segunda-feira, dezembro 31, 2012

A fechar um ano triste

Poucos anos bissextos, que por natureza já são difíceis de gerir, terão sido tão tristes e complicados para a maioria dos portugueses como o que agora finda. 
 
Naturalmente que um ano não se esgota em meia-dúzia de assuntos de actualidade, frases banais, revistas de imprensa ou retrospectivas à hora nobre dos noticiários televisivos.
 
Cada vez mais gosto de passar a consoada e a noite de 31 de Dezembro, como também os aniversários que todos os anos, desde há cinquenta, religiosamente cumpro e a que Deus ainda me vai dando a sorte de estar presente com saúde, discernimento e alguma comida e bebida na mesa, de uma forma tranquila. De preferência na companhia de quem me diz alguma coisa. Nunca fui, e agora já será tarde para me vir a tornar, um pândego das confusões ou um saltitão dos bailaricos.
 
O silêncio diz-me muito. O sossego, a tranquilidade, enfim, a paz, são inexplicavelmente, ou talvez não, afirmações quotidianas da minha liberdade, da minha independência, da minha vontade de me olhar de tempos a tempos. Para me criticar. Para fazer balanços regulares ou para sonhar novos caminhos que amanhã possa trilhar. Fundamentalmente para me encontrar com a natureza que nos faz únicos. Para pensar, para aconchegar algumas palavras, preparando o burilar dos dias que hão-de vir.  
 
Este foi um ano triste. Se foi. Pelos que partiram, uns mais públicos do que outros. Pelos que se perderam, quantas vezes sem razão e sem uma palavra de conforto. Pelos que empobreceram sem saberem porquê. 
 
Foi um ano em que escrevi pouco, mas em contrapartida li muito e como há muito não o fazia. Voltei aos bancos de uma faculdade que me diz muitíssimo, a uma biblioteca aonde volto sempre com prazer e curiosidade renovada.Também viajei pouco, muito menos do que noutros anos. Mas o pouco fi-lo de forma soberba, na melhor das companhias e no melhor dos mundos. E os momentos com os amigos não foram tantos quantos gostaria, sem prejuízo de também ali ter estado rodeado dos melhores, daqueles a quem já perdi a conta aos anos em que rimos e choramos juntos, mas também com os mais recentes, com os que ao longo do ano me acompanharam e emprestaram o seu abraço, a sua palavra, o seu sorriso, o calor da sua dádiva. E, não raras vezes, o conforto da crítica sadia, por vezes mesmo contundente, sempre tremendamente generosa e desafiante.
 
Tudo isso são marcos que de uma forma ou de outra tenderão a perdurar ou a desaparecer. Só os próximos anos o dirão. Porém, tudo isso se torna secundário quando levantamos os olhos e nos confrontamos com tudo o que nos rodeia. Que seria de nós sem os outros? 2012 será em muitos aspectos um ano para esquecer, mas colectivamente, para nós portugueses, foi um ano que nos ensinou muita coisa. Foi um ano que serviu para nos conhecermos melhor. E para conhecermos os melhores e os piores de nós. Se tivesse de resumir o ano político em poucas palavras diria apenas o seguinte: 2012 foi um ano em que faltou inteligência à política e em que todos saímos à rua para os eunucos ganharem protagonismo.
 
E por aqui me fico. Do fundo do coração, com aquele coração que o Manuel António Pina - que saudades dele, meu Deus, que saudades... -  nos deixou, com um coração de uma bondade maior que o mundo, desejo-vos um ano de 2013 em que a saúde, a esperança e o silêncio vos guiem em cada dia. E que politicamente seja exactamente o oposto de 2012. Isto é, um ano que veja chegar a inteligência à política, e em que o protagonismo seja dado à seriedade, à decência e à palavra honrada. E, já agora, aos portugueses e à sua língua.    
    

quarta-feira, setembro 26, 2012

Seis anos depois


"A sabedoria não nos é dada. É preciso descobri-la por nós mesmos, depois de uma viagem que ninguém nos pode popupar ou fazer por nós." - Marcel Proust
 
Seis anos depois é tempo deste blogue entrar em pousio. É o que acontecerá a partir deste belo mês de Setembro. Nos próximos meses, talvez até meados do próximo ano, acompanhando as agruras que aí vêm, o autor deste blogue entra numa nova fase da sua vida. Não sabe o que irá dar mas tem a certeza de ter muito trabalho pela frente. Espera sobreviver. E que um dia voltem a ter notícias dele. De preferência melhores do que as que Vítor Gaspar nos tem dado. Entretanto, até lá, não desistam, não desanimem, qualquer que seja o vosso projecto ou o vosso sonho. Continuem a desinfectar este país e não se esqueçam de ler, de ler muito, e bem. E de depois reflectirem sobre o que leram, separando o trigo do joio. Para não ficarem como quem nos governa. 
 

segunda-feira, setembro 17, 2012

Gostava de lá voltar (17)


Cebu, Filipinas

Crise? Não, que raio de ideia

"É muito revelador que o PSD tenha sido lesto a convocar a Comissão Política para reagir às declarações de Paulo Portas de domingo e tenha ficado mudo e quedo ante as manifestações de Sábado. O medo usado pelo Governo foi devolvido pelo povo. Quando o país desparalisou, paralisou o Governo.
 
Os erros de Pedro Passos Coelho estão listados. É dele e só dele a responsabilidade da crise política que desaba. É dele e só dele o romper abrupto da estabilidade social que acumulava quinze meses de austeridade tolerada. Passos Coelho errou em tudo. No que decidiu, no que comunicou, no que não fez, até na atitude desleal demonstrada na sua última oportunidade. Na entrevista à RTP, os portugueses quiseram ouvi-lo – foi das entrevistas com mais audiência dos últimos anos. Mas o primeiro-ministro voltou a exibir insensibilidade e incoerência, ao culpar os portugueses pela recessão, tinham consumido menos do que era esperado. Como aqui escreveu Manuel Esteves, somos agora acusados de viver abaixo das nossas possibilidades. Como sintetizou Teresa de Sousa, Passos disse que, afinal, o Governo cumpriu, os portugueses não.

As manifestações de Sábado foram muito mais do que numerosas. A tensão e raiva que lá se sentia fizeram das manifestações do 12 de Março (há um ano e meio) uma caminhada pela paz e amor. Nestas, pedia-se justiça, demissões, convulsões. Cada pessoa a quem se perguntava "por que razão está aqui?" respondia com o seu próprio drama. Muitas de lágrimas dos olhos. E agora?

"E agora?" é uma das perguntas que os cépticos das manifestações, e alguns amnésicos sobre o que é a sociedade, costumam perguntar no fim. Como se uma manifestação tivesse apenas dois propósitos: enrolar as bandeiras ou usá-las para partir montras. Errado. Os manifestantes é que perguntam, exigem, "e agora?". É Passos Coelho quem tem agora de responder.

O Governo responde com ameaça de cisão. Paulo Portas respondeu com cinismo a Passos Coelho, dando sequência ao processo de autodestruição da coligação. O pior cenário que temos pela frente é o de eleições, mas deixar apodrecer um Governo de traidores é como usar uma máscara de farinha ao vento. É altura de Cavaco Silva intervir. E resolver.

Passos Coelho já perdeu esta luta porque já perdeu todas. A própria "chamada" de Cavaco Silva a Vítor Gaspar ao Conselho de Estado, tornada pública, é um atestado de menoridade e um insulto ao primeiro-ministro. Cavaco chamou "quem sabe" e quem sabe é Gaspar. É esta a mensagem.

Da manifestação de 15 de Setembro à apresentação da proposta do Orçamento do Estado decorrerá precisamente um mês. Já não é possível reconstituir o que havia colando os cacos, mas é preciso reerguer algo. O aumento da taxa social única para os trabalhadores tem de cair. Até porque, como disse ontem Maria João Rodrigues, há alternativas. Mesmo sendo alternativas de austeridade.

Este é o principal dano provocado pelo Governo: ter destruído a disponibilidade para a dor que existia, porque vigorava o sentimento de que este era um caminho duro mas de injustiça justamente distribuída. Esse selo foi quebrado, irremediavelmente. Como perguntou José Gomes Ferreira, como vão ser agora aceites as próximas medidas de austeridade, que obviamente surgirão daqui até 15 de Outubro? Porque disso não nos livramos. Depois das medidas extraordinárias deste ano (que incluem a concessão da ANA, em vez de privatização), há um ror de austeridade para 2013 que não poderemos evitar. Os cortes na Função Pública e nos pensionistas, os impostos para trabalhadores.

Na delirante mensagem que deixou vai para dez dias no Facebook, o amigo, cidadão e pai Pedro escreveu uma frase certa: "Esta história não acaba assim". Pois não. Acabará de outra maneira. Acaba mal para Passos Coelho. Mas não pode acabar mal para o País." - Pedro Santos Guerreiro, no Jornal de Negócios 

sexta-feira, setembro 14, 2012

Avivar a memória

Vale a pena ler este pequeno mas muito bem conseguido trabalho da Rádio Renascença. Não há nada como ir avivando a memória. Este primeiro-ministro, tal como eu previa, já tem um lugar especial na galeria. Ao lado do anterior.

quinta-feira, setembro 13, 2012

Gostava de lá voltar (15)


Seul, Coreia do Sul

O que nos espera

"Tomei a decisão de convocar eleições legislativas tendo em conta a objectiva e indiscutível degradação da situação política nacional, que é evidenciada, desde logo, pela crescente dificuldade do Governo minoritário que resultou das eleições de 2009 e da Oposição em estabelecerem entendimentos em torno das medidas necessárias para ultrapassar os problemas económicos e sociais com que Portugal se defronta.
É visível para todos os Portugueses o aumento da falta de confiança recíproca entre as diversas forças políticas e a ausência de diálogo e de negociação entre o Governo e os partidos da Oposição.
Concluí, assim, que só através da realização de eleições e da clarificação da situação política poderão ser criadas novas condições de governabilidade para o País." - Presidente da República, 31/03/2011

O que acima se transcreveu faz parte da declaração do Presidente da República, apresentada no ano passado, na qual foram elencadas as suas razões para aceitar a demissão do primeiro-ministro José Sócrates e convocar eleições antecipadas.

Em relação ao cerne das justificações, a dificuldade de se obterem "entendimentos em torno das medidas necessárias para ultrapassar os problemas económicos e sociais com que Portugal se defronta" mantêm-se. O mesmo se diga quanto ao aumento da falta de confiança recíproca entre as diversas forças políticas e a ausência de diálogo e de negociação entre o Governo e os partidos da Oposição. Só que agora o quadro tem a agravante de estarmos com um Governo maioritário de coligação, que apresenta fissuras estruturais quando acabámos de entrar no segundo quarto da legislatura. Assustador.

Naturalmente que a convocação de eleições antecipadas no actual panorama, em que é patente o agravamento da situação económica e social do País e o aumento da crispação e da conflitualidade social e política, que começa a atingir níveis nunca antes vistos dentro do próprio partido charneira da coligação, seria um perfeito suicídio. Face ao genocídio fiscal empreendido pelo ministro das Finanças, importa lutar pela sobrevivência e pelo cumprimento dos compromissos internacionalmente assumidos pelo Estado português.

O papel do Presidente da República não pode, pois, continuar a ser o de um sujeito que aguarda passivamente o desenrolar dos acontecimentos. Ou que deambula pelo País num interminável tomar de pulso à situação sem que assuma as suas responsabilidades.

Não sendo aceitável - pelas consequências devastadoras que acarretaria para a situação nacional - a convocação de eleições antecipadas, importaria que o PR chamasse os partidos políticos, reunisse o Conselho de Estado no mais curto prazo e tomasse um conjunto de medidas que permita atingirmos o final da legislatura, para só então, nessa altura, convocar eleições de acordo com o calendário normal.

De todos os quadrantes políticos, da direita à esquerda, e com excepção de alguns cristãos-novos, como o deputado Carlos Abreu Amorim, ou de meia-dúzia de dependentes da teta do regime, não há crítica que não se faça ouvir aos disparates - porque outro nome não podem ter - do ministro das Finanças e da sua equipa: Bagão Felix, Miguel Frasquilho, João Almeida,  Manuela Ferreira Leite, Silva Lopes, Teodora Cardoso, Medina Carreira, Belmiro de Azevedo, e por aí fora, para só citar alguns nomes pois a lista seria quase interminável.

Percebe-se o desconforto da situação para um PR que acarinhou esta solução política, e que pela sua passividade , colocando a sua chancela em leis que violam de forma inequívoca a Constituição que jurou cumprir e fazer cumprir, está a prestar um mau serviço ao País.

De qualquer modo, o PR é neste momento o único que está em posição de inverter a actual situação. As experiências do inexperiente e atrevido Passos Coelho, através do seu ministro das Finanças, estão a arrastar o País para uma situação tal que até já alertou os responsáveis da troika para a inevitabilidade de não se continuar a esfolar os pobres e remediados e para a necessidade de se introduzirem medidas destinadas a combaterem essa peste do desemprego, que alastra sem qualquer controlo nem remédio.

Seria importante que o PR actuasse já, antes mesmo da aprovação do Orçamento, tomando as iniciativas e criando as condições para que 2013 não seja o ano do afundamento definitivo da economia portuguesa. Não nos esqueçamos que no próximo ano também teremos eleições autárquicas com todo o folclore que esse cenário irá gerar e os espectáculos que a trupe do ministro Relvas se prepara para montar por todo o território, do qual aliás já ontem tivemos um exemplo com o anúncio da candidatura de Luís Filipe Menezes à Câmara do Porto.

A falta de rumo político, a ausência de estratégia e a incapacidade da actual equipa para levar a bom porto a missão que lhes foi confiada é de tal forma evidente que bastou ter ouvido o que se disse nas últimas semanas, por parte de alguns membros do Governo, sobre a RTP, sobre as privatizações ou a redução da TSU para as empresas, para se perceber que a descoordenação é total e que cada membro do Governo diz o que lhe vem à cabeça. As medidas são anunciadas, logo a seguir são apenas hipóteses, depois alguém diz que são para avançar e logo aparece mais alguém a anunciar correcções de rumo.

Já não estamos no campo da navegação à vista de costa, ao contrário do que disse Belmiro de Azevedo. Estamos com um paquete em alto mar, com uma tempestade à vista, com a tripulação em motim permanente, com um comandante com carta de marinheiro que não tem a mínima noção do buraco em que o meteram, e com alguns camareiros a entrarem pelos cabines dos passageiros, incluindo pelas dos que viajam em camarotes de terceira classe, abaixo da linha de água, para as saquearem e entregarem o espólio no economato, com os mais novos a saltarem borda fora deixando a bordo os velhos e os doentes, enquanto o imediato e o mestre de cerimónias abrem garrafas de champagne

Repare-se que o desconchavo é tal que quando o primeiro-ministro anunciou a descida da TSU para as empresas referiu que essa medida se destinava à criação de emprego e à libertação de activos. Mas ainda ontem o ministro das Finanças foi ao Parlamento dizer que o Governo pretende controlar as verbas que deixarem de ser canalizadas para a TSU e que será criado uma espécie de caixa ou fundo - confesso que a asneira é tão grande que até tive dificuldade em percebê-la - onde ficarão essas verbas. Bom, mas pergunto eu, se essas verbas são canalizadas para essa caixa como poderão as empresas criar emprego? Dir-se-ia que nem eles próprios sabem do que estão a falar.

As tais e tão malfadadas reformas continuam por fazer, ou vislumbrar, mais de um ano depois. Como ainda há dias Medina Carreira sublinhava, e eu já anteriormente afirmara, não se compreende perante o descalabro das PPP que o Governo não tivesse logo accionado o artº 437º do Código Civil e não tivesse obrigado os privados a negociar. A reforma autárquica do ministro Relvas é um flop. Tal como a execução orçamental que vai de rectificativo em rectificativo. O programa de privatizações é uma coisa que só existe na cabeça do ministro António Borges, enquanto o hilariante ministro da Economia continua a divagar por aí e a atirar-se para a água de braçadeiras insufláveis..., enfim, um cenário deveras estarrecedor, a ponto da circunspecta Manuela Ferreira Leite convidar os deputados da maioria a chumbarem o próximo orçamento.

Impõe-se, por isso mesmo, que o PR actue em consonância com o actual estado de coisas. E em meu entender só há um caminho: a formação de um Governo de iniciativa presidencial dirigido por alguém acima de qualquer suspeita que seja capaz de formar uma equipa e chamar à governação gente de vários quadrantes, gente que seja capaz de cumprir aquilo que este Governo mostrou já não ser capaz de fazer. Alguém que esteja habilitado - nada de equivalências manhosas - para governar, com um mínimo de bom senso e sentido de justiça, rigoroso e com coragem suficiente para não claudicar com o primeiro espirro da banca ou dos sindicatos. Alguém que dê um rumo ao navio.

Se isto não for feito, a alternativa será o País entrar em autogestão. Será o salve-se quem puder num contexto de guerra social aberta, de violência verbal, e quem sabe se também física, sem limites. Não se pode perder mais tempo.     

Para quem não viu

Fica aqui o link para quem não pôde ver a entrevista de Manuela Fereira Leite à TVI24. Depois de tudo aquilo que foi dito pelo Conselheiro de Estado Bagão Felix, não é todos os dias que se vê um ministro das Finanças ser demitido em directo. 
Lamento que só agora, tão tarde e depois do desastre consumado, estas vozes surjam. Mas errar é humano e nem todos andaram com os olhos bem abertos. Estar a ver o desastre acontecer e dizer, como ouvi a muitos ainda há dois ou três meses, que era preciso esperar para ver os números da conjuntura e outras coisas do género, estava bem para lá da mera prudência ou do benefício da dúvida.
A cegueira é uma coisa terrível. A ideológica, seja ela de esquerda ou de direita, e a ignorante ainda mais.
Pode ser que um dia os portugueses, se sobreviverem ao massacre, lhes perdoem.

quarta-feira, setembro 12, 2012

Ficou para memória futura

"Quando um primeiro-ministro em funções de um país estruturalmente pobre, e que precisa urgentemente de se modernizar, crescer e desenvolver, diz que uma crise grave como a que atravessamos só será ultrapassável empobrecendo ainda mais, qual o papel que fica reservado à esperança? Se o socialismo era o regime da miséria planificada, o "passismo" só poderá ser entendido como uma estratégia de empobrecimento planificado, assente no desmantelamento do Estado e na asfixia tributária dos cidadãos, destinada a criar a ilusão nos portugueses de que um dia será possível sair da miséria crescendo." - Aqui, em 2 de Dezembro de 2011.

terça-feira, setembro 11, 2012

O problema não é só falta de estudo


No dia 2 de Setembro, em declarações ao Jornal de Negócios, o ministro Miguel Relvas dizia que o futuro da RTP continuava por decidir e que nada estava decidido quanto ao futuro das licenças públicas de televisão.
 
Hoje, pouco mais de uma semana depois, sem que ninguém saiba se afinal vai haver concessão do serviço público de televisão ou não, ou se a opção é pela venda de um canal e a concessão de outro, o mesmo Miguel Relvas veio dizer, no Brasil, que como se sabe deve ser o local mais apropriado para este tipo de declarações, que  "o assunto da RTP está resolvido". Resolvido? Como? Será que ouvi bem? Vai ser Alberto da Ponte a decidir? Não foi Passos Coelho que esclareceu, quando instado a tal, que nada estava decidido?
 
Não satisfeito com o que disse, hoje voltei a dar de caras com o ministro Relvas, nos ecrãs televisivos, dizendo que "o primeiro-ministro apresentou medidas que não são medidas novas. São medidas que visam substituir as medidas que o Tribunal Constitucional chumbou, portanto eram medidas que os portugueses já sabiam que eram inevitáveis". Então não são novas mas destinam-se a "substituir"? Bem sei que não disse que eram exactamente as mesmas, mas fiquei a pensar se o homem, quando lhe põem um microfone à frente, pensa que está a falar para bestas.

Por isso mesmo, também desconheço se quando o ministro profere declarações desse calibre e, com o devido respeito, parece ensaiar um ar de "asno tonsurado", como escreveu Julien Green, para convencer os telespectadores, ele vê a figura que faz. Ou se algum dos seus assessores lhe faculta as imagens para que as possa ver. Se tal não acontece deviam fazê-lo, pois poderia ser que no futuro ele se poupasse, e a nós também, a algumas deprimentes figuras.

Em qualquer caso, começa a ser tempo de o Presidente da República, em vez de andar a jogar golfe ou a brincar com os netos, se predispor a dizer duas palavras ao primeiro-ministro sobre as figuras que o seu ministro fez e anda a fazer. Agora até fora de portas, acompanhando o amealhar de ajudas de custo do outro, também Portas. Aliás, seria bom saber quanto estão a custar mensalmente ao erário não só o ministro dos Negócios Estrangeiros mas também todos os outros - agora o ministro da Economia e a secretária de Estado do Turismo também passeiam o seu colesterol pela humidade do Oriente -, para se poder avaliar dos benefícios da acção externa de cada um deles na actual conjuntura, perante o custo suportado por todos.

Não é aceitável que o ministro Miguel Relvas continue a exercer funções de Estado. Um Estado que se queira dar minimamente ao respeito não pode ter um Miguel Relvas como ministro.

Gostava de lá voltar (14)


Da Nang, Vietnam

segunda-feira, setembro 10, 2012

Isto não foi escrito ontem

"Se este é o caminho que Passos Coelho e os seus brilhantes estrategas têm a apontar ao país, se é pelo caminho da mais obscena frivolidade que o líder do PSD pretende formar um governo de maioria sólido e coeso que devolva a dignidade aos portugueses, então o melhor talvez seja mesmo arranjar umas armas, pedir desculpa àqueles senhores que hoje discursaram, e fazer um novo 25 de Abril.
 
Está na hora de se fazer uma nova revolução. Penso que foi isto que Cavaco Silva também quis dizer no discurso da sua tomada de posse, que hoje foi reafirmado por quatro homens sérios e bem-intencionados e cujo verdadeiro alcance só nesta altura consegui compreender depois de ler o que li.
 
Meus amigos: um sobressalto cívico seria "defenestrar" quem depois de se entreter a cozinhar reportagens destas ainda tem o desplante de se apresentar a votos e aspira ser primeiro-ministro e ministro de Portugal. Se não o fizermos acabaremos todos por ser tratados como cães. E a votar nas cadelas. E nos seus filhos. Já faltou mais." - Aqui
 
"Sermos no futuro governados por gente bem-intencionada com quem se pode falar será a melhor prova do nosso falhanço. Um falhanço maior do que a liberdade que gozamos. Um regresso à prisão, mas desta vez à dos bem-intencionados com quem se pode falar." - Aqui

"Faço minhas quase todas, quase todas, as palavras dele (não gostei da mensagem de Páscoa de Passos Coelho: não voto em Massamá, não lhe dou o benefício da dúvida, acho o Relvas igual a José Sócrates e não sou hipócrita). E não é por oportunismo político ou por razões de família. Ainda há gente decente e que pensa por si. Sem baias." - Aqui

"Passos Coelho é o melhor exemplo da metamorfose do dirigente no processo de ascensão ao poder. Sócrates já é passado. Como aqui neste espaço escrevi, há apenas dois dias, a um coelho sucede uma lebre.
O que agora os portugueses podem perguntar a si próprios é o que esperar de um tipo como Passos Coelho, alguém que ainda não chegou ao poder e já actua desta forma. Dir-se-á que não é virgem e que até Cavaco Silva incorreu no mesmo erro da omissão de factos. Pois é verdade. Mas quem numa questão destas, quando ainda não detém o poder executivo do Estado e precisa de conquistar os votos dos eleitores, actua já desta forma tão ínvia, imaginem o que não estará disposto a fazer quando a sua clique, devidamente orquestrada pelos “Relvas”, os “Jardins”, os “Mendes” e os “Marcos”, se vir instalada em S. Bento, contando com a passividade do Presidente da República?
Quem está de parabéns é Marcelo Rebelo de Sousa. Em boa hora, com a sua notável argúcia, rejeitou prefaciar o livro encomiástico e autobiográfico de um homem que de invulgar só pode apresentar a confrangedora vulgaridade do seu percurso académico e profissional. E hoje a transparente mediocridade da sua actuação e pensamento político. O convite a Fernando Nobre para encabeçar a lista de deputados por Lisboa foi mais um sinal. De um cata-vento político que se deixou instrumentalizar da forma que todos viram depois de alguém o convencer que tinha talento para a política não se estranha tal atitude. De um líder que apregoa a sua seriedade como cartão-de-visita seria legítimo esperar outros métodos. Tão pouco tempo de liderança e aí está ele em todo o seu esplendor. Quarenta e oito horas bastaram. Não admira que haja quem com toda a bazófia se prepare já para “despachar” mais um líder do PSD. Em boa verdade, PPC depois do que não disse e tem andado a fazer que diz não merece outra coisa. O País dispensava a repetição da dose. Só que, infelizmente, será esse o cenário com que todos teremos cada vez mais que contar. Nós e o FMI/FEEF.
Enfim, como sublinhou um autor (Garcia Clancini, 1995), assistimos a uma curiosa reversão temporal. Ao mesmo tempo que vivemos uma revolução tecnológica acelerada e dirigida para o futuro, há uma regressão social que atira a actual noção de cidadania para os séculos XVIII e XIX. E isto é tão mais grave quanto a “geração à rasca” já se devia ter apercebido disso para não ser mais um instrumento dessa regressão cultivada pelos nossos dirigentes políticos. O Congresso do PS e as declarações de Passos Coelho bastam.
A actual “geração à rasca” ainda tem a casa dos pais para se abrigar. Os seus filhos e netos provavelmente não terão, porque a essa sucederá uma geração ainda mais à rasca, dominada pelas poses bonapartistas dos actuais dirigentes. Um bonapartismo só de pose. Não na essência. Porque se persistirmos nos actuais modelos de participação e liderança, acabaremos todos não por sermos como o corso, mas por sermos como eles: isto é, definitivamente sonsos, medíocres, mansos e sempre à rasca.
Oxalá que por essa altura eu já tenha sido poupado a um destino que tem tanto de medonho quanto de merdoso." - Aqui

quinta-feira, setembro 06, 2012

Horas de sorte

Ele não sabia o que era a Ongoing e pouco depois era administrador do ramo brasileiro dessa empresa. Agora regressa, depois de "uma experiência profissional espectacular num país onde não conhecia ninguém e que está bombando"(sic). Pelo que refere a Visão, regressa para ir exercer funções executivas na Santa Casa da Misericórdia do Porto. Esperemos que desta vez saiba de que entidade se trata.
Enquanto alguns saem do país para arranjar trabalho, e alguns desesperam por cá sem consegui-lo, há quem regresse para garantir o futuro. Sem esforço. Basta um misericordioso convite.
Para alguns ainda há horas de sorte. 

Os meus heróis têm nome

É a imagem viva da perseverança, do esforço, da coragem e de uma íncrivel capacidade de lutar contra e domar as adversidades da vida. Depois de uma promissora carreira na F1, do terrível acidente nos treinos do GP da Bélgica, em 1993, no circuito de SPA-Francorchamps, que lhe arrancou as duas pernas, depois dos dois títulos nos campeonatos CART e dos êxitos no WTCC, com o BMW da equipa de Roberto Ravaglia, após o seu regresso às pistas na sequência de um longo período de recuperação e habituação às próteses, eis a vitória mais difícil e mais merecida de toda a sua carreira: a medalha de ouro em ciclismo nos Jogos Paralímpicos de Londres 2012. Alessandro Zannardi habituou-nos a vê-lo correr, a vê-lo competir e a vencer mesmo quando não ficava em primeiro lugar, sempre com o mesmo sorriso, sempre com a mesma vontade e o mesmo fairplay. Um exemplo para todos nós. Porque se há homens maiores do que a vida ele é seguramente um deles. Grazie, Alessandro!

quarta-feira, setembro 05, 2012

Gostava de lá voltar (11)


Honolulu, Havai, EUA

Um desastre

O diagnóstico estava feito, eles sabiam tudo, tinham tudo preparado, a receita era infalível e até o prof. Catroga do alto da sua cátedra falava de "....elhos". Sabendo-se que as eleições foram em 5 de Junho, que o Governo tomou posse a 21 desse mês e que estes dados se reportam aos primeiros 6 meses de 2012, que medidas foram tomadas nos últimos seis meses de 2011 pelo Governo para evitar esta situação? O que correu mal? Por culpa de quem? É isto que é preciso saber para se poderem tirar as devidas ilações.

Pois é

Como bem demonstra o Rui Rocha, da cabeça de "minipolíticos" só podiam sair "mini-ideias".

José Gil


São homens com o seu perfil, o seu estilo, a sua lhaneza de carácter e dimensão intelectual, e com uma linguagem simples, acessível, frontal, que podem contribuir para nos ajudar a reencontrar um caminho e um sentido para as nossas acções. Tanto as colectivas como as individuais. Os portugueses precisam de alguém que os ajude a pensar fora das balizas da troika e das palas ideológicas. Ele fá-lo como poucos. A entrevista que José Gil ontem deu a Fátima Campos Ferreira deverá ser vista e revista vezes sem conta. Em especial pela nossa classe política. Está lá tudo. Um verdadeiro guião para a nossa sobrevivência e sanidade. 

Mais uma edição a caminho

Ano após ano, sem falhar, um festival e pêras. Mais informação aqui, num site que também nunca falha, dia após dia.

domingo, setembro 02, 2012

Teia rompida

A lista divulgada pela Casa das Aranhas tem muito que se lhe diga. Como em tudo nesta vida, há boas (nunca pensei lá encontrar tantos amigos) e há desagradáveis surpresas.
Independentemente da forma mais ou menos (talvez menos que mais) lícita como a obtiveram, e dos mortos e adormecidos que por lá andam, há coisas que incomodam. Algumas fidelidades que muito prejudicaram o País, a democracia e a justiça, tornam-se agora demasiado transparentes. O GOL devia promover a sua própria regeneração, como muitas outras respeitáveis instituições, purgando as excrescências que por lá andam e regressando à pureza dos princípios. A fidelidade a estes tem de ter correspondência na composição da elite que a organização pretende e no quotidiano de cada um, na vida privada e na pública. Sem dramas.

segunda-feira, agosto 27, 2012

Opinar para néscios

1 - Opinar assim não custa nada. Basta atirar meia-dúzia de atoardas ao ar que alguém publicará e um serventuário qualquer dar-lhe-á eco.

2 - Importa também por isso dar exemplos do que se afirma para que, se for esse o caso, aqueles possam ser rebatidos e discutidos com alguma elevação e mérito. Os bois deverão ser sempre identificados pelos nomes, e não apenas quando nos convém.

3 - Quem sempre se bateu contra o desperdício e a pouca vergonha do que se passava na RTP naturalmente que sempre se incomodou com o que "a coisa" custava e com a forma como os oportunistas do costume - os partidos do centrão, incluindo naturalmente o de Marques Mendes - sempre dela tiraram partido e a usaram para lá plantarem os seus comissários e apparatchiks.

4 - Desconheço em quê que se apoia Marques Mendes para afirmar que se a RTP passar a dar lucro o privado pagará uma renda maior. Saberá Marques Mendes alguma coisa que Miguel Relvas e António Borges só a ele tenham contado? 

5 - Afirma o senhor que a RTP não vai ser dada, que "vai ser concessionada". A avaliar pelos exemplos passados trata-se de mais um eufemismo. Bem sabemos que concessões e PPP's foram coisas em que o seu partido e alguns dos seus militantes também se especializaram, mas isso não nos obriga a continuarmos a engolir indefinidamente esse tipo de esquemas e de negociatas. Isso não é "serviço público", muito menos a sua defesa. É uma fraude. E como todas as fraudes deve ser denunciada.  

6 - Se o problema é de programação, como ele diz, então mude-se a programação, comece-se por se mudar o director de programas. Se houver coragem para tal, o que eu duvido de quem admite que o futuro concessionário possa despedir pessoal mas é incapaz de fazê-lo, assumindo os custos políticos e proveitos inerentes, antes de atribuir a concessão. Ou será que pelo facto do ministro das Finanças não conseguir cumprir as metas do défice impostas pela troika isso justificará que se feche a Autoridade Tributária e Aduaneira e se concessione a cobrança de impostos, por exemplo, ao "Cobrador de Fraque"? Penso, apesar de tudo, que Marques Mendes não se estaria a referir ao que se passou na pasta das Finanças quando Manuela Ferreira Leite foi a sua titular. 

7 - E ainda estou para saber em quê que se baseia Marques Mendes para afirmar que "em regra, o privado gere melhor que o Estado". Far-lhe-ei a justiça de não pensar que ele se estaria a referir ao BPN, ou à Independente, ou à Moderna, ou à TVI que Cavaco Silva ofereceu à Igreja e que acabou a passar filmes semi-pornográficos, ou a alguns hospitais geridos em PPP, onde  se dá alta aos doentes mesmo que eles tenham de entrar na hora seguinte por causa das estatísticas ou das compensações que o Estado lhes irá pagar em razão do número, ou a companhias aéreas que acabaram em processos de insolvência, casos que são tudo menos exemplos de uma má gestão pública. Dos exemplos de que de repente me lembrei deixo de fora a Lusófona, porque esta entidade, pelo menos, mostrou como pode ser compatível, no sector privado, a excelência de ensino com uma expedita e rentável política de atribuição de diplomas universitários a pessoas com experiência na presidência de assembleias-gerais de grupos folclóricos (privados, é claro).

8 - Em todo o caso, gostaria que Marques Mendes desse exemplos daquilo que afirma, em especial de situações em que a gestão privada, sem o favor do Estado nem o patrocínio político do situacionismo militante, nas mesmas condições da gestão pública, isto é, com as mesmas regras e constrangimentos, apresente melhores resultados. Sei do que falo porque tenho visto muitos "gestores privados de excelência" acabarem como administradores liquidatários. Se vier ao Algarve por estes dias posso dar-lhe exemplos de alguns que depois da borrada feita nas empresas, quando muda o Governo, acabam de novo nomeados para entes públicos.

9 - Se o argumento económico não colhe, tanto mais que nos últimos dois anos a empresa RTP deu lucros e se presume que vá continuar a dar, que poderá motivar em Marques Mendes tão entusiasmada defesa da "concessão" da RTP?

10 - Quanto ao mais, designadamente que moralizar deve ser a regra e não a excepção, estamos de acordo. Não se pode é ficar pelas meias-tintas porque isso é mais típico dos cambalachos público-privados. E destes estamos todos - contribuintes - fartos.

Leituras

"Ter um inimigo é importante, não apenas para definir a nossa identidade, mas também para arranjarmos um obstáculo em relação ao qual seja medido o nosso sistema de valores, e para mostrar, no afrontá-lo, o nosso valor. Portanto, quando o inimigo não existe, há que construí-lo."
 
"Para fazer ruído não é necessário inventar notícias. Basta difundir uma notícia verdadeira, mas irrelevante, que, todavia, cria uma sombra de suspeita, pelo simples facto de que é dada. 
 
(...) O ruído não tem sequer necessidade de transmitir mensagens interessantes, até porque uma mensagem se sobrepõe a outra, e todas, precisamente, fazem ruído.
 
(...) um bom ideal para o universo da política de amanhã e da televisão seria ainda Santo Agostinho.
 
É apenas no silêncio que funciona o único e verdadeiramente poderoso meio de informação que é o murmúrio. Cada povo, mesmo que oprimido pelo mais censurador dos tiranos, sempre conseguiu saber tudo aquilo que acontece no mundo através do murmúrio.
 
(...) Eis que, portanto, em em conclusão, direi que um dos problemas éticos que se põe é como voltar ao silêncio. E um dos problemas semióticos que poderemos enfrentar é estudar melhor a função do silêncio nos vários modos de comunicação. Abordar uma semiótica do silêncio: pode ser uma semiótica da reticência, uma semiótica do silêncio no teatro, uma semiótica do silêncio em política, uma semiótica do silêncio no discurso político, isto é, a longa pausa, o silêncio como criação de suspense, o silêncio como ameaça, o silêncio como consenso, o silêncio como negação, o silêncio na música.
 
E, portanto, italianos, eu não vos convido às histórias, mas convido-vos ao silêncio." 

sexta-feira, agosto 24, 2012

Um museu único

 

Só para apaixonados

Gostava de lá voltar (5)


Moorea, Taiti, Polinésia francesa

Lido e comentado

"- 5622 milhões de euros é o saldo negativo das contas do Estado até Julho [desvio colossal]

50.6% é o grau de execução da receita fiscal nos primeiros sete meses do ano [o melhor aluno não passa de um suficiente menos]

- 3,5% é a queda na receita fiscal verificada nos primeiros sete meses do ano [pior era impossível]

- 1,1% é a queda da receita do IVA até Julho face a igual período do ano passado [o aumento do IVA não gerou mais receita]

- 45% é a descida da receita com o imposto sobre veículos até Julho face a Julho de 2011 [deixámos de viver acima das nossas possibilidades?]

348% é a subida da receita de outros impostos que inclui o perdão fiscal aos offshores [tirando o indecoroso perdão fiscal às offshores e aos trapaceiros que transferiram ilegalmente dinheiro do país não pagando os devidos impostos quanto é que fica?] 

740 milhões de euros: poupança com as remunerações da função pública até Julho [isto eram que são as gorduras do Estado?]

247,8 milhões de euros: quebra na receita da CGA fruto dos cortes dos subsídios de férias" [devem ter feito as contas antes, não?]

"Sem corte nos subsídios despesa estaria a subir

O prometido ataque à despesa pública continua a ser feito à conta dos salários dos funcionários públicos. Entre Janeiro e Julho deste ano, a despesa efectiva do Estado caiu 1,7% face ao mesmo período de 2011, o que significa que o governo PSD/CDS conseguiu até ao momento uma poupança nos gastos da administração central e Segurança Social de 682 milhões de euros.
Contudo, e só ao nível das remunerações dos funcionários públicos, o governo poupou no mesmo período 740 milhões de euros, valor que sobe para perto de mil milhões se considerarmos todas as despesas com pessoal, já que o Estado gastou até Julho menos 17,3% em abonos variáveis e menos 14,7% as contribuições para a segurança social dos seus trabalhadores (...). "As despesas com pessoal apresentam uma redução de 16%, reflectindo a suspensão dos subsídios de férias e a redução do número de funcionários", aponta a Direcção-Geral do orçamento (DGO) na execução orçamental ontem divulgada." 
 
"(...) a derrapagem orçamental é de tal ordem que até Julho já atingimos praticamente o défice do ano todo. O que falhou? Simplesmente a receita dos impostos. Vítor Gaspar não quis ouvir conselhos e agora vem aí mais austeridade ou uma milagrosa amnistia troikiana."
 
Fonte: Jornal I 

Mais uma salganhada da dupla maravilha

Não sei se os votos que António Borges obteve nas últimas eleições legislativas lhe dão alguma legitimidade, e em especial autoridade, para dar uma entrevista como a que ontem deu a Judite de Sousa na TVI.
Também não sei se os € 225.000,00 que aparentemente aufere, de acordo com uma notícia que fez manchete no Correio de Manhã, lhe permitem sobrepor-se ao ministro que tutela a RTP e anunciar os contornos dos processos de privatização das mais importantes empresas públicas. Como se fosse um responsável político.
E menos ainda sei se foi mandatado pelo primeiro-ministro para se pronunciar nos termos em que o fez.
Mas o que eu já sei, e todos os que ouviram a entrevista perceberam, é que o ministro da tutela desapareceu dos jornais e das televisões, evaporou-se, levou sumiço. E agora temos António Borges, a sumidade que enquanto director do FMI dizia que a crise económica estava contida, a anunciar a privatização do serviço público de rádio e de televisão.
Calculo que alguém aparecerá hoje a dizer que ainda nada está decidido, que tudo o que Borges disse não passou de um conjunto de opiniões pessoais, posição que recorrentemente tem vindo a ser assumida pelo Governo de cada vez que é apanhado em falso ou em flagrante delito.
A argumentação de António Borges sobre as virtualidades do modelo que defende é de tal forma indigente, politicamente canhestra e economicamente inviável, numa perspectiva de interesse público, que a expressão de espanto e incredulidade no olhar de Judite de Sousa enquanto o ouvia não precisava de complemento.
O atrevimento, que cada vez mais se parece com uma cruzada petulante e insolente, começa a ser de tal ordem que Borges já se permite dizer, à falta de uma estratégia sensata para o audiovisual e de quem dê politicamente a cara pelas asneiras, que o Estado fará uma concessão total do serviço público de televisão e rádio a um operador privado por um período entre 15 e 25 anos, mantendo a propriedade pública da empresa e sem dizer como será responsabilizado o concessionário se ao fim de meia dúzia de anos ou no final do período não tiver cumprido com o caderno de encargos. Quem ficará com os prejuízos?
Para além da imoralidade que é, e absoluta falta de sensibilidade que revela, de colocar sobre os privados com os quais se prepara para fazer mais uma negociata, a responsabilidade pelos despedimentos que o Governo quer fazer mas não tem a coragem de assumir, fiquei com a ideia de que a "privatização" ou "concessão" que se quer fazer será um negócio parecido com o da Lusoponte ou das PPP em que no final quem ficará a perder serão sempre os contribuintes. A bem dizer aqueles que irão entregar ao concessionário privado a contribuição dos cidadãos para o audiovisual, ou seja, a bagatela de 140 milhões de euros anuais durante o tempo que durar a "concessão".
É claro que António Borges embora receba centenas de milhares de euros para dar entrevistas e seja um consultor com estatuto de ministro, não passa de alguém irresponsável politicamente e cujas declarações serão rapidamente desvalorizadas pelos responsáveis políticos pela sua nomeação. Como convém.
Mas o que fica na opinião pública, e aquilo que é deveras patente, é que o problema de quem manda está muito para além da inexperiência, da convicção ignorante ou da incompetência, para entrar em grande velocidade no refinado campo da maldade em política. 
Estiveram por isso bem os que estando ao lado da maioria parlamentar que garante o emprego do senhor Borges - como o deputado João Almeida do CDS/PP - ou na oposição, sem tibieza, criticaram a veleidade do fulano e exigiram esclarecimentos ao evaporado ministro Relvas.
Os portugueses que votaram em 5 de Junho pensavam estar a escolher o Governo de Portugal e o um destino melhor. Enganaram-se redondamente.
Quem venceu as eleições legislativas de 2011 não foi o PSD. O vencedor foi uma agência de satisfação de clientelas políticas e de amigos de ocasião orientada por amanuenses que consideram que a melhor maneira de salvar o país é salvarem-se a si próprios, garantindo o seu destino a custo zero, sem nenhuma vergonha, com lata q.b. e o incontornável amparo da teta dos contribuintes para o que der e vier.

quinta-feira, agosto 23, 2012

É obra!

Uma notícia destas se conhecida no tempo dos anteriores primeiro-ministro e ministro das Finanças daria lugar às mais profundas, e até maldosas, críticas. Como agora a ignorância e incompetência passaram a estar mascaradas por diplomas "universitários" tardiamente obtidos e "carreiras" políticas e empresariais de segundo nível, feitas à sombra das juventudes partidárias e dos amigalhaços de ocasião, o mínimo que se poderá dizer é que uma derrapagem de três mil milhões de euros na arrecadação de receita fiscal, em apenas sete meses, deve dar lugar à atribuição a Vítor Gaspar, e a todo o elenco governativo, de uma comenda. Das boas. Talvez como aquela que o secretário de Estado das Comunidades atribuiu a um senhor que "doava" cadeiras de rodas suecas cobrando apenas o "transporte" e o "imposto de selo".

Um labrego com o "Raid - Casa e Plantas" não conseguiria ser tão destruidor. E falavam eles dos outros...

quarta-feira, agosto 22, 2012

A ler

"In asserting that women have the superpower to repel rape sperm, Akin ratcheted up the old chauvinist argument that gals who wear miniskirts and high-heels are “asking” for rape; now women who don’t have the presence of mind to conjure up a tubal spasm, a drone hormone, a magic spermicidal secretion or mere willpower to block conception during rape are “asking” for a baby." - Maureen Dowd, Just think no, in The New York Times 

Ninguém impõe a lei na selva

Os casos sucedem-se. Seja por causa do preço da electricidade ou da água, do acesso à Internet, do valor das tarifas telefónicas, do serviço de correios, do gangsterismo fiscal que antecipa prazos de pagamento do IRS e procede a reavalições de secretaria dos imóveis que implicam aumentos de IMI de 400%, do preço dos combustíveis ou da nova saga do Pingo Doce e dos cartões Multibanco, a única certeza é que somos cada vez mais um povo de enganados. De infelizes trastes que rezam. Com excepção de uns tipos que se plantam à porta das casas de férias das nossas luminárias, ninguém se manifesta, ninguém se antecipa, todos esperam pacientemente o fim da crise ou os fardos de palha que lhes darão lá mais para o Inverno. Talvez, quem sabe, a chegada de D. Sebastião. Do genuíno. Este caso mais recente com o Multibanco revela, aliás, a fibra de que somos feitos. Todos pagam para ter o cartão, os estabelecimentos pagam para ter o serviço, quem emite fixa o valor das taxas e limita-se a cobrar uma comissão aos palermas. No dia em que alguém de boa fé queira fazer alguma coisa por este país não conseguirá fazê-lo com esta gente. Vão ter de mudar o povo primeiro. E com ele os banqueiros, os empresários e a elite política. Os únicos que se lixam somos nós. Um país habitado por cornos mansos e governado por chicos-espertos não pode ser uma república. É um estábulo.   

Gostava de lá voltar (4)


Mount Cook, Nova Zelândia

"Una soberbia vaselina sobre el portero"


"¡Qué calidad ha demostrado el delantero del Depor!" - Marca

Ele teria feito toda a diferença no último campeonato europeu de futebol na Polónia e na Ucrânia, mas houve quem assim não entendesse. Penso que depois da exibição e golo contra o Panamá, no meio de quatro defesas, e desta estreia pelo Deportivo, que mereceu honras do exigente Marca, até o meu amigo Pedro Correia se terá rendido à sua categoria. Jorge Jesus deve estar arrependido de não lhe ter dado mais minutos a época passada, pois está na cara por que razão ele é muito melhor que Hugo e deixa o Hélder a anos-luz. Só Paulo Bento teve dificuldade em ver isso. Se há neste momento algum ponta-de-lança português que faça jus ao lugar é o Nélson Oliveira: velocidade, classe e uma técnica irrepreensível. Um puro sangue. Vão continuar a ouvir falar dele.

segunda-feira, agosto 20, 2012

Honestidade acima de tudo

"Subitamente, eu, o editor feliz, o escritor sem preocupações, cometi este erro de aceitar um cargo político." - Francisco José Viegas

Antes que seja tarde e resolvam condecorá-lo, o melhor talvez fosse corrigi-lo. Em política, erros destes são como as nódoas na gravata ou na camisa branca de um pêssego carnudo e sumarento. Sabe bem enquanto se come, depois só fica a marca. E com ela o vazio.  

Constatação

Este ano ainda tivemos alguns números fora do catálogo como a homilia do pregador Louçã, mas cada ano que passa a silly season é mais comprida, mais chata e sempre com os mesmos figurões.
Não se poderá exterminá-la?

Gostava de lá voltar (3)


Byron Bay, Austrália

sexta-feira, agosto 17, 2012

25 anos depois

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.
"
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, agosto 16, 2012

Gostava de lá voltar (1)

Palau, Micronésia

De preferência ficando de novo aqui.

A ler

Graças a um simpático e oportuno convite do meu amigo JMB, tive o grato prazer de assistir à sua apresentação pública e ouvir as elogiosas palavras que foram dirigidas ao livro e à sua autora, Ana Sofia Barros. Não teria sido necessário o prof. Gomes Canotilho fazê-lo, já que a simples leitura da obra confirma o excelente trabalho de investigação realizado. Mas mais do que a excelência da investigação e o mérito académico, que outros melhor do que eu poderão avaliar, aquilo que aqui me importa sublinhar é o carácter inovador e a importância do tema escolhido, cuja actualidade é óbvia. A dimensão ambiental dos direitos humanos e a problemática dos riscos inerentes à deslocalização das indústrias perigosas, tendo como fundo inspirador a tragédia de Bhopal (Índia), ocorrida em 3 de Dezembro de 1994, numa filial da Union Carbide, motivaram a autora para desenvolver e aprofundar um tema que a todos devia preocupar. Ainda bem que a Ana Sofia Barros o fez, dessa forma contribuindo quer para o avanço do Direito, quer para a generalização de um alerta fundamental para o aprofundamento de uma cidadania empenhada e global. É o que aqui deixo registado, embora com algum atraso em relação ao momento em que o evento ocorreu.  

sexta-feira, julho 27, 2012

Um esclarecimento tardio

Quem nos conhece sabe que politicamente estamos distantes um do outro, embora nas questões essenciais que dizem respeito à cidadania, à participação e à forma de estar na vida estejamos bem mais próximos do que as pessoas podem pensar. Não posso, por isso mesmo, deixar de assinalar neste espaço o esclarecimento que foi prestado por Vieira da Silva sobre as acusações, injustas e quanto a mim infundadas, que recorrentemente Paulo Morais fez ao deputado Adolfo Mesquita Nunes. Saber que foi o próprio presidente da Comissão Eventual, pessoa cuja probidade e seriedade é por todos reconhecida, a dizer que não existe qualquer risco de conflito de interesses entre os deputados que a integram e as privatizações, é particularmente reconfortante, embora eu nunca tivesse duvidado desde o princípio da falta de sentido das imputações quanto ao que pelo menos ao AMN dizia respeito. Espero agora que Paulo Morais possa fazer o seu mea culpa. Todos nos enganamos, nem que seja por uma vez, nos julgamentos que fazemos dos outros. Mas a grandeza está em saber reconhecer o erro perante as evidências. Oxalá que Paulo Morais consiga fazê-lo. Só lhe ficaria bem. E todos teríamos a ganhar porque o país precisa de ambos, cada um nas suas funções e sem ressentimentos.

segunda-feira, julho 23, 2012

Ontem, em Cascais, foi assim, durante mais de 2 h e 1/4


"La vida es una tombola... 
de noche y de dia ...
la vida es una tombola
y arriba y arriba"

Gracias a la vida, gracias a Manu Chao.

sexta-feira, julho 20, 2012

A ler

O “caso Relvas” começa a morrer. Na Internet ainda aprecem comentários (sem uma especial irritação) e os jornais continuam a dizer que ele se tornou “insustentável”. Mas, de facto, o furor abranda e ele já é praticamente um “não-assunto”, como Passos Coelho previu e, de resto, a miséria do nosso ensino “superior”, público e privado, no fundo justifica. Tirando um incidente num obscuro canto da província, o ministro “Álvaro”, que não poria o pé em nenhum Governo normal, passeia como de costume por aí perante a completa indiferença indígena. Mesmo questões graves como a decisão do Tribunal Constitucional, rumores de uma divergência séria entre o PSD e o CDS e o manifesto fracasso do programa de “reformas” não comovem ninguém. Houve uma mudança de maré na política portuguesa.
Não seria de esperar outra coisa. O país sofre (e sofreu) o “memorando” e a tutela da troika como um castigo do Céu, imerecido e incompreensível. Muito pouca gente percebe o significado do défice e da dívida ou as discussões labirínticas com que um bando de peritos, subitamente saídos de um cano, deu em se entreter na televisão ou em artigos maciços que a boa imprensa publica em letra miudinha. O próprio Governo, fora o optimismo oficial (que evidentemente não há quem leve a sério), não explica nada e, sobretudo, não informa a pequena parte do público em princípio capaz de o compreender. O cidadão comum desistiu de se interessar pelo que se passa nas regiões do poder. Aguenta o desastre como quem aguenta uma seca ou uma tempestade, sem uma palavra: e sabendo que as palavras são inúteis.
A esquerda, depois de um período vociferante e ameaçador, caiu numa apatia geral. O dr. Mário Soares com uma energia admirável conseguiu transitoriamente espicaçar o PS e convencer as tropas que a eleição de Hollande e, a seguir, de Obama iriam meter na ordem a sra. Merkel e salvar o mundo, Hollande só precisou de uns meses para mostrar a sua vacuidade e a sua fraqueza. Obama, se for eleito, precisará de menos. Do que sobra: o PC persiste em viver em 1930 e o Bloco arranjou agora uma nova causa, a legalização de “clubes” para cultivo de cannabis e autoconsumo (uma maneira original de aliviar as dores do país). Pedro Passos Coelho ignora esta oposição em derrocada. E Portugal, apavorado, desliza para uma espécie de coma colectivo, de que lhe será difícil sair tão cedo.” – Vasco Pulido Valente, Público, 20/07/2012  

Lido

Relvas passa por ser um dos políticos que neste governo têm de lidar com as facções quando ele próprio é associado a uma ou a várias. Não admira que seja um político simultaneamente de grande poder e vulnerabilidade. A sua ascensão e queda prova que quem conhece e manipula o poder partidário pode nunca ter apreendido bem o fenómeno do poder.” – Pedro Lomba, Público, 19/07/2012

Quando um país precisa de se desenvolver, um primeiro-ministro não pode promover e proteger ao mais alto nível pessoas que na sua vida demonstraram o contrário desses valores. Ao fazê-lo, esse primeiro-ministro incorre num dos mais graves comportamentos que um governante pode ter: coloca os seus interesses pessoais (as suas amizades, por exemplo) acima do interesse público.” – João Nogueira dos Santos e Carlos Macedo e Cunha, Público, 19/07/2012

A Universidade Moderna ou a Independente estão, para o ensino superior, como o BPN e o BPP estão para a banca” – Manuel Loff, Público, 19/07/2012     

segunda-feira, julho 16, 2012

Um prodígio na esteira do chefe

Ouvi e li este fim-de-semana as declarações de um jovem deputado da nação, actualmente presidente da JSD, que saiu em defesa do "canudo" de Miguel Relvas, apontando as críticas relativamente à obtenção da licenciatura não a quem recorreu a esse expediente "insólito" para obter a certificação do conhecimento que não tinha, mas ao ex-ministro Mariano Gago. Confesso que ainda não me tinha ocorrido essa, mas não deixa de ser brilhante.
Sugiro, aliás, ao primeiro-ministro que promova o jovem deputado a ministro, pois que a inteligência do argumento poderá libertá-lo, também ao ministro Gaspar, de uma série de preocupações. Com efeito, a aplicação de igual argumento levar-nos-ia a considerar que a culpa da austeridade que hoje vivemos também não é nossa, nem deste Governo nem dos anteriores, mas dos "palermas" da troika que nos disponibilizaram fundos para honrarmos os nossos compromissos. Claro que se aqueles não tivessem mostrado abertura para nos financiarmos também nunca teríamos recorridos a tais créditos, mais, nunca teríamos assinado o Memorando e Portugal continuaria alegre e serenamente a caminhar para o fundo elegendo mais um punhado de Duartes para brilharem nas bancadas de S. Bento e aos microfones da TSF.
Depois de ouvir essas declarações, imaginei que o dito deputado tivesse um currículo imaculado e tratei de aprofundar. E de facto assim é.
O que está disponível na página da Assembleia da República permite-nos saber que para além de uma licenciatura em Relações Internacionais, o deputado tem "frequência" de um mestrado, o que, como se sabe, pode querer dizer que se inscreveu num curso onde nunca pôs os pés ou estar inscrito e não fazer nenhuma cadeira, ou, ainda, numa hipótese mais benigna, fazer uma cadeira com 10 valores, o que seria suficiente para, como fez o ministro Relvas, depois dizer que frequenta o 2º ano desse mesmo curso.
Profissionalmente o jovem deputado assume-se como consultor, embora não se saiba bem de quê ou em quê, visto que em matéria de interesses só lá aparece uma "ONG" para o desenvolvimento sem fins lucrativos. Presumo que seja esta entidade que lhe permita pôr no currículo "consultor", apesar de na minha modesta opinião fizesse mais sentido lá colocar "político" ou "consultor político".
De facto, vê-se que o rapaz tem singrado "profissionalmente" como político e já é senhor de um currículo que certamente lhe valerá uma equivalência a um diploma de mestrado na Universidade Lusófona, tão depressa ele o requeira. Ou de doutoramento.
Nem tudo consta da sua biografia oficial, é verdade, mas ter sido chefe de gabinete do grupo parlamentar do PSD no Parlamento Europeu durante cinco anos, cargo a que naturalmente ascendeu por concurso e em função da sua experiência profissional e mérito anteriores como  coordenador "do Programa de Voluntariado Jovem nas Florestas, organizado pelo Instituto Português da Juventude em cooperação com a Federação dos Produtores Florestais de Portugal", "Assessor do Ministro de Estado, da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, Dr. Nuno Morais Sarmento, durante o XVI Governo Constitucional",  "Assessor do Ministro da Presidência, Dr. Nuno Morais Sarmento durante o XV Governo Constitucional", sem esquecer os cargos que coleccionou na JSD, talvez seja mesmo equiparável a um doutoramento. Não me peçam é para dizer em quê, tantas poderão ser as áreas. Em todo o caso, isso não passará de um pormenor absolutamente irrelevante num currículo de excelência.
Com este invejável lastro, o deputado Duarte Marques só podia estar na linha da frente da defesa da licenciatura do ministro Relvas. Para isso é que foi incluído na lista por Santarém.
O deputado Duarte Marques será a melhor garantia que os portugueses podem ter de que quando o ministro Relvas se reformar para se dedicar, sei lá, ao folclore, a tempo inteiro evidentemente, deixará na política um continuador à altura dos seus pergaminhos. E não apenas pela inteligência.
Convém é que não volte a dizer nas entrevistas que concede que "temos uma classe dirigente que anda a gozar connosco". É que se isso acontecer ainda aparece por aí alguém que o leve a sério, o que não deixaria de ser um contratempo. O ministro Relvas poderia não gostar e o caldo entornaria.
Seria uma pena e uma perda inqualificável para o País que por causa de uma frase anódina o ministro o recambiasse para a origem. É que enquanto o deputado Duarte Marques estiver em S. Bento sempre teremos a garantia de que não será autarca. E poderemos continuar a ouvi-lo, sem perigo de maior, na TSF.

Adenda: É evidente que nada do que José Pacheco Pereira aqui escreve se aplica ao deputado Duarte Marques. Este é de outra cepa, nada de confusões.