sexta-feira, agosto 29, 2008

REMAKE

A entrevista que ontem Rui Pereira deu a Judite de Sousa deixou-me perplexo. Fiquei sem perceber para quem é que ele falava. Ou se ele próprio acreditava no que tão convictamente dizia. Espero que o que está neste momento a acontecer com algumas figuras do governo do Partido Socialista não seja um remake do que aconteceu em Macau antes da transferência de administração para a China. Estávamos a pouco mais de um ano do fim, Sampaio não quis intervir, achou melhor deixar tudo como estava e Rocha Vieira fez o que muito bem lhe apeteceu. Se José Sócrates seguir o mesmo caminho, se não quiser mexer na sua equipa por estarmos a um ano do final da legislatura e optar por manter tudo como está, então é capaz de estar a arriscar uma desfeita. Lá porque a festa do Pontal foi um fiasco e Manuela Ferreira Leite continua de férias e a cuidar da neta enquanto a sua oposição interna recolhe assinaturas para um novo congresso, isso não quer dizer que ele também continue mudo e quedo. O povo é sereno, mas não dorme. E quando lhe vão ao bolso ainda mais atento está.

QUEM ME DERA LÁ ESTAR...

(foto AFP)
... em Buenos Aires, no 6º Campeonato Mundial de Tango. Felizes são aqueles que lá podem estar.

E PORQUE NÃO UM VETERINÁRIO?

A ser verdade a notícia, de que hoje dá conta o Correio da Manhã, da contratação por parte do o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) de uma engenheira florestal para prestar assessoria à presidência, prevejo que a curto prazo lá tenhamos também um veterinário. Ou José Sócrates se volta a concentrar no trabalho que ainda falta fazer até às eleições ou vamos ter esta malta em roda livre, e o trabalho que se fez em matéria de finanças públicas e reforma da administração pública vai todo por água baixo em meia dúzia de meses. Não me parece que seja normal isto estar a acontecer.

NÃO É SÓ POR CÁ

O ABC relata esta manhã o rocambolesco assalto que teve lugar ontem, nos arredores de Madrid, na localidade de Torrejón de Velasco. Dois homens, um deles disfarçado de mulher, com uma peruca e lábios carmim, e empunhando uma pistola que logo se revelou ser falsa, assaltaram a dependência do La Caixa. Depois, fizeram refém o gerente da sucursal e apropriaram-se de um veículo da polícia, que entretanto chegara ao local, para se porem a milhas. Tudo se passou às 11h e 30m da manhã e com uma dezena de pessoas dentro do banco. Não consta que por lá os magistrados ou os seus órgãos de classe tenham pedido qualquer alteração às leis penais.

quinta-feira, agosto 28, 2008

TRANSPARÊNCIA IRLANDESA

O Irish Independent publicou há dias, em duas páginas, das quais aqui apenas se vê um extracto, as remunerações de todos os autarcas do país. Da Câmara de Dublin à mais pequena circunscrição de Cork, comparando o recebido em 2006 com o de 2007. Fico à espera de ver o mesmo na imprensa portuguesa em relação aos nossos autarcas, incluindo as senhas de presença em reuniões e as tenças das empresas municipais. Esse seria mais um bom passo para se preparar a regionalização.

MUSEU DO ORIENTE

Aqui há dias fui matar saudades do Oriente que conheci. Fui até Alcântara, ao recém inaugurado Museu do Oriente. Fiquei satisfeito com o que vi em termos de recuperação do edifício e criação de espaços. Achei muito interessante a exposição de Máscaras da Ásia. Mas quanto ao museu propriamente dito, este está a anos-luz daquilo que era expectável e possível fazer. Estranho que tendo a Fundação sido criada há mais de vinte anos, a grande maioria das peças expostas seja de aquisição recentíssima. Dir-se-ia que foram adquiridas por atacado. Mas isso ainda seria o menos face à sua qualidade. Notei sim uma tremenda falta de iluminação, a inexistência de qualquer indicação dos circuitos, a falta de informação e de legibilidade - letras minúsculas escritas em placas de fundo negro, em salas sem luz - da maioria das placas identificativas das peças, erros de ortografia nas placas, traduções literais do inglês, um frio de rachar nalgumas alas e a falta de utilização de vidros anti-reflexo, o que dificultava ainda mais a apreciação de alguns quadros e peças. Pior do que isso só mesmo o restaurante. Um verdadeiro desperdício. Uma vista magnífica e uma decoração de bom gosto perdidas na má qualidade da comida. Pensava eu que iria ali encontrar um menu oriental, mas não tive sorte nenhuma. Foi-me dado um cardápio internacional, que é como quem diz uma miscelânea sem qualquer interesse. Só o menu de degustação se aproxima da comida asiática. Todavia, ao almoço só servem buffet e no dia em que lá estive era manifestamente mau. Uma salada de peito de frango à florentina, que quem comeu se queixou da secura da carne, e uns filetes albardados de péssima confecção. Desde quando é que um restaurante que se preze serve filetes com pele e espinhas? O vinho também merece outra atenção quanto à temperatura a que é servido. Salvou-se a simpatia e educação do pessoal. Vou ficar à espera dos ajustamentos para depois poder lá voltar. Lisboa há muito que precisava de um museu dedicado ao Oriente de dimensão internacional.

FRIVOLIDADE E PAROQUIALISMO

A Sábado publica hoje uma reportagem que pretensamente vem contar ao povo os rituais da alta sociedade de Cascais e do Estoril. Meia dúzia de fotografias, referências a alguns supostos ricos e muita imaginação. Como se a gente de bem de Cascais e do Estoril se prestasse a exercícios de coscuvilhice. O jornalista que assina a peça confunde o Abano com o Guincho Norte, e enquanto assim for isso só pode ser motivo de satisfação.

SILLY SEASON

Quando parece que está de partida, eis que regressa em força. Primeiro foi o secretário-geral do Gabinete Coordenador de Segurança a dizer que não se sentia atingido (eu também não) pelas palavras do Presidente da República e a assegurar que tudo o que este diz é bem dito - mesmo que não saiba do que fala, digo eu. Depois, foram os animados convivas da festa de aniversário de Rui Gomes da Silva a alvitrarem a recolha de assinaturas para um novo congresso do PSD, num momento em que suponho que estariam sóbrios, a que logo se seguiram as inacreditáveis declarações do secretário de Estado José Magalhães sobre a recente onde de violência, ajustamentos interpretativos entre as polícias e as magistraturas e a disponibilidade do Governo - estaria a referir-se a este ou ao próximo? - para mexer nas leis que entraram em vigor há menos de um ano. Esta manhã fui brindado com a 2ª alteração ao Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro, depois de ontem ter saído a 1ª alteração a um diploma que ainda nem sequer entrou em vigor. Provavelmente amanhã sairá a 3ª. As rectificações não contam para esta estatística. Cada dia que passa tenho mais pena de não ter sido limpa-chaminés. O Diário da República sempre serviria para alguma coisa.

sexta-feira, agosto 22, 2008

SUGESTÃO PARA UMA UMA BOA REFEIÇÃO

Chama-se Sua e fica em Bilbau. É a casa do chefe basco Aitor Elizegi, na Calle Marqués del Puerto, 4, próximo da Gran Via D. Lopéz de Haro e do Palácio da Justiça. Não dará por mal empregue o seu tempo nem o dinheiro, mas convém estar preparado para novas experiências gastronómicas.

REGIONALIZAÇÃO

Vale a pena ler este post e, em especial, os comentários, os quais dizem muito sobre o assunto e os seus mentores. Esta coisa da regionalização, da maneira como está a ser cozinhada por algumas pessoas, começa a ser uma espécie de manifestações do PCP e da Intersindical: são sempre os mesmos de Viana do Castelo a Vila Real de Santo António, repetindo sempre as mesmas palavras e sendo incapazes de esclarecer de uma forma objectiva por que lá estão ou por que apoiam. Ou não fosse essa também uma forma de combater o desemprego, de iludir os inconscientes e os ignorantes, distribuir prebendas e consumir os parcos recursos que temos.

quinta-feira, agosto 21, 2008

HÁ QUEM NUNCA NOS DEIXE MAL

O campeoníssimo Nélson Évora acabou de conquistar a medalha de ouro do triplo salto nos Jogos Olímpicos de Pequim. É uma boa notícia e a prova de que mesmo na adversidade há sempre quem nunca nos deixe ficar mal. Mas como uma boa notícia nunca vem só, fiquei também a saber que o comandante Vicente Moura admite reconsiderar a sua saída do Comité Olímpico. E esta já é uma péssima notícia. Não só porque o resultado de Évora não se deve aos "apoios" ou à acção do dito comandante nos trinta anos em que dirigiu o Comité Olímpico, mas ao mérito do desportista. Além de que fica muito mal um dia dizer que se sai para dar lugar aos mais novos e no dia seguinte dar o dito por não dito e vir dizer que se reconsidera só porque um atleta resolveu salvar a honra do convento. Está visto que este mundo não é perfeito. Pena é que por cada tipo como o Nélson Évora que ganha medalhas e nos eleva a auto-estima, haja sempre uma lapa que teima em colocar-se ao êxito, e que para ficar na fotografia nos faça baixar essa mesma auto-estima.

terça-feira, agosto 19, 2008

TRABALHAR A TEMPO E HORAS

Para quem ainda se recorda do fiasco que foi o Porto 2001, será sempre bom reflectir sobre os exemplos que vêm de Espanha. Estamos a oito anos de 2016, mas os voos da Ibéria já promovem, em toalhetes e nos guardanapos distribuídos a bordo, Cáceres como Cidade Europeia da Cultura. A isto chama-se trabalhar a tempo e horas.

ESPÍRITO OLÍMPICO

Depois de uma saraivada de críticas, como que a acordar a delegação olímpica portuguesa que foi até Pequim, eis que Vanessa Fernandes conquista a medalha de prata na difícil modalidade do trialto. Aqui está um exemplo de abnegação, de esforço e do verdadeiro espírito olímpico. Se fosse outro, a "nossa" Vanessa sempre poderia agora vir dizer que não ganhou o ouro por "falta de apoios", a ver se lhe duplicavam a bolsa. Bem ao contrário, nas corajosas e sinceras declarações que proferiu, não se esquivou a mandar o recado para alguns que foram fazer turismo: "A alta competição não é brincadeira nenhuma. Não é fazer meia dúzia de provas, andar a receber uma bolsa e está feito. Muitos não vêem bem a realidade das coisas. Não têm a noção do que isto significa. Se calhar por termos facilidades a mais" (vd. a edição on line do Expresso). Por isso mesmo, depois do país ter gasto 15 milhões de euros (sim, leram bem, quinze milhões de euros) com atletas que durante 4 anos receberam uma bolsa e desistiram na véspera, com outros que queriam ficar na "caminha", com alguns a quem as pernas tremem na hora da competição, com os que desistem face à concorrência africana ou que pura e simplesmente não sabem o que lhes aconteceu, é sempre bom ouvir alguém com o estofo e a autoridade que lhe advém do mérito, dizer que a representação nacional em Jogos Olímpicos não é um conjunto de turistas e de mercenários que só obtêm resultados à troco de dinheiro. Como há dias dizia o Rui Santos na SIC-Notícias, não temos de nos comparar com a Espanha, mas é bom que vejamos o que outros países com igual dimensão e população, ou mesmo mais pequenos e com meios mais reduzidos, são capazes de fazer. De que serve levar um delegação com dezenas de elementos se a maioria apenas vai fazer turismo e tirar umas fotografias? Não será certamente o caso de Gustavo Lima ou de Naide Gomes, visto que um azar ou um dia mau todos podemos ter. Mas seria bom que se olhasse para as medalhas conquistadas por países como a Holanda (já vai em 12), a Suiça, a Noruega, o Azerbeijão, a Nova Zelândia, a Eslováquia, a República Checa ou a Dinamarca e se percebesse a razão para eles terem sucesso e nós não. Há coisas que a sorte ou as arbitragens não podem explicar.

P.S. Gostei de ver o Venceslau Fernandes a acompanhar a filha em Pequim. A camisola do Benfica ficava-lhe a matar! É de exemplos destes que precisamos.

segunda-feira, agosto 18, 2008

CUMPRIR PRAZOS

Margarida Saavedra, vereadora do PSD em Lisboa, deu hoje uma interessante entrevista ao Público. Entre outras coisas, diz-nos que impor o cumprimento de prazos nas autarquias seria meio caminho para acabar com a corrupção. Eu também penso o mesmo. E penso mais: quando não cumprirem ou chutarem para canto, atrasando a decisão, devem ser penalizados os infractores e instaurados os respectivos processos disciplinares. Cismo é por que razão isso não acontece nas autarquias do PSD, nem mesmo naquelas onde este partido tem confortáveis maiorias. A começar por Loulé, onde uma carta leva várias semanas a ir para o correio e uma corriqueira certidão leva meses a ser passada (tenho múltiplos exemplos), sendo que o requerimento que a solicita é tratado como se fosse, passe o exagero, o processo de licenciamento de um centro comercial.

NOVO MAPA JUDICIÁRIO PROMULGADO

Para quem, depois do discurso de Cavaco Silva sobre o Estatuto dos Açores, já via no Presidente um trunfo para a agudização do confronto com o Governo e o alinhamento pela estratégia de Manuela Ferreira Leite, não deixa de ser curioso que a promulgação do diploma que aprovou o novo mapa judiciário tenha ocorrido no mesmo dia em que o primeiro-ministro regressou ao trabalho, depois de férias. Sem dúvidas quanto à sua constitucionalidade ou legitimidade da maioria que o aprovou, a promulgação foi feita, a bem dizer, sem espinhas. Só a prática poderá provar a sua justeza ou inadequação. Mas nessa altura, se Deus quiser e houver pachorra, cá estaremos para fazer o balanço e sugerir correcções.

JUAN MUÑOZ

Até dia 5 de Outubro, no Guggenheim Bilbao, continuará a impressionante retrospectiva da obra de Juan Muñoz. No mesmo local, mas só até 7 de Setembro, se resolver ir até lá, terá também oportunidade de ver a exposição "Casas del Surrealismo".

domingo, agosto 17, 2008

FEÉRICA!

(a foto é do Região Sul)
Com calor q.b., gente educada e simpática, mulheres bonitas, excelente ambiente e música adequada ao evento, teve lugar a tão badalada Festa de Verão de Vale do Lobo. Sem as aventesmas de outrora, com sentido das proporções e bom gosto, não é difícil organizar uma festa. Difícil é fazê-lo com competência. Foi esse o caso. Os Maseratis contribuiram para o glamour necessário a estas coisas. Pena é que ainda haja quem, apesar das suas responsabilidades sociais e políticas, não distinga uma festa de Verão de um baile em Versalhes ou no Naco Fino. Continua a haver quem não saiba nem queira saber, mas isso apenas serviu para divertir quem viu. O filme retrospectivo esteve com classe, que é o que se exige de um sítio como VDL e Jorge Guimarães - está na mesma! - deve ter ficado satisfeito com o fogo-de-artifícío, a lembrar outros tempos de Macau. Diogo Gaspar Ferreira, Luís Simões de Almeida e todos os que trabalharam para o sucesso do evento estão de parabéns. A repetir.

ETA NO

(Gasteiz, Álava)
No mesmo dia em que a violência cega do terrorismo da ETA voltou a fazer estragos, desta vez na Andaluzia, é bom voltar a gritar bem alto, como outros bascos fizeram em dia da Virgem Branca ("La Blanca"), nas fachadas de Vitória, que não passarão. ETA EZ, ETA NO!

A IMAGEM QUE RECORDAREI

Depois do (já) fiasco olímpico, que nem Vanessa, Naide ou Nélson poderão escamotear, do descalabro das estrelas adolescentes que vivem reclamando apoios do Estado e vão amealhando chorudos contratos publicitários e tratamento vip sem apresentarem resultados nos momentos decisivos, graças a uma inexistente política de fomento desportivo, a uma tribo de dirigentes medievais que se passeia à custa das federações e do Comité Olímpico e de uma mentalidade de sacristia, eis que surge alguém que não só pede desculpa aos portugueses por ter ficado aquém dos resultados, como ainda por cima o justifica, dizendo que deve um esclarecimento aos contribuintes que lhe pagam as viagens e lamentando não ter alcançado o êxito por todos almejado. Ser-lhe-ia mais fácil, a ele que já tinha a prata, o sucesso e o prestígio internacional, dizer que era falta de apoios, culpa dos sapatos ou da etiqueta dos calções que lhe fazia comichão. Ninguém o levaria a mal. Ao invés, assumiu a sua quota-parte de responsabilidade e deixou-nos o exemplo de que o sucesso não se constrói com o discurso estafado e o choradinho habitual. Dele não recordarei o fracasso nem a desilusão, mas a ambição, a força de vontade, o trabalho, a humildade e a seriedade com que envergou as cores nacionais. Oxalá o Algarve saiba recebê-lo como ele merece. Ele que é um produto da democracia e da civilização, não um ícone do regionalismo bacoco que se vê a comer bacalhau com natas no calçadão de Quarteira, enquanto passeia ostentatoriamente a barriga proeminente em discursos inflamados e inconsequentes contra o poder político de Lisboa. Francis foi um grande atleta. Será sempre um grande homem e um português como poucos.

DE REGRESSO AO "PONTAL DA QUARTEIRA"

(Los Raqueros de José Cobo Caldéron, Muelle de Caldéron, Santander, Cantábria)

Agora que regresso ao povoado, e que se retomam os velhos combates, nada como recordar os versos de José Hierro, para ter melhor consciência da realidade que me cerca e deprime:
Si muero, que me pongan desnudo, desnudo junto al mar.
Serán las aguas grises mi escudo y no habrá que luchar”.