sexta-feira, janeiro 30, 2009

ALGUMAS NOTAS SOBRE O FREEPORT

1 - Segredo de Justiça: já era
Ontem todos ouviram a Drª Cândida Almeida dar as explicações que, no seu entender, se impunham. Com maior ou menor comedimento lá se ficou a saber que foram as autoridades portuguesas de investigação, e não os ingleses, que em 2005 meteram o primeiro-ministro no rol dos suspeitos. Cerca de duas dezenas no total. O Diário de Notícias publica hoje a tradução da carta recebida de Inglaterra. O segredo de justiça em Portugal é um segredo de polichinelo.

2 - Trapalhadas: é o outro nome do caso Freeport
Já todos perceberam que a história está muito mal contada e que os ingleses que andam metidos ao barulho não são flor que se cheire. Mas que necessidade havia de andar a dar o dito por não dito? Afinal quem esteve nas reuniões, quantas houve e que competências tinha a Smith & Pedro que a recomendasse aos ingleses? Em que outros projectos estiveram envolvidos antes do Freeport? Que trabalhos fizeram nos anos de 2004 e 2005 que justificasse a facturação apresentada? Por que razão um ministro se envolve numa trapalhada destas e com gente daquela?

3 - Rogatórias: uma dor de cabeça
Qualquer rogatória pedida às autoridades inglesas leva meses ou anos a ser cumprida. Por vezes vêm devolvidas por cumprir, com dúvidas e interrogações do magistrado que a recebeu, com pedidos de esclarecimento e conclusões do tipo "a pergunta não faz sentido". Por que motivo haviam de ser mais céleres com o caso Freeport? E por que raio havia o Ministério Público de fazer o que as autoridades inglesas queriam? Já era tempo da União Europeia ter uniformizado o cumprimento das rogatórias. Aí é que a cooperação internacional faz todo o sentido, não na fixação do diâmetro das ervilhas ou na medida dos preservativos.

4 - José Sócrates: o alvo a abater
O primeiro-ministro é o alvo a abater nas sucessivas violações do segredo de justiça, nas frases sibilinas que alguns adversários políticos vão deixando cair ao mesmo tempo que lhe dão um voto institucional - não pessoal, note-se - de confiança. Ser um alvo a abater não pode justificar declarações/conferências de imprensa como as de ontem. Ficam todos mal na fotografia: o primeiro-ministro, pela imagem que dá - não serve de nada vir aos berros para a praça pública proclamar inocência -, o PS, que governa com o credo na boca, os militantes que os apoiam e os eleitores que neles confiaram. A escolha dos dirigentes tem de ser mais criteriosa.

5 - Ministério Público: sempre aos soluços
Não há investigação que se preze que não ande aos soluços, aos repelões, aos encontrões. Os timings estão cada vez mais obscuros. Depois é preciso vir dar explicações, mas a maioria dos cidadãos ainda não percebeu o que se está a passar, nem qual a dificuldade para ainda não se ter arrumado a coisa e tirado conclusões. Há demasiada gente a falar muito sem dizer nada.

6 - Offshores: alguém tem de dar o passo
Portugal devia tomar a iniciativa neste capítulo. Acabe-se com a farsa.

7 - Autarquias: sempre presentes
Não há escandaleira neste país que não meta uma autarquia ou um autarca ao barulho. Enquanto não houver uma revolução a esse nível não se livram da má fama. Pelos pecadores pagam os justos.

8 - Ideias peregrinas: são em catadupa
Do "chumbo estratégico" do projecto para afastar um autarca comunista até às apressadas conclusões de Pacheco Pereira. Mas as mais estapafúrdias estão a sair de onde não seria possível imaginar: dos próprios jornalistas. Parece que lhes está dar qualquer coisa. Confundirem uma empresa de prestação de serviços com um escritório de advogados que funciona ao lado não é brilhante, em especial quando em causa está o sigilo profissional destes últimos. Mas o bom e bonito foi quando ouvi Carlos Magno na RTPN. Pensei que ele delirava ao sair-se com aquela proposta da suspensão de funções do primeiro-ministro durante uns meses para se poder acabar a investigação. Tanto querem perorar na crista da onda que depois saem pérolas destas. Sem desculpa.