A selecção nacional de futebol terminou há algumas horas a sua campanha no Euro 2012. Paulo Bento e os seus pupilos estão de parabéns. Foi seguramente mais honrosa a forma como Portugal jogou na Ucrânia e na Polónia, e os resultados alcançados, do que aquela que exibiu no Euro 2008, organizado pela Suiça e a Áustria, ainda com o infeliz Scolari, ou no Mundial da África do Sul, em 2010, com o palavroso Carlos Queiroz.
É certo que há coisas que podem sempre melhorar, jogadores que nós nunca saberemos porque jogaram, de outros porque ficaram no banco, ou porque foram mantidos em campo quase até à exaustão e com um rendimento sofrível para aquilo a que nos habituaram e que são capazes.
Em todo o caso foi bom, devemos estar satisfeitos com os resultados. Temos uma boa selecção, capaz de nos representar com classe dentro e fora de casa. E se no jogo de ontem tivesse que haver um vencedor, convenhamos que por aquilo que se produziu em campo deveria ter sido a Espanha: criou mais e mais perigosas oportunidades de golo, defendeu melhor, tentou forçar a nota já no prolongamento, quando teoricamente seria a selecção menos folgada.
A arbitragem não esteve mal e só de nós próprios e da nossa falta de eficácia é que nos podemos lamentar. As grandes penalidades foram iguais a tantas outras. Uns falham, outros marcam. O normal.
O que esteve mal, muito mal, foram os comentários televisivos durante os jogos. Para não variar em quase todos os canais foram igulamente maus. Ontem excederam-se na SIC. Até no momento decisivo se lembraram de ir buscar as estatísticas dos penalties falhados anteriormente pelos jogadores que se preparavam para efectuar os remates. Os comentários nos canais nacionais durante a transmissão dos jogos foram um verdadeiro desastre, uma bíblia em termos de mau gosto e do que não devia ser dito numa transmissão televisiva.
Foi isso e, já agora, a utilização da palavra "orgulho". Já não há saco para tanto orgulho. São os futebolistas que estão orgulhosos, é o seleccionador que está orgulhoso, são os políticos que estão orgulhosos, são os portugueses que se orgulham, enfim, é um maná de orgulhos estúpidos e estupidificantes.
Que quem seja ignorante fique orgulhoso por dá cá aquela palha ainda compreendo. Agora que políticos com responsabilidades, do PR ao primeiro-ministro, dos seus ministros aos deputados, passando pelos dirigentes da oposição, pelos jornalistas, autarcas, dirigentes políticos locais, qualquer trolha, estão todos orgulhosos. Mas estão sempre orgulhosos e com o orgulho na boca. Seja por causa da selecção nacional de futebol, seja no elogio do trabalho próprio ou no dos seus antecessores (isto nos partidos, a começar pelo meu, não há nenhum que não se sinta orgulhoso do trabalho do antecessor mesmo quando este foi profundamente incompetente) ou pela forma como apertam o cinto perante a troika. É um enjoo de tanto orgulho, de tanto salamaleque sem sentido. Mas tal só se compreende, penso eu, por desconhecimento do significado do termo.
Qualquer dicionário esclarece que orgulho "é um conceito exagerado que alguém faz de si próprio", o mesmo que soberba, vaidade, altivez, ou seja, sentimentos em regra desprezíveis e que quando cultivados ademais sem razão e invocados a toda a hora e em todos os lugares revelam ignorância e uma profunda estupidez. Nisto continuamos iguais e em nada nos distinguimos do que Salazar e o Estado Novo produziam sobre essa matéria. Hoje até voltei a ouvir a converseta das vitórias morais e da cabeça erguida. Uma tristeza da qul nem por isso deixam de se orgulhar.
O substantivo masculino orgulho, o verbo orgulhar, o adjectivo orgulhoso deviam ser banidos do nosso vocabulário. Já é tempo de se deixarem de caganças e de orgulhos. Estiverem bem, cumpriram, fizeram-no com galhardia, com brio, ainda bem. Para estupidez já chega que o primeiro-ministro e os seus ministros, a começar pelo Relvas que ainda há dias o disse no Parlamento, ou o líder da oposição, se sintam orgulhosos com o trabalho (outros chamam-lhe uns nomes feios) que fazem (ainda há-de nascer o primeiro que não o diga).
Eu, por mim, fiquei apenas satisfeito. Muito, é verdade. E sinto-me honrado e dignificado com o que fizeram. Orgulhoso é que não. Não alinho com a estupidez.