quinta-feira, junho 28, 2012

Orgulho, uma palavra a banir do léxico

A selecção nacional de futebol terminou há algumas horas a sua campanha no Euro 2012. Paulo Bento e os seus pupilos estão de parabéns. Foi seguramente mais honrosa a forma como Portugal jogou na Ucrânia e na Polónia, e os resultados alcançados, do que aquela que exibiu no Euro 2008, organizado pela Suiça e a Áustria, ainda com o infeliz Scolari, ou no Mundial da África do Sul, em 2010, com o palavroso Carlos Queiroz. 
É certo que há coisas que podem sempre melhorar, jogadores que nós nunca saberemos porque jogaram, de outros porque ficaram no banco, ou porque foram mantidos em campo quase até à exaustão e com um rendimento sofrível para aquilo a que nos habituaram e que são capazes.
Em todo o caso foi bom, devemos estar satisfeitos com os resultados. Temos uma boa selecção, capaz de nos representar com classe dentro e fora de casa. E se no jogo de ontem tivesse que haver um vencedor, convenhamos que por aquilo que se produziu em campo deveria ter sido a Espanha: criou mais e mais perigosas oportunidades de golo, defendeu melhor, tentou forçar a nota já no prolongamento, quando teoricamente seria a selecção menos folgada.
A arbitragem não esteve mal e só de nós próprios e da nossa falta de eficácia é que nos podemos lamentar. As grandes penalidades foram iguais a tantas outras. Uns falham, outros marcam. O normal.
O que esteve mal, muito mal, foram os comentários televisivos durante os jogos. Para não variar em quase todos os canais foram igulamente maus. Ontem excederam-se na SIC. Até no momento decisivo se lembraram de ir buscar as estatísticas dos penalties falhados anteriormente pelos jogadores que se preparavam para efectuar os remates. Os comentários nos canais nacionais durante a transmissão dos jogos foram um verdadeiro desastre, uma bíblia em termos de mau gosto e do que não devia ser dito numa transmissão televisiva.
Foi isso e, já agora, a utilização da palavra "orgulho". Já não há saco para tanto orgulho. São os futebolistas que estão orgulhosos, é o seleccionador que está orgulhoso, são os políticos que estão orgulhosos, são os portugueses que se orgulham, enfim, é um maná de orgulhos estúpidos e estupidificantes. 
Que quem seja ignorante fique orgulhoso por dá cá aquela palha ainda compreendo. Agora que políticos com responsabilidades, do PR ao primeiro-ministro, dos seus ministros aos deputados, passando pelos dirigentes da oposição, pelos jornalistas, autarcas, dirigentes políticos locais, qualquer trolha, estão todos orgulhosos. Mas estão sempre orgulhosos e com o orgulho na boca. Seja por causa da selecção nacional de futebol, seja no elogio do trabalho próprio ou no dos seus antecessores (isto nos partidos, a começar pelo meu, não há nenhum que não se sinta orgulhoso do trabalho do antecessor mesmo quando este foi profundamente incompetente) ou pela forma como apertam o cinto perante a troika. É um enjoo de tanto orgulho, de tanto salamaleque sem sentido. Mas tal só se compreende, penso eu, por desconhecimento do significado do termo.
Qualquer dicionário esclarece que orgulho "é um conceito exagerado que alguém faz de si próprio", o mesmo que soberba, vaidade, altivez, ou seja, sentimentos em regra desprezíveis e que quando cultivados ademais sem razão e invocados a toda a hora e em todos os lugares revelam ignorância e uma profunda estupidez. Nisto continuamos iguais e em nada nos distinguimos do que Salazar e o Estado Novo produziam sobre essa matéria. Hoje até voltei a ouvir a converseta das vitórias morais e da cabeça erguida. Uma tristeza da qul nem por isso deixam de se orgulhar.
O substantivo masculino orgulho, o verbo orgulhar, o adjectivo orgulhoso deviam ser banidos do nosso vocabulário. Já é tempo de se deixarem de caganças e de orgulhos. Estiverem bem, cumpriram, fizeram-no com galhardia, com brio, ainda bem. Para estupidez já chega que o primeiro-ministro e os seus ministros, a começar pelo Relvas que ainda há dias o disse no Parlamento, ou o líder da oposição, se sintam orgulhosos com o trabalho (outros chamam-lhe uns nomes feios) que fazem (ainda há-de nascer o primeiro que não o diga).
Eu, por mim, fiquei apenas satisfeito. Muito, é verdade. E sinto-me honrado e dignificado com o que fizeram. Orgulhoso é que não. Não alinho com a estupidez.  

Música para as nossas almas


"Il celebre violoncellista Mario Brunello ha scoperto la poesia dei diversi sound dei motori V12 Ferrari in una speciale giornata a Fiorano. Il primo accordatore di questi speciali “strumenti” è stato il Direttore Tecnico Ferrari Roberto Fedeli, che cura personalmente il suono di ogni nuovo modello, supportato da una vera passione per la musica. E’ infatti chitarrista e leader della Red House Band."

(photo: Alberto Novelli, Fiorano)

quarta-feira, junho 27, 2012

Chegou a altura...


... de mostrarem que podemos contar sempre convosco. E vós connosco. Não façam como a ERC, cheguem aos finalmente. E boa sorte, que nestas ocasiões também vos dá jeito.

segunda-feira, junho 25, 2012

Lido

"Veja-se o caso da ERC. Ao fim de 48 páginas de relatório chega-se rigorosamente à mesma conclusão que se tinha antes de aquele organismo ter ouvido um ror de gente - que Miguel Relvas telefonou cinco vezes numa tarde para a redação do "Público" sem que, apesar disso, haja prova de pressão ilegítima.
Em qualquer país decente, um ministro, que para mais é o coordenador político do Governo, não telefona pessoalmente cinco vezes (uma delas "em tom um bocadinho irritado", segundo um assessor) para um jornal por causa de uma notícia que não põe em risco a segurança nacional ou a imagem externa do país, mas apenas a hipótese de o próprio ser um pouco aldrabilhas..." - Henrique Monteiro, Expresso, 23/06/2012

"Não sei se há algum polvo que dedique o seu tempo a tentar acertar na receita fiscal. Mas sei que é um tema bem mais fascinante do que um simples jogo de futebol. Olhemos por uns segundos para o IVA: o Governo começou por prever que a receita deste imposto devia aumentar 13,6% este ano; há poucos meses corrigiu a previsão para um crescimento de 10,6%; ontem anunciou que, para já, vamos numa quebra de 2,8%. Para usar uma expressão celebrizada por Vítor Gaspar, trata-se de um desvio colossal (erro de 17,4%...)" - Ricardo Costa, Expresso, 23/06/2012

Eles querem ser levados a sério ou andam na coca?

Entregar ao Ministério Público o controlo disciplinar dos advogados seria o mesmo que retirar o controlo da legalidade da cobrança dos impostos aos tribunais para entregá-lo aos chefes de finanças e afins. Penso que nenhum dos magistrados do MP com quem convivo quase diariamente se atreveria, no seu perfeito juízo, a defender tal proposta. Pois que a empreender-se tal caminho o próximo passo deveria ser a aproximação da nossa justiça dos padrões das justiças chinesa ou iraniana, transformando a Ordem dos Advogados e os advogados em funcionários servis, obedientes e certinhos a soldo do Ministério da Justiça.
Depois de há uns anos ter sido abusivamente constituído arguido, em jeito de vendetta, e pelo simples facto de ter exercido bem as minhas funções, por um pobre de espírito que nem sequer teve a coragem de defender a acusação em julgamento, mandando um subordinado que acabou pedindo a minha absolvição, como não podia deixar de ser e no final se confirmou, ante a natural indignação da Ordem dos Advogados e a estupefacção do Tribunal, o que porém não me livrou dos incómodos, das despesas e do vexame, sei o que pode significar a entrega do poder disciplinar a gente pequenina, sem mundo e mal formada, que não convive bem com a crítica, com a experiência e a liberdade de pensamento e a independência dos outros. 
Infelizmente isso acontece em qualquer organização e aparece quando menos se espera, não sendo o MP melhor nem pior do que qualquer outra organização.
Uma proposta destas, a passar, não contribuiria seguramente para o prestígio da instituição e tenderia a agravar as relações dentro dos tribunais entre os profissionais do foro. Uma coisa é participar um ilícito a quem tem o poder disciplinar, outra coisa é ter a iniciativa para a instauração de processos disciplinares (cfr. artigo 18º da inconcebível proposta de Lei do Governo) e no que isso pode ter de consequências gravosas para a defesa dos réus e arguidos, em especial dos inocentes.
Como pensar em tal solução já seria mau, não sei quem terá tido a ligeireza de propô-la à ministra e escrevê-la preto no branco.
É que não sendo primeiro de Abril, e não estando prevista a reciprocidade, isto é, a possibilidade dos advogados desencadearem processos disciplinares aos magistrados que pisem o risco ou que, por exemplo, demoram mais de três anos a admitir um recurso, fico na dúvida se neste caso não seria também melhor solução enveredar por uma solução mais drástica, e indiscutivelmente mais célere,  devendo a senhora ministra despachar-se e privatizar também a acção penal. Quem sabe se o sr. Borges e "o Álvaro" não têm já gente interessada nessa privatização, na China ou no Brasil, que esteja disposta a contribuir para a redução do défice público, acusando e punindo a troco de uns míseros euros que permitissem aliviar o orçamento do Ministério da Justiça?

sexta-feira, junho 22, 2012

Eureka!


E muitos meses depois de ignorar constantes avisos, vindos dos mais variados sectores à direita e à esquerda, incluindo de dentro do PSD, o ministro das Finanças, finalmente, compreendeu que a sua receita não estava a dar resultado. Aguardar pelo fim da execução orçamental para confessar a monumental borrada sempre me pareceu muito pouco inteligente. E para isso não era necessário ser ministro nem especialista em finanças públicas. Tarde e a más horas, ainda a meio da execução, Vítor Gaspar veio confessar que a mais do que previsível redução das receitas fiscal e da Segurança Social provocou "um aumento significativo nos riscos e incertezas que estão associados à execução orçamental".
E agora, pergunta-se, quem vai pagar o aumento dos riscos e incertezas de uma borrada que só os fundamentalistas não viram? O Zé Povinho, evidentemente. E como se vai acautelar esse aumento de riscos e incertezas? Com novo aumento da carga fiscal, está-se mesmo a ver, esmifrando o Zé Povinho.
Só há dois responsáveis pela actual situação e nenhum deles é o anterior primeiro-ministro (refiro-me não ao elevado passivo herdado mas ao substancial agravamento desse mesmo passivo em resultado da descabida receita seguida que aumentou impostos e taxas sem reduzir a despesa pública): Passos Coelho e Vítor Gaspar.

quinta-feira, junho 21, 2012

Euro 2012 starts today


Está de volta a selecção nacional. Qual Scolari, qual Queiróz. Tranquilidade é que é. E classe, muita classe. 

Palavroso, em minúsculas e com poucos "cês"

Não estranho os depoimentos contraditórios e a vacuidade de muitos dos factos analisados, aliás proprocionais às quarenta e oito páginas do relatório da ERC. Mas coisas houve que  assinalei, para além da adopção daquela coisa do "Acordo Ortográfico", que certamente conduziram a que as minúsculas de "maio" e a falta de "cês" não me estorvassem a leitura do relatório de tal Entidade (com maiúscula, é claro).
Entre o que registei, tomei nota do que já oportunamente sublinhara e que a ERC referiu sem que daí extraísse as devidas conclusões.
Se, como se escreveu no ponto 29, a fls. 8, o adjunto do ministro, António Valle, num e-mail enviado às 16h 01m - dir-se-ia que aguardou exactamente por ultrapassar as 16h "fixadas" para enviar a resposta - declarou que "todos os esclarecimentos sobre este assunto foram oportunamente prestados em sede própria, ou seja, na 1ª Comissão Parlamentar", que interesse havia em o ministro, ou alguém por ele, dizer algo mais ao jornal, designadamente tomando a inictivia de telefonar a Bárbara Reis ou Leonete Botelho? A resposta a este ponto parecer-me-ia essencial, mas a ERC não entendeu assim.
Por outro lado, as considerações tecidas pela ERC, designadamente nos pontos 55, 56 e 57 e 58, a fls. 12 e 13, também exigiriam outra abordagem e desenvolvimento. Ou seja, se a matéria que nesses números se contém é suficientemente relevante para merecer enquadramento e fazer parte de um capítulo atinente à "existência de pressões sobre jornalistas", então teria sido fundamental compaginar essa relevância com a conclusão  que se encontra a fls. 4, no ponto 2 alínea d).
Na verdade, se se reconhece que "a atuação do ministro nos telefonemas trocados com os responsáveis editoriais, usando de um tom exaltado e ameaçando deixar de falar pessoalmente com o Público, poderá ser objeto de um juízo negativo no plano ético e institucional" não se percebe que a ERC não retire daí, também, as devidas consequências, já que para além da eventual relevância deontológica e/ou criminal, é exactamente no plano da ética institucional e política que esta questão tinha de ser tratada pela ERC, partindo do princípio que é do seu interesse desempenhar as suas funções com utilidade.
Não o tendo feito, a ERC demitiu-se da sua função reguladora e provou que não é pelo facto de se mudarem os seus dirigentes, colocando-se lá gente da confiança e das relações pessoais e sociais do ministro Relvas e do PSD, que a Entidade passou a cumprir melhor a sua função.
Aliás, se o tivesse feito não teria perdido o seu tempo em divagações estéreis, como por exemplo a que fez em torno do conceito de "pressão", repescando anterior deliberação, ignorando que quem dela disse nesse tempo o pior fora agora o primeiro a ela recorrer, porque tal lhe convinha politicamente, desvalorizando a gravidade deste caso.
Talvez também por esse motivo seja de questionar se é aceitável numa democracia que um ministro com as responsabilidades de Miguel Relvas ao dirigir-se a quem não é seu subordinado (quanto a estes o problema é deles) fale "praticamente em contínuo" e "num tom de irritação" (isso seria bom para mim que não tenho as responsabilidades do ministro e não ando metido em "alhadas"), ou "um bocadinho irritado", com "tom elevado" e "bastante agitado" - por uma questão "daquelas", "menor"? - , admitindo-se que enquanto ministro e titular de um cargo público se permita dizer que "se continuavam [a quem se refere o uso do plural?] com aquele tipo de procedimento, se sentiria na liberdade de ele próprio deixar de falar com o Público e que não afastaria a possibilidade de fazer uma queixa à ERC e, no limite, também às instituições judiciais", quando o seu próprio gabinete já tinha respondido às questões da jornalista.
De resto, de quem, "em duas ocasiões", "desmentiu ter mantido uma segunda conversa telefónica com a editora de Política na tarde de 16 de Maio", e que só depois de confrontado com os "elementos comprovativos" dessa chamada telefónica que lhe foram remetidos pela ERC é que "não contestou que o número indicado lhe pertencia" vindo referir, em relação aos seus anteriores testemunhos (uma vez mais, como sempre, estava em causa o que dissera antes), que, "afinal, não poderia precisar quantas vezes  falara com a editora de Política naquele dia", em termos tais que foi a ERC a dar como provada a existência de um segundo telefonema entre Leonete Botelho e Miguel Relvas "pelas 18h 00 de 16 de maio" (sic), já nada haverá a esperar no plano da ética institucional e política. 
Objectivamente, o ministro Miguel Relvas, lamento ter de reafirmá-lo, que anteriormente,  informalmente e como quem não quer a coisa, fez o favor de me transmitir o seu desconforto, por um ex-ministro que é seu colega de partido, relativamente ao que eu escrevia no Delito de Opinião, não tem fibra, nem estatura política - perfil académico já sabíamos que não tinha - para desempenhar as funções que desempenha. Anteriormente demonstrara-o de motu proprio nalgumas entrevistas e intervenções recorrentemente infelizes, facto que a ERC, embora desajeitadamente, acabou agora por confirmar. 
Quanto ao mais, os portugueses que julguem o que entenderem, sendo certo que, como alguém ainda hoje afirmava, se fossemos todos tão exigentes com os nossos políticos e com nós próprios como somos com os deslizes futebolísticos de Cristiano Ronaldo, este País não estaria como está. 
É tudo o que tenho a dizer. Este é um assunto encerrado, morto, enterrado, e com o qual não há que perder mais tempo, ainda que no horizonte se antevenha já a chicana parlamentar. Mas foi o ministro quem escolheu o caminho. Não tem de se arrepender. Ou que pedir desculpa. Passos Coelho que resolva. Ele é que é, formalmente, o primeiro-ministro. Também deve ser pago para isso. 

P.S. O que me leva a criticar o desempenho do ministro Relvas e a duvidar cada vez mais das suas palavras é exactamente o mesmo critério que me levou a criticar anteriormente outros políticos, critério esse  que ainda recentemente me impôs abdicar de integrar a lista de delegados ao Congresso da Federação Regional do Algarve do PS. Nestas coisas da política reconheço que sou pouco tolerante comigo mesmo em matéria ética ou moral e que a bitola que para mim escolho é idêntica à que espero dos outros em matéria de lhaneza de carácter, de funções políticas e de lealdade a princípios e valores estruturantes da democracia. Nada de confusões.

terça-feira, junho 19, 2012

Má gestão, má política

Os CTT, aquela que foi uma das instituições mais queridas e respeitadas dos portugueses, prossegue a sua política de afastamento das populações e de degradação da qualidade do serviço prestado à comunidade. 
Se antes, aos poucos, nos fomos todos apercebendo das consequências mais óbvias da privatização (houve outras menos óbvias que andam pelos tribunais), como a eliminação de categorias de correspondência e sua substituição por outras mais dispendiosas e mais demoradas, além da progressiva transformação, sob a capa da modernização, das estações de correios numa espécie de armazéns dos trezentos, com serviço de papelaria, livraria, discoteca, quiosque de venda de bilhetes para espectáculos e certificados de aforro, loja de brinquedos, de telemóveis e de  material desportivo, onde a quem tinha a infelicidade de lá se dirigir se impunha que tirasse uma senha e ficasse à espera durante tempos infindos do atendimento, começa a ser mais visível o mau serviço prestado pelos CTT sem que o Governo e as autarquias, designadamente a de Faro, se preocupem com o assunto.
Depois do encerramento de estações ao sábado de manhã sucede-se o fecho das próprias estações onde ainda recentemente se investiram milhões em obras e mudança de imagem.
Há dias dei comigo, em Faro, pelas onze horas, diante da Estação da Pontinha, a informar um grupo de turistas que olhava para o mapa da cidade e para a porta, sem perceber o que tinha acontecido e que apenas queria enviar uns postais, do seu encerramento. Disse-lhes então que os selos passaram a ser vendidos e as cartas entregues numa tabacaria, com não mais do que dez metros quadrados, situada nas proximidades e onde os CTT colocaram uma balança e uma única pessoa atende o público, com pouca luz e sem ar condicionado, a longa fila que todos os dias se forma, sem "direito" a senhas, a troco de uma comissão a favor do dono da tabacaria, ao que dizem, de 1% sobre o valor dos registos.
Isto sucede depois de uma consistente e regular política de celebração de contratos a prazo e de despedimentos, sistematicamente ignorada pelo poder político - incluindo pelos governos anteriores - alguns apenas para não renovação de contratos e assim se impedir a produção de efeitos jurídicos que decorriam da lei, posto que logo depois se telefonava às mesmas pessoas para voltarem ao serviço com novo contrato por mais três meses. 
O fecho da Estação da Pontinha, em pleno centro da cidade de Faro, é mais um golpe na tradicional zona comercial da cidade, mas, mais do que isso, é também a prova de que a privatização de serviços e de empresas rentáveis que estavam na esfera do Estado traz consigo a degradação da qualidade dos serviços prestados à comunidade, em especial quando em causa estão serviços em regime de monopólio ou similar.
Por agora, que se saiba, os únicos beneficiários do mau serviço prestado pelos CTT são os seus administradores e, vá lá, os que recebem € 0,02 de comissão por um registo simples (€ 1,67, creio eu). Se quem faz o registo o conseguisse fazer num minuto (isto é, receber a carta, verificar o registo, colocar as etiquetas, receber o pagamento, dar o troco e emitir o recibo com os dados do contribuinte), o que seguramente não é possível, esse valor representaria € 1,20/hora. Ao fim de 8 h de trabalho a remuneração de quem faz essa tarefa seria qualquer coisa como € 9,60. Sem direito a subsídios de férias ou de Natal ou segurança social. Notável.
Seria interessante saber se este é o modelo de desenvolvimento a que Passos Coelho dá cobertura e que é defendido pelo senhor Borges e por um laparoto qualquer de olhos esbugalhados e gravata vermelha que dizem que trata das coisas da Economia e de cujo nome já nem me recordo.

sexta-feira, junho 15, 2012

Cortar nas "gorduras"

Na mesma altura em que se fica a saber que a maternidade Alfredo da Costa irá mesmo fechar até ao final do ano, e em que há doentes com cancro da mama que estão com a reconstrução mamária suspensa e sem saberem quando a mesma ficará concluída, nem aonde, é divulgado um relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde cujas conclusões deitam por terra tudo o que foi afirmado pelo PSD durante a campanha eleitoral e, já depois das eleições, pela actual equipa do Ministério da Saúde.
Que a Saúde tinha gastos excessivos e despropositados todos sabíamos, ou pelos menos suspeitávamos há longos anos. Nisso, o ex-ministro Correia de Campos foi exemplar na denúncia apesar de pouco hábil na explicação. E que era necessário racionalizar os gastos existentes gerindo melhor, também todos sabíamos, pensando eu que nenhum contribuinte sensato e de boa fé esperaria outra coisa dos sucessivos governos que tivemos que não fosse a tentativa, que todos sabem não ser fácil, de melhorar a qualidade dos serviços equilibrando os custos e os meios.
As PPP desde cedo se revelaram elas próprias um sugadouro sem controlo do qual eram beneficiários, invariavelmente, sempre os mesmos, isto é, aqueles que criticavam os gastos do sector público mas que nunca se importaram de serem pagos por esse mesmo sector e pelas empresas que neles integradas que lhes garantiam a rentabilidade das unidades privadas que exploram. O desperdício só era mau quando não acabava no seu bolso.
O relatório ontem divulgado pelo Observatório da Saúde, e de que a televisão e a imprensa já fizeram eco, quer pelas conclusões que apresenta quer pela reacção destemperada do secretário de Estado que foi convidado a fazer a sua apresentação, não é pelo facto de não ter colhido as boas graças dos burocratas, gestores e contabilistas que levaram com o tiro que deverá ser desvalorizado.
É evidente que quando gente que tem décadas de serviço público exemplar, uma carreira sem mácula obtida fora da política, sem ela e sem o concurso das universidades do cavaquismo, gente com qualificações que falam por si e que não vive à sombra dos partidos do arco do poder, chega à conclusão de que o acesso dos doentes aos serviços piorou, que aumentaram as dificuldades para o pagamento das taxas moderadoras, transportes e financiamentos, que há sintomas de depressão e ansiedade nas populações, que as pessoas deixam de comprar o que lhes é medicado ou alteram por sua livre vontade as doses prescritas por não terem meios para manterem as medicações anteriores, o poder não se sinta aplaudido.
Quem tenha a infelicidade de ter de frequentar centros de saúde sabe quanto custa hoje a saúde aos contribuintes e também sabe que não é só a "taxa moderadora" de uma consulta que faz a diferença. É tudo o resto que lhe vem associado, da comparticipação nos necessários exames ao custo dos medicamentos, que dificulta e cerceia o acesso. Basta ver e ouvir quem num centro de saúde espera por uma consulta ou lá vai mostrar os exames ao médico de família, ou falar com os médicos que lá desempenham estas funções, para perceber do que falo e saber que não falo (escrevo) de cor. 
Curiosamente, proliferam os hospitais privados e as clínicas, sendo que nalguns casos a oferta já se tornou obscena. Olhe-se por exemplo para o que se passa em Faro. Ao mesmo tempo que não se consegue uma consulta nalgumas especialidades no único hospital público da cidade, dezenas de especialistas chegam de Lisboa para enfrentarem listas de 40 e 50 doentes em unidades que dão emprego a afilhados políticos e em clínicas privadas, cobrando € 100,00 por quaisquer 10 minutos de consulta e despachando os doentes, por vezes noite fora, como se de uma mercadoria se tratasse, alguns limitando-se a prescreverem invariavelmente a mesma pomada para todos.
Quando tudo isto entra pelos olhos e convive connosco diariamente torna-se ainda mais difícil aceitar que, como refere hoje o Público, o secretário de Estado da Saúde tenha feito "um autêntico comício para pôr em causa um relatório de uma entidade independente", acusando-a de "manipular os factos e recorrer à mentira e encenação", sem que ao mesmo tempo esclarecesse porque não facultou dados para a elaboração desse relatório.
Neste quadro, e sem escamotear, fazendo fé no que diz o Ministério, de que 2011 foi o ano em que se realizaram mais cirurgias, embora não se esclareça a sua natureza nem se foram privilegiadas as mais rápidas e mais baratas para se melhorar as estatísticas em detrimento das mais onerosas e demoradas, é por demais incompreensível que se ataquem as conclusões do relatório da forma descabida como o fizeram, pois que se um inquérito a 741 médicos, dos quais 51% trabalham em hospitais públicos, 21% em USF, 10% em UCSP e 4% em hospitais PPP, não cobre o universo todo, da mesma maneira que 41 farmácias do distrito de Lisboa envolvendo dados relativos a 375 doentes são apenas uma amostra, seguramente que também são, como muito bem referiu um dos autores do trabalho, indícios que a todos devem preocupar, dados que se aproximam da realidade e que são susceptíveis de gerarem convicções profundas nos seus autores.
Aliás, foi o próprio bastonário da Ordem dos Médicos quem confirmou a existência de forte "racionamento" nos hospitais públicos, "racionamento" que, por exemplo, não tem correspondência no ordenado que o senhor Borges aufere para fazer aquilo que competiria fazer ao Governo da república.
Os casos vão-se multiplicando e até um dito "Plano Nacional de Reformas (PNR)", um "documento de 36 páginas", ficou perdido nos corredores de S. Bento, "algures entre o gabinete da Presidência da AR e a comissão parlamentar errada
A moscambilha, a trafulhice, a esperteza saloia, não são saudáveis em circunstância alguma. O amadorismo e a pesporrência também não. Em especial quando não se consegue transmitir a ideia de que o que se está a fazer é feito com rigor, sensatez e boa fé, e não, como parece, apenas para julgar opositores políticos - e se eles precisam de ser julgados! - e cumprir uma agenda e um programa que não foram sufragados nas urnas, enquanto se atamancam medidas parcelares e  se albardam os burros sem critério e conforme corre o marfim, para efeitos meramente propagandísticos e se cumprir o programa da troika, sem também se curar de saber do estado em que estaremos em Setembro de 2013, acautelando desde já situações graves e irreversíveis para o bem estar dos cidadãos.
Tal como aconteceu com o aumento dos impostos directos e indirectos e com as portagens das ex-Scut, em que se apostou na gula fiscal, menosprezando-se os efeitos que todas as pessoa sensatas e descomprometidas anteciparam, também em matéria de Saúde percorremos agora caminho idêntico. O problema é que nalguns casos a saúde dos doentes, o bem-estar de alguns e a qualidade de vida de outros, para não cair no extremo de lembrar as vidas que a poupança já ajudou a ceifar, já não será recuperável. E se em qualquer área da governação são desejáveis as boas práticas, o rigor, a transparência, a verticalidade, o carácter, a lisura de processos, na Saúde isso  seria ainda mais necessário. Infelizmente optou-se pelo folclore no melhor estilo "Relvas" ou "Álvaro" e as consequências rapidamente começaram a aparecer. É triste, pois é, mas nem por isso deixa de ser menos verdadeiro.

P.S. No momento em que escrevia estas linhas o primeiro-ministro mostrava na Assembleia da República toda a sua indigência política e a falta de articulação do Governo em matéria de informação do que se passa na Saúde, gaguejando e revelando ignorância e falta de informação na interpelação que o deputado Francisco Louçã lhe fez. Lamentável.

sexta-feira, junho 08, 2012

Um Governo bipolar

Um ano depois das eleições legislativas que mudaram o quadro político do País, multiplicam-se as análises e os balanços daquilo que foi a actividade governativa nos últimos doze meses. Qualquer balanço pecará sempre por enfatizar aquilo que na perspectiva do observador será mais positivo ou mais negativo, pelo que lapalissianamente se poderá com rigor afirmar que não existem apreciações totalmente isentas e que a análise política, tal como o próprio exercício desta, é também a arte do possível. E às vezes a do impossível, como não raro se percebe pelas afirmações de Miguel Relvas ou os exercícios televisivos da deputada Teresa Caeiro. 
Todos estamos cansados, e já basta suportarmos tão estoicamente o cumprimento do memorando com a troika, as discussões do país futebolístico ou sabermos que o presidente da República em mais um rasgo de génio vai condecorar um ex-ministro da ditadura entretanto transformado em especialista da propaganda por conseguir, penso eu, a proeza de ver a História recente de Portugal de baixo para cima, de viés e às vezes até mesmo de joelhos, como sucedeu quando andou por Macau a realizar programas para enaltecer a figura de um ex-governador, para não me abalançar a entrar pelos caminhos dos comentadores encartados (pagos).
O que aqui gostaria de registar foi aquilo que de mais notável pude constatar ao longo do ano que passou: a bipolaridade do executivo.
Todos se aperceberam que consoante as matérias havia dois pesos e duas medidas e que para o Governo e o PSD até o memorando com a troika foi obra exclusiva dos anteriores governantes, esquecendo-se os seus responsáveis que foram ouvidos antes e deram o seu aval, antes e depois, às metas nele consagradas. Depois, como também verificámos, daquilo que era possível fazer sem qualquer esforço (corte de gorduras do Estado, redução do défice por via da redução da despesa, reformas de fundo, manutenção dos subsídios de férias e de Natal, manutenção da carga fiscal vigente há um ano, e por aí fora), só o aumento das exportações apresenta resultados palpáveis. De resto, pouco ou nada se tem visto, enredados como temos estado em casos de paróquia.
O CDS, sem faltar no apoio à coligação nos momentos decisivos, no que tem sido reconhecidamente um parceiro leal, tem procurado manter-se afastado da teia de interesses, verdadeira camisa-de-forças, em que o primeiro-ministro e o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares se movem. Se amanhã alguma coisa correr pior a ponto de se inviabilizar a chegada ao termo da legislatura deste Governo, Paulo Portas e a sua gente estarão em condições de se defenderem e de retirarem óbvios dividendos. E com razão. Não são eles os responsáveis, nem têm nada que ver, pelas ou com as recorrentes "broncas" de Miguel Relvas, com as ligações que este estabeleceu por via da política e dos aventais que vai usando de acordo com as conveniências, e menos ainda com a doença bipolar que desde o início assola o Governo. Seja com as rendas da EDP, as travessuras do "menino Álvaro", a falta de soluções para resolver o problema das PPP - dir-se-ia ser mais importante continuar a lavar roupa ainda que haja muita já lavada e a que continua suja não faça falta do que estancar o mal - ou o flop da pomposamente chamada "reforma autárquica" que teve o condão de manter intocado o número de municípios.
O drama da doença de que o Governo e os seus principais responsáveis enfermam é que não permite vislumbrar quando é que os próprios se aperceberão da sua situação e se predisporão ao tratamento, sendo certo que enquanto este não ocorrer o cenário será cada vez mais deprimente. Gente insuspeita na sua casa como Rui Rio, Lobo Xavier ou Manuela Ferreira Leite (não falo de Pacheco Pereira que é tido como sendo do contra) já avançou com algumas ideias, mas parece que os doentes estão mais preocupados em correr o país a doutrinar as massas do que em tratarem-se. 
Dois exemplos colhidos esta semana evidenciam o agravamento da doença: a criação de uma nova empresa pública e a forma como o primeiro-ministro lidou com as declarações do seu conselheiro António Borges. A criação da empresa pública, ainda que eufemisticamente se diga que ocorre por via de "transformação", não deixa de ser mais uma, quando o objectivo do tal memorando que tem servido para justificar tudo e mais alguma coisa, era não só a eliminação de institutos e a privatização das empresas públicas, como a proibição de criação de mais alguma. Não sendo legítimo ao intérprete de qualquer texto legal dele retirar uma interpretação que não tenha um mínimo de correspondência verbal com o que nele se pode ler, nem distinguir onde o texto não distinguiu, acrescentando o que lá não está, subtilezas de que o ministro Gaspar deverá ter dificuldade em compreender, a decisão do último Conselho de Ministros de aprovar um diploma que transforma o Instituto de Gestão e do Crédito Público numa entidade pública empresarial não poderá deixar de ser vista como manifestação da doença, aliás na linha do "ir para além da troika" que já então antecipava a sua evolução.
De igual modo, o papel desempenhado por António Borges, dito conselheiro ou consultor do primeiro-ministro, mais conhecido como o 12º ministro mas que na realidade mais não é do que um "afilhado" dele e do PSD, pago a peso de ouro com o dinheiro dos contribuintes que estão a ser esfolados pelo ministro das Finanças, é um outro sinal da agudização da doença. Se o António Borges que Marc Roche desqualificou nas páginas da imprensa internacional, sem que se saiba que da sua parte tenha havido reacção, e que o deputado João Almeida (CDS/PP) com frontalidade criticou em pleno Parlamento, pode ganhar o que ganha à nossa custa, então o melhor é deixar que o programa da troika se cumpra por si. Pode ser que entretanto os doentes se "espetem" em qualquer lado e acabem internados compulsivamente. Ou, quem sabe, exportados para uma jurisdição offshore como uma "mais-valia" não tributável. E inqualificável.       

terça-feira, junho 05, 2012

Brilhante

Ele nunca ouviu responsáveis políticos como Macário Corrreia ou José Apolinário pronunciarem "hângares", como se lá estivesse um acento circunflexo, em vez da palavra "hangares", aguda, no plural como no singular com acento tónico na última sílaba, tal como em francês, "a língua veicular que a recebeu do inglês", mesmo antes de haver Acordo Ortográfico. Se tal lhe tivesse acontecido, como a mim, certamente que ele estaria hoje ainda mais incomodado. Mas não foi por isso que Vasco Graça Moura deixou de dar ontem à noite, na TVI 24, no programa "Olhos nos Olhos", de Judite de Sousa e Medina Carreira, uma valente estocada no Acordo Ortográfico, sob a forma de uma magistral lição que devia trazer à realidade todos os que embarcaram nessa perigosa e pouco esclarecida aventura, a começar pelo Governo português. O actual, mas também o anterior.
Sublinhando, uma vez mais, que até o comunicado final da última reunião de ministros da Cultura dos PALOP, que ocorreu há cerca de um mês e meio, foi escrito em termos pré-acordo, sendo por aqueles sugerida a sua revisão, e que neste momento só interesses económicos podem justificar a adopção do Acordo, o presidente do CCB, de uma forma séria, com factos e argumentos incontornáveis, prestou mais um inestimável serviço à língua portuguesa e aos povos que a falam e escrevem. Sem pedantismo, sem politiquice, sem populismo e sem demagogia, com clareza e elevação q.b.. A todos os títulos brilhante e a rever e divulgar logo que a TVI24 coloque aqui a gravação do programa.

segunda-feira, junho 04, 2012

Parabéns a Paulo Pinheiro e ao AIA

Nem mesmo a circunstância de estarmos perante uma prova de um campeonato do mundo  altamente competitivo, o WTCC, do preço dos bilhetes ser muito acessível, do tempo estar óptimo e do programa se completar com duas corridas do Troféu Maserati, com o Nacional de Clássicos, com uma corrida de fórmulas AutoGP e com a Taça de Portugal de Circuitos, serviu para levar público ao Autódromo Internacional do Algarve. É pena, porque a organização e o empenho de Paulo Pinheiro e da sua equipa mereciam outro reconhecimento por parte dos portugueses, em especial dos que residem na região do Algarve. Para a próxima talvez seja de avisar a miudagem que Michel Vaillant saiu dos livros de Jean Graton para correr na pista de Portimão. Quem sabe se isso não surtiria outro efeito.    
A boa disposição foi a nota dominante. Na foto, Pepe Oriola, Gabriele Tarquini e Tiago Monteiro.
Um "Vaillante" vestido a rigor.

 Um dos inconfundíveis Sport Coupé do Trofeo Maserati.

O homem da pole position e vencedor da primeira corrida de domingo do WTCC: Gabriele Tarquini.
A confusão habitual das primeiras voltas, aqui na curva VIP.

Um dos pontos mais espectaculares do circuito de Portimão foi a nossa escolha para a 2ª corrida do WTCC, aqui já com Michel "Alain" Vaillant "Menu" no comando, a caminho da vitória.

Quatro de Junho

A besta voltou a atacar. É preciso não esquecer. E resistir sempre.