Durante mais de duas décadas foi o rosto da contestação sindical permanente. Percorreu o país de norte a sul, sozinho, com os seus, às vezes também com os outros. Foi para muitos, durante todo o tempo em que liderou a CGTP, o rosto da desgraça, o mentor da revolta. Irritou muita gente. Outros estar-lhe-ão agradecidos. No intervalo das lutas sindicais aproveitou para crescer como homem. Estudou, doutorou-se. Enquanto liderou falou com todos, com os mais fortes, com os mais fracos, com os mais ricos, com os mais pobres, e também com os outros, com os que vivem abaixo da linha de água. Nunca tive por ele outra admiração que não fosse a de reconhecer nele um lutador, muitas vezes mesmo pensando que ele estava fora do seu tempo. Ainda hoje creio que assim será em muita coisa. Mas não posso deixar de registar aqui o percurso político e humano de Manuel Carvalho da Silva. Outros enriqueceram no sindicalismo e à custa das lutas sindicais. Ele sai como entrou. Com as convicções de sempre, de mãos e peito aberto, sem medo. Como sempre esteve. Só isso já seria suficiente para merecer duas linhas. Mas numa terra de gente medrosa e onde muitos continuam a ter receio de expor as suas convicções com medo que lhes falte o pão ou que sofram represálias de quem tem a faca e o queijo na mão, é duplamente reconfortante saber que ainda há homens desta têmpera, com carácter. Ainda que quase sempre ele tenha estado num azimute muito diferente do meu. Convém não confundir as coisas. É isso, e só isso, que quero sublinhar aqui.
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