segunda-feira, agosto 27, 2012

Opinar para néscios

1 - Opinar assim não custa nada. Basta atirar meia-dúzia de atoardas ao ar que alguém publicará e um serventuário qualquer dar-lhe-á eco.

2 - Importa também por isso dar exemplos do que se afirma para que, se for esse o caso, aqueles possam ser rebatidos e discutidos com alguma elevação e mérito. Os bois deverão ser sempre identificados pelos nomes, e não apenas quando nos convém.

3 - Quem sempre se bateu contra o desperdício e a pouca vergonha do que se passava na RTP naturalmente que sempre se incomodou com o que "a coisa" custava e com a forma como os oportunistas do costume - os partidos do centrão, incluindo naturalmente o de Marques Mendes - sempre dela tiraram partido e a usaram para lá plantarem os seus comissários e apparatchiks.

4 - Desconheço em quê que se apoia Marques Mendes para afirmar que se a RTP passar a dar lucro o privado pagará uma renda maior. Saberá Marques Mendes alguma coisa que Miguel Relvas e António Borges só a ele tenham contado? 

5 - Afirma o senhor que a RTP não vai ser dada, que "vai ser concessionada". A avaliar pelos exemplos passados trata-se de mais um eufemismo. Bem sabemos que concessões e PPP's foram coisas em que o seu partido e alguns dos seus militantes também se especializaram, mas isso não nos obriga a continuarmos a engolir indefinidamente esse tipo de esquemas e de negociatas. Isso não é "serviço público", muito menos a sua defesa. É uma fraude. E como todas as fraudes deve ser denunciada.  

6 - Se o problema é de programação, como ele diz, então mude-se a programação, comece-se por se mudar o director de programas. Se houver coragem para tal, o que eu duvido de quem admite que o futuro concessionário possa despedir pessoal mas é incapaz de fazê-lo, assumindo os custos políticos e proveitos inerentes, antes de atribuir a concessão. Ou será que pelo facto do ministro das Finanças não conseguir cumprir as metas do défice impostas pela troika isso justificará que se feche a Autoridade Tributária e Aduaneira e se concessione a cobrança de impostos, por exemplo, ao "Cobrador de Fraque"? Penso, apesar de tudo, que Marques Mendes não se estaria a referir ao que se passou na pasta das Finanças quando Manuela Ferreira Leite foi a sua titular. 

7 - E ainda estou para saber em quê que se baseia Marques Mendes para afirmar que "em regra, o privado gere melhor que o Estado". Far-lhe-ei a justiça de não pensar que ele se estaria a referir ao BPN, ou à Independente, ou à Moderna, ou à TVI que Cavaco Silva ofereceu à Igreja e que acabou a passar filmes semi-pornográficos, ou a alguns hospitais geridos em PPP, onde  se dá alta aos doentes mesmo que eles tenham de entrar na hora seguinte por causa das estatísticas ou das compensações que o Estado lhes irá pagar em razão do número, ou a companhias aéreas que acabaram em processos de insolvência, casos que são tudo menos exemplos de uma má gestão pública. Dos exemplos de que de repente me lembrei deixo de fora a Lusófona, porque esta entidade, pelo menos, mostrou como pode ser compatível, no sector privado, a excelência de ensino com uma expedita e rentável política de atribuição de diplomas universitários a pessoas com experiência na presidência de assembleias-gerais de grupos folclóricos (privados, é claro).

8 - Em todo o caso, gostaria que Marques Mendes desse exemplos daquilo que afirma, em especial de situações em que a gestão privada, sem o favor do Estado nem o patrocínio político do situacionismo militante, nas mesmas condições da gestão pública, isto é, com as mesmas regras e constrangimentos, apresente melhores resultados. Sei do que falo porque tenho visto muitos "gestores privados de excelência" acabarem como administradores liquidatários. Se vier ao Algarve por estes dias posso dar-lhe exemplos de alguns que depois da borrada feita nas empresas, quando muda o Governo, acabam de novo nomeados para entes públicos.

9 - Se o argumento económico não colhe, tanto mais que nos últimos dois anos a empresa RTP deu lucros e se presume que vá continuar a dar, que poderá motivar em Marques Mendes tão entusiasmada defesa da "concessão" da RTP?

10 - Quanto ao mais, designadamente que moralizar deve ser a regra e não a excepção, estamos de acordo. Não se pode é ficar pelas meias-tintas porque isso é mais típico dos cambalachos público-privados. E destes estamos todos - contribuintes - fartos.

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