segunda-feira, março 31, 2008
UM VERDADEIRO ENJOO
Enjoo é o mínimo que se pode dizer para qualificar a cobertura jornalistíca aos acontecimentos da Carolina Michaelis. Já não bastavam as imagens humilhantes - para todos - a passarem durante dias a fio nas televisões e repetidas ad nauseam, para agora virem os debates radiofónicos e televisivos em que se discute a excelência da mediocridade do nosso ensino. Que o sistema está todo gatado há uma data de anos e que a 5 de Outubro está entregue a especialistas em "eduquês" que nem para eles sabem não é novidade para ninguém. Basta tentar perceber qual a razão para termos deixado de ter ciclos preparatórios e liceus para passarmos a ter escolas "EB" e escolas "C+S" e outras coisas do género para avaliar o grau de insânia da "coisa" de há uns anos para cá. Mas verdadeiramente trágico é que tenhamos que continuar a conviver com estas aberrações e, em breve, também com as virtudes do famigerado "acordo ortográfico". Houvesse já uma avaliação de professores decente e provavelmente não haveria "acordo ortográfico", a menina mal-educada não teria feito a triste cena que fez e aquela professora nunca daria aulas. Como não temos nada disso, vamos (eu não!) ser obrigados a escrever como manda o acordo, continuaremos a discutir a avaliação, a ouvir psicólogos e pedopsiquiatras com pinta de "bananas" e voz de falsete a falar dos traumas dos meninos mal-educados, e de todas as outras imbecilidades que algumas luminárias descobrem no meio dos papéis enquanto os telemóveis tocam e uns papás medrosos vão oferecendo aos pimpolhos férias em Lloret. E depois admiram-se disto estar como está.
PURO SANGUE
O único que depois de Eusébio demonstrou ter categoria para usar a camisola nº 10 do SLB, voltou ontem a provar que só por milagre divino terá substituto à altura durante a próxima década. Nunca será demais agradecer-lhe o que ele fez pelo Benfica depois da saída antecipada de Milão. Luís Filipe Vieira e a equipa não souberam merecer a graça de ter um tipo destes nas suas fileiras. Obrigado, Rui.
sexta-feira, março 28, 2008
IRONIAS DO DESTINO
Muito embora nunca tivesse tido simpatia pela figura da ex-ministra da Saúde Leonor Beleza, de cujas políticas discordei, confesso que sempre tive apreço e consideração pela jurista brilhante e pela mulher política e corajosa. Depois do processo dos hemofílicos, do qual não saiu imune, mais recentemente, o seu trabalho na Fundação Champalimaud projectou-a para um outro voo, do qual todos, e não apenas os portugueses, têm a ganhar. Ao colocar as suas múltiplas capacidades ao serviço das causas mais nobres, Leonor Beleza ganhou um novo fôlego e uma nova dimensão que muito a valorizam. Foi, pois, com bastante interesse que ouvi ontem as suas declarações sobre o fecho de alguns serviços de urgência. Leonor Beleza disse em meia dúzia de palavras e de uma forma escorreita aquilo que Correia de Campos andou a gritar aos quatro ventos sem que ninguém lhe prestasse atenção. Não deixa, asssim, de se revestir da maior das ironias ver que depois de tanta berraria e manifestação insensata por parte de populações manipuladas por uma oposição canhestra, que tenha sido Leonor Beleza a colocar o dedo na ferida e a dizer o óbvio: que serviços de urgência ao lado da porta sem quaisquer meios de diagnóstico e de tratamento não servem para nada e que o encerramento de serviços é muitas vezes um bem para os próprios utentes. Luís Filipe Menezes deve ter ficado a espumar com esta ajuda à política de Saúde do Governo de José Sócrates.
quinta-feira, março 27, 2008
JÁ SE RENDERAM?
Citando a Agência Nova China, o Público dá hoje uma notícia na secção Mundo, do 1º Caderno, sobre os últimos desenvolvimentos dos acontecimentos no Tibete, revelando que "mais de 600 pessoas já se renderam após os confrontos entre a polícia e o Exército chineses e os manifestantes tibetanos" Já se renderam?, pergunto eu. À medida que caminhamos para os Jogos Olímpicos verifica-se que para a Nova China e os gerontes do PCC que controlam a informação, o Tibete já deixou de ser um problema de ordem pública para se tornar mesmo num caso de guerra. Talvez seja então a hora das Nações Unidas tomarem posição e da comunidade internacional intervir, à semelhança do que fez no Iraque ou no Afeganistão. Para se colocar um ponto final na ocupação chinesa e se restabelecer a paz no tecto do Mundo. E de caminho também a liberdade.
LUCIDEZ
Muitas vezes estou em desacordo com os editoriais de José Manuel Fernandes e dele não tenho a ideia, como há dias transmitiu José Pacheco Pereira, de que seja mais um dos que levará eternamente a canga de ter apoiado a intervenção americana no Iraque pelo simples facto de ter apoiado. Mas o editorial de ontem do seu jornal merecia ser lido, relido e discutido, em especial depois do anúncio da descida do IVA para 20%. Uma medida acertada como foi esta não pode esconder as declarações de José Sócrates de 14 de Março passado. O infeliz Menezes, embora sem qualquer autoridade depois dos números que nos tem proporcionado, sozinho ou com ajuda de uma qualquer agência de comunicação, logo as recuperou para criticar o primeiro-ministro. E bem. O mal está mesmo naquilo que o director do Público escreveu: "Os partidos de governo em Portugal são demasiado iguais, o que é péssimo. É por isso que é tão difícil ser oposição. Convém pois perceber por que é que em Portugal todos pensam mais ou menos o mesmo sobre quase tudo". Eu só acrescentaria a este exercício de lucidez uma coisa: basta uma pequena viagem pela blogosfera e ler o que se escreve na maioria dos blogues. É um problema geral, mais do que de regime ou de mentalidade, um problema de cultura. E a prova disso é que não raras vezes ao unanimismo, ao elogio balofo, ao cinzentismo medíocre e inconsequente, contrapõe-se a picardia despeitada e o insulto.
A SORTE PROTEGE OS AUDAZES, MAS TAMBÉM OS INCOMPETENTES
Pela terceira vez consecutiva, Luís Filipe Scolari pôs Portugal a perder frente à Grécia. Desta vez foi em Dusseldorf, para tristeza dos emigrantes portugueses. O homem é teimoso e incapaz de pôr a selecção nacional a jogar decentemente. E a culpa nunca é dele. Desta vez a culpa foi do bom do Karagounis. Livre directo, livre indirecto, tanto faz. Ricardo já se habituou a vê-las passar. É o tradicional golpe de vista cultivado na frangaria de Alvalade. O que se viu foi um jogo afunilado, uma tremenda incapacidade das alas para desenvolverem jogadas consequentes, uns mergulhos arrojados dos meninos assim que sentem um mosquito a zumbir-lhes ao ouvido, jogadores na habitual má forma física e as faltas da praxe pelo inteligente do Pepe. Vício antigo adquirido pelos jogadores que passaram pelo Porto e que Scolari também não conseguiu mudar ao longo de anos. Temo é que não tendo sido o resultado suficientemente volumoso para os gregos, Scolari continue a arrebitar o pouco cabelo que tem e a esticar o dedo irado. Quem não sabe sair pelo seu próprio pé na altura própria arrisca-se, depois, a ser expulso pela turba inflamada. Ainda assim admito que no Euro 2008 as coisas se passem em termos idênticos ao Euro 2004 e ao Mundial da Alemanha e que Cristiano Ronaldo e Nani safem a imagem de Scolari. Mas eu não me fiava. Nem neles nem na Virgem. O seleccionador nacional tem sido um homem de sorte, apesar das péssimas exibições e dos maus resultados de Portugal com equipas da sua igualha. Recorde-se é que a sorte não dura sempre. E a incompetência não pode ser eternamente premiada. A renovação não consegue disfarçar a teimosia nem os erros de palmatória. E como as orações também se esgotam, não auguro um futuro brilhante à equipa das quinas.
ACÇÃO EM GRANADA
Vem aí a PROMOCUP e este ano há motivos adicionais para acompanhar o campeonato. É que em acção vão estar os "maduros" do Paulo J. Vicente (Suzuki) e do Fernando Fevereiro Mendes (Aprilia) para mostrarem que velhos só mesmo os trapos. Fica aí um cheirinho do que aí vem com essa bela fotografia tirada durante os treinos de Granada, no domingo de Páscoa. A primeira prova é já nos próximos dias 5 e 6 de Abril, no Autódromo do Estoril. Para a Prológica não há dúvida de que se tratou de uma boa aposta. Conviria era aumentar os patrocínios aos rapazes se quiserem vê-los sempre na frente.
O COMBOIO DO CARREGADO
Ontem, uma vez mais, e numa das muitas deslocações que tenho que fazer, tive que ir a Lisboa. Fi-lo, à semelhança de algumas outras anteriormente, utilizando os comboios da CP. Por essa razão este post vem atrasado. Mas como não quero deixar passar esta oportunidade, deixem-me que vos manifeste o meu desencanto pelo serviço prestado. Começa logo na bilheteira, quando o funcionário se mostra incapaz de marcar um lugar em que o passageiro não tenha de ir de costas para o trajecto, depois de lhe ter sido expresamente solicitado que isso não acontecesse, e de informar que o horário do Alfa foi alterado, esclarecendo que o comboio já não sai de Lisboa às 17.20 mas sim às 18.40. Depois, é a falta de higiene das casas de banho, o cheiro nauseabundo que delas emana e a ausência de toalhetes, logo às 7 horas da manhã. E eu só conheço a 1º classe. Seguem-se as 3 horas que o comboio leva até Entrecampos, fazendo largas partes do percurso a 20 e a 30km/ hora. No fim, é a necessidade de pagar mais 4 Euros para regressar mais cedo num comboio mais barato, que dizem chamar-se Intercidades mas que pára em todas a paróquias e apeadeiros, levando qualquer coisa como 4 horas e 5 minutos para fazer o mesmo percurso. Num dia de trabalho, para fazer os 265km que hoje separam Faro de Lisboa, gastei 51 Euros e passei 7h e 6 minutos em comboios! Por mais milhões que se invistam, o serviço da CP continua a ser mau e caro, embora os administradores continuem a ganhar o mesmo. O ministro Mário Lino devia ser obrigado a fazer a viagem Faro/Lisboa/Faro no mesmo dia. Só assim ele poderá perceber o que está mal e por que razão o comboio continua a não ser alternativa ao automóvel.
quinta-feira, março 20, 2008
UM DISCO FABULOSO, UMA MULHER FANTÁSTICA
Para quem não pode ir a Sevilha nesta quadra da Páscoa, mergulhar nas cores, nos cheiros e nos sabores da Andaluzia mais fatal, mais profunda, recomendo vivamente a audição deste disco da fabulosa Estrella Morentes. Para aqueles que não a conhecem ficam aqui três registos(Volver, Quienes se amaron como nosotros, Zambra) do que uma mulher genuína, belíssima e com uma voz fabulosa pode fazer.
É ISSO MESMO, UM NOVO SENTIDO NO OLHAR
(foto de Rui Electrão em www.fotodependente.com)
"Depois de meses e meses de chuva cerrada, a Primavera, com uma persistência vegetal, secreta, conseguira vencer o manto húmido que pesava sobre a cidade. Nas últimas semanas, o ar estava ligeiro, aliviado, e era a Primavera, finalmente a Primavera, tal como ela costumava chegar a Lisboa depois de muitas hesitações e de muito trabalho para vencer as nuvens da costa. As pessoas mal dão por isso. Um belo dia sentem a necessidade de olhar o céu, vêem azul, um azul fino, alegre, e dizem: "Já sei." Depois descobrem as pombas do Rossio e as colinas pousadas diante do rio, cobertas de uma luz macia, feminina; descobrem uma nova expressão no andar das mulheres e um novo perfume – nelas e na cidade. E todos regressam mais tarde aos autocarros e a casa. É isso a Primavera: um novo sentido no olhar, uma nova velocidade" - José Cardoso Pires, in Lavagante.
DE LUVA BRANCA
Quando o Dalai Lama esteve em Lisboa, há alguns meses atrás, José Sócrates não quis recebê-lo oficialmente. Logo depois ele viajou para a Alemanha e foi recebido pela chanceler alemã (ou chancelerina para os que traduzem à letra do alemão bundeskanzlerin) Angela Merkel. Disso mesmo dei conta nesta tribuna. Agora é Gordon Brown quem anuncia que irá recebê-lo em Maio quando aquele visitar o Reino Unido. Como se já não fossem demasiados os episódios recentes em que a diplomacia portuguesa ficou mal na fotografia - cimeira das Lajes, voos da CIA, Kosovo -, agora é o primeiro-ministro britânico a dar mais uma achega. E é trabalhista.
GOSTEI
De ver e ouvir o tributo que foi prestado na Quadratura do Círculo a Rodrigues Maximiano por Jorge Coelho, Lobo Xavier e Pacheco Pereira. É reconfortante saber que neste país ainda há quem reconheça os valores da integridade e da cidadania. Comme il faut.
EXCELENTE PRESTAÇÃO
A de José António Pinto Ribeiro, ontem à noite, no programa de Mário Crespo na SIC Notícias. Confesso que para mim é um bálsamo, nos tempos que correm, poder ouvir um ministro da Cultura como este que temos, mas o entrevistador escusava de ficar tão embevecido. Crespo parece que se encolhe com alguns dos seus entrevistados, ficando como que num estado semi-mórbido enquanto os convidados dissertam. Compreendo que não seja a mesma coisa entrevistar o tipo dos Verde Eufémia ou José António Pinto Ribeiro, mas era escusado dar um ar tão servil à coisa. Só lhe fica mal.
UMA TRISTE EVIDÊNCIA
Depois da última visita ao Parlamento de José Sócrates e de acompanhar mais um debate no novo modelo, começa a querer-me parecer que este se esgotou bem mais cedo do que se pensava. Perguntar-me-ão se o problema reside efectivamente no modelo ou não. Eu creio que não. O problema é o baixíssimo nível do debate. Só que com estes deputados e com o primeiro-ministro que temos seria difícil fazer melhor e motivar a opinão pública. Confirma-se, pois, a tese de que neste país tudo é reformável, menos a classe política. E não há ninguém que nos acuda.
UM LONGO CAMINHO
Cinco anos volvidos sobre o início da jornada iraquiana que conduziu ao derrube de Saddam Hussein, George W. Bush veio reafirmar a necessidade da guerra e manifestar a sua certeza na vitória final. Falar de vitória numa altura destas, depois de uma campanha que não encontrou as armas de que se falava, depois de Blair, Aznar e Barroso já terem confessado que foram enganados, por terem acéfala e acriticamente embarcado em relatórios inconsistentes, elaborados para justificarem uma política e uma guerra, com um país em cacos, torna-se num chiste, no witz de que falou Freud. Mais de cem mil mortos depois e de milhões de dólares gastos, com milhões de doentes, de órfãos, de viúvas, de estropiados e sem um fim que permita devolver a paz à região e a um povo martirizado, importa questionarmo-nos se esses números valeram a guerra. Não tenho dúvidas de que a queda de Saddam foi um bem para a humanidade, mas quando se trata de pesar vidas humanas e de contar mortos não há contabilidade que resista. Uma coisa, porém, estou certo: qualquer que seja o próximo presidente dos Estados Unidos da América, e eu espero que seja Obama, ele estará melhor preparado do que Bush para lidar com o problema e para encontrar uma saída que não pondo em causa os interesses do povo iraquiano e da comunidade internacional, seja capaz de abreviar a barbárie. Não há guerras justas.
segunda-feira, março 17, 2008
VAI DEIXAR SAUDADES
No sábado passado fiquei a saber da partida do Rodrigues Maximiano, o "Max", como a ele se referiam os amigos. Sabia-o muito doente, mas a morte é sempre uma daquelas coisas que se espera adiar eternamente. Tive a sorte de conhecê-lo e de esporadicamente o encontrar nalgumas reuniões em casa de amigos comuns. Marcou-me pela sua desarmante simplicidade, humor, lhaneza no trato e vastidão de conhecimentos. Habituei-me a admirar-lhe a coragem e a força do seu carácter. Seria bom que muitos dos nossos magistrados mais novos pudessem seguir-lhe o exemplo, em especial no Ministério Público, onde ele antecipou o sinal dos tempos com o "Caso Melancia". Vi-o pela última vez há quatro meses atrás em casa da T. e do Zé. Embora já jubilado há algum tempo vai deixar saudades. Dentro e fora dos tribunais. Oxalá que este ano bissexto se apresse a chegar ao fim.
UMA ENTREVISTA SÓRDIDA
De Pacheco Pereira sei o que quase todos os portugueses sabem, pela sua vida pública, pelo que escreve, pelo que diz, sempre de uma forma frontal, intelectualmente séria e tanto quanto possível rigorosa. Não o conheço de lado nenhum e nunca estive com ele pessoalmente. Mas isso não me impede de ter o maior apreço e respeito pela sua dimensão ética, intelectual e política, tendo-me habituado a reconhecê-lo, apesar das diferenças políticas, como um dos melhores entre os poucos bons que ainda restam. Logo, não estranhei o ataque que lhe foi dirigido por Abel Pinheiro, uma dessas figuras bizarras de uma galeria de sombras que medrou no Portugal democrático amparado pelas amizades cimentadas na política e nos negócios, e pelas suas ligações maçónicas, nesse limbo onde se movimentam políticos menos escrupulosos, homens de negócios, oportunistas, carreiristas subservientes, simples corruptos e traficantes de influências. Aquilo que para o comum dos cidadãos é um acto de duvidosa legalidade, um ilícito indiscutível, para Abel Pinheiro é um assunto normal e habitual, uma cunha, um jeito, uma ajuda. E, como se vê pela entrevista que deu ao Expresso, quando não consegue o que quer ou está em apuros vinga-se. Tratar-se-á afinal de mais uma faceta do seu carácter. É óbvio que depois de tudo aquilo que se sabe deles - de Pacheco e de Pinheiro - e do que aconteceu com o processo Portucale e com o Casino Lisboa, em especial depois do número de aniversário do jornal Público, superiormente dirigido por Pacheco Pereira e onde foram colocados em relevo todos os passos que conduziram à negociata do edifício, mais tarde ou mais cedo havia de sobrar para Pacheco Pereira. A impunidade com que muitos actuaram em Portugal ao longo dos anos levou a que alguns passassem a considerar como normais comportamentos detestáveis e censuráveis. Abel Pinheiro, pela entrevista que o Expresso revela, pensou que gozava de um estatuto de superioridade solidamente escorado nas ligações que arrogantemente exibe. Só que à medida que a poeira vai assentando e se vão conhecendo algumas reacções a essa entrevista, começo a pensar que ela foi um serviço que o Expresso, ainda que involuntariamente, acabou por prestar a Pacheco Pereira, "enterrando" ainda mais o entrevistado. Este, cego pela sanha que o levou a conceder a entrevista, procurando nela justificar o injustificável - porque entra pelos olhos dentro -, num momento em que era mais recomendável o silêncio e a discrição, ainda veio dizer que tinha dado 1000 contos para uma campanha de Pacheco Pereira. Não apresentou qualquer prova. Mas mesmo que o tivesse feito, tê-lo-ia feito numa época em que o donativo era legal, não constando sequer que aquele tivesse sido solicitado por Pacheco Pereira. Ao tentar manchar Pacheco Pereira dessa forma tão baixa quanto vil, Abel Pinheiro não se apercebeu de quão serôdia era a figura que fazia. Nem ele nem o Expresso, com o relevo que lhe deu. É esta riqueza da natureza humana que permite, malgré tout, ver como são muito mais parecidos do que se imagina Abel Pinheiro e Mendes Bota. A entrevista a Abel Pinheiro poderá não entrar na história pelo que clarifica ou pelo que revela dos meandros da política e dos negócios, mas seguramente que será recordada pela sua sordidez.
sexta-feira, março 14, 2008
quinta-feira, março 13, 2008
A HISTÓRIA DA MORAL
O momento de crise do Benfica e o do PSD levaram-me por momentos a recordar o Alexandre O'Neill. A História da Moral (De Ombro na Ombreira, 1969) diz tudo em muito poucas palavras:
Você tem-me cavalgado,
seu safado!
Você tem-me cavalgado,
mas nem por isso me pôs
a pensar como você.
Que uma coisa pensa o cavalo;
outra quem está a montá-lo.
EXERCÍCIO DE TRANSPARÊNCIA
" (...) para teu esclarecimento, o PSD/Faro só teve uma “cara” nesta matéria e resumidamente estribou a sua posição no seguinte:
1- Afirmámos a necessidade do Polis para o nosso concelho, que padece de um atavismo crónico há 20 anos, que o colocou no fim da tabela de desenvolvimento dos concelhos do litoral algarvio.
2 – No entanto, solicitámos à CMF a salvaguarda de duas questões, uma quanto à delimitação Nascente da área desafectada do D.P.M. (Domínio Público Marítimo) na Praia de Faro, e outra no que concerne às demolições. Aqui assumimos a nossa intransigência pela requalificação dos núcleos habitacionais das ilhas barreira, em oposição às demolições.
Apresentámos em coerência uma proposta à CMF, para salvaguarda destas duas questões, que foi integralmente aceite e deliberada favoravelmente pelo executivo socialista, agora vinculado a defender também a requalificação.
Em nosso entender, salvaguardadas estas duas questões, ficaram reunidas as condições para viabilizar o Polis.
No entanto, não concordamos com o modelo de gestão optado para a sociedade Polis, pois víamos como necessária a exigência de um concurso público internacional para a escolha do gabinete projectista, contrariamente ao ajuste directo à “Parque Expo”, e entendemos que as Câmaras Municipais mereciam um papel mais relevante na gestão da sociedade Polis.
Ponderados os prós e contras, entendemos que o essencial estava defendido com a proposta que foi apresentada à CMF, e que sendo assim, deveria prevalecer o interesse colectivo de Faro e dos farenses.
É por isso que discordo da ideia, a meu ver errada, de que houve “meias tintas”. Não houve. O que houve foi a tomada de uma posição difícil, mas responsável, em prol do progresso de Faro. E para atingir esta decisão, não ponderámos nem os votos nem o prestígio, mas apenas e tão só o futuro de Faro".
Sem mais comentários, que o espaço é limitado, mas com a lembrança de que só os textos assinados por mim são da minha exclusiva responsabilidade, aqui fica o esclarecimento recebido do meu amigo PGC sobre um comentário anterior à votação de ontem na Assembleia Municipal de Faro. Como me diziam os australianos, no worries, mate!
ENTÃO EM QUE FICAMOS?
Há uma semana atrás, Luís Filipe Menezes (deve ser do nome... o outro também é Luís Filipe, o do SLB, tal como aquele cepo que joga a lateral direito na equipa de futebol), confessava que o PS não merecia ser governo, mas que o PSD ainda não estava preparado para ocupar esse lugar. Ontem, o líder do PSD veio esclarecer, no meio de um vendaval de asneiras, referindo-se à sua equipa e ao seu partido, que "já ganhámos a credibilidade e o estatuto de poder acreditar na vitória" (Correio da Manhã). Não sei se quem lhe diz para dizer estes dislates é o inefável Ribau, o tal que ainda agora foi desmentido pela Entidade das Contas e Financiamentos Políticos, ou o balofo cacique de Loulé que ocupa a vice-presidência, o mesmo que, demonstrando o seu nível e à falta de melhores argumentos, chama a Pacheco Pereira a "cavalgadura do círculo" (Lobo Xavier esclareceu ontem que afinal a expressão era para todos os intervenientes do programa da SIC Notícias!)(1). Uma coisa é certa, não há mudança de símbolo, introdução de novas cores - "azul dégradé" chamou-lhe Zita Seabra - ou campanha de marketing que disfarce a incompetência e a ignorância. Só mesmo Jorge Coelho parece estar satisfeito com o actual panorama do PSD. Mas o País, no meio desta agitação, continua sem saber se o PSD é um partido da oposição com aspirações de governo ou apenas uma companhia de circo dirigida por trampolineiros preocupados com o pagamento de quotas em dinheiro e com o enxovalho dos companheiros e das figuras respeitadas do partido (não apenas no partido).
(1) Rectificação: Ouvi as declarações de Lobo Xavier no jornal das 14, da SIC Notícias, e fiquei a saber que o dichote proferido no Conselho Nacional foi apenas para Pacheco Pereira. Lobo Xavier é que quis também tomar essas dores. Regista-se a correcção, o que todavia não escamoteia o nível do autor do insulto.
APLAUSO...
... para a aprovação por parte da Assembleia Municipal de Faro da adesão ao Programa Polis. Finalmente imperou o bom senso. Depois de Loulé, Olhão, Portimão e Tavira já terem aprovado, era evidente que Faro não podia ficar de fora. Bem sei que alguns construtores civis com casas e barracas na ilha de Faro ficaram sem mais essa fonte de enriquecimento ilegítimo, mas a defesa da ria, da qualidade de vida de quem vive em Faro e do interesse público, não se podia compadecer com o protelamento do cumprimento da lei. O crime não podia continuar a compensar. Pena foi que os deputados municipais do PSD tivessem ficado no "limbo", entre a aprovação e a rejeição populista subscrita pela CDU, pelo Bloco de Esquerda e por um autarca do PSD. Que me desculpe o meu bom amigo PGC, mas as meias-tintas não costumam dar votos. Nem prestígio.
P.S. (13h) O PGC já me transmitiu a sua posição sobre o post anterior. Considera-o injusto e um resultado da má cobertura jornalística. Eu acredito que sim, embora por princípio discorde de atitudes abstencionistas, mas por isso aceitei a proposta dele para me pôr num texto curto - eu disse curto! - as razões do seu PSD para a abstenção. Logo que ele o faça darei conta do mesmo aos leitores.
CARTÃO VERMELHO
(imagem reproduzida com a devida vénia de http://www.encarnados.blogspot.com/)
No final da penosa jornada de ontem à noite em Madrid, diante do Getafe, que ditou a eliminação prematura do Benfica na taça UEFA, Fernando Chalana veio dizer que a equipa fez uns bons 25 minutos e que se a bola enviada por Makukula ao poste tem entrado a sorte do jogo podia ser outra. Chalana foi um jogador excepcional, que passeou classe pelos estádios europeus, um benfiquista dos quatro costados e um profissional exemplar. Pegou na equipa num momento difícil, pela segunda vez, e tentou fazer o impossível. Regista-se a atitude de procurar defender a equipa, de lhe enaltecer o carácter, mas como ele bem sabe o problema não se resume a uma questão de sorte. O Benfica em 90 minutos de jogo limitou-se a criar uma oportunidade clara de golo e Rui Costa fez um remate à baliza. Para uma equipa com os pergaminhos do SLB e que precisava de ganhar marcando pelo menos dois golos é muito pouco. Chalana sabe, tão bem quanto eu, que aquela equipa não tem a classe apregoada por Luís Filipe Vieira - a melhor equipa dos últimos 10 anos, anunciava ele do alto da sua verborreia - e só está em 2º lugar no campeonato e nas meias-finais da taça de Portugal por mero acaso. Está à vista o descalabro desportivo do Benfica pelo qual o principal responsável é Luís Filipe Vieira. Vieira quis transformar o clube numa fábrica de pneus multipiso e o resultado está à vista. Uma equipa sem chama, sem fulgor, sem fio de jogo. Jogadores contratados como estrelas - Di Maria vinha para fazer esquecer Simão! - e pagos a peso de ouro, que nem os pitons adequados ao relvado sabem escolher. O individualismo campeia, a lentidão de execução é atroz, a equipa pura e simplesmente não existe. É que como Chalana também bem sabe, não basta ter bons pés, é preciso saber jogar com inteligência, e isso é o que não acontece. Os jogadores não sabem o que fazer com a bola, têm imensa dificuldade em pensar o jogo, em descobrir linhas de passe, em desmarcarem-se e ocuparem os espaços livres. Depois, a maior parte deles remata muito mal e não sabem passar e recepcionar uma bola decentemente. Os homens que ontem estavam no banco, velhas glórias de equipas de outros tempos - Eusébio, Shéu, Rui Águas -, exímios na arte de rematar, de dominar a bola e de a colocarem jogável no companheiro em qualquer parte do terreno, bem podiam dar umas lições àquela manada que ontem se passeou pelo campo do Getafe. Tenho pena que Rui Costa vá acabar a carreira assim. Ele não merecia. Nós também não. Mas a culpa, caro Fernando Chalana, não é da sorte, é de quem dirigiu e dirige o futebol do Benfica, é de quem avalizou contratações medíocres, prometeu um "Benfica Europeu", mas anda há 5 anos para construir uma equipa e de cada vez que ela começa a adquirir contornos desmantela-a, para no final ainda ter o desplante de, impante, vir atacar os sócios e desviar as atenções para o "Apito Dourado". Por alguma razão um contabilista não faz projectos de arquitectura e um advogado não arranca dentes. Luís Filipe Vieira, que pode ser muito bom a dividir e a somar e a colocar o lápis atrás da orelha, devia ter a humildade de reconhecer o falhanço desportivo e de se retirar a tempo de se poder preparar a próxima época com critério, coisa que não tem existido. Camacho não fez milagres, como Chalana também não podia fazer, nem ninguém o fará no actual caos do departamento de futebol. Eleições antecipadas já!
terça-feira, março 11, 2008
UM RAIO DE SOL NA ÁGUA FRIA
Vai por aí uma grande indignação porque a mulher de António Costa esteve na manifestação da semana passada dos professores contra o Governo. E daí? Desde quando é que marido e mulher têm de pensar pela mesma cabeça, militar no mesmo partido e defender as mesmas políticas? Num mundo em que cada vez mais se reclama o direito à diferença, se procura valorizar o papel da mulher na sociedade e se clama - eu pelo menos - por mais e mais qualificada intervenção feminina na vida pública, por que razão não havia a Fernanda de ir à "manif. dos profs."? Curiosamente, são esses mesmos empatas que agora criticam a ida da mulher de António Costa ao desfile que antes admiravam o exemplo da relação entre o José Lamego e a Assunção Esteves. Como se a democracia não devesse começar na nossa própria casa, como se não fosse um espaço plural e o direito de manifestação uma conquista da liberdade. Quem sabe se, como escreveu a Françoise Sagan, essa manifestação e a participação da Fernanda não poderão ser um raio de sol na água fria?
NA CALHA
Mário Crespo teve ontem mais um dos seus momentos infelizes quando tentou colocar na boca de Pedro Silva Pereira aquilo que Augusto Santos Silva não disse. O ministro da Presidência esteve à altura e respondeu em termos adequados. Álvaro Cunhal e muitos outros comunistas foram fundamentais para a resistência ao salazarismo e o derrube da ditadura. Mas todos sabemos que se não fosse a resistência dos partidos do arco democrático - PS, PPD e CDS - após o 25 de Abril de 1974 e a teimosia na convocação de eleições livres, hoje, provavelmente, o país não seria muito diferente da Venezuela de Chávez. Mário Crespo provavelmente já se esqueceu, ou não sabe, que só tivemos eleições livres porque os partidos assinaram os pactos com o MFA. E que os resultados das eleições para a Constituinte foram uma surpresa para o Partido Comunista e a vanguarda do MFA - que chegou a apelar à abstenção e ao voto em branco dizendo que seriam votos no MFA -, que nunca pensaram ter um resultado tão mau. O que a partir daí se seguiu já toda a gente sabe, com a tentativa de cubanização do regime e a desvalorização dos resultados eleitorais, apostas rejeitadas de novo pelos portugueses aquando das eleições de 1976. Pedro Silva Pereira demonstrou mais uma vez a sua preparação e inteligência, aliás logo reconhecida por Mário Crespo. Mas dessa intervenção de ontem à noite na SIC Notícias, o que fica é a marca da colocação de Pedro Silva Pereira na rota da sucessão de José Sócrates. Não há nada como uma evidência.
RECORDAR A BARBÁRIE
segunda-feira, março 10, 2008
sábado, março 08, 2008
MORREU O MIGUEL LEMOS
Figura inesquecível do jornalismo português, ainda há alguns meses atrás o recordei neste blogue a propósito do lançamento de um livro seu, editado pela Gradiva, chamado "A Caminho do Horizonte". O Nuno Silveira Ramos deu-me há pouco a notícia do seu falecimento, na casa do Estoril, onde vivia. Venerado por uns, odiado por muitos mais, devido ao seu feitio e à passagem por Macau, no tempo de Pinto Machado e de Carlos Melancia, foi sempre um excelente companheiro e amigo de muitas jornadas pelos botequins da cidade do Santo Nome de Deus. Guardarei dele a imagem de um homem inteligente, livre, à sua maneira, e empenhado. O livro que referi fica como o seu último testemunho, depois dos anos que fizeram dele, na Renascença e na RTP, um dos melhores jornalistas da sua geração. Aqui fica a minha homenagem.
AINDA A TEMPO
De dar os parabéns ao Público pelos seus 18 anos, jornal que me habituei a ler com gosto e a criticar. Hoje um indispensável ponto de encontro com a liberdade. A sua edição de aniversário foi o exemplo disso mesmo. Por isso, também Pacheco Pereira e a sua equipa estão de parabéns, graças ao magnífico e arejado trabalho que produziram na eidção de aniversário. A reportagem do Casino Lisboa e a cronologia do "crime" ficarão a marcar o panorama jornalístico português por muitos anos. Excelente. Desejo, pois, uma longa vida ao Público e a quem dia-a-dia o faz. Que nunca me faltem a visão, o olfacto - é inconfundível o cheiro da tinta e do papel todas as manhãs - e o tacto para desfolhar, ler e apreciar o jornal.
EM QUEDA LIVRE
Quando no outro dia escutei Luís Filipe Menezes a dizer que o PS não merecia ser governo e que o PSD ainda não estava preparado para tal, fiquei sem saber, de novo, o que pensar de tal fatalismo que se apoderou do maior partido da oposição. Pensei escrever qualquer coisa sobre o tema, mas outros afazeres impediram-me de poder fazê-lo atempadamente. Lucidamente, Vasco Pulido Valente, em boa hora, pegou na deixa. Ainda mal refeito desta brilhante tirada de Menezes, já os ex-secretários-gerais do PSD assinavam um documento que remeteram a Ângelo Correia, opondo-se à tentativa de alteração no Conselho Nacional e sem audição prévia dos militantes do partido de vários documentos reguladores da vida interna do PSD, como o Regulamento Financeiro, o Regulamento de Quotas, o Regulamento de Admissão e Transferência de Militantes e o Regulamento das Estruturas de Emigração. Classificado como uma tentativa de golpe de estado interno, destinado a retomar velhas práticas caciquistas, como o pagamento de dinheiros sem qualquer controlo, assunto que havia sido já muito discutido antes da eleição do actual presidente, o documento veio reavivar velhas lutas do partido e chamar de novo a atenção para a incapacidade e falta de estatura da actual direcção. As bases, como se vê pelo discurso dos actuais dirigentes, só servem para caucionar as políticas dos chefes populistas quando isso a estes convém. Pacheco Pereira também chamou a atenção para o facto no Abrupto. Mas o que se reveste de incontornável evidência é o mal-estar gerado pela remessa do referido documento dos ex-secretários-gerais a Ângelo Correia. Este sentiu-se acossado, reagindo destemperadamente em defesa da actual direcção. Mas o sinal mais notório foi a expressão incomodada e agressiva de Mendes Bota quando diante da comunicação social. Logo começou logo a desfiar o seu rosário de insinuações e ataques pessoais, imediatamente acauteladas e desmentidas por António Capucho. A expressão de Bota dizia tudo. Menezes e a sua clique fizeram o pleno. Tal como eu aqui antes vaticinei, a actual direcção do PSD muito dificilmente chegará a 2009. Depois da entrada em queda livre já nada segurará a actual direcção. Menezes e Ribau, na sua inconstância e crónica falta de visão estratégica, ainda nem sequer o pressentiram, e continuam alegremente a assobiar para o lado e a participar em manifestações ao lado dos sindicalistas comunistas. Mendes Bota, frio, calculista e oportunista, já percebeu o que se está e passar. Sente o chão a fugir-lhe debaixo dos pés. Mais do que isso, Bota tem a certeza de que o fim está próximo. E que isso vai acontecer antes de qualquer discussão sobre as regiões. Daí o seu pavor.
quarta-feira, março 05, 2008
A LER
"Como era de hábito, as declarações de Jorge Sena fizeram estremecer as bem-pensâncias. Nunca moera as palavras no vácuo. Nunca fizera conversa mole, e sempre dissera o que entendia dever dizer, doesse a quem doesse. O País padreca, de literatos menores, de cabisbaixos campeões da convivência, não perdoava a este homem livre e, ainda por cima, de alto coturno intelectual, a grandeza que se não burilava com frases de pequeno conceito." - Baptista Bastos, DN
terça-feira, março 04, 2008
RECORDAR BRASSENS
No outro dia, depois de ouvir Aznavour e de dias depois ter escutado a magnífica entrevista que o Júlio Isidro lhe fez, dei comigo a recordar Georges Brassens. Descobri lá em casa este fantástico disco, gravado entre 16 de Setembro e 22 de Outubro de 1966, ao vivo, no Thêatre Nacionale Populaire do Palais de Chaillot. Se o encontrarem por aí, o que não deverá ser fácil, só têm uma coisa a fazer, comprá-lo. E se por acaso a vossa companheira ou mulher não gostar dele, peçam-lhe, gentilmente, que se sente e escute. Há muita coisa de que é preciso aprender a gostar para alguma vez se retirar verdadeiro prazer. Entretanto, matem saudades e deliciem-se com este fantástico "la non-demande en mariage". Não é impunemente que se recebe o prémio de poesia da Academia Francesa (1967) e se passa a figurar nos livros escolares ao lado de Pascal e Zola. Simplesmente soberbo.
P.S. Este post é especialmente dedicado a minha amiga MJFMAG, que de quando em vez me dá o prazer da sua leitura, e que embora atravessando um momento difícil tem o dom de saber apreciar gente desta envergadura.
P.S. Este post é especialmente dedicado a minha amiga MJFMAG, que de quando em vez me dá o prazer da sua leitura, e que embora atravessando um momento difícil tem o dom de saber apreciar gente desta envergadura.
REGIONALIZAÇÃO POLICIADA
O Dr. Miguel Cadilhe, que aos poucos se vai tornando numa daquelas figuras imprescindíveis da nossa democracia, tantas e tão rocambolescas são as declarações que amiúde profere e as tomadas de posição que assume, depois de cilindrado pelos accionistas do BCP, lembrou-se agora de vir falar numa "regionalização, sujeita a um adequado regime de fiscalização". Trata-se um conceito novo, presumo, referido por Cadilhe numa conferência com o pomposo nome de "As Grandes Reformas Nacionais - O Papel da Região Norte, o peso do Estado e a Regionalização no Horizonte". Por não ser parvo e suspeitar do que poderá acontecer com a regionalização que se avizinha, o Dr. Cadilhe, não querendo ser incómodo numa reunião destinada a fazer a apologia da regionalização, embora não se saiba bem qual, se a alemã que criou riqueza e responsabilidade, se a italiana, mais pareceida com o nosso feitio, que criou "regiões de montanha ao nível do mar" e criou cargos à escala planetária, veio dar uma no cravo e outra na ferradura. Numa república que nem sequer é capaz de fiscalizar adequadamente as autonomias regionais e deixa uma região como a Madeira entregue à sua sorte para não ter de contrariar o régulo local e os poderes da pandilha que samba em redor deste, enquanto os sambistas enriquecem à custa dos negócios que vão fazendo com a própria região, fechando-se os olhos ao despautério, o Dr. Cadilhe quer criar regiões e depois policiá-las. É o mesmo que dizer que quer trabalhos dobrados. Fico à espera dos novos desenvolvimentos, designadamente de saber se também prevê a aplicação por parte do poder central de adequados correctivos às futuras regiões e aos seus dirigentes quando estes descambarem.
ESTRANGEIRISMOS
Este país, que sempre teve a tendência para copiar o que de mau se faz lá fora, é uma república. Tal como os Estados Unidos da América (EUA). Cá como lá vêem-se muitos filmes, há muita violência na televisão, no cinema, nos jogos. Aos poucos também vamos tendo um certo culto da violência, do músculo, da imbecilidade. Tem uma Constituição, à semelhança dos EUA. E há muitas mortes violentas, por arma de fogo e por arma branca. Todos os dias, com maior ou menor espectacularidade, cai alguém. Há muitos anos que neste país há demasiadas armas em "boas mãos". De vez em quando lá se encontram umas granadas enterradas, umas G-3 abandonadas, ou se prendem uns polícias que tinham "protocolos" com os armeiros e se encarregavam de tratar das licenças. Dir-se-ia que este país tem um lobby forte em matéria de armas. Não tem. E também não tem nenhuma norma ou aditamento constitucional que garanta a sua posse ou o direito a possuí-las como sucede com o 2nd Amendment ("A well regulated Militia, being necessary to the security of a free State, the right of the people to keep and bear Arms, shall not be infriged"). Ao contrário dos EUA. Mas quem não saiba até julga que tem, tantos têm sido os mortos e tão diferentes as circunstâncias. Aqui está uma diferença. Antes que as modas cretinas importadas dos EUA se instalem por cá - a França começou a copiar no final dos anos 70 e o resultado está à vista - só há uma solução. E esta passa por uma campanha de identificação e localização das armas que há em circulação. De todas, das legais e das ilegais. É apertar a malha drasticamente e no fim queimar o que estiver a mais. Sem contemplações.
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