sexta-feira, fevereiro 29, 2008

O LAVAGANTE

Ler o Cardoso Pires sempre foi para mim um prazer. O Nelson de Matos e os herdeiros do José brindaram-nos com este Lavagante, num encontro desabitado. Em boa hora o fizeram e estou-lhes grato por isso. Só tenho pena de não ter apanhado a 1ª edição. Ouvi dizer que o livro tinha sido lançado na 5ª feira passada, mas no domingo já só encontrei esta. Nao faz mal. O conteúdo é que importa e no fim-de-semana que se aproxima recomenda-se a sua leitura a quem não o conhece. Não dará o seu tempo por perdido. E com o José Cardoso Pires sempre se aprende alguma coisa, neste tempo em que se perde tempo num parlamento pago com o dinheiro dos contribuintes a discutir o significado de "calote" e de "caloteiro".

AINDA ONTEM

Critiquei aqui nesta tribuna, num post anterior, a incontinência legislativa e a falta de sentido de alguns diplomas que vão saindo em catadupa. Nem de propósito. Hoje mesmo saiu mais uma portaria (210/2008), que veio alterar a Portaria n.º 10/2008, publicada em 3 de Janeiro (apenas há menos de dois meses), que regulamentava a Lei n.º 34/2004, de 29 de Julho, na redacção dada pela Lei n.º 47/2007, de 28 de Agosto. Trata-se do diploma que versa o sistema de apoio judiciário, acesso ao direito e o regime das nomeações oficiosas e dos pagamentos efectuados no seu âmbito. São só 13 (treze) artigos que são alterados. Num universo de 37! Depois do charivari que foi no meio judicial e, em especial, por parte dos advogados e do seu bastonário, com a portaria de 3 de Janeiro, que entre outras barbaridades menores, atribuía a um advogado qualquer coisa como cerca de 6 (seis) euros mensais por um processo que lhe fosse confiado - despesas incluídas - o secretário de Estado da Justiça, João Tiago Silveira, voltou a fazer marcha-atrás e aceitou chegar a um entendimento com a Ordem dos Advogados, repondo em vigor os valores das compensações previstas na Portaria n.º 1386/2004, de 10 de Novembro. Ontem mesmo também ouvi um senhor secretário do Estado, creio que do Orçamento, ao lado do ministro do Ambiente, dizer que três meses depois da saída de uma nova lei sobre o apoio aos jovens na aquisição de casa própria, que foi um fracasso total, o regime vai ser outra vez revisto. Eu só pergunto se havia necessidade disto? Para quê publicar legislação a granel que logo no mês seguinte ou dois meses o próprio Governo reconhece que é um fiasco total? Reconhecer o erro é uma virtude. Insistir no erro e não dar ouvidos a quem sabe antes de publicar a asneira, para logo depois corrigir, é uma perfeita estupidez e denota falta de inteligência. Não há opinião pública que resista.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

TRAPALHADAS

Agora foi o indigitado director da Polícia Judiciária do Porto, Almeida Pereira, que deu o dito por não dito. Depois de ter aceitado a nomeação para o cargo, na pendência da decisão do CSMP, vem dizer que a repercussão pública da sua indicação o levou a voltar atrás. Primeiro, quando questionado sobre o assunto, confirmou o convite. Depois, confirmou a aceitação. De seguida, mudou de ideias e, afinal, vai ficar onde está. Sempre é preferível um bom magistrado no DIAP a fazer o que sabe do que mais um peão na arena. O Dr. Alípio Ribeiro já devia ter feito a mala e regressado aos tribunais, de onde, aliás, nunca deveria ter saído. Este é um facto por todos reconhecido. O outro é que o Dr. Alípio Ribeiro nunca deveria ter sido convidado para dirigir a PJ. Trata-se de um dado adquirido. Porém, o mais grave é que a PJ possa estar a ser utilizada como arma das eventuais guerras - e eu não sei se existem - entre o Ministério da Justiça, a PJ e a Procuradoria- Geral da República. Isto é que já me parece de todo insano. No meio destas trapalhadas, geradas pelo Dr. Alípio Ribeiro e pelas mudanças na PJ e na direcção dos inquéritos que correm para os lados do Porto, maxime o do Apito Dourado, fico com a sensação de que saem todos chamuscados. Seguro é que há ainda uma solução e esta passa pelo primeiro-ministro. Sócrates tem de fazer um ponto de ordem à mesa e demonstrar a sua autoridade na área da Justiça. Pelo estilo que tem demosntrado não lhe deverá ser difícil. Se o não fizer, depois, restar-lhe-á apenas juntar os cacos de tanta irresponsabilidade avulsa. E ouvir os dislates de Luís Filipe Menezes e de Paulo Portas. Só que aí com razão. A falta de bom senso, de autoridade e de responsabilidade política e institucional ameaçam tomar conta disto. Os sinais de fogo estão todos aí. E são preocupantes.

FELIZ ANIVERSÁRIO

O Sport Lisboa e Benfica festeja hoje o seu 104º aniversário. É uma bonita idade em qualquer parte do mundo. Para os lados da Luz, depois de passada a barreira dos 100 anos, conquistada uma taça de Portugal (com Camacho), um campeonato (com Trapatoni), e de uma honrosa presença nos 1/4 de final da Champions (com Koeman), esperava-se que a águia voltasse a voar, livre e serena em direcção ao seu olimpo. Mas o tempo passa e a águia tarda em voar. Depois do trabalho de recuperação financeira do clube e de consolidação - sempre em curso - é hora de voltarem os bons resultados desportivos. Esperemos que este ano bissexto marque a viragem e que Eusébio ainda possa ter muitas alegrias. Ele, mais do que qualquer outro, merece-o.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

CONTINUA A INCONTINÊNCIA LEGISLATIVA

O Diário da República, agora a pretexto da alteração do regime das custas judiciais, deu à estampa mais um diploma - Decreto-Lei n.º 34/2008, de 26 de Fevereiro, que altera, em termos resumidos, uma vez mais, o Código de Processo Civil - que só em 2006 foi alvo de 4 alterações e em 2007 de duas, a última das quais de fundo em 24 de Agosto passado -, o Código de Processo Penal - cuja última alteração também data de 29 de Agosto de 2007 e que foi objecto nos meses seguintes de sucessivas rectificações e de rectificações às rectificações -, o Código de Procedimento e de Processo Tributário - cuja última alteração é de 29 de Dezembro de 2006 -, o regime dos procedimentos destinados a exigir o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos de valor não superior à alçada do tribunal de 1º instãncia - cuja última alteração também data de 24 de Agosto de 2007 -, o Código de Registo Comercial - também ele alterado em 24 de Agosto de 2007 -, o Código do Registo Predial - com a sua última alteração de 23 de Julho de 2007 -, o Regime Jurídico das Associações de Emigrantes e mais dois diplomas. Este novo rebento do Minsitério da Justiça entrará em vigor no dia 1 de Setembro de 2008. São centenas de artigos que são alterados, outros que são aditados, e novo capítulos de códigos que ainda agora em Janeiro viram entrar em vigor novas alterações, que são de novo alterados e republicados. Para quem trabalha, tem de se manter e de assegurar a manutenção de um escritório, sem avenças ou protocolos com o Estado, as autarquias ou os institutos públicos, esta incontinência legislativa que tomou conta dos nossos governantes assume foros patológicos. Só mesmo de burocratas medíocres que passam o dia sentados a uma secretária, que só saem para fazer inaugurações, e que ao final do mês recebem certinho, não tendo sequer de gastar dinheiro a actualizar-se, por a formação e actualização serem feitas a expensas dos impostos que pagamos, é que podiam continuar a sair em catadupa alterações de tão grande monta. Ainda as últimas alterações não estabilizaram e já cá está uma nova onda de mexidas. Não sei o que se passa com o ministro da Justiça. Mas será que os seus secretários de Estado não lhe dão uma ajuda? Não seria preferível fazer uma reforma global e de uma só vez, devidamente preparada, discutida e publicitada durante o tempo de uma legislatura, do que estar a fazer múltiplas reformas parcelares, cujo custo é suportado pelo contribuinte e pelos profissionais do foro, sem que se perceba efectivamente qual é o seu fio condutor? Será que lá para os lados do Ministério da Justiça se tem a noção do custo de uma resma de papel? Do custo dos tinteiros das impressoras ou dos códigos que se passa a vida a comprar sob pena de se ser obrigado a andar com resmas de papel fotocopiado e recortes coloridos? Será que já foram avaliados pelo Observatório da Justiça os custos destas sucessivas mexidas na legislação e das incontáveis asneiras dos últimos anos? Será que, para além das editoras de livros jurídicos e do Office Center, há mais alguém que ganhe com esta incontinência legislativa? Será que algumas das associações de magistrados que para aí há e que estão sempre prontas para dar entrevistas e conferências de imprensa a justificarem as negligências e os atrasos dos seus pares, não têm uma palavra a dizer sobre isto? E o Bastonário da Ordem dos Advogados? Então isto que está a acontecer não justifica uma tomada de posição enérgica por parte de todos os operadores judiciários? Aonde é que isto irá parar? Esta trampa já não pode ser embrulhada em novas tecnologias, nem em programas on-line. O que se ganhou num lado está-se a perder noutros e ninguém vê isso.

LA VIE EN ROSE...

... de Marion Cotillard.

UMA ASNEIRA NUNCA VEM SÓ

Ontem, o dia foi fértil em asneiras. Logo depois de ouvir o Camacho, saiu-me o Luís Filipe Menezes na rifa. Diz o homem que vai acabar com a publicidade na RTP para então transformar o canal numa emissora de serviço público. Presumo que ele saiba o que isto seja, porque em causa, segundo o declarante, estão uns meros quilómetros de auto-estrada. Vendo bem, Luís Filipe Menezes até é capaz de ter razão. Mais quilómetro menos quilómetro, mais milhão menos milhão, e vai tudo dar ao Bolhão! Pois claro, acabe-se com a publicidade na RTP, entregue-se isso tudo aos outros canais. O Dr. Balsemão, como militante número 1 do PSD, deve ter pensado que lhe tinha saído o Euromilhões. E não é caso para menos. Não sei é se Menezes chegou a ler a decisão do Tribunal Constitucional sobre os pagamentos da Somague ao partido dos seus antecessores. É que se ele está ainda a contar com o Diogo Vaz Guedes para cobrir a falta de publicidade e os futuros crónicos défices da RTP, a que nos tínhamos desabituado com o Almerindo Marques, estou em crer que aquele já não estará pelos ajustes. Menezes deve imaginar que o Tribunal Constitucional irá estar alerta. Mas será que ele tem consciência de que agora a administração da Somague fala toda castelhano? E que os espanhóis são todos uns avarentos?

MOREIRENSE JÁ TEM NOVO TREINADOR?

Ontem ouvi as declarações que José António Camacho proferiu numa conferência de imprensa e fiquei na dúvida se ele sabe que é treinador do Benfica ou se nunca o foi. Camacho, entre outros dislates, disse não perceber por que razão os sócios e adeptos do SLB estavam descontentes com a equipa, uma vez que a equipa está em 2º lugar, porque na Europa há muitos clubes grandes a lutarem pelo 2ª lugar e no próximo domingo, qualquer que seja o resultado, o clube manterá o 2º lugar. Para bom entendedor isto quer dizer que Camacho acho óptimo ser segundo e que irá a Alvalade defender um empate a zero. Se tiver sorte acabará dizendo que "jogámos bem mas a bola não entrou". Pelo que disse, pensei que Camacho poderia estar ébrio. E mais convencido fiquei quando o ouvi comparar o jogo de hoje à noite com o Moreirense, para os quartos de final da Taça de Portugal com o jogo com o A.C. Milan para a Champions que teve lugar há alguns meses atrás. Para Camacho a motivação dos jogadores deverá ser a mesma porque em qualquer um dos casos um bom resultado dará acesso a uma meia final. Ou seja: jogar com o Moreirense ou com o Milan é exactamente a mesma coisa.
Como não consta que Camacho ande a tomar copos pelas já poucas tascas de Lisboa, admito que a pressão para os lados da Luz seja grande e que ele esteja sob o efeito de alguma outra droga mirabolante. Sabendo da apetência de Camacho por treinar grandes equipas, embora com excepção de uma Taça de Portugal que "roubou" ao Mourinho não me recorde de outros grandes resultados, fiquei convencido, no meu íntimo, de que ele irá treinar o Moreirense na próxima época. É óbvio que será a sua melhor hipótese de vencer o próximo campeonato e a Champions, visto que os de Moreira de Cónegos estão no mesmo patamar dos milaneses. Acho bem que Camacho tenha objectivos mais altos do que treinar o Benfic. Não me parece é justo que ele hoje fique no banco. Qualquer que venha a ser o resultado desta noite com o Moreirense, Camacho devia sair já. Em caso de derrota evitava ter de dar explicações. E se ganhar não começará logo a indispor os seus futuros patrões. Bem sei que Ferreira Queimado ou Borges Coutinho este tipo nunca mais se sentava no banco. Mas com Luís Filipe Vieira arrisca-se a ter carta branca para planear a próxima época. Talvez seja então altura de eu começar a angariar apoios para me candidatar à liderança do clube. Nunca se sabe o que o futuro nos reserva. E pior do que o Vieira - em termos desportivos - não hei-de fazer com toda a certeza. Além de que não uso bigode e esta é sempre uma mais-valia junto dos sócios.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

AS CONTRADIÇÕES DA SEDES

A SEDES, uma já vetusta e respeitável associação por onde passou e onde está uma parte importante da classe empresarial, dos gestores e dos economistas do regime, de vez em quando produz uns comunicados, numa linguagem assaz confusa, vaga e contraditória, comunicados supostamente destinados a alertarem o país para aquilo que os seus iluminados espíritos consideram ser as suas indiscutíveis verdades.

Desta vez, a SEDES resolveu brindar-nos com um alerta sobre o estado do país, provocado, em seu entender por "um mal-estar difuso, que alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional", por uma "degradação da confiança dos cidadãos nos representantes partidários, praticamente generalizada a todo o espectro político", pela constatação da combinação de uma comunicação social sensacionalista e de uma justiça ineficaz, ante a progressão da criminalidade violenta e crescimento do "sentimento de insegurança ente os cidadãos", para concluir dizendo que tudo isto é ultrapassável através do "desbloqueamento da eficácia do regime" - que quererá isto dizer? - através de uma maior participação da sociedade civil, por via dos partidos, que segundo a SEDES carecem de regeneração, e o Presidente da República!

Começo logo por notar que não obstante a vacuidade do comunicado da SEDES, a comunicção social sensacionalista que a associação critica encarregou-se de o colocar nas primeiras páginas dos jornais, das rádios e das televisões. Se lermos com atenção verificamos que, em rigor, o comunicado da SEDES não diz nada. É mais um conjunto de banalidades esotéricas e inconsequentes, à semelhança de todos os seus comunicados anteriores, que não acrescenta nada de novo à resolução dos problemas nacionais. Para além do óbvio oportunismo e alarmismo que cria, na linha do artigo de um general na reserva recentemente saído no Expresso, é esta mesma SEDES que agora critica os partidos políticos e as desgraças do regime que há bem pouco tempo saudava o acordo entre o PS e o PSD na área da Justiça, o qual era "necessário para resolver os bloqueios estruturais que põem em risco o desenvolvimento da sociedade portuguesa", já que "só pela via do consenso político se podem reformar, com expectativa de durabilidade e consequente previsibilidade comportamental, áreas essenciais da nossa vida social e cuja organização actual bloqueia ou ameaça bloquear a nossa capacidade de desenvolvimento". E a SEDES manifestava esperança que esse acordo pudesse ser alargado a outras áreas como a Administração Pública, a Educação e a Segurança Social.

Mas aqui, convém recuar ainda um pouco mais, e ir até ao comunicado da SEDES de 9 de Julho de 2002, assinado por João Salgueiro, Faria de Oliveira, João Ferreira do Amaral, João Proença, João de Almeida Serra, Luís Barata e Vítor Bento, para constatarmos que, então, a SEDES defendia nada mais nada menos que um "pacto de regime" (!) atenta a circunstância de já nessa altura "haver um acirrar da conflitualidade política" conducente a um "caminho de perda colectiva", "tanto mais que a crise é mais profunda do que as suas emanações económicas podem sugerir". A SEDES propugnava então por uma "serena reflexão" e a obtenção através das principais forças políticas e sociais do país do "consenso necessário para corrigir rapidamente os desequilíbrios com que o País se confronta e para regenerar a base moral da sociedade". Dizia a SEDES que era pela via do consenso que seria possível reeditar sucessos anteriores - adesão à União Europeia e entrada na moeda única - para concluir defendendo um conjunto de medidas - inadiáveis presume-se - que ali identificou como "recuperar a ética como referência fundamental da vida económica e social", "criar condições de competitividade sustentada da economia portuguesa", "criar condições para a retenção de relevantes centros de decisão económica no País, sem se deixar cair no proteccionismo limitador do pleno desenvolvimento das capacidades nacionais", "definir uma clara estratégia europeia", "reformar a Administração Pública", "reformar o sistema de Justiça" e "reformar o sistema de educação", visando o aumento da competência, do rigor e da responsabilidade.

Ora, num momento em que estão a ser conduzidas algumas das reformas mais importantes das últimas décadas, a começar pelas da Segurança Social, da Saúde, da Justiça, da Administração Pública e da Educação, rompendo com uma série de problemas acomodados e procurando corrigir desequilíbrios estruturais da sociedade e do Estado, a SEDES parece ignorar tudo isso e resolveu, uma vez mais, derivar para a diletância e a vacuidade.

A SEDES esquece que é ela própria a imagem do imobilismo e dos atavismos do regime que critica, e em vez de apontar caminhos, soluções, perde-se em afirmações gongóricas, destituídas de qualquer sentido prático e de coerência.

A desagregação do tecido social e político do país há muito que começou, e contou para isso com o patrocínio de muitos dos membros da SEDES nas diversas instituições por onde passaram, nalguns casos mesmo tentanto impedir e contrariar reformas essenciais, como as da introdução de uma maior transparência do sistema bancário e de mecanismos de maior rigor e protecção dos consumidores.

Vir agora dizer, como faz a SEDES, que o regime está bloqueado e chamar a atenção para o descrédito em que a clase política está não resolve nada. Trata-se de pura verborreia inconsequente. O diagnóstico dos problemas do regime há muito que foi efectuado. Não foi preciso a SEDES vir fazê-lo.

O que se pedia à SEDES, o que a sociedade civil e o país esperavam dela, era que em vez de generalidades inócuas, fizesse uma crítica directa, consistente e consequente às medidas que têm vindo a ser tomadas pelo Governo de José Sócrates, ao papel que a oposição tem desempenhado, que apontasse erros nas reformas empreendidas, caminhos e metas capazes de serem discutidas, integradas numa estratégia e escrutináveis. Mas a SEDES não fez nada disso preferindo antes falar em inanidades como bolas de berlim e colheres de pau, numa crítica velada à ASAE. Tudo, penso eu, porque os membros da SEDES falam muito, mas receiam o confronto directo, temem o confronto com os sátrapas do regime, com as suas opiniões e com os seus interesses. Enfim, numa palavra, receiam comprometer-se. Daí que, o que aos membros da SEDES sobra em boa vontade, acaba por lhes faltar em talento e em coragem. É normal. Todos sabemos que é mais cómodo emitir de tempos a tempos comunicados não comprometedores, dando uma no cravo e outra na ferradura. Disso a SEDES também não têm culpa. A SEDES não tem culpa de nada porque também há muito que os seus membros foram colhendo os frutos do regime sem assumirem as suas próprias responsabilidades para com a sociedade civil no estado de coisas que denunciam. A SEDES tornou-se no espelho do regime e é ela própria a imagem da ineficiência do sistema político. O seu último comunicado é a melhor prova disso.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

REGISTEI

A falta de solidariedade, baixeza ética e mediocridade política da actual direcção do PSD - declarações de Menezes de que o partido era só um, mas que o PSD dele não tinha nada a ver com os outros, e instauração de uma auditoria anunciada por Ribau Esteves às contas das anteriores direcções do partido - face à condenação por causa do donativo da SOMAGUE.

Em contrapartida, apreciei o gesto de Paula Teixeira da Cruz, enquanto presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, para com o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, quando confrontada com a notícia do chumbo por parte do Tribunal de Contas ao empréstimo aprovado pela autarquia.

Há pequenos gestos que fazem a diferença e dizem tudo sobre a grandeza de uns e a pequenez de outros. A política não é para todos.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

BYE BYE FIDEL, A REVOLUÇÃO ESTÁ PRESTES A COMEÇAR


Our main goal: Freedom in Cuba
By BARACK OBAMA

When my father was a young man living in Kenya, the freedom and opportunity of the United States exerted such a powerful draw that he moved halfway around the world to pursue his dreams here. My father's story is not unique. The same has been true for tens of millions of people, from every continent -- including for the many Cubans who have come and made their lives here since the start of Fidel Castro's dictatorship almost 50 years ago.
It is a tragedy that, just 90 miles from our shores, there exists a society where such freedom and opportunity are kept out of reach by a government that clings to discredited ideology and authoritarian control. A democratic opening in Cuba is, and should be, the foremost objective of our policy. We need a clear strategy to achieve it -- one that takes some limited steps now to spread the message of freedom on the island, but preserves our ability to bargain on behalf of democracy with a post-Fidel government.
The primary means we have of encouraging positive change in Cuba today is to help the Cuban people become less dependent on the Castro regime in fundamental ways. U.S. policy must be built around empowering the Cuban people, who ultimately hold the destiny of Cuba in their hands. The United States has a critical interest in seeing Cuba join the roster of stable and economically vibrant democracies in the Western Hemisphere. Such a development would bring us important security and economic benefits, and it would allow for new cooperation on migration, counter-narcotics and other issues.
Advance political reform
These interests, and our support for the aspirations of the Cuban people, are ill served by the further entrenchment of the Castro regime, which is why we need to advance peaceful political and economic reform on the island. Castro's ill health and the potentially tumultuous changes looming ahead make the matter all the more urgent.
Unfortunately, the Bush administration has made grand gestures to that end while strategically blundering when it comes to actually advancing the cause of freedom and democracy in Cuba. This is particularly true of the administration's decision to restrict the ability of Cuban Americans to visit and send money to their relatives in Cuba. This is both a humanitarian and a strategic issue. That decision has not only had a profoundly negative impact on the welfare of the Cuban people. It has also made them more dependent on the Castro regime and isolated them from the transformative message carried there by Cuban Americans.
In the ''Cuban spring'' of the late 1990s and early years of this decade, dissidents and human-rights activists had more political space than at any time since the beginning of Castro's rule, and Cuban society experienced a small opening in advancing the cause of freedom for the Cuban people.
U.S. policies -- especially the fact that Cuban Americans were allowed to maintain and deepen ties with family on the island -- were a key cause of that ''Cuban spring.'' Although cut off by the Castro regime's deplorable March 2003 jailing of 75 of Cuba's most prominent and courageous dissidents, the opening underscored what is possible with a sensible strategic approach.
We in the United States should do what we can to bring about another such opening, taking certain steps now-and pledging to take additional steps as temporary openings are solidified into lasting change.
Cuban-American connections to family in Cuba are not only a basic right in humanitarian terms, but also our best tool for helping to foster the beginnings of grass-roots democracy on the island. Accordingly, I will grant Cuban Americans unrestricted rights to visit family and send remittances to the island.
But as we reach out in some ways now, it makes strategic sense to hold on to important inducements we can use in dealing with a post-Fidel government, for it is an unfortunate fact that his departure by no means guarantees the arrival of freedom on the island.
Bilateral talks
Accordingly, I will use aggressive and principled diplomacy to send an important message: If a post-Fidel government begins opening Cuba to democratic change, the United States (the president working with Congress) is prepared to take steps to normalize relations and ease the embargo that has governed relations between our countries for the last five decades. That message coming from my administration in bilateral talks would be the best means of promoting Cuban freedom. To refuse to do so would substitute posturing for serious policy -- and we have seen too much of that in other areas over the past six years.
We must not lose sight of our fundamental goal: freedom in Cuba. At the same time, we should be pragmatic in our approach and clear-sighted about the effects of our policies. We all know the power of the freedom and opportunity that America at its best has both embodied and advanced. If deployed wisely, those ideals will have as transformative effect on Cubans today as they did on my father more than 50 years ago
. "- in www.thatpoliticalblog.com

E AGORA ANTÓNIO?

Depois do chumbo do Tribunal de Contas ao empréstimo para Lisboa, eu limito-me a sugerir-te que contraias um empréstimo com os sócios do Eleven. Que diabo, os tipos não são tesos e o Júdice, sendo um bom homem, sempre poderá vir a servir-te para alguma coisa!

AGUARDAM-SE AS REACÇÕES DOS INTERESSADOS

Segundo o Diário Digital, a Somague foi condenada por financiamento ilegal do PSD. "O Tribunal Constitucional condenou a Somague a uma multa de 600 mil euros por financiamento ilegal do PSD na campanha eleitoral das autárquicas de 2001. O partido foi multado em 35 mil euros e terá de devolver os 233 mil euros de financiamento ilegal." O Acórdão está também no site do Tribunal. Aguardam-se as reacções, em particular por parte de quem andava tão empenhado a criticar os governos em tom sobranceiro e a promover compromissos com o nome de Portugal.

ZITA SEABRA


Zita Seabra, uma das figuras de proa do novo PSD, veio ontem comentar a entrevista de José Sócrates à SIC. Fê-lo nos termos a que já nos tinha habituado quando era uma indefectível de Cunhal e do PCP. Fiquei mesmo convencido de que para ela não era preciso ter visto e ouvido a entrevista do primeiro-ministro para poder comentá-la. Quem a viu naquele ar triste e compungido criticar o ar cansado de José Sócrates, e debitar a usual meia dúzia de vacuidades, não pode ter deixado de ter pena da senhora. Dir-se-ia que Zita Seabra seguiu até hoje sem conseguir despir a farda comunista e a decorar cassetes. Hoje como ontem a demagogia é a mesma. A receita que servia para criticar o imperialismo norte-americano e as políticas anti-sociais e contra os trabalhadores dos partidos de direita é exactamente igual à que agora usa para criticar a intervenção de Sócrates, falar dos números do desemprego ou agitar as bandeiras dos idosos e da política de saúde. Nem sequer o estilo mudou. Tempos houve em que admiti que a reconversão era sincera e possível. Agora tenho a certeza de que dentro daquela cabecinha ficou tudo na mesma, embora sob roupagens mais aburguesadas. Esta gente não é reconvertível. Putin é o melhor exemplo. A democracia pode assimilá-los mas não os recicla. Mudou a cor. Não mudou mais nada.

TODOS À ESPERA...

...De saber qual a posição que Portugal vai assumir na questão da independência do Kosovo. Ontem, ouvi o ministro Luís Amado dizer que Portugal vai ponderar e analisar as posições dos seus aliados e que depois tomará uma posição. Sabendo-se que o Reino Unido e os EUA avançaram já pelo reconhecimento, no que são secundados pela França e pela Alemanha, o único aliado que não irá reconhecer o novo país é, ao que se sabe, a Espanha. Será que é desta que a aliança luso-espanhola vai ter mais força do que a relação com o nosso parceiro do outro lado da Mancha? Quem sabe se não será um primeiro passo para resolver a questão de Olivença? Estamos todos ansiosos para ver no que dão as habituais meias-tintas.

ESTADOS DE ALMA DE UMA ÁGUIA BICÉFALA


De uma notícia do Público de hoje:


"Menezes garantiu no domingo, em Gaia, que "não haverá acordo" caso a nova lei autárquica retire aos presidentes de junta o direito de votar na assembleia municipal o orçamento camarário e as grandes opções do plano.


Uma total inversão da posição da actual direcção do PSD, que assumiu o acordo feito no tempo de Marques Mendes, foi negociado pela bancada com o PS e cuja formulação foi aprovada em conselho nacional.


Ontem, Santana Lopes admitia ter sido apanhado de "surpresa" pelas declarações do presidente do partido, com quem diz ainda não ter falado sobre o assunto. Salientando "não querer fazer comentários" antes dessa conversa, Santana admite que lutará para que a reforma se concretize, tal como sempre defendeu ao longo do processo."A minha obrigação é encontrar uma solução para garantir uma reforma assumida há anos e que continuo a considerar importante", frisou o líder da bancada laranja. "Se a reforma da lei autárquica for por água abaixo, perdem-se alterações importantes, nomeadamente o facto de o presidente da câmara poder escolher os seus vereadores."


Com a ameaça de romper o acordo Menezes desautoriza também o vice-presidente do partido, Ribau Esteves, que no final de Janeiro, numa carta aos presidentes de junta do PSD, justificava as razões pelas quais Menezes dera seguimento ao acordo."

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

O GATO E O RATO

A sucessiva divulgação de situações menos claras - escutas, despachos, pareceres contraditórios, fotocópias, leis à medida, etc. - envolvendo o ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes e membros do seu executivo no affaire Estoril-Sol, começa a querer transformar-se num jogo do gato e do rato. Aliás, com muitos gatos e muitos ratos que vão alternando nos papéis. Tão depressa é acusado o governo de Durão Barroso, referindo-se a existência de um eventual acordo deste com a Estoril-Sol, como logo a seguir vem o presidente da Comissão Europeia, por intermédio de uma porta-voz autorizada, ou antigos membros do seu governo, negarem a existência de qualquer entendimento com a concessionária do jogo, rejeitando qualquer hipótese de favorecimento e lançando o odioso sobre Santana Lopes. Se a divulgação dos pareceres e das cartas e as tomadas de posição públicas não trouxeram grande luz à embrulhada gerada, incluindo as declarações de ontem à noite de Pedro Santana Lopes na SIC - o homem farta-se de fazer publicidade ao Expresso! -, já o mesmo não se pode dizer das elucidativas conversas de Abel Pinheiro apanhadas pelas escutas. Neste ponto, apenas sei que a conta e consideração em que aquele dirigente do CDS tinha Telmo Correia não abona rigorosamente nada a favor deste seu companheiro de partido e ex-ministro do Turismo. Confesso que quando me recordo dos tempos de faculdade não imagino o Telmo a beneficiar alguém, muito menos uma concessionária do jogo. Um jeito, um bilhete para as corridas, ainda vá lá; agora uma coisa tão descarada ...nem pensar. E se o tivesse feito, o que está longe de ser verdade, não me parece que o fosse de forma voluntária. Sendo um tipo bem formado, esse não é seguramente o seu registo. Mas lá que a forma como tudo aquilo foi gerido denota ligeireza, amadorismo e total impreparação, parece-me indiscutível. A bem dizer, a actuação de Telmo Correia não destoou da de Paulo Portas ou de Santana Lopes. A diferença está apenas no grau de perfídia, ou de ingenuidade, da actuação de cada um. Para já, a única solução talvez seja mesmo a de aproveitar a sugestão de Mário Assis Fereira e fazer reverter, se houver interesse nisso, o edifício para o Estado no final da concessão. Sempre é mais fácil fazer reverter o edifício do que esclarecer o negócio dos submarinos. Restaria saber se Teixeira dos Santos estará disposto a dar alguns trocos aos mandarins da Estoril-Sol. Com as inundações que tem havido por estes dias em Lisboa, é provável que com tanta água à solta mais alguma coisa fique a descoberto. Só nessa altura será então possível saber quem é que usava flutuadores. Stanley Ho não costumava oferecê-los nem à própria família. O último govenador de Macau que o diga.

L'ULTIMO TIZIANO E LA SENSUALITÀ DELLA PITTURA

Em Veneza, na Gallerie della'Accademia, depois do êxito do Kunsthistorisches Museum de Viena, estará patente até ao dia 20 de Abril a magnífica exposição sobre o último período da carreira de Ticiano. São 28 obras-primas pintadas entre meados do século XVI e a morte do artista em 1576.

VÁ-SE LÁ ADIVINHAR O QUE O HOMEM QUER


Há dois meses atrás queria pactos para tudo e mais alguma coisa, até para as Obras Públicas. Agora põe em causa todos os pactos, mesmo os que o seu próprio partido subscreveu antes dele ser eleito presidente do partido e que ele disse honrar. Em que ficamos?

domingo, fevereiro 17, 2008

PAÍS DE PAPALVOS

A inauguração do novo túnel do Rossio, ontem concretizada com a presença do primeiro-ministro e de mais umas quantas "altas individualidades", como se dizia no tempo da outra senhora, mereceu honras nos jornais televisivos e permitiu-nos, uma vez mais, olhar para dentro de nós e ver o país real. É natural que a reabertura do túnel e a possibilidade dos comboios da linha de Sintra voltarem a fazer o seu percurso normal ao fim de mais de 3 anos é motivo de justificado júbilo para toda aquela gente que depende do comboio para poder ganhar o seu pão. Incompreensível é que o simples anúncio de que nesse dia as viagens seriam à borla tenha gerado uma inusitada afluência de passeantes e curiosos. O espectáculo das carruagens apinhadas, num sábado à tarde, como se fora um dia normal de trabalho, só para andar de comboio à borla é algo de verdadeiramente inacreditável. Àquela gente, velhos e novos, já não chega andarem aos apalpões e aos encontrões durante os dias de semana. Uma viagem à borla num comboio suburbano da linha de Sintra, ao sábado à tarde, com uma poupança de um ou dois euros, também justificam o aperto. E o aperto foi tão grande que até a escada rolante da estação, no sentido descendente, começou a fumegar e acabou por parar ao fim de duas horas de festa. Confesso que a dada altura pensei que as imagens eram da Roménia pós-Ceausescu, em especial quando ouvi uns maduros a dizerem para a câmara da RTP que andavam "para cima e para baixo", uma jornalista a perguntar aos entrevistados se o faziam "ao calhas" e um sujeito a dizer que queria ir para "Romarieri". Só depois me apercebi que afinal o tipo queria ir para a estação de "Roma-Areeiro" e que tudo aquilo não se passava num comboio suburbano de Bucareste em dia de greve dos mineiros. Era Lisboa. Era uma capital da União Europeia. O espectáculo, mesmo abrilhantado pelo primeiro-ministro, não deixou de ser terceiro-mundista. Disso ninguém deverá ter dúvidas. Mas é o que temos. Um país de papalvos que se esmifram para andarem aos apertões num comboio suburbano, num sábado à tarde, ante a satisfação do Governo. Que tristeza. O O'Neil e o Pacheco é que os conheciam bem.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

INSÓLITOS DO FISCO

Depois de aqui há uns anos me terem sido instaurados processos por falta de entrega de declarações do IVA relativas a um período em que não vivi em Portugal, facto que era do conhecimento das entidades tributárias uma vez que tinha a actividade suspensa e pagava impostos noutro lado, de ter sido ameaçado de não receber uma devolução que já me tinha sido processada, e, mais recentemente, dos pedidos de colaboração do Director-Geral das Contribuições e Impostos, de que Pacheco Pereira no seu Abrupto deu oportunamente notícia, fiquei hoje a saber que, na sequência da anulação de uma coima que me havia sido indevidamente aplicada, me foi instaurada uma execução fiscal para cobrança da quantia de € 0,94 (por extenso para que não haja dúvidas: noventa e quatro cêntimos!!!). É para manter uma máquina destas, oferecer imóveis às concessionárias do jogo e sustentar a banca que nós andamos a pagar impostos. O ministro Teixeira dos Santos, um excelente ministro, um homem sério, diga-se de passagem, diz que os contribuintes voltaram a ser uma prioridade (cfr.Público de hoje, caderno de Economia). Eu, palerma, ainda acredito nele. Mas o problema é que devem ser os contribuintes de outro país qualquer, pois que por mais que me esforce não consigo acreditar na máquina fiscal e nalguns amanuenses que detendo um pequeno poder estão sempre ansiosos em mostrar resultados. Só que não olhando a meios ocupam o seu tempo a tentar lixar o contribuinte zeloso, causando-lhe "n" incómodos, enquanto os relapsos se riem.

VITÓRIA 100 NA EUROPA


Sport Lisboa e Benfica - 1
FC Nuremberga- 0

Ainda pensei que a inaguração da exposição centenária no Parlamento Europeu pudesse dar alguma alma e juízo àquela malta. Mas qual quê! Não jogaram a ponta de um chavelho. Para a história ficou registada a 100ª vitória europeia do Benfica desde 1960. Ainda há horas felizes. Graças a Ariza Makukula e a um guarda-redes alemão de cujo nome já nem me lembro.

HOJE

Um dos poucos políticos profissionais portugueses de craveira e um dos mais brilhantes da sua geração, vai estar hoje em Olhão, no IPIMAR, pelas 19h, para proferir uma conferência sob o título:"A Questão Europeia: Europa: União, Federação ou Ilusão?".

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

A PRAGA CONTINUA

A LUSA noticiou que esta tarde, em Loulé, ocorreu mais um ataque de um rottweiller contra uma criança de vinte meses. Ao que reza a notícia a besta ficou incomodada com o choro da criança e investiu. O resultado foi um escalpe profundo e a abertura de ficha nos cuidados intensivos do Hospital de Faro. Enquanto continuarmos a encolher os ombros a este estado de coisas, e os ataques se forem repetindo a um ritmo impressionante, muitas mais crianças estarão em perigo. Continua a não existir prevenção e começa a ser criminosa a complacência das autoridades e a impunidade de quem, para deleite próprio, põe em risco desta forma perfeitamente gratuita a vida e a segurança de terceiros.

DEMAGOGIA E POPULISMO Q.B.

Na esteira de uma intervenção recente do novo bastonário da Ordem dos Advogados, o líder parlamentar do PSD veio, também ele e aproveitando a boleia, falar no alargamento dos impedimentos e das incompatibilidades entre deputados e advogados. De acordo com Santana Lopes, o PSD propõe uma mexida ao regime das incompatibilidades de maneira a tornar mais apertado o crivo e difícil o desempenho em paralelo da função parlamentar e de actividades profissionais liberais. Marinho Pinto já se havia pronunciado contra a acumulação dessa funções. Só que o problema não está na simples acumulação de funções, mas no estatuto e na responsabilidade com que essas funções têm sido exercidas. Bem sei que têm sido cometidos muitos excessos, que a promiscuidade é grande e o parlamento tem sido um pasto enorme onde se alimentam clientelas e se fazem favores, muitos deles, é verdade, ainda que sem qualquer contrapartida financeira, mas inseridos numa teia que se vai alargando em função de variadas cumplicidades, à boa maneira chinesa. Nos dias que correm, não se pode dizer que o exercício da função parlamentar seja bem remunerado, atendendo à natureza das funções e suas exigências, mas não tenho dúvidas de que muitos deputados acabam por ter um salário e um conjunto de contrapartidas muito superior àquilo que nas suas vidinhas e com a preparação que têm alguma vez poderiam aspirar. Mas aqui já estamos num outro campo, que é o da preparação e qualificação de quem exerce funções parlamentares, onde a responsabilidade maior é dos partidos e dos seus mecanismos de formação, recrutamento e selecção. Se para alguns o exercício da função parlamentar corresponde a um genuíno interesse e vocação, espelhado num desempenho brioso, participado e interessado, noutro casos representará apenas um sinal de poder e uma forma de ascensão social aos olhos dos seus conterrâneos e das gentes da paróquia onde se inserem. Acho muito bem que se mexa no regime das incompatibilidades se essa for a intenção da maioria. Mas que não se torne a função parlamentar apenas incompatível com a advocacia. Se for esse o caminho, então que se alargue o regime de forma a tornar exclusivo o exercício da função em paralelo com qualquer outra profissão, com excepção do ensino, das actividades de investigação e do voluntariado, mas ao mesmo tempo dever-se-á aumentar a contrapartida financeira dos deputados e elevar o grau de exigência no recrutamento e na função. A dignificação desta também passará por aí, já que um deputado que ganha menos que um qualquer chefe de divisão ou departamento de uma empresa de dimensão média, não poderá sentir-se confortável na sua pele. Todavia, nada disto terá qualquer efeito, enquanto igual regime não for também privativo das autarquias ou das regiões autónomas, aqui onde os exemplos têm sido por demais escandalosos e os casos mais ou menos obscuros se multiplicam. A eliminação daquilo a que Santana chama "focos de suspeição" passa igualmente por aqui. Querer transformar os advogados em bode expiatório de um sistema que já demonstrou não funcionar, aproveitando a boleia de Marinho Pinto, e esquecendo o que se passa em muitas autarquias por esse país fora e com muitas outras profissões - engenheiros, economistas, arquitectos, consultores, etc. - não passa de demagogia barata e de um populismo bacoco e virado para os holofotes. Todos conhecemos Santana Lopes e o seu estilo de fazer política, exímio em falar sobre tudo menos sobre o que devia falar. Como acontece quando se remete ao silêncio e se escusa pronunciar sobre casos tão graves como os das suspeitas de favores e de tráfico de influências que recaem sobre gente que esteve no seu efémero Governo. Também por isso, talvez fosse bom que alguém de quando em vez lhe lembrasse estas pequenas coisas.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

RUI PAIVA

Esteve em Moura, inagurou no passado dia 9 em Beja, onde estará até dia 22 de Março na Galeria dos Escudeiros, seguindo depois para Almodôvar, Castro Verde, Angra, Horta, Aljustrel e Mértola. É mais uma exposição de Rui Paiva, coordenada pelo Museu Jorge Vieira. Uma nota de especial atenção para o filme preparado para o evento, quer pela qualidade da imagem, do texto e da narração, quer pelo relaxamento produzido pela excelente música de fundo que o acompanha.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

ECOS DOS ACONTECIMENTOS DE LA SAPIENZA

Entrada da Universidade Católica de S. Ambrogio, Milão, 4 de Fevereiro de 2008

NO MELHOR PANO CAI A NÓDOA


Fez ontem uma excelente entrevista a esse grande senhor da canção francesa chamado Charles Aznavour. Na língua de Racine esteve bem melhor do que Mário Soares, embora tivese sido escusado borrar a pintura com aquela de perguntar ao entrevistado o que pensava das relações entre Sarkozy e Carla Bruni. A pergunta, a fugir para o chinelo, para além de infeliz, revelava desconhecimento pela personalidade de Aznavour, pela maneira de ser dos franceses e confundia a liberal França com a intrigalhada ao estilo inglês e o doentio conservadorismo dos EUA. Foi pena. Para a próxima será melhor. Ninguém é perfeito.

NUNCA É TARDE PARA REPARAR UM ERRO

António José Seguro foi sempre uma daquelas personagens do PS de quem eu desconfiei. Sempre o considerei como mais um aparatchik do partido, a quem faltara o tempo para obter uma formação académica decente na ânsia de se guindar aos lugares de topo. Como sempre achei que há um tempo para tudo, desconfiei da forma como ele apoiou Guterres e chegou ao poder. Aos poucos, contudo, foi-se demarcando da direcção e trilhando o seu caminho, afastando-se de uma certa e indecorosa unanimidade que atravessa todos os partidos do espectro político nacional. Em especial quando são poder ou se trata de "cozinhar" as listas de deputados e de parlamentares europeus. No entanto, como só há uma vez para causar uma primeira boa impressão, fiquei sempre com péssima impressão dele, que se acentuou numa célebre entrevista em que Seguro deu a entender que precisava de uma prateleira bem remunerada para descansar. Mais tarde tentou corrigir o lapso, mas já não foi a tempo. Ontem tive oportunidade de ler o artigo que ele escreveu na última edição do Expresso e não posso deixar de manifestar a minha satisfação pelo que ele lá escreveu. No actual estado da vida política nacional, com a permanente e esmagadora mediocridade que tomou conta dos partidos, com uma classe política que é na sua generalidade indigna do estatuto que detém e que a primeira coisa que faz quando atinge o poder é tentar esconder o passado ou garantir o futuro, é bom saber que ainda há quem dentro do PS queira separar o trigo do joio e combater de uma forma eficaz e transparente a corrupção, o clientelismo, o compadrio e o tráfico de influências. Este último, mais do que os anteriores, é o verdadeiro cancro do sistema. Faço-lhe hoje a justiça de reconhecer que quer a posição assumida na votação sobre o referendo ao Tratado de Lisboa quer o artigo do Expresso revelam um António José Seguro diferente daquele que sempre imaginei e que fui conhecendo nalgumas intervenções públicas. No combate que pretende travar poderá estar certo de que contará com o meu apoio. Oxalá que José Sócrates também tenha lido o artigo. E compreendido o que lá está.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

KUNG HEI FAT CHOI

No 1º dia do Novo Ano Lunar, o Bacteriófago dá as boas vindas ao Rato, 1º signo do zodíaco chinês, e deseja a todos os seus leitores um excelente ano, não esquecendo que a chegada do bicho coincidiu com o aniversário do Pombex e do Corta-Fitas. Para ambos vão direitinhos os votos de uma vida longa e cheia de sucessos sob o signo do Rato.

O REI VAI NU

Não sei porquê, mas sempre que saio do país acontece alguma coisa. Neste país onde nada acontece. De repente parece que um turbilhão tomou conta deste pequeno rectângulo. José Sócrates fez uma micro-remodelação, ignorando os reparos internos e externos. Ainda não passaram duas semanas e os resultados começam já a aparecer. Na área da Justiça, onde inexplicavelmente ficou tudo como dantes, um subordinado do ministro da Justiça, ignorando a sua condição de director de um órgão de polícia crimininal e de responsável pela condução no terreno de algumas importantíssimas investigações, resolveu, de uma forma que teve tanto de ingénua quanto de irresponsável, vir criticar o facto da sua própria polícia ter promovido a constituição de arguidos num processo cujo inquérito continua em curso e cujas repercussões internacionais colocariam em xeque todo o sistema de investigação criminal e a crediblidade da Justiça portuguesa. Alípio Ribeiro lá saberá porque o disse e da forma como o fez com o ar mais cândido deste mundo num programa de televisão. Alguém lhe deveria ter dito que aquilo não era um concurso e que ali não se davam prémios, falha que até seria colmatável. O que já é de todo incompreensível é que continue à frente da PJ depois do que disse e que o ministro da Justiça se tenha limitado a referir que o facto daquele se manter no lugar dizia tudo sobre o que ele pensava sobre o assunto. Creio que não é verdade. Se bem conheço o ministro da Justiça, este não terá ficado satisfeito com o que ouviu, mas se entendeu não fazer nada ou, pelo menos, deixar transparecer que nada fez, por pensar que estava a proteger a PJ e as instituições do nosso sistema de justiça, fez mal. A solidariedade funcional e pessoal fica-lhe bem. É isso que se espera de gente de bem. Só que o interesse das instituições e a defesa do bom nome do país têm de ter prioridade. As declarações do senhor Director da PJ foram um perfeito disparate susceptível de colocar toda a estratégia - vamos admitir que havia uma - de investigação e condução de inquérito do "Caso Maddie", ao nível do que se passa no Ruanda ou na Birmânia. Depois do afastamento de Gonçalo Cabral não valia a pena dizer mais nada. Era chegar ao fim do inquérito e então esclarecer o que houvesse a esclarecer. Infelizmente a coisa não ficou por aqui. E logo a seguir, numa posição tão inaceitável quanto o conteúdo das declarações ou a posição de Alberto Costa, vieram as declarações de um ex-Bastonário da Ordem dos Advogados. Mas quanto a este quer-me parecer que palavras como decoro e sensatez há muito que fugiram do seu vocabulário. As palavras são volúveis, todos o sabemos. Aconteceu com ele como aconteceu com outros colegas seus e com representantes de algumas ordens ou associações profissionais e sindicais. O rei vai nu. É, pois, natural que todos falem. Aos poucos começa a tornar-se incontornável a transmutação da velha imagem da Justiça, que de uma bela mulher de olhos vendados com uma espada numa mão e a balança na outra, se tenha tornado num sujeito baixote, obeso, suado, vestido com uma tanga minúscula, levando um computador portátil numa mão e um megafone na outra. As boas novas têm de continuar a ser anunciadas.

NÃO HÁ DUAS SEM TRÊS

(foto AFP)
Uma vez mais Portugal perdeu com a Itália. No futebol, tal como na política, não há milagres. Ou se é capaz e se é capaz sempre, ou então o melhor é arrumar as botas. Scolari provou, de novo, não ter estatura para dirigir a selecção nacional contra as equipas do seu campeonato. Incapaz de apresentar um futebol decente há larguíssimos meses, a equipa das quinas especializou-se em conferências de imprensa, contratos publicitários e marketing. Tudo menos jogar futebol que era aquilo que era suposto saber fazer. Quando o treinador não presta, por muito bons que sejam os executantes, é natural que se falhe nos momentos decisivos. Os erros são sempre os mesmos, começam na baliza - Ricardo voltou a demonstrar ser um desastre - passam por uma defesa insegura - Bruno Alves?, Bonsingwa? -, um meio campo fraco, sem rotina e impotente - Deco?, Maniche? - e por um ataque individualista e inconsistente. Enquanto Scolari cultivar a aleivosia contra todos os que criticam a selecção, fazendo disso um método de trabalho e factor de união do balneário, é natural que os resultados contra as grandes equipas continuem a ser medíocres. A exibição de ontem voltou a augurar muito pouco de bom para o Euro que aí vem. Mas com a sorte que têm tido noutros campeonatos, pode ser que também desta vez se safem só com o terço e as bandeirinhas. Não há duas sem três. A Itália que o diga.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

UM LIVRO FUNDAMENTAL

"Che futuro ha un Paese dove la fame di poltrone ha spinto a inventare le comunità montane al livello del mare? Dove il Quirinale spende il quadruplo di Buckingham Palace? Dove una 'lasagnetta al ragù bianco e scarmoza' dello chef del Senato costa la metà di una pastasciutta alla mensa degli spazzini? Dove ci sono partiti nati dalla mutazione genetica di una bottega di cuoio e ombrelli? Dove conviene fiscalmente regalare soldi a una forza politica piuttosto che ai bambini lebbrosi? Che futuro ha un Paese così?"
Sergio Rizzo, responsável pela redacção económica do Corriere della Sera e autor de uma história sobre a editora Mondadori, e Gian Antonio Stella, editorialista do mesmo jornal e autor de diversos livros, resolveram juntar-se e escrever "La Casta", a investigação, como eles dizem, que põe a nú a classe dirigente italiana. A primeira edição saiu em Maio de 2007. Eu tive a sorte de apanhar a edição de Janeiro de 2008, que é só a 26ª! Em 18 artigos e uma dezena de quadros estatísticos, retomando a lição de Tocqueville e de alguns mais recentes, os autores explicam a deriva da classe política, por que razão vivemos num "sistema partidocrático que sofre de elefantíase", por que motivo a regionalização pode vir a ser um desastre de proporções inimagináveis em Portugal e a razão para que os alertas de Maria José Morgado e Marinho Pinto sobre corrupção e promiscuidades entre o poder político e económico façam todo o sentido. Espero que haja alguma editora portuguesa disposta a traduzir e publicar este livro. Isso seria verdadeiro serviço público e com retorno garantido. Se nenhuma aparecer pode ser que eu consiga convencer o meu amigo Marco Lisi, antigo colega de mestrado, doutorado em Florença e actual investigador do ICS, a traduzi-lo. Ou que Pacheco Pereira o queira fazer. Eu posso ajudar na publicação e garantir que já há vários exemplares que estão reservados: para José Sócrates, para Santana Lopes, para Alberto João Jardim, para o Procurador-Geral da República e, em especial, para Mendes Bota e José Miguel Júdice. É que há coisas que não se devem pensar, quanto mais dizer com a desfaçatez com que eles o fazem. Os exemplos estão à vista de todos e os números falam por si.

TAVERNA DEL MARINAIO, PORTOFINO

Aqui, num local paradisíaco, o mesmo por onde andaram Petrarca e Guy de Maupassant, fica a Taverna del Marinaio. Uma proposta gastronómica única, num restaurante competente e decente, com gente civilizada e preços normais (porque será que em Portugal restaurantes medíocres e com gente afectada cobram muito mais?). Recomendo os fresquíssimos mexilhões marinados (€ 10,00) e o spaghetti di mare (€ 32,00 para dois), o verdadeiro. Quanto ao vinho fica ao vosso critério. Também não vos posso dizer tudo.