terça-feira, junho 19, 2012

Má gestão, má política

Os CTT, aquela que foi uma das instituições mais queridas e respeitadas dos portugueses, prossegue a sua política de afastamento das populações e de degradação da qualidade do serviço prestado à comunidade. 
Se antes, aos poucos, nos fomos todos apercebendo das consequências mais óbvias da privatização (houve outras menos óbvias que andam pelos tribunais), como a eliminação de categorias de correspondência e sua substituição por outras mais dispendiosas e mais demoradas, além da progressiva transformação, sob a capa da modernização, das estações de correios numa espécie de armazéns dos trezentos, com serviço de papelaria, livraria, discoteca, quiosque de venda de bilhetes para espectáculos e certificados de aforro, loja de brinquedos, de telemóveis e de  material desportivo, onde a quem tinha a infelicidade de lá se dirigir se impunha que tirasse uma senha e ficasse à espera durante tempos infindos do atendimento, começa a ser mais visível o mau serviço prestado pelos CTT sem que o Governo e as autarquias, designadamente a de Faro, se preocupem com o assunto.
Depois do encerramento de estações ao sábado de manhã sucede-se o fecho das próprias estações onde ainda recentemente se investiram milhões em obras e mudança de imagem.
Há dias dei comigo, em Faro, pelas onze horas, diante da Estação da Pontinha, a informar um grupo de turistas que olhava para o mapa da cidade e para a porta, sem perceber o que tinha acontecido e que apenas queria enviar uns postais, do seu encerramento. Disse-lhes então que os selos passaram a ser vendidos e as cartas entregues numa tabacaria, com não mais do que dez metros quadrados, situada nas proximidades e onde os CTT colocaram uma balança e uma única pessoa atende o público, com pouca luz e sem ar condicionado, a longa fila que todos os dias se forma, sem "direito" a senhas, a troco de uma comissão a favor do dono da tabacaria, ao que dizem, de 1% sobre o valor dos registos.
Isto sucede depois de uma consistente e regular política de celebração de contratos a prazo e de despedimentos, sistematicamente ignorada pelo poder político - incluindo pelos governos anteriores - alguns apenas para não renovação de contratos e assim se impedir a produção de efeitos jurídicos que decorriam da lei, posto que logo depois se telefonava às mesmas pessoas para voltarem ao serviço com novo contrato por mais três meses. 
O fecho da Estação da Pontinha, em pleno centro da cidade de Faro, é mais um golpe na tradicional zona comercial da cidade, mas, mais do que isso, é também a prova de que a privatização de serviços e de empresas rentáveis que estavam na esfera do Estado traz consigo a degradação da qualidade dos serviços prestados à comunidade, em especial quando em causa estão serviços em regime de monopólio ou similar.
Por agora, que se saiba, os únicos beneficiários do mau serviço prestado pelos CTT são os seus administradores e, vá lá, os que recebem € 0,02 de comissão por um registo simples (€ 1,67, creio eu). Se quem faz o registo o conseguisse fazer num minuto (isto é, receber a carta, verificar o registo, colocar as etiquetas, receber o pagamento, dar o troco e emitir o recibo com os dados do contribuinte), o que seguramente não é possível, esse valor representaria € 1,20/hora. Ao fim de 8 h de trabalho a remuneração de quem faz essa tarefa seria qualquer coisa como € 9,60. Sem direito a subsídios de férias ou de Natal ou segurança social. Notável.
Seria interessante saber se este é o modelo de desenvolvimento a que Passos Coelho dá cobertura e que é defendido pelo senhor Borges e por um laparoto qualquer de olhos esbugalhados e gravata vermelha que dizem que trata das coisas da Economia e de cujo nome já nem me recordo.

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