domingo, fevereiro 17, 2008

PAÍS DE PAPALVOS

A inauguração do novo túnel do Rossio, ontem concretizada com a presença do primeiro-ministro e de mais umas quantas "altas individualidades", como se dizia no tempo da outra senhora, mereceu honras nos jornais televisivos e permitiu-nos, uma vez mais, olhar para dentro de nós e ver o país real. É natural que a reabertura do túnel e a possibilidade dos comboios da linha de Sintra voltarem a fazer o seu percurso normal ao fim de mais de 3 anos é motivo de justificado júbilo para toda aquela gente que depende do comboio para poder ganhar o seu pão. Incompreensível é que o simples anúncio de que nesse dia as viagens seriam à borla tenha gerado uma inusitada afluência de passeantes e curiosos. O espectáculo das carruagens apinhadas, num sábado à tarde, como se fora um dia normal de trabalho, só para andar de comboio à borla é algo de verdadeiramente inacreditável. Àquela gente, velhos e novos, já não chega andarem aos apalpões e aos encontrões durante os dias de semana. Uma viagem à borla num comboio suburbano da linha de Sintra, ao sábado à tarde, com uma poupança de um ou dois euros, também justificam o aperto. E o aperto foi tão grande que até a escada rolante da estação, no sentido descendente, começou a fumegar e acabou por parar ao fim de duas horas de festa. Confesso que a dada altura pensei que as imagens eram da Roménia pós-Ceausescu, em especial quando ouvi uns maduros a dizerem para a câmara da RTP que andavam "para cima e para baixo", uma jornalista a perguntar aos entrevistados se o faziam "ao calhas" e um sujeito a dizer que queria ir para "Romarieri". Só depois me apercebi que afinal o tipo queria ir para a estação de "Roma-Areeiro" e que tudo aquilo não se passava num comboio suburbano de Bucareste em dia de greve dos mineiros. Era Lisboa. Era uma capital da União Europeia. O espectáculo, mesmo abrilhantado pelo primeiro-ministro, não deixou de ser terceiro-mundista. Disso ninguém deverá ter dúvidas. Mas é o que temos. Um país de papalvos que se esmifram para andarem aos apertões num comboio suburbano, num sábado à tarde, ante a satisfação do Governo. Que tristeza. O O'Neil e o Pacheco é que os conheciam bem.

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