quinta-feira, janeiro 22, 2009

VENTURA LEITE

A Airbus foi no passado uma fonte de problemas para um Governo de Cavaco Silva. Agora volta a sê-lo para José Sócrates. Só que desta vez não se tratam de fumos de corrupção, mas de ligeireza na acção governativa, o que sendo igualmente deplorável sempre é menos mau para o primeiro-ministro que lidera. O Público retoma hoje, e bem, as questões levantadas pelo deputado do PS Ventura Leite, a propósito das contrapartidas da Airbus na aquisição dos aviões da TAP. Infelizmente, continuo a ter a pior das impressões de Mário Lino, não quanto à sua competência técnica ou profissional, mas quanto ao seu desempenho político e a forma como enfrenta os problemas que lhe surgem pelo caminho. Primeiro disfarça, faz de conta que não é nada com ele. Depois, quando não pode contornar a questão, arranja uma justificação estapafúrdia, e no final, quando a coisa aperta e fica sem argumentos, espalha-se. Com ele o problema não é de corrupção ou de falta de idoneidade ética ou moral. Em causa está apenas a sua falta de jeito e o espírito, certamente herdado da sua longa passagem pelo PCP, de querer tapar o sol com uma peneira e tentar controlar o que manifestamente lhe escapa. De tempos a tempos lá vem mais uma bordoada. Quando um relatório parlamentar, elaborado por um deputado da maioria, aponta erros e negligências com a amplitude dos que ali constam, confirmados pela carta da Airbus de 2005, o primeiro-ministro não pode ficar indiferente. Eu sei que ele vai ignorar. E é pena. Após o que aconteceu com a OTA e depois das intervenções desabridas de Lino, desmentido pelos factos e ultrapassado pelos acontecimentos à velocidade de um raio, o que agora se sabe deste caso da Airbus se conhecido há um ano atrás certamente que teria consequências diferentes. É óbvio que Mário Lino não poderá ser substituído nesta altura, a meia dúzia de meses das eleições. Os ganhos seriam inferiores às perdas. Ao menos que sirva de lição. Ventura Leite, que na suas próprias palavras recusa "a ideia de ser uma espécie de vereador no Parlamento", cumpriu a sua função de deputado. Seria bom que se percebesse isso. A começar por José Sócrates e pelos que no parlamento fazem de vereadores. É isso que dignifica o PS, não o contrário.