segunda-feira, setembro 10, 2012

Isto não foi escrito ontem

"Se este é o caminho que Passos Coelho e os seus brilhantes estrategas têm a apontar ao país, se é pelo caminho da mais obscena frivolidade que o líder do PSD pretende formar um governo de maioria sólido e coeso que devolva a dignidade aos portugueses, então o melhor talvez seja mesmo arranjar umas armas, pedir desculpa àqueles senhores que hoje discursaram, e fazer um novo 25 de Abril.
 
Está na hora de se fazer uma nova revolução. Penso que foi isto que Cavaco Silva também quis dizer no discurso da sua tomada de posse, que hoje foi reafirmado por quatro homens sérios e bem-intencionados e cujo verdadeiro alcance só nesta altura consegui compreender depois de ler o que li.
 
Meus amigos: um sobressalto cívico seria "defenestrar" quem depois de se entreter a cozinhar reportagens destas ainda tem o desplante de se apresentar a votos e aspira ser primeiro-ministro e ministro de Portugal. Se não o fizermos acabaremos todos por ser tratados como cães. E a votar nas cadelas. E nos seus filhos. Já faltou mais." - Aqui
 
"Sermos no futuro governados por gente bem-intencionada com quem se pode falar será a melhor prova do nosso falhanço. Um falhanço maior do que a liberdade que gozamos. Um regresso à prisão, mas desta vez à dos bem-intencionados com quem se pode falar." - Aqui

"Faço minhas quase todas, quase todas, as palavras dele (não gostei da mensagem de Páscoa de Passos Coelho: não voto em Massamá, não lhe dou o benefício da dúvida, acho o Relvas igual a José Sócrates e não sou hipócrita). E não é por oportunismo político ou por razões de família. Ainda há gente decente e que pensa por si. Sem baias." - Aqui

"Passos Coelho é o melhor exemplo da metamorfose do dirigente no processo de ascensão ao poder. Sócrates já é passado. Como aqui neste espaço escrevi, há apenas dois dias, a um coelho sucede uma lebre.
O que agora os portugueses podem perguntar a si próprios é o que esperar de um tipo como Passos Coelho, alguém que ainda não chegou ao poder e já actua desta forma. Dir-se-á que não é virgem e que até Cavaco Silva incorreu no mesmo erro da omissão de factos. Pois é verdade. Mas quem numa questão destas, quando ainda não detém o poder executivo do Estado e precisa de conquistar os votos dos eleitores, actua já desta forma tão ínvia, imaginem o que não estará disposto a fazer quando a sua clique, devidamente orquestrada pelos “Relvas”, os “Jardins”, os “Mendes” e os “Marcos”, se vir instalada em S. Bento, contando com a passividade do Presidente da República?
Quem está de parabéns é Marcelo Rebelo de Sousa. Em boa hora, com a sua notável argúcia, rejeitou prefaciar o livro encomiástico e autobiográfico de um homem que de invulgar só pode apresentar a confrangedora vulgaridade do seu percurso académico e profissional. E hoje a transparente mediocridade da sua actuação e pensamento político. O convite a Fernando Nobre para encabeçar a lista de deputados por Lisboa foi mais um sinal. De um cata-vento político que se deixou instrumentalizar da forma que todos viram depois de alguém o convencer que tinha talento para a política não se estranha tal atitude. De um líder que apregoa a sua seriedade como cartão-de-visita seria legítimo esperar outros métodos. Tão pouco tempo de liderança e aí está ele em todo o seu esplendor. Quarenta e oito horas bastaram. Não admira que haja quem com toda a bazófia se prepare já para “despachar” mais um líder do PSD. Em boa verdade, PPC depois do que não disse e tem andado a fazer que diz não merece outra coisa. O País dispensava a repetição da dose. Só que, infelizmente, será esse o cenário com que todos teremos cada vez mais que contar. Nós e o FMI/FEEF.
Enfim, como sublinhou um autor (Garcia Clancini, 1995), assistimos a uma curiosa reversão temporal. Ao mesmo tempo que vivemos uma revolução tecnológica acelerada e dirigida para o futuro, há uma regressão social que atira a actual noção de cidadania para os séculos XVIII e XIX. E isto é tão mais grave quanto a “geração à rasca” já se devia ter apercebido disso para não ser mais um instrumento dessa regressão cultivada pelos nossos dirigentes políticos. O Congresso do PS e as declarações de Passos Coelho bastam.
A actual “geração à rasca” ainda tem a casa dos pais para se abrigar. Os seus filhos e netos provavelmente não terão, porque a essa sucederá uma geração ainda mais à rasca, dominada pelas poses bonapartistas dos actuais dirigentes. Um bonapartismo só de pose. Não na essência. Porque se persistirmos nos actuais modelos de participação e liderança, acabaremos todos não por sermos como o corso, mas por sermos como eles: isto é, definitivamente sonsos, medíocres, mansos e sempre à rasca.
Oxalá que por essa altura eu já tenha sido poupado a um destino que tem tanto de medonho quanto de merdoso." - Aqui

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