Quando Hermínio Loureiro decidiu congregar apoios para se candidatar à direcção da Liga de Clubes, logo prometeu credibilidade e responsabilização e garantiu que iria promover o futebol e levá-lo ao encontro das pessoas. Na altura, conhecendo a pobreza do seu currículo técnico e político e o seu percurso profissional, percebi o que estava por detrás dessa candidatura e desse discurso. Os objectivos de Loureiro e do seu clã falavam em coisas como transparência, em explicar a arbitragem à sociedade civil e em tecnologia ao serviço da verdade desportiva. Pelo caminho, Hermínio Loureiro manifestava vontade de rever regulamentos caducos e obsoletos. Desde o vazio discurso da tomada de posse, em 2 de Outubro 2006, até hoje, já passaram mais de 2 anos. Os resultados começam a aparecer: confusão total no seio da Liga, prepotência e incompetência de muitos árbitros, regulamentos mal feitos, desconhecimento de coisas tão banais como o conceito de "goal average", interpretações de regulamentos que revelam desprezo pelas regras do jogo e pelo público. Agora o chefe de fila dos árbitros e maioral da Liga, Vítor Pereira, até convida as pessoas que não acreditam na arbitragem a ficarem em casa. Inacreditável. Está visto que foi melhor árbitro do que alguma vez será dirigente. Os erros são em catadupa. Não há jogo da I Liga que não seja ganho ou perdido à custa de erros da arbitragem. A desconfiança é geral. E, não obstante, a vida continua como se nada se passasse. Quando a confusão aperta Loureiro desaparece, refugia-se no silêncio. Aos poucos tornou-se no símbolo maior da promiscuidade entre a medíocre política, o futebol e a arbitragem. Consagrou-se como a mais acabada imagem do status quo. O futebol português está em acelerado processo de desintegração. Mas Hermínio Loureiro e a sua gente seguem anafados e impantes. A mesa pode parecer um chiqueiro, a toalha estar cheia de nódoas, os guardanapos sujos estarem espalhados por todo lado e os convivas ao redor da mesa a arrotarem e a palitarem os dentes. Ainda assim continuam todos na cavaqueira. Discutem a jornada, interpretam regulamentos, riem-se muito e sorriem para as câmaras. De vez em quando franzem a testa. O cheiro pode incomodar, mas logo disfarçam e continuam. Enquanto o barril não acabar e houver caracóis para espetar, não há nada que não se resolva. A cerveja engorda, mas o futebol pode esperar.