Há três anos atrás, praticamente na mesma altura em que este blogue conheceu a luz do dia, e com a cagança de quem tinha o Sol no umbigo, José António Saraiva desdobrava-se em entrevistas auto-elogiadoras, anunciando um projecto inovador na área da comunicação social. Prometeu vendas de 50 a 70 mil exemplares no prazo de 3 meses e a chegada à liderança dos semanários portugueses no final do primeiro ano. No prazo de 3 anos, proclamava então, seria "o maior e mais influente semanário português". Tinha slogans como "um jornal como nunca se viu" e "jornalismo da 4ª geração". Outras frases como "em três anos seremos o maior jornal português, não só batendo o ‘Expresso’, como qualquer outro semanário que apareça entretanto", "não é preciso muito para [o Sol] se tornar líder e ser o jornal mais influente do país" e "a altura em que o jornal é lançado é tão favorável, quer em termos de [situação do] país, quer em termos de mercado, que seria preciso ser muito mau e muito aselha para que isso [a liderança] não acontecesse", tornaram-se banais. Pelo caminho, para se demarcar desses "ciganos" que oferecem talheres e chinelas, dizia que não oferecia brindes, coisa que logo nos primeiros meses foi desmentida. Há pouco fiquei a saber que o semanário Sol já está com dificuldades para pagar salários e que o arquitecto Saraiva anseia por se livrar do buraco que criou. O jornalismo da 4ª geração afinal é um fiasco total. Bastaram menos de três anos para se perceber que quem tinha razão era Francisco Pinto Balsemão. O optimismo e a profundidade das análises do ex-director do Expresso não resistiram à crise. Mais dia menos dia vamos todos ler que o Sol se finou e que não passou de um sonho megalómano promovido por aselhas. Terrivelmente, continuará a ser este o drama de Portugal. O semanário Sol, mais o BPN, o BPP - quando será a próxima conferência de João Rendeiro? - , a Qimonda, as declarações de Miguel Cadilhe no Parlamento, as de alguns dirigentes do PSD sobre o TGV ou as de Mendes Bota sobre a escolha da concelhia de Olhão para as autárquicas, são o melhor sinal dos tempos. Bancários exercem funções de banqueiros, jornalistas são administradores de empresas, docentes universitários são empresários, simples amanuenses são políticos e até há advogados que se intitulam "médiuns", têm "visões" e, presumo, falam com os mortos. Um espectáculo! É, pois, natural que este seja um país entregue a aselhas. O Sol é o melhor espelho disso mesmo.