sexta-feira, fevereiro 08, 2008

NUNCA É TARDE PARA REPARAR UM ERRO

António José Seguro foi sempre uma daquelas personagens do PS de quem eu desconfiei. Sempre o considerei como mais um aparatchik do partido, a quem faltara o tempo para obter uma formação académica decente na ânsia de se guindar aos lugares de topo. Como sempre achei que há um tempo para tudo, desconfiei da forma como ele apoiou Guterres e chegou ao poder. Aos poucos, contudo, foi-se demarcando da direcção e trilhando o seu caminho, afastando-se de uma certa e indecorosa unanimidade que atravessa todos os partidos do espectro político nacional. Em especial quando são poder ou se trata de "cozinhar" as listas de deputados e de parlamentares europeus. No entanto, como só há uma vez para causar uma primeira boa impressão, fiquei sempre com péssima impressão dele, que se acentuou numa célebre entrevista em que Seguro deu a entender que precisava de uma prateleira bem remunerada para descansar. Mais tarde tentou corrigir o lapso, mas já não foi a tempo. Ontem tive oportunidade de ler o artigo que ele escreveu na última edição do Expresso e não posso deixar de manifestar a minha satisfação pelo que ele lá escreveu. No actual estado da vida política nacional, com a permanente e esmagadora mediocridade que tomou conta dos partidos, com uma classe política que é na sua generalidade indigna do estatuto que detém e que a primeira coisa que faz quando atinge o poder é tentar esconder o passado ou garantir o futuro, é bom saber que ainda há quem dentro do PS queira separar o trigo do joio e combater de uma forma eficaz e transparente a corrupção, o clientelismo, o compadrio e o tráfico de influências. Este último, mais do que os anteriores, é o verdadeiro cancro do sistema. Faço-lhe hoje a justiça de reconhecer que quer a posição assumida na votação sobre o referendo ao Tratado de Lisboa quer o artigo do Expresso revelam um António José Seguro diferente daquele que sempre imaginei e que fui conhecendo nalgumas intervenções públicas. No combate que pretende travar poderá estar certo de que contará com o meu apoio. Oxalá que José Sócrates também tenha lido o artigo. E compreendido o que lá está.

Sem comentários:

Enviar um comentário