sexta-feira, janeiro 09, 2009

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS EM 19 DE JULHO

Vasco Pulido Valente antecipa hoje no Público, com a sua habitual simplicidade e inquestionável brilhantismo, o dilema de Cavaco Silva quanto à marcação da data das eleições legislativas, face à estratégia seguida por José Sócrates e ao desgoverno do PSD. De facto, a eventual marcação das legislativas para 19 de Julho poderá causar problemas à liderança de Manuela Ferreira Leite, pois, como ele diz, em cinco meses "não há maneira de Ferreira Leite unir e disciplinar o PSD". Eu diria mais: nem em cinco em em vinte, o PSD é ingovernável, não é partido que se queira unido e disciplinado. Porém, Vasco Pulido Valente erra quando considera que a antecipação das eleições legislativas para essa data poderá ser-lhe favorável, visto que, segundo ele, a crise continuará a agravar-se. Acontece que é aqui que a previsão do cronista falha. Desde logo, porque a tomada de posse de Obama e as primeiras medidas do seu programa irão provocar um significativo recuo da crise, não só pela confiança que irá transmitir ao mercado, interna e externamente, como pelo desencadear de um efeito paralelo na Europa. Se a isto somarmos uma suspensão, se não mesmo o fim das hostilidades em Gaza - até 20 de Janeiro o Hamas estará totalmente inoperacional -, com a consequente estabilização do preço do petróleo e a previsível ultrapassagem do diferendo sobre o gás, é mais do que natural que os sinais da crise tendam a esbater-se exactamente a partir dessa altura, podendo os Estados Unidos e a Europa dedicar-se ao que interessa. Mas mesmo que o argumento de VPV pudesse ter algum acolhimento, há uma razão de interesse nacional que aconselha o Presidente da República a marcar as eleições para 19 de Julho. Todos sabemos que em 19 de Julho já o país se prepara para o abrandamento estival. A realização das eleições nessa data permitiria que se ganhasse o resto do mês de Julho e o mês de Agosto para o apuramento final dos resultados, indigitação do novo primeiro-ministro e formação do Governo, de maneira a que em Setembro já tivéssemos um novo executivo em funções e pronto a iniciar a preparação do OGE para 2010, tendo na sua posse os números do primeiro semestre. Qualquer outra data posterior a 19 de Julho, independentemente de favorecer José Sócrates ou a oposição, desfavorece objectivamente o país e constituirá mais um atraso para a saída da crise. Seria bom que Cavaco Silva pensasse nisto antes de tomar uma decisão.