A greve dos transportadores que há três dias tomou conta do país e que se segue à paralisação dos pescadores, começa a assumir foros de insânia incompatíveis com a legalidade e a manutenção da ordem no Estado de direito. É a segunda vez num curtíssimo período que este é posto em causa. Que haja transportadores apostados em fazer greve e que impeçam os seus motoristas de trabalhar, violando de forma grave a proibição constitucional do lock-out (artigo 57º n.º 4 da Constituição), não é nada de estranho num país em que a ignorância campeia e quase ninguém tem a noção do que pode e não pode fazer. Mais grave é que a coberto da paralisação se pratiquem actos de violência gratuita sobre pessoas e de destruição danosa de bens alheios. É, além disso, inaceitável que três dias depois do inicío da greve, numa altura em que os postos de abastecimento de combustíveis já entraram em ruptura e os bens de primeira necessidade começam a escassear nos supermercados e mercados, a actuação das autoridades se limite à escolta de um ou outro comboio de camiões. Aquilo que tem estado a acontecer com a actuação dos famigerados piquetes de greve não pode prosseguir. Do apedrejamento de veículos à destruição de pneumáticos, da intimidação à violência directa sobre quem quer trabalhar, tudo tem acontecido. Se Mário Lino e o ministro da Administração Interna não têm coragem nem capacidade para fazerem impor a lei em todo o território nacional, importa que José Sócrates actue. Num país em que há gente com dificuldades para comprar bens de primeira necessidade não pode ser tolerado que haja vacarias a deitarem leite fora por não terem possibilidade de escoá-lo devido à greve dos transportadores. O Governo tem de actuar e tem de fazê-lo de forma firme, rápida e incisiva, ainda que isso tenha custos políticos e eleitorais. É inconcebível que o ministro dos Transportes se prepare para aguardar até 6ª feira para tomar uma decisão. O estado de bagunça geral em que estamos a entrar não pode continuar, sendo imperioso que a autoridade do Estado se faça sentir, nem que para isso seja necessário avançar para uma requisição civil ou pôr a tropa que está nos quartéis a fazer os transportes. Não estamos no Chile de Allende nem o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas se chama Augusto Pinochet.
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