"Não esperava ter razão tão depressa. Melhor: não esperava que o diagnóstico realizado pelo grupo de trabalho para o serviço público de comunicação social se revelasse tão certeiro tão depressa: é que foi há apenas dois meses que dissemos temer o "modelo de informação que o Governo aparenta defender, por considerarmos que permitirá perpetuar a influência, quando não a interferência, do poder político" na televisão e na rádio públicas. Ora, aí está: por mais justificações pífias que se procurem, não restam muitas dúvidas sobre a relação directa entre um lamentável programa emitido pela RTP a partir de Angola e o fim das crónicas de Pedro Rosa Mendes nas manhãs da Antena 1.
A primeira vergonha começou com a emissão, a partir de Luanda, de um Prós e Contras rebaptizado como Reencontro. Quando conheci o objectivo da produção luandense coreografada por Fátima Campos Ferreira temi o pior - quando assisti à emissão, o pior foi ainda pior. Não fiquei apenas pessoalmente incomodado, senti que a democracia portuguesa saía dali enxovalhada.
Pedro Rosa Mendes, um profundo conhecedor de Angola, foi magistral na sua crítica àquela vergonha. (...)
Por isso não duvido de que Pedro Rosa Mendes não falta à verdade quando revela que lhe foi dito que 'a administração da casa não tinha gostado da última crónica sobre a RTP e Angola'. (...)
Tenho por hábito ser frontal e inconveniente, pelo que não posso fingir que não vejo. E quem, na RTP, deu a cara pelo fim da série de crónicas Este Tempo, que incluía a contribuição de Pedro Rosa Mendes, não foi a administração, pois esta sacudiu rapidamente a água do capote."
"(...) Isso é tanto mais verdade quanto os tempos são de crise e, no país, como disse Rosa Mendes, se instalou "uma noção puramente alimentar da dignidade individual". Ora se isso se traduz em "está caladinho para guardares o trabalhinho", se no país os governos já têm poder a mais, então que não tenham também tanto poder numa área tão sensível como a rádio e a televisão. (...)"
"(...) Portugal, infelizmente, não se tem dado ao respeito na sua relação com Angola e com as autoridades de Luanda. O preço que pagamos são humilhações constantes e endoutrinações sobre as virtudes de caminhar de espinha vergada".
Vale a pena ler os dois textos de José Manuel Fernandes, no Público, de hoje, intitulados, respectivamente, "RTP, episódios de uma eterna servidão" e "Não ganhamos nada com a vassalagem a Angola" . Seis meses bastaram, seis delirantes meses com Miguel Relvas a baralhar e a dar jogo. Foi o suficiente para se acabar o stock de Haze e a pocilga começar a feder. Quem não os conheça que os compre. E falavam eles dos outros...
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