"Que esperar daqui? O que esta gente
Não espera porque espera sem esperar?
(...)
Que Portugal se espera em Portugal
Que gente ainda há-de erguer-se desta gente?
Pagam-se impérios com o bem e o mal
mas com que há-de pagar-se a quem só rouba a mente?
Chatins engravatados, pelenguentas fúfias,
Passam de trombas de automóvel caro
Soldados, prostitutas, tanto rapaz sem braços
Ou sem pernas - e como cães sem faro
Os putas poetas se versejam trúfias.
Velhos e novos, moribundos mortos
Se arrastam todos para o nada nulo.
Uns cantam, outros choram, mas tão tortos
Que amesquinhês transborda ao mais singelo pulo.
Chicote? Bomba? Creolina? A liberdade?
É tarde, e estão contentes de tristeza,
Sentados no seu mijo, alimentados
Dos ossos e do sangue de quem não se vende.
(Na tarde que anoitece o entardecer nos prende)."
Carta a Sophia, em 9/10/1971, in Correspondência 1959-1978, Guerra & Paz, 2ª edição, p. 114.