terça-feira, setembro 25, 2007

DESCAMBOU!


O momento antropofágico das eleições directas à liderança do PSD começou mais cedo do que se poderia imaginar. De repente, do meio de um partido que pretende ser alternativa de governo ao PS, começaram a sair múltiplas recriminações internas. Em matéria de transparência já todos percebemos que o PSD não tem nada a esconder. Perdeu a compustura. Descambou de vez. Esta manhã fiquei a saber que houve um benemérito militante que pagou as quotas em atraso de outros 189 militantes, num terminal de Multibanco, entre as duas e as quatro da manhã. Há mortos que, entretanto, ficaram com as quotas em dia e já há quem fale de falsificação dos cadernos eleitorais. Ribau Esteves e os seus homens das "regiões" acusam Mendes e Guilherme Silva das maiores patifarias. Rui Gomes da Silva fala em "actividade deliberada de eliminação de um lado" e que "milhares de militantes com as quotas pagas desapareceram dos cadernos eleitorais". Eu no lugar do Rui falaria já em genocídio. Teatro por teatro ao menos que seja uma coisa à séria. Como se não houvesse já muita confusão no adro da igreja, o patriarca Eurico de Melo também resolveu sair a terreiro para apoiar Menezes. É pena que um homem como Eurico de Melo se meta neste granel, mas a arteriosclerose também faz das suas. Os seus amigos tinham a obrigação de impedir tal declaração de apoio quanto mais fosse para protegê-lo. Menezes, por seu turno, que até já se queixou dos Códigos Penal e de Processo Penal, esquecendo-se de dizer quantos dos seus apoiantes os votaram na Assembleia da República, à falta de melhor número e, certamente, seguindo o conselho de um dos trolhas que lhe deu a corda para se enforcar, agendou uma declaração para esta noite às 20 horas. Temo que acabe a publicitar os lenços de papel da Renova já que a essa hora a selecção de rugby joga em Toulouse. Mas o grave é que, enquanto o PSD se diverte aos tiros, o primeiro-ministro José Sócrates vai praticando o seu inglês e fazendo o seu jogging fora de portas, mais preocupado com o senhor Mugabe ou com as relações comerciais com a China do que com o futuro da pátria. E assim, de mansinho, como quem não quer a coisa, lá começa de novo a aparecer Rui Rio, seja por causa dos problemas com os agentes "culturais" do Porto, seja por causa dos toxicodependentes. Enquanto os homens de Menezes e os de Mendes se forem amofinando uns aos outros, é Rio quem marca pontos. O PSD tem dificuldade em perceber as coisas simples. Rio poderá ser a única alternativa à balbúrdia permanente em que o partido vive. Eu não devia escrever isto aqui, já que ele, ante a ausência de Manuela Ferreira Leite, é o único com um estilo e uma tenacidade capazes de incomodarem José Sócrates. Só que a insistir pelo actual caminho, o PSD vai ficando parecido com o PCP: vão todos ao fundo a cantar o venceremos e o avante camarada. Por isso, o PSD arrisca-se a ter um destes dias como candidato a primeiro-ministro um Guilherme Silva, um mestre de cerimónias algarvio, ou, sei lá, um autarca alentejano que tenha sido candidato pelas listas do Porto. Já faltou mais. Depois de Santana Lopes ninguém estranharia. Mas agora a sério: mal por mal, então escolham o Filipe La Féria que sempre está mais habituado a andar pelos camarins e a lidar com toda a espécie de coristas e de bichos.

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