convocação de eleições antecipadas no actual panorama, em que é patente o agravamento da situação económica e social do País e o aumento da crispação e da conflitualidade social e política, que começa a atingir níveis nunca antes vistos dentro do próprio partido charneira da coligação, seria um perfeito suicídio. Face ao genocídio fiscal empreendido pelo ministro das Finanças, importa lutar pela sobrevivência e pelo cumprimento dos compromissos internacionalmente assumidos pelo Estado português.

O papel do Presidente da República não pode, pois, continuar a ser o de um sujeito que aguarda passivamente o desenrolar dos acontecimentos. Ou que deambula pelo País num interminável tomar de pulso à situação sem que assuma as suas responsabilidades.

Não sendo aceitável - pelas consequências devastadoras que acarretaria para a situação nacional - a convocação de eleições antecipadas, importaria que o PR chamasse os partidos políticos, reunisse o Conselho de Estado no mais curto prazo e tomasse um conjunto de medidas que permita atingirmos o final da legislatura, para só então, nessa altura, convocar eleições de acordo com o calendário normal.

De todos os quadrantes políticos, da direita à esquerda, e com excepção de alguns cristãos-novos, como o deputado Carlos Abreu Amorim, ou de meia-dúzia de dependentes da teta do regime, não há crítica que não se faça ouvir aos disparates - porque outro nome não podem ter - do ministro das Finanças e da sua equipa: Bagão Felix, Miguel Frasquilho, João Almeida,  Manuela Ferreira Leite, Silva Lopes, Teodora Cardoso, Medina Carreira, Belmiro de Azevedo, e por aí fora, para só citar alguns nomes pois a lista seria quase interminável.

Percebe-se o desconforto da situação para um PR que acarinhou esta solução política, e que pela sua passividade , colocando a sua chancela em leis que violam de forma inequívoca a Constituição que jurou cumprir e fazer cumprir, está a prestar um mau serviço ao País.

De qualquer modo, o PR é neste momento o único que está em posição de inverter a actual situação. As experiências do inexperiente e atrevido Passos Coelho, através do seu ministro das Finanças, estão a arrastar o País para uma situação tal que até já alertou os responsáveis da troika para a inevitabilidade de não se continuar a esfolar os pobres e remediados e para a necessidade de se introduzirem medidas destinadas a combaterem essa peste do desemprego, que alastra sem qualquer controlo nem remédio.

Seria importante que o PR actuasse já, antes mesmo da aprovação do Orçamento, tomando as iniciativas e criando as condições para que 2013 não seja o ano do afundamento definitivo da economia portuguesa. Não nos esqueçamos que no próximo ano também teremos eleições autárquicas com todo o folclore que esse cenário irá gerar e os espectáculos que a trupe do ministro Relvas se prepara para montar por todo o território, do qual aliás já ontem tivemos um exemplo com o anúncio da candidatura de Luís Filipe Menezes à Câmara do Porto.

A falta de rumo político, a ausência de estratégia e a incapacidade da actual equipa para levar a bom porto a missão que lhes foi confiada é de tal forma evidente que bastou ter ouvido o que se disse nas últimas semanas, por parte de alguns membros do Governo, sobre a RTP, sobre as privatizações ou a redução da TSU para as empresas, para se perceber que a descoordenação é total e que cada membro do Governo diz o que lhe vem à cabeça. As medidas são anunciadas, logo a seguir são apenas hipóteses, depois alguém diz que são para avançar e logo aparece mais alguém a anunciar correcções de rumo.

Já não estamos no campo da navegação à vista de costa, ao contrário do que disse Belmiro de Azevedo. Estamos com um paquete em alto mar, com uma tempestade à vista, com a tripulação em motim permanente, com um comandante com carta de marinheiro que não tem a mínima noção do buraco em que o meteram, e com alguns camareiros a entrarem pelos cabines dos passageiros, incluindo pelas dos que viajam em camarotes de terceira classe, abaixo da linha de água, para as saquearem e entregarem o espólio no economato, com os mais novos a saltarem borda fora deixando a bordo os velhos e os doentes, enquanto o imediato e o mestre de cerimónias abrem garrafas de champagne

Repare-se que o desconchavo é tal que quando o primeiro-ministro anunciou a descida da TSU para as empresas referiu que essa medida se destinava à criação de emprego e à libertação de activos. Mas ainda ontem o ministro das Finanças foi ao Parlamento dizer que o Governo pretende controlar as verbas que deixarem de ser canalizadas para a TSU e que será criado uma espécie de caixa ou fundo - confesso que a asneira é tão grande que até tive dificuldade em percebê-la - onde ficarão essas verbas. Bom, mas pergunto eu, se essas verbas são canalizadas para essa caixa como poderão as empresas criar emprego? Dir-se-ia que nem eles próprios sabem do que estão a falar.

As tais e tão malfadadas reformas continuam por fazer, ou vislumbrar, mais de um ano depois. Como ainda há dias Medina Carreira sublinhava, e eu já anteriormente afirmara, não se compreende perante o descalabro das PPP que o Governo não tivesse logo accionado o artº 437º do Código Civil e não tivesse obrigado os privados a negociar. A reforma autárquica do ministro Relvas é um flop. Tal como a execução orçamental que vai de rectificativo em rectificativo. O programa de privatizações é uma coisa que só existe na cabeça do ministro António Borges, enquanto o hilariante ministro da Economia continua a divagar por aí e a atirar-se para a água de braçadeiras insufláveis..., enfim, um cenário deveras estarrecedor, a ponto da circunspecta Manuela Ferreira Leite convidar os deputados da maioria a chumbarem o próximo orçamento.

Impõe-se, por isso mesmo, que o PR actue em consonância com o actual estado de coisas. E em meu entender só há um caminho: a formação de um Governo de iniciativa presidencial dirigido por alguém acima de qualquer suspeita que seja capaz de formar uma equipa e chamar à governação gente de vários quadrantes, gente que seja capaz de cumprir aquilo que este Governo mostrou já não ser capaz de fazer. Alguém que esteja habilitado - nada de equivalências manhosas - para governar, com um mínimo de bom senso e sentido de justiça, rigoroso e com coragem suficiente para não claudicar com o primeiro espirro da banca ou dos sindicatos. Alguém que dê um rumo ao navio.

Se isto não for feito, a alternativa será o País entrar em autogestão. Será o salve-se quem puder num contexto de guerra social aberta, de violência verbal, e quem sabe se também física, sem limites. Não se pode perder mais tempo.     

Para quem não viu

Fica aqui o link para quem não pôde ver a entrevista de Manuela Fereira Leite à TVI24. Depois de tudo aquilo que foi dito pelo Conselheiro de Estado Bagão Felix, não é todos os dias que se vê um ministro das Finanças ser demitido em directo. 
Lamento que só agora, tão tarde e depois do desastre consumado, estas vozes surjam. Mas errar é humano e nem todos andaram com os olhos bem abertos. Estar a ver o desastre acontecer e dizer, como ouvi a muitos ainda há dois ou três meses, que era preciso esperar para ver os números da conjuntura e outras coisas do género, estava bem para lá da mera prudência ou do benefício da dúvida.
A cegueira é uma coisa terrível. A ideológica, seja ela de esquerda ou de direita, e a ignorante ainda mais.
Pode ser que um dia os portugueses, se sobreviverem ao massacre, lhes perdoem.

quarta-feira, setembro 12, 2012

Ficou para memória futura

"Quando um primeiro-ministro em funções de um país estruturalmente pobre, e que precisa urgentemente de se modernizar, crescer e desenvolver, diz que uma crise grave como a que atravessamos só será ultrapassável empobrecendo ainda mais, qual o papel que fica reservado à esperança? Se o socialismo era o regime da miséria planificada, o "passismo" só poderá ser entendido como uma estratégia de empobrecimento planificado, assente no desmantelamento do Estado e na asfixia tributária dos cidadãos, destinada a criar a ilusão nos portugueses de que um dia será possível sair da miséria crescendo." - Aqui, em 2 de Dezembro de 2011.

terça-feira, setembro 11, 2012

O problema não é só falta de estudo


No dia 2 de Setembro, em declarações ao Jornal de Negócios, o ministro Miguel Relvas dizia que o futuro da RTP continuava por decidir e que nada estava decidido quanto ao futuro das licenças públicas de televisão.
 
Hoje, pouco mais de uma semana depois, sem que ninguém saiba se afinal vai haver concessão do serviço público de televisão ou não, ou se a opção é pela venda de um canal e a concessão de outro, o mesmo Miguel Relvas veio dizer, no Brasil, que como se sabe deve ser o local mais apropriado para este tipo de declarações, que  "o assunto da RTP está resolvido". Resolvido? Como? Será que ouvi bem? Vai ser Alberto da Ponte a decidir? Não foi Passos Coelho que esclareceu, quando instado a tal, que nada estava decidido?
 
Não satisfeito com o que disse, hoje voltei a dar de caras com o ministro Relvas, nos ecrãs televisivos, dizendo que "o primeiro-ministro apresentou medidas que não são medidas novas. São medidas que visam substituir as medidas que o Tribunal Constitucional chumbou, portanto eram medidas que os portugueses já sabiam que eram inevitáveis". Então não são novas mas destinam-se a "substituir"? Bem sei que não disse que eram exactamente as mesmas, mas fiquei a pensar se o homem, quando lhe põem um microfone à frente, pensa que está a falar para bestas.

Por isso mesmo, também desconheço se quando o ministro profere declarações desse calibre e, com o devido respeito, parece ensaiar um ar de "asno tonsurado", como escreveu Julien Green, para convencer os telespectadores, ele vê a figura que faz. Ou se algum dos seus assessores lhe faculta as imagens para que as possa ver. Se tal não acontece deviam fazê-lo, pois poderia ser que no futuro ele se poupasse, e a nós também, a algumas deprimentes figuras.

Em qualquer caso, começa a ser tempo de o Presidente da República, em vez de andar a jogar golfe ou a brincar com os netos, se predispor a dizer duas palavras ao primeiro-ministro sobre as figuras que o seu ministro fez e anda a fazer. Agora até fora de portas, acompanhando o amealhar de ajudas de custo do outro, também Portas. Aliás, seria bom saber quanto estão a custar mensalmente ao erário não só o ministro dos Negócios Estrangeiros mas também todos os outros - agora o ministro da Economia e a secretária de Estado do Turismo também passeiam o seu colesterol pela humidade do Oriente -, para se poder avaliar dos benefícios da acção externa de cada um deles na actual conjuntura, perante o custo suportado por todos.

Não é aceitável que o ministro Miguel Relvas continue a exercer funções de Estado. Um Estado que se queira dar minimamente ao respeito não pode ter um Miguel Relvas como ministro.

Gostava de lá voltar (14)


Da Nang, Vietnam

segunda-feira, setembro 10, 2012

Isto não foi escrito ontem

"Se este é o caminho que Passos Coelho e os seus brilhantes estrategas têm a apontar ao país, se é pelo caminho da mais obscena frivolidade que o líder do PSD pretende formar um governo de maioria sólido e coeso que devolva a dignidade aos portugueses, então o melhor talvez seja mesmo arranjar umas armas, pedir desculpa àqueles senhores que hoje discursaram, e fazer um novo 25 de Abril.
 
Está na hora de se fazer uma nova revolução. Penso que foi isto que Cavaco Silva também quis dizer no discurso da sua tomada de posse, que hoje foi reafirmado por quatro homens sérios e bem-intencionados e cujo verdadeiro alcance só nesta altura consegui compreender depois de ler o que li.
 
Meus amigos: um sobressalto cívico seria "defenestrar" quem depois de se entreter a cozinhar reportagens destas ainda tem o desplante de se apresentar a votos e aspira ser primeiro-ministro e ministro de Portugal. Se não o fizermos acabaremos todos por ser tratados como cães. E a votar nas cadelas. E nos seus filhos. Já faltou mais." - Aqui
 
"Sermos no futuro governados por gente bem-intencionada com quem se pode falar será a melhor prova do nosso falhanço. Um falhanço maior do que a liberdade que gozamos. Um regresso à prisão, mas desta vez à dos bem-intencionados com quem se pode falar." - Aqui

"Faço minhas quase todas, quase todas, as palavras dele (não gostei da mensagem de Páscoa de Passos Coelho: não voto em Massamá, não lhe dou o benefício da dúvida, acho o Relvas igual a José Sócrates e não sou hipócrita). E não é por oportunismo político ou por razões de família. Ainda há gente decente e que pensa por si. Sem baias." - Aqui

"Passos Coelho é o melhor exemplo da metamorfose do dirigente no processo de ascensão ao poder. Sócrates já é passado. Como aqui neste espaço escrevi, há apenas dois dias, a um coelho sucede uma lebre.
O que agora os portugueses podem perguntar a si próprios é o que esperar de um tipo como Passos Coelho, alguém que ainda não chegou ao poder e já actua desta forma. Dir-se-á que não é virgem e que até Cavaco Silva incorreu no mesmo erro da omissão de factos. Pois é verdade. Mas quem numa questão destas, quando ainda não detém o poder executivo do Estado e precisa de conquistar os votos dos eleitores, actua já desta forma tão ínvia, imaginem o que não estará disposto a fazer quando a sua clique, devidamente orquestrada pelos “Relvas”, os “Jardins”, os “Mendes” e os “Marcos”, se vir instalada em S. Bento, contando com a passividade do Presidente da República?
Quem está de parabéns é Marcelo Rebelo de Sousa. Em boa hora, com a sua notável argúcia, rejeitou prefaciar o livro encomiástico e autobiográfico de um homem que de invulgar só pode apresentar a confrangedora vulgaridade do seu percurso académico e profissional. E hoje a transparente mediocridade da sua actuação e pensamento político. O convite a Fernando Nobre para encabeçar a lista de deputados por Lisboa foi mais um sinal. De um cata-vento político que se deixou instrumentalizar da forma que todos viram depois de alguém o convencer que tinha talento para a política não se estranha tal atitude. De um líder que apregoa a sua seriedade como cartão-de-visita seria legítimo esperar outros métodos. Tão pouco tempo de liderança e aí está ele em todo o seu esplendor. Quarenta e oito horas bastaram. Não admira que haja quem com toda a bazófia se prepare já para “despachar” mais um líder do PSD. Em boa verdade, PPC depois do que não disse e tem andado a fazer que diz não merece outra coisa. O País dispensava a repetição da dose. Só que, infelizmente, será esse o cenário com que todos teremos cada vez mais que contar. Nós e o FMI/FEEF.
Enfim, como sublinhou um autor (Garcia Clancini, 1995), assistimos a uma curiosa reversão temporal. Ao mesmo tempo que vivemos uma revolução tecnológica acelerada e dirigida para o futuro, há uma regressão social que atira a actual noção de cidadania para os séculos XVIII e XIX. E isto é tão mais grave quanto a “geração à rasca” já se devia ter apercebido disso para não ser mais um instrumento dessa regressão cultivada pelos nossos dirigentes políticos. O Congresso do PS e as declarações de Passos Coelho bastam.
A actual “geração à rasca” ainda tem a casa dos pais para se abrigar. Os seus filhos e netos provavelmente não terão, porque a essa sucederá uma geração ainda mais à rasca, dominada pelas poses bonapartistas dos actuais dirigentes. Um bonapartismo só de pose. Não na essência. Porque se persistirmos nos actuais modelos de participação e liderança, acabaremos todos não por sermos como o corso, mas por sermos como eles: isto é, definitivamente sonsos, medíocres, mansos e sempre à rasca.
Oxalá que por essa altura eu já tenha sido poupado a um destino que tem tanto de medonho quanto de merdoso." - Aqui

quinta-feira, setembro 06, 2012

Horas de sorte

Ele não sabia o que era a Ongoing e pouco depois era administrador do ramo brasileiro dessa empresa. Agora regressa, depois de "uma experiência profissional espectacular num país onde não conhecia ninguém e que está bombando"(sic). Pelo que refere a Visão, regressa para ir exercer funções executivas na Santa Casa da Misericórdia do Porto. Esperemos que desta vez saiba de que entidade se trata.
Enquanto alguns saem do país para arranjar trabalho, e alguns desesperam por cá sem consegui-lo, há quem regresse para garantir o futuro. Sem esforço. Basta um misericordioso convite.
Para alguns ainda há horas de sorte. 

Os meus heróis têm nome

É a imagem viva da perseverança, do esforço, da coragem e de uma íncrivel capacidade de lutar contra e domar as adversidades da vida. Depois de uma promissora carreira na F1, do terrível acidente nos treinos do GP da Bélgica, em 1993, no circuito de SPA-Francorchamps, que lhe arrancou as duas pernas, depois dos dois títulos nos campeonatos CART e dos êxitos no WTCC, com o BMW da equipa de Roberto Ravaglia, após o seu regresso às pistas na sequência de um longo período de recuperação e habituação às próteses, eis a vitória mais difícil e mais merecida de toda a sua carreira: a medalha de ouro em ciclismo nos Jogos Paralímpicos de Londres 2012. Alessandro Zannardi habituou-nos a vê-lo correr, a vê-lo competir e a vencer mesmo quando não ficava em primeiro lugar, sempre com o mesmo sorriso, sempre com a mesma vontade e o mesmo fairplay. Um exemplo para todos nós. Porque se há homens maiores do que a vida ele é seguramente um deles. Grazie, Alessandro!

quarta-feira, setembro 05, 2012

Gostava de lá voltar (11)


Honolulu, Havai, EUA

Um desastre

O diagnóstico estava feito, eles sabiam tudo, tinham tudo preparado, a receita era infalível e até o prof. Catroga do alto da sua cátedra falava de "....elhos". Sabendo-se que as eleições foram em 5 de Junho, que o Governo tomou posse a 21 desse mês e que estes dados se reportam aos primeiros 6 meses de 2012, que medidas foram tomadas nos últimos seis meses de 2011 pelo Governo para evitar esta situação? O que correu mal? Por culpa de quem? É isto que é preciso saber para se poderem tirar as devidas ilações.

Pois é

Como bem demonstra o Rui Rocha, da cabeça de "minipolíticos" só podiam sair "mini-ideias".

José Gil


São homens com o seu perfil, o seu estilo, a sua lhaneza de carácter e dimensão intelectual, e com uma linguagem simples, acessível, frontal, que podem contribuir para nos ajudar a reencontrar um caminho e um sentido para as nossas acções. Tanto as colectivas como as individuais. Os portugueses precisam de alguém que os ajude a pensar fora das balizas da troika e das palas ideológicas. Ele fá-lo como poucos. A entrevista que José Gil ontem deu a Fátima Campos Ferreira deverá ser vista e revista vezes sem conta. Em especial pela nossa classe política. Está lá tudo. Um verdadeiro guião para a nossa sobrevivência e sanidade. 

Mais uma edição a caminho

Ano após ano, sem falhar, um festival e pêras. Mais informação aqui, num site que também nunca falha, dia após dia.

domingo, setembro 02, 2012

Teia rompida

A lista divulgada pela Casa das Aranhas tem muito que se lhe diga. Como em tudo nesta vida, há boas (nunca pensei lá encontrar tantos amigos) e há desagradáveis surpresas.
Independentemente da forma mais ou menos (talvez menos que mais) lícita como a obtiveram, e dos mortos e adormecidos que por lá andam, há coisas que incomodam. Algumas fidelidades que muito prejudicaram o País, a democracia e a justiça, tornam-se agora demasiado transparentes. O GOL devia promover a sua própria regeneração, como muitas outras respeitáveis instituições, purgando as excrescências que por lá andam e regressando à pureza dos princípios. A fidelidade a estes tem de ter correspondência na composição da elite que a organização pretende e no quotidiano de cada um, na vida privada e na pública. Sem dramas.