sexta-feira, julho 20, 2012

A ler

O “caso Relvas” começa a morrer. Na Internet ainda aprecem comentários (sem uma especial irritação) e os jornais continuam a dizer que ele se tornou “insustentável”. Mas, de facto, o furor abranda e ele já é praticamente um “não-assunto”, como Passos Coelho previu e, de resto, a miséria do nosso ensino “superior”, público e privado, no fundo justifica. Tirando um incidente num obscuro canto da província, o ministro “Álvaro”, que não poria o pé em nenhum Governo normal, passeia como de costume por aí perante a completa indiferença indígena. Mesmo questões graves como a decisão do Tribunal Constitucional, rumores de uma divergência séria entre o PSD e o CDS e o manifesto fracasso do programa de “reformas” não comovem ninguém. Houve uma mudança de maré na política portuguesa.
Não seria de esperar outra coisa. O país sofre (e sofreu) o “memorando” e a tutela da troika como um castigo do Céu, imerecido e incompreensível. Muito pouca gente percebe o significado do défice e da dívida ou as discussões labirínticas com que um bando de peritos, subitamente saídos de um cano, deu em se entreter na televisão ou em artigos maciços que a boa imprensa publica em letra miudinha. O próprio Governo, fora o optimismo oficial (que evidentemente não há quem leve a sério), não explica nada e, sobretudo, não informa a pequena parte do público em princípio capaz de o compreender. O cidadão comum desistiu de se interessar pelo que se passa nas regiões do poder. Aguenta o desastre como quem aguenta uma seca ou uma tempestade, sem uma palavra: e sabendo que as palavras são inúteis.
A esquerda, depois de um período vociferante e ameaçador, caiu numa apatia geral. O dr. Mário Soares com uma energia admirável conseguiu transitoriamente espicaçar o PS e convencer as tropas que a eleição de Hollande e, a seguir, de Obama iriam meter na ordem a sra. Merkel e salvar o mundo, Hollande só precisou de uns meses para mostrar a sua vacuidade e a sua fraqueza. Obama, se for eleito, precisará de menos. Do que sobra: o PC persiste em viver em 1930 e o Bloco arranjou agora uma nova causa, a legalização de “clubes” para cultivo de cannabis e autoconsumo (uma maneira original de aliviar as dores do país). Pedro Passos Coelho ignora esta oposição em derrocada. E Portugal, apavorado, desliza para uma espécie de coma colectivo, de que lhe será difícil sair tão cedo.” – Vasco Pulido Valente, Público, 20/07/2012  

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