quinta-feira, junho 19, 2008

TRISTE FIGURA

(foto ÙNICA)

Quando um homem atinge determinado estatuto devia estar ao abrigo de algumas figuras. Mário Soares é um desses casos. Por tudo aquilo que foi, por tudo aquilo que ainda é, devia ser poupado a fazer alguns papéis que lhe assentam mal. Primeiro foi aquela coisa de se candidatar ao Parlamento Europeu. Não que ele não fosse, e não seja, um europeísta, mas porque o fez para ser presidente do PE, numa altura em que já não podia falhar, e falhou o objectivo. Depois, foi o regresso à política interna e a candidatura à Presidência da República que, qual Benfica, o atirou para a UEFA da política nacional. Da sua coragem nós nunca duvidámos. Mais recentemente Soares deu umas entrevistas, medianamente interessantes se descontarmos o estilo e a pose, a Clara Ferreira Alves. Podia ter ficado por aí. Mas não. Ainda não era suficiente. Ontem ouvi-o a entrevistar, se é que aquilo se pode chamar uma entrevista, Hugo Chávez. Enquanto este tuteava, Mário Soares lá fazia que colocava umas perguntas. Durante larguíssimos minutos entrevistador e entrevistado desfiaram um rosário de banalidades e propaganda. Dir-se-ia que estavam a gostar de se ouvir. Alguém devia dizer a Mário Soares para se poupar a estas figuras, já que fretes sei eu que ele não faz a ninguém (eu também não). Não é por nada, mas quem fez o que ele fez pela democracia em Portugal e tem o estatuto dele devia ser mais comedido, mais criterioso nas suas aparições e nalgumas iniciativas que toma. Para que a memória das futuras gerações não fique turvada pela sua ânsia de protagonismo e indisfarçável egocentrismo. Ou por uma já inultrapassável vetustez. Não há nada de mal nisso. É a lei da vida. Oxalá que os meus amigos me poupem a tais figuras, se eu um dia, chegando à idade de Mário Soares, não tiver consciência delas.

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