Do conclave laranja vieram os sinais para José Sócrates. Antes de mais, convém que o primeiro-ministro se consciencialize de que Manuela Ferreira Leite é uma senhora, o que não querendo aparentemente dizer nada quer dizer tudo num país que ainda hoje suspira por Maria de Lurdes Pintasilgo. Não pelo que ela representava e representou. Mais pelo facto de ser mulher, tal como a Senhora de Fátima, e deste ser um país sempre pronto para a oração, para a lágrima e para ouvir a palavra serena de uma mãe. Bem sei que Sócrates já tem uns quantos cabelos grisalhos, mas qualquer erro, por pequeno que seja, legitimará a recriminação maternal, com a qual o país real será sempre condescendente. Também importa que ele não se esqueça de que Marques Guedes não tem o estilo nem a verve de Ribau Esteves e que Paulo Rangel, além de ser um homem culto e preparado, não é dado ao espectáculo populista, a la Roberto Leal, que Santana Lopes gostava de protagonizar de quinze em quinze dias para os lados de São Bento. Aos gritos da peixeirada vão suceder-se agora as declarações discretas, acutilantes, inteligentes. E a inteligência só pode ser combatida ainda com mais inteligência, não com o discurso trapalhão, com o exibicionismo bacoco ou com a laracha fácil. A entrada em cena da nova direcção do PSD vai obrigar o PS a redireccionar o discurso, a deixar de piscar o olho ao Bloco de Esquerda. Esta é uma boa altura para começar a esvaziar o Bloco e o PCP, retirando-lhes tempo de antena - por via da discussão política e não através do ministro Santos Silva ou da ERC. Sócrates vai ter de perder alguns trejeitos autoritários, recuperar uma certa fleuma dos primeiros tempos quando for confrontado com as atoardas de Portas e de Louçã. Talvez não fosse mal visto que o ministro Pedro Silva Pereira começasse a pensar num rejuvenescimento da imagem do partido e que houvesse um realinhamento dos porta-vozes sectoriais do partido, eventualmente com a escolha de novos rostos. A crise do subprime, os problemas energéticos ou ambientais podem ter servido de desculpa para muita coisa. O TGV, o novo aeroporto ou a crise do Tratado de Lisboa ainda podem desviar algumas atenções. Nada disso justificará uma perda da maioria absoluta. É bom que ele não se esqueça disso.
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