A Ferrari, equipa de fórmula 1, atingiu o número de 800 corridas. Para comemorar o feito resolveu criar uma nova página para todos nós, amantes da marca de Maranello, onde inclusivamente se pode acompanhar as corridas em directo e ter acesso aos blogues dos pilotos da casa.
sexta-feira, maio 28, 2010
ESTÁ NA ESTRADA
(foto Autosport)
Foi assim que começou, com Hirvonen na frente e um espectacular Villagra logo atrás. Ontem, talvez em razão do frio que se fazia sentir no Estádio Algarve, o campeão do mundo ainda devia estar a tomar o pulso aos Ford. Mas esta manhã Sordo e Ogier já começaram a abrir caminho para Loeb.
O mundial de ralis está cada vez mais parecido com a fórmula 1 de há meia dúzia de anos atrás: demasiado previsível, mas ainda assim a arrastar multidões.
Aproveite o fim-de-semana para ver as classificativas algarvias. Os melhores do mundo na terra batida vão andar por lá.
NOTAS SOLTAS
Duas notas soltas, entre dois troços do rali, para animarem o debate no Delito de Opinião. Estava à vista e Um novo Cavaco.
segunda-feira, maio 24, 2010
CRENTE ENVERGONHADO
Estas linhas de Aura Miguel reflectem bem o que vai na alma de muitos católicos depois da inenarrável declaração do Presidente Cavaco Silva a justificar as meias-tintas da promulgação do casamento entre pessoas do mesmo sexo. É evidente que o Patriarcado e a Conferência Episcopal não vão, por agora, fazer comentários destes. Mas a seu tempo lá virão. Nada de novo, portanto.
FILIPE SUPERSTAR
Primeiro foi José Mourinho, a vencer a Liga dos Campeões, no sábado, ao final da tarde, em Madrid. Ontem foi a vez de Filipe Albuquerque dar mais uma alegria aos portugueses, vencendo uma das corridas de Superstars em Portimão, na qual bateu alguns pilotos mais experientes, entre os quais ex-pilotos de fórmula 1. O Aútodromo Internacional de Portimão deu mais uma prova de grande vitalidade, mas o público continua a ser escasso para a qualidade do espectáculo e o preço bastante acessível dos bilhetes. As próximas jornadas estão já marcadas para o primeiro fim-de-semana de Julho, com a prova do WTCC, e para os dias 16 e 17 de Julho com a realização dos 1000 Km de Portimão, prova integrada nas Le Mans Series. Aqui ficam algumas imagens de mais uma excelente jornada desportiva.
Francisco Cruz Martins, no Ferrari encarnado, a largar para a segunda corrida do Campeonato Italiano de GT Sprint. Acabou por ficar em 2º no cômputo geral. O Audi RS8 preparado pela Audi Itália que levou Filipe Albuquerque à vitória na primeira corrida do Campeonato Italiano de Superstars. Na 2ª corrida o piloto português saiu do 4º lugar da grelha e andou a sempre a lutar pelos primeiros lugares até ser traído pela mecânica do carro.
O cockpit do Audi RS8de Filipe Albuquerque.
Ferraris por todo o lado...
Uma entrada digna das maiores estrelas.
Ferraris por todo o lado...
Uma entrada digna das maiores estrelas.
Pormenor da traseira do Ferrari de Sabatini.
Cruz Martins a caminho da pesagem.
sexta-feira, maio 21, 2010
VEM AÍ UM FIM-DE-SEMANA DE CORRIDAS
O ano passado foi um êxito. Este ano não vai ser pior. Com bons pilotos, bons carros e um óptimo autódromo, que mais precisa o Algarve para internacionalizar a Mexilhoeira? Ah!, e já me esquecia: neste desporto o árbitro não costuma ser o protagonista. Mais notícias só no Autosport, de onde também veio a foto do Filipe Albuquerque, o homem que vai defender as cores portuguesas na corrida de Superstars.
A LER
Agora que se discute tanto a retroactividade das leis fiscais vale a pena recordar este texto. Há por aí gente muito distraída. Quer à direita, quer à esquerda.
ESTADO DE DESCONFIANÇA
A discussão e votação da moção de censura apresentada pelo Partido Comunista Português (PCP) pode não ter servido para derrubar o governo de José Sócrates, para mudar o rumo da governação ou melhorar o estado da República, mas serviu para clarificar aos olhos de todos o estado em que esta se encontra e nas mãos de quem é que ela está.
1 - O primeiro ponto que há a sublinhar é a irrelevância dos comunistas. Por muito que se esforce o PCP não consegue ganhar mais protagonismo do que aquele que lhe é conferido pelas regras da democracia que temos. E é este é igual a zero aos olhos da opinião pública. Bernardino Soares queixa-se das políticas de direita que há décadas tomaram conta do país, mas há décadas que os portugueses ja disseram, nas urnas e por repetidas vezes, que apenas contam com o PCP como enfeite do regime nas bancadas de S. Bento. O "povo e os trabalhadores" - convém assinalar que para o PCP não são a mesma realidade - até hoje foram incapazes de dar uma vitória eleitoral ao PCP - não falo em termos autárquicos -; um resultado que pudesse projectá-lo para outro papel social e político. Por essa razão, a importância e o impacto da moção apresentada estão de acordo com a emissão da TVI24, que no exacto momento em que o líder parlamentar do PCP discursava, interrompia a emissão para assinalar a chegada de Cristiano Ronaldo ao estágio da selecção nacional de futebol, na Covilhã. O PCP continua sem entender o esclerosamento do seu discurso político e está convencido de que será com os Bernardinos, as Ritas e outros promissores jovens comunistas com mentalidade de velhos que um dia chegará ao poder.
2 - A moção comunista também permitiu aos portugueses perceberem as virtualidades - se é que não as conheciam já - do discurso parlamentar de Paulo Portas e do CDS/PP. Efectivamente, não fosse o jargão marxista-leninista da moção e Portas teria pedido aos seus que votassem favoravelmente a moção do PCP. Ou seja: para o CDS/PP votar ao lado dos mesmos que apoiaram a lei da interrupção voluntária da gravidez e promoveram o casamento entre pessoas do mesmo sexo até seria irrelevante se a moção apresentada viesse numa linguagem menos esquerdizante. Uma vez mais Paulo Portas mostrou que as suas semelhanças políticas com o falecido Álvaro Cunhal vão para além da mera combatividade e camaleónica capacidade de se ir adaptando às circunstâncias sem mudar de discurso. Só falta agora o líder do CDS/PP vir esclarecer a razão pela qual as últimas decisões da chanceler alemã em matéria fiscal, como todos sabem uma perigosa socialista, são boas para a Alemanha e porquê que idênticas decisões, quando tomadas em relação a Portugal, são más. Notável a todos os títulos.
3 - Outro aspecto a realçar é que o PSD, por mais líder que Passos Coelho seja, e eu não duvido da sua vontade, continua a ter muita dificuldade em assumir-se como verdadeira alternativa ao PS. O PSD é de há muitos anos a esta parte uma das muletas que permite a subsistência de um regime que cada dia que passa é mais fraudulento em relação às promessas e valores constitucionais que proclama. Ainda há dias Passos Coelho sublinhava o sentido de estado do partido que lidera, para logo a seguir se abster na votação da moção do PCP. Para o PSD seria indiferente que a moção do PCP vingasse. Por isso se abstém. Se o Governo caísse, essa seria outra questão, e aqui nem sequer é o discurso comunista que afasta o PSD do PCP. É mais o tacticismo político. As meias-tintas. A falta de coragem e de frontalidade política na hora da separação das águas, um pouco à semelhança do seu deputado Miguel Frasquilho, que nos dias ímpares é capaz de atacar a política do Governo e nos dias pares de exaltá-la nos relatórios que assina e envia para os investidores estrangeiros. Talvez também por estas e outras é que o fundador e militante número 1 do PSD, Francisco Pinto Balsemão, dizia ontem numa entrevista a Judite de Sousa que está mais próximo de Manuel Alegre do que do actual Presidente da República, que se identifica mais com o socialista do que com o prof. Cavaco Silva. Vindo de quem vem, ou seja, de quem não precisa nem depende deste Governo, nem de Manuel Alegre, nem do PSD, nem de Cavaco Silva ou do próximo Presidente da República, para nada, isso não deixa de ser elucidativo da diferença que separa o militante número 1 do PSD do actual líder. E compreende-se por que motivo a bancada parlamentar do PSD suspira pelo anúncio da recandidatura de Cavaco Silva. Talvez aí possa encontrar o cimento que lhe falta em matéria de ideias e de projectos.
4 - Pensarão alguns que depois do que acima escrevi vou agora partir para o discurso laudatório das qualidades do primeiro-ministro. Não se iludam. Este Governo foi o melhor que se arranjou. E José Sócrates foi o líder que o PS escolheu. A bancada parlamentar do PS é o reflexo dessa escolha. Os bons e os maus resultados passam por aí, pelas escolhas que foram feitas. Por muito infelizes que os portugueses estejam, e eu admito que sim, essa é que é a realidade. Convém que tenhamos a noção disso. Se o PS é hoje poder foi porque não havia mais ninguém em quem os portugueses confiassem. A Dr.ª Manuela Ferreira Leite e o Dr. Paulo Portas podem não gostar de ler isto, mas essa foi a verdade. Tivessem sido eles capazes de fazer melhor e não teriam agora motivo de queixa. Se não temos hoje melhores líderes, melhores dirigentes, uma classe política mais capaz, isso também partiu dos próprios portugueses que dão mais importância a Cristiano Ronaldo do que ao cumprimento dos deveres de cidadania. A falta de participação, o desinteresse, o discurso demagógico e populista, a falta de renovação dos partidos e das instituições democráticas, é que nos conduziu até aqui. Ao contrário do que pensa Pacheco Pereira, a culpa não é de José Sócrates, nem do PS, e menos ainda de Mota Amaral. O regime não chegou a este estado por culpa do PS. O regime chegou a este estado porque a democracia foi incapaz de renovar-se, porque as suas estruturas anquilosaram precocemente, porque o importante para as figuras gradas do regime era comprar "BMW's", ter telemóveis da 3ª geração ou ir de férias para Cancun com recurso ao crédito fácil. Por isso hoje continuamos todos de tanga, a mostrar aos amigos os calções de banho comprados na Quinta do Lago e dizendo alto para todos ouvirem que a sangria do Gigi estava magnífica, enquanto se desliga a chamada telefónica do chato do "meu gestor de conta" - o melhor símbolo do novo-riquismo e da parolice em que temos vivido -, que insiste em alerta-nos para a falta de pagamento da prestação do cartão de crédito. Mas num país onde um ex-primeiro-ministro revelou numa entrevista, para justificar o esforço que tinha feito em prol da pátria, que depois de sair do Governo teve de pedir emprestados 50.000 euros à banca para manter o seu nível de vida, de quê que estavam à espera?
5 - Por estas e por outras é que a votação da moção do PCP é mais uma daquelas boutades que não aquecem nem arrefecem. Numa lixeira a céu aberto faz pouca diferença o estar-se ao ar livre porque o cheiro não deixa por isso de ser insuportável. Ao invés do que sonha o meu amigo Pedro Correia, não é o PS nem o primeiro-ministro que estão alheados da realidade. É todo um país que se alheou de si próprio. É todo um país que definha e que há muito perdeu o sentido de si, enquanto os membros da sua classe política mais não fazem do que oferecerem a si próprios a tranquilidade de se imaginarem importantes. Jorge de Sena chamou-lhes uma camarilha. Eu não tenho nem um milésimo da sua autoridade e da sua coragem para colocar as coisas nesses termos. Por isso abstenho de qualificá-los. Não quero ofender ninguém.
1 - O primeiro ponto que há a sublinhar é a irrelevância dos comunistas. Por muito que se esforce o PCP não consegue ganhar mais protagonismo do que aquele que lhe é conferido pelas regras da democracia que temos. E é este é igual a zero aos olhos da opinião pública. Bernardino Soares queixa-se das políticas de direita que há décadas tomaram conta do país, mas há décadas que os portugueses ja disseram, nas urnas e por repetidas vezes, que apenas contam com o PCP como enfeite do regime nas bancadas de S. Bento. O "povo e os trabalhadores" - convém assinalar que para o PCP não são a mesma realidade - até hoje foram incapazes de dar uma vitória eleitoral ao PCP - não falo em termos autárquicos -; um resultado que pudesse projectá-lo para outro papel social e político. Por essa razão, a importância e o impacto da moção apresentada estão de acordo com a emissão da TVI24, que no exacto momento em que o líder parlamentar do PCP discursava, interrompia a emissão para assinalar a chegada de Cristiano Ronaldo ao estágio da selecção nacional de futebol, na Covilhã. O PCP continua sem entender o esclerosamento do seu discurso político e está convencido de que será com os Bernardinos, as Ritas e outros promissores jovens comunistas com mentalidade de velhos que um dia chegará ao poder.
2 - A moção comunista também permitiu aos portugueses perceberem as virtualidades - se é que não as conheciam já - do discurso parlamentar de Paulo Portas e do CDS/PP. Efectivamente, não fosse o jargão marxista-leninista da moção e Portas teria pedido aos seus que votassem favoravelmente a moção do PCP. Ou seja: para o CDS/PP votar ao lado dos mesmos que apoiaram a lei da interrupção voluntária da gravidez e promoveram o casamento entre pessoas do mesmo sexo até seria irrelevante se a moção apresentada viesse numa linguagem menos esquerdizante. Uma vez mais Paulo Portas mostrou que as suas semelhanças políticas com o falecido Álvaro Cunhal vão para além da mera combatividade e camaleónica capacidade de se ir adaptando às circunstâncias sem mudar de discurso. Só falta agora o líder do CDS/PP vir esclarecer a razão pela qual as últimas decisões da chanceler alemã em matéria fiscal, como todos sabem uma perigosa socialista, são boas para a Alemanha e porquê que idênticas decisões, quando tomadas em relação a Portugal, são más. Notável a todos os títulos.
3 - Outro aspecto a realçar é que o PSD, por mais líder que Passos Coelho seja, e eu não duvido da sua vontade, continua a ter muita dificuldade em assumir-se como verdadeira alternativa ao PS. O PSD é de há muitos anos a esta parte uma das muletas que permite a subsistência de um regime que cada dia que passa é mais fraudulento em relação às promessas e valores constitucionais que proclama. Ainda há dias Passos Coelho sublinhava o sentido de estado do partido que lidera, para logo a seguir se abster na votação da moção do PCP. Para o PSD seria indiferente que a moção do PCP vingasse. Por isso se abstém. Se o Governo caísse, essa seria outra questão, e aqui nem sequer é o discurso comunista que afasta o PSD do PCP. É mais o tacticismo político. As meias-tintas. A falta de coragem e de frontalidade política na hora da separação das águas, um pouco à semelhança do seu deputado Miguel Frasquilho, que nos dias ímpares é capaz de atacar a política do Governo e nos dias pares de exaltá-la nos relatórios que assina e envia para os investidores estrangeiros. Talvez também por estas e outras é que o fundador e militante número 1 do PSD, Francisco Pinto Balsemão, dizia ontem numa entrevista a Judite de Sousa que está mais próximo de Manuel Alegre do que do actual Presidente da República, que se identifica mais com o socialista do que com o prof. Cavaco Silva. Vindo de quem vem, ou seja, de quem não precisa nem depende deste Governo, nem de Manuel Alegre, nem do PSD, nem de Cavaco Silva ou do próximo Presidente da República, para nada, isso não deixa de ser elucidativo da diferença que separa o militante número 1 do PSD do actual líder. E compreende-se por que motivo a bancada parlamentar do PSD suspira pelo anúncio da recandidatura de Cavaco Silva. Talvez aí possa encontrar o cimento que lhe falta em matéria de ideias e de projectos.
4 - Pensarão alguns que depois do que acima escrevi vou agora partir para o discurso laudatório das qualidades do primeiro-ministro. Não se iludam. Este Governo foi o melhor que se arranjou. E José Sócrates foi o líder que o PS escolheu. A bancada parlamentar do PS é o reflexo dessa escolha. Os bons e os maus resultados passam por aí, pelas escolhas que foram feitas. Por muito infelizes que os portugueses estejam, e eu admito que sim, essa é que é a realidade. Convém que tenhamos a noção disso. Se o PS é hoje poder foi porque não havia mais ninguém em quem os portugueses confiassem. A Dr.ª Manuela Ferreira Leite e o Dr. Paulo Portas podem não gostar de ler isto, mas essa foi a verdade. Tivessem sido eles capazes de fazer melhor e não teriam agora motivo de queixa. Se não temos hoje melhores líderes, melhores dirigentes, uma classe política mais capaz, isso também partiu dos próprios portugueses que dão mais importância a Cristiano Ronaldo do que ao cumprimento dos deveres de cidadania. A falta de participação, o desinteresse, o discurso demagógico e populista, a falta de renovação dos partidos e das instituições democráticas, é que nos conduziu até aqui. Ao contrário do que pensa Pacheco Pereira, a culpa não é de José Sócrates, nem do PS, e menos ainda de Mota Amaral. O regime não chegou a este estado por culpa do PS. O regime chegou a este estado porque a democracia foi incapaz de renovar-se, porque as suas estruturas anquilosaram precocemente, porque o importante para as figuras gradas do regime era comprar "BMW's", ter telemóveis da 3ª geração ou ir de férias para Cancun com recurso ao crédito fácil. Por isso hoje continuamos todos de tanga, a mostrar aos amigos os calções de banho comprados na Quinta do Lago e dizendo alto para todos ouvirem que a sangria do Gigi estava magnífica, enquanto se desliga a chamada telefónica do chato do "meu gestor de conta" - o melhor símbolo do novo-riquismo e da parolice em que temos vivido -, que insiste em alerta-nos para a falta de pagamento da prestação do cartão de crédito. Mas num país onde um ex-primeiro-ministro revelou numa entrevista, para justificar o esforço que tinha feito em prol da pátria, que depois de sair do Governo teve de pedir emprestados 50.000 euros à banca para manter o seu nível de vida, de quê que estavam à espera?
5 - Por estas e por outras é que a votação da moção do PCP é mais uma daquelas boutades que não aquecem nem arrefecem. Numa lixeira a céu aberto faz pouca diferença o estar-se ao ar livre porque o cheiro não deixa por isso de ser insuportável. Ao invés do que sonha o meu amigo Pedro Correia, não é o PS nem o primeiro-ministro que estão alheados da realidade. É todo um país que se alheou de si próprio. É todo um país que definha e que há muito perdeu o sentido de si, enquanto os membros da sua classe política mais não fazem do que oferecerem a si próprios a tranquilidade de se imaginarem importantes. Jorge de Sena chamou-lhes uma camarilha. Eu não tenho nem um milésimo da sua autoridade e da sua coragem para colocar as coisas nesses termos. Por isso abstenho de qualificá-los. Não quero ofender ninguém.
Em tempo: Este post que acabei de ler só confirma o que acima escrevi. O rei vai nu, sabe que vai nu e ainda se diverte com a figura que faz. A minha esperança é que o Ricardo Araújo Pereira também concorra às próximas eleições presidenciais. Já deve ter passado os 35 anos e o Pedro Mexia sempre poderia ser o seu mandatário nacional. Mesmo com a crise isto havia de animar.
[também no Delito de Opinião]
quarta-feira, maio 19, 2010
UMA MONARQUIA EM CHAMAS
A imagem divulgada pela Reuters da capital da Tailândia em chamas diz tudo sobre o papel desempenhado por algumas monarquias nos tempos modernos. A crise que dura há meses e se arrasta numa espiral interminável de violência, ilustra bem a dificuldade que há em pôr termo à loucura que tomou conta das ruas.
A Tailândia está há muitos anos na mãos de generais e de elites ocidentalizadas. A corrupção há muito que é conhecida. O seu povo venera o Rei, mas ciclicamente lá vêm os tanques para a rua.
É a prova, se é que ainda seria necessária, de que a violência tanto atinge repúblicas como monarquias e que estas não são garantia de estabilidade, paz e progresso. Há boas e más repúblicas como há boas e más monarquias e não é a natureza republicana ou monárquica do Estado que faz a diferença. São os homens e as regras.
Se a Tailândia fosse hoje uma república não faltariam por cá os nossos monárquicos, que se especializaram em acções de "palhaçada urbana", para apontarem o dedo à desgraça dos tailandeses. Como é uma monarquia mantêm-se silenciosos, certamente à espera que tudo volte à normalidade. Nem que seja à lei da bala e muitos mortos depois.
terça-feira, maio 18, 2010
UMA VISÃO ECONOMICISTA DA VIDA
O Pedro Correia, neste mesmo espaço e com a independência que lhe é reconhecida, já lhe chamou um "notável exercício de hipocrisia política". Eu acho que é bem mais do que isso e que é a imagem de uma certa maneira de estar na vida e na política que já nos custou ter chegado até aqui.
Com efeito, a declaração de ontem do Presidente da República mais não foi do que uma tentativa, espúria, de salvar o que resta do seu atabalhoado mandato, onde tudo se tem misturado: as questões importantes com as marginais, a lamúria com a constatação da incapacidade de acção e a irrenunciabilidade dos poderes presidenciais.
O Presidente da República veio utilizar um argumento económico numa questão que para a Igreja, para muitos portugueses e para ele próprio, pelo menos até ontem, era uma questão fundamental na forma como concebem a família, a sociedade e o direito que nos rege. E digo até ontem porque a partir do momento em que o Presidente da República preferiu contornar a legitimidade constitucional e democrática do veto político para evitar ser confrontado com uma decisão da Assembleia da República, que colocaria definitivamente em xeque a sua recandidatura, tornou mais clara a sua posição e os seus interesses.
Veio então o Presidente falar de consenso, dizendo que preferiria que os partidos com assento parlamentar tivessem encontrado uma solução mais do seu agrado, que beliscasse menos as concepções por si defendidas. Está no seu direito apelar ao consenso, mas ao fazê-lo o Presidente da República esquece que Portugal só está na situação em que está, que o país só atravessa a crise que hoje vivemos porque há uma coisa chamada consenso que tem servido para tudo e para nada. É o consenso a causa do nosso atraso secular, da inoperância, da falta de músculo no combate à corrupção, do laxismo das instituições e do abastardamento da ética da responsabilidade a que ele ontem também se referiu.
O convívio em democracia assenta em regras, em valores, em princípios. A vida política é feita de combates, de opções claras e determinadas. Quando em nome de um hipotético e malogrado consenso e de uma crise económica e financeira, o mais alto magistrado da Nação está disposto a abdicar daquilo em que acredita para se colocar à margem da discussão política, está apenas a dar uma triste imagem de si e do seu papel.
A interiorização das regras do Estado constitucional e o adequado funcionamento do seu sistema de pesos e contrapesos não podem ficar dependentes da acção dos especuladores ou das taxas de juro.
Ao promulgar a lei sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo com o argumento de que não pretendia desviar as atenções, fazendo-o quatro dias depois da saída do Papa Bento XVI de Portugal, o Presidente da República revelou as dificuldades que tem em conviver com o elementar da democracia e do funcionamento das instituições.
Cada um acredita no que quer e escolhe para si as razões por que há-de ficar na história em cada momento. Cavaco Silva escolheu as do prato de lentilhas. As mesmas que serviram para tornar razoável perante alguns espíritos 48 anos de autoritarismo e um golpe de estado consensual promovido por militares descontentes com as suas carreiras. E também as mesmas que serviram para afastar e recolocar um assessor da sua entourage caído em desgraça perante a opinião pública.
Em termo práticos, a consequência do veto seria o reenvio da lei para a Assembleia da República. Tratar-se-ia de um procedimento meramente burocrático destinado a cumprir com as exigências constitucionais. O desviar de atenções não seria maior do que aquele que foi proporcionado durante uma longa semana pela vitória do Benfica no campeonato ou pela visita do Papa. E seguramente que ficaria muito aquém daquilo que acontecerá dentro de menos de um mês quando Portugal iniciar na África do Sul a sua participação no Mundial de futebol.
Refugiando-se nos argumentos que escolheu, o Presidente da República mostrou claramente as dificuldades que dilaceram o seu espírito e tornou evidente o seu desconforto quando se trata de escolher entre uma ética de valores ou uma ética de conveniências e, tristemente, acabou por escolher a segunda. Entre o arrojo da política e a defesa dos ideais ou a manutenção do status quo e da paz podre do regime, o Presidente da República escolheu o actual estado de coisas.
Pode ser que um dia todos venhamos a reconhecer que a promulgação desta lei é uma vitória dos valores da civilização. Pode ser que amanhã todos já nos tenhamos esquecido da polémica. Pode ser que tudo volte a cair no esquecimento. Mas mesmo que isso não venha a acontecer de uma coisa tenho já a certeza: a atitude do Presidente da República mostrou por que razão Portugal continuará a ser um país adiado, atrasado, acomodado e sem esperança.
Com efeito, a declaração de ontem do Presidente da República mais não foi do que uma tentativa, espúria, de salvar o que resta do seu atabalhoado mandato, onde tudo se tem misturado: as questões importantes com as marginais, a lamúria com a constatação da incapacidade de acção e a irrenunciabilidade dos poderes presidenciais.
O Presidente da República veio utilizar um argumento económico numa questão que para a Igreja, para muitos portugueses e para ele próprio, pelo menos até ontem, era uma questão fundamental na forma como concebem a família, a sociedade e o direito que nos rege. E digo até ontem porque a partir do momento em que o Presidente da República preferiu contornar a legitimidade constitucional e democrática do veto político para evitar ser confrontado com uma decisão da Assembleia da República, que colocaria definitivamente em xeque a sua recandidatura, tornou mais clara a sua posição e os seus interesses.
Veio então o Presidente falar de consenso, dizendo que preferiria que os partidos com assento parlamentar tivessem encontrado uma solução mais do seu agrado, que beliscasse menos as concepções por si defendidas. Está no seu direito apelar ao consenso, mas ao fazê-lo o Presidente da República esquece que Portugal só está na situação em que está, que o país só atravessa a crise que hoje vivemos porque há uma coisa chamada consenso que tem servido para tudo e para nada. É o consenso a causa do nosso atraso secular, da inoperância, da falta de músculo no combate à corrupção, do laxismo das instituições e do abastardamento da ética da responsabilidade a que ele ontem também se referiu.
O convívio em democracia assenta em regras, em valores, em princípios. A vida política é feita de combates, de opções claras e determinadas. Quando em nome de um hipotético e malogrado consenso e de uma crise económica e financeira, o mais alto magistrado da Nação está disposto a abdicar daquilo em que acredita para se colocar à margem da discussão política, está apenas a dar uma triste imagem de si e do seu papel.
A interiorização das regras do Estado constitucional e o adequado funcionamento do seu sistema de pesos e contrapesos não podem ficar dependentes da acção dos especuladores ou das taxas de juro.
Ao promulgar a lei sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo com o argumento de que não pretendia desviar as atenções, fazendo-o quatro dias depois da saída do Papa Bento XVI de Portugal, o Presidente da República revelou as dificuldades que tem em conviver com o elementar da democracia e do funcionamento das instituições.
Cada um acredita no que quer e escolhe para si as razões por que há-de ficar na história em cada momento. Cavaco Silva escolheu as do prato de lentilhas. As mesmas que serviram para tornar razoável perante alguns espíritos 48 anos de autoritarismo e um golpe de estado consensual promovido por militares descontentes com as suas carreiras. E também as mesmas que serviram para afastar e recolocar um assessor da sua entourage caído em desgraça perante a opinião pública.
Em termo práticos, a consequência do veto seria o reenvio da lei para a Assembleia da República. Tratar-se-ia de um procedimento meramente burocrático destinado a cumprir com as exigências constitucionais. O desviar de atenções não seria maior do que aquele que foi proporcionado durante uma longa semana pela vitória do Benfica no campeonato ou pela visita do Papa. E seguramente que ficaria muito aquém daquilo que acontecerá dentro de menos de um mês quando Portugal iniciar na África do Sul a sua participação no Mundial de futebol.
Refugiando-se nos argumentos que escolheu, o Presidente da República mostrou claramente as dificuldades que dilaceram o seu espírito e tornou evidente o seu desconforto quando se trata de escolher entre uma ética de valores ou uma ética de conveniências e, tristemente, acabou por escolher a segunda. Entre o arrojo da política e a defesa dos ideais ou a manutenção do status quo e da paz podre do regime, o Presidente da República escolheu o actual estado de coisas.
Pode ser que um dia todos venhamos a reconhecer que a promulgação desta lei é uma vitória dos valores da civilização. Pode ser que amanhã todos já nos tenhamos esquecido da polémica. Pode ser que tudo volte a cair no esquecimento. Mas mesmo que isso não venha a acontecer de uma coisa tenho já a certeza: a atitude do Presidente da República mostrou por que razão Portugal continuará a ser um país adiado, atrasado, acomodado e sem esperança.
[também no Delito de Opinião]
segunda-feira, maio 17, 2010
NOVO ÊXITO
Integrado na equipa oficial BMW, Pedro Lamy somou mais um êxito, a antever uma excelente jornada para Le Mans.
Depois do sucesso em SPA Francochamps, de novo a vitória nas exigentes 24 horas de Nürburgring.
Bem se pode dizer que ele e José Mourinho só sabem mesmo ganhar. Para bem deles e das cores nacionais.
A notícia mais desenvolvida poderá ser encontrada no Autosport, de onde também veio a fotografia que ilustra este post e que com a devida vénia aqui reproduzo.
PORTUGAL, MACAU, LIBERDADE DE EXPRESSÃO E ANONIMATO VIRTUAL
João Paulo Meneses e o Ponto Final, um honesto jornal de Macau com o qual colaborei durante alguns anos e a que um dia será feita a devida justiça, resolveram assinalar os dez anos do Fórum Macau com um interessante artigo. Ou a melhor prova de que o anonimato na Internet tenderá a ser cada vez mais efémero. Ainda bem.
HABANA DAY
Como depois dos touros virá alguém proibir os charutos, aqui fica o convite para que passem um excelente dia entre charutos, boa comida e bons vinhos.
No próximo dia 22 de Maio terá lugar o Casino Estoril o "Habana Day". O programa começa logo às 9.30 e inclui palestras sobre a "Génese das marcas e da denominação Habanos", "Um olhar sobre as marcas mais importantes na história dos Habanos", "Um olhar sobre a história e cultura de Cuba", workshops com a presença de mestres enroladores cubanos, provas dedicadas ao "Montecristo Petit Edmundo" (emparelhado com uma reserva especial de 2001 da Casa Ferreirinha), ao "Montecristo Open Eagle" (emparelhado com um Ferreira Vintage de 2007) e ao "Montecristo n.º 2" (emparelhado com o soberbo Glenrothes Select Reserve) e um almoço buffet. O melhor estará reservado para o jantar. Na ementa, para além dos aperitivos da praxe (mojitos e daiquiris do Havana Club), haverá sopa de peixe de rio Dona Helena, tornedó de vitela com molho de canela e whisky e delícia fria de chocolate com coração fondante (?) de amêndoa.
Se forem capazes de esquecer que por detrás da iniciativa também estará uma jornada de propaganda (daí a presença do "compañero" Embaixador de Cuba no evento), estou certo de que passarão um dia magnífico.
E não se esqueçam de dizer que vão da parte deste vosso amigo.
DE NOVO A FESTA BRAVA
(foto EPA)
Bem sei que o tema é suficientemente polémico, fracturante como alguns iluminados gostam de dizer, que as posições estão há muito radicalizadas, e que intervenções de organizações como a Associação Animal, em vez de trazerem argumentos inteligentes e ponderados ao debate apenas têm servido para extremá-lo ainda mais.
Mario Vargas Llosa é um homem que dispensa apresentações e não será pelo facto de estar ao lado dos adeptos da festa brava que vai deixar de ser lido ou respeitado, por muito que a aprtir de agora o queiram votar ao ostracismo.
Ninguém poderá ficar indiferente quando se diz que "Chi vuole proibire la tauromachia, in molti casi, e adesso nel caso di Barcellona, lo fa solitamente per ragioni che hanno a che fare più con l’ideologia e la politica che con l’amore verso gli animali".
Proibir a festa brava poderia ser neste momento não menos infame do que proibir o consumo de marisco, mas não é nesse ponto que o debate deverá centrar-se.
Tal como escreve Vargas llosa, pelas restrições à liberdade que uma proibição implica, convirá ter sempre presente que "a imposição autoritária no âmbito do prazer e da paixão, é uma coisa que mina um fundamento essencial da vida democrática: a liberdade de escolha".
Muitos haverá que discordam do ponto de vista do escritor. Eu próprio tenho dúvidas em aceitar determinado tipo de atitudes e a força de certos argumentos, mas confesso que o da liberdade de escolha, enquanto pilar estruturante da nossa vida em comunidade tem muita força e não será fácil encontrar o justo equilíbrio entre posições extremas.
Quem já viveu o silêncio sepulcral da Maestranza e sentiu um fio de suor a escorrer-lhe pelas costas numa tarde quente e solarenga, quem leu Ortega y Gasset, Unamuno ou Hemingway, viu alguns desenhos de Francisco de Goya, percebe do que falo e da importância do tema.
É que, pessoalmente, também tenho muita dificuldade em compreender alguns adeptos da tese proibicionista que depois não se coíbem de levar os seu próprios cães para a praia, deixando-os soltos e a fazerem as necessidades em qualquer lado, indiferentes à falta de higiene e de respeito inerente a tal atitude e ao desconforto que provocam nos demais utentes do espaço público, obrigados a coabitarem com a satisfação canina e o alheamento irresponsável dos seu donos.
Por tudo isso é importante ler o que saiu no Corriere della Sera, depois de já ter sido publicado em Espanha, no El Pais, e trazer de novo o debate para a praça pública.
Somos nós, cidadãos, que temos de decidir até onde queremos que vá a nossa liberdade. Antes que um fundamentalista qualquer decida de hoje para amanhã que estaremos condenados a comer batatas com acelgas, a deixar de tomar banho para não gastarmos água ou a acatar a "decisão" do rafeiro do vizinho que resolveu aliviar-se na priemira toalha de praia que encontrou.
P.S. É bom que se saiba que sou um apaixonado por animais, cães e touros incluidos.
sábado, maio 15, 2010
FAÇO MINHAS AS PALAVRAS DO FERREIRA FERNANDES
Se a Bruna andasse nos copos, a dar uns chutos, a fumar uns charros à socapa ou a prestar serviços nocturnos ao domicilio, não haveria problema. Como resolveu ganhar umas coroas honestamente e não fez disso segredo, caem-lhe em cima os ayatollahs. Essa pode ter sido a oportunidade da "stôra" para sair do buraco e livrar-se da hipocrisia.
sexta-feira, maio 14, 2010
EM PRIMEIRA MÃO
PARTIU UM CIDADÃO
Um dia, em 1982, numa oral de Finanças Públicas, quando me sentei diante dele para prestar provas, olhou para mim, leu o meu nome e disse-me: "De que é que hoje quer falar? Podemos falar sobre tudo menos sobre inflação. Sobre isso já discutimos o suficiente". É claro que depois falámos de muitas outras coisas, tudo correu normalmente e eu sempre recordei a sua memória prodigiosa.
Meses antes tivéramos uma acalorada discussão sobre um trabalho meu. O tema era a inflação e nessa altura eu tinha sido severamente criticado pelas posições que então defendi e que em tudo contrariavam aquilo que ele pensava sobre o assunto.
Numa escola onde ter posições diferentes das dos mestres era muitas vezes meio caminho andado para o chumbo, ele foi um dos poucos que foi capaz de marcar de forma decisiva os meus anos de faculdade. Não só pelo modo como tratava com os alunos, mas em especial pela forma como com eles discutia e os obrigava a defenderem e justificarem as suas próprias posições. Ele obrigava-nos a pensar e mesmo quando discordava era capaz de reconhecer a autonomia do pensamento e a liberdade criativa onde ela existia e merecia ser incentivada. Depois, é evidente que era também preciso saber da matéria, senão nada feito. Não era um daqueles que se deixava enganar com meia dúzia de balelas inconsequentes e coladas com cuspo. Por isso havia quem entre os alunos não gostasse dele. Ele não tolerava a incompetência, nem a falta de honestidade e de rigor intelectual.
Quando esta manhã, ainda meio ensonado, acordei para a triste notícia do seu falecimento, tive alguma dificuldade em acreditar que não voltaria a ouvi-lo, nem a ler novos escritos.
Ainda há dias pensara nele quando o Governo anunciara a tributação retroactiva das mais-valias e estranhava ainda não ter ouvido nenhum comentário dele sobre o assunto. O regime de tributação das mais-valias era mais um dos seus projectos de investigação que ficou a meio.
Hoje, infelizmente, percebi a razão para o silêncio, confirmada há pouco depois de passar pela sua página na Internet.
Morreu José Luís Saldanha Sanches.
Ele, que era pouco dado a lamechices e muito virado para o lado prático das coisas, certamente que encararia este dia como apenas mais um. Eu é que não ficaria de bem com a minha consciência se não deixasse aqui ficar umas breves linhas.
Por muitos que sejam os manuais, as folhas escritas e as palavras gravadas sobre as matérias que ele gostava de tratar e de investigar, mais dia menos dia, com a velocidade de produção legislativa deste país, tudo isso ficará desactualizado.
Porém, há uma coisa que nunca ficará desactualizada nem mudará por mais anos que passem: o exemplo. O exemplo de um homem simples, interessado, senhor de um humor de rara inteligência, de uma extraordinária lucidez e de uma verticalidade e coragem à prova de bala.
O país pode ter perdido um ilustre jurisconsulto, um notável pedagogo e um emérito fiscalista. Não deixará de haver por aí quem tenha capacidade e conhecimentos e esteja disponível para ocupar esse lugar e continuar a notável lição do mestre.
Mas os portugueses, esses, perderam um dos seus. Os portugueses perderam um cidadão. Um dos melhores. E isto é que é dramático. Num país onde são cada vez menos os cidadãos e mais os homens-massa, não há nada nem ninguém que possa fazer esquecê-lo.
Meses antes tivéramos uma acalorada discussão sobre um trabalho meu. O tema era a inflação e nessa altura eu tinha sido severamente criticado pelas posições que então defendi e que em tudo contrariavam aquilo que ele pensava sobre o assunto.
Numa escola onde ter posições diferentes das dos mestres era muitas vezes meio caminho andado para o chumbo, ele foi um dos poucos que foi capaz de marcar de forma decisiva os meus anos de faculdade. Não só pelo modo como tratava com os alunos, mas em especial pela forma como com eles discutia e os obrigava a defenderem e justificarem as suas próprias posições. Ele obrigava-nos a pensar e mesmo quando discordava era capaz de reconhecer a autonomia do pensamento e a liberdade criativa onde ela existia e merecia ser incentivada. Depois, é evidente que era também preciso saber da matéria, senão nada feito. Não era um daqueles que se deixava enganar com meia dúzia de balelas inconsequentes e coladas com cuspo. Por isso havia quem entre os alunos não gostasse dele. Ele não tolerava a incompetência, nem a falta de honestidade e de rigor intelectual.
Quando esta manhã, ainda meio ensonado, acordei para a triste notícia do seu falecimento, tive alguma dificuldade em acreditar que não voltaria a ouvi-lo, nem a ler novos escritos.
Ainda há dias pensara nele quando o Governo anunciara a tributação retroactiva das mais-valias e estranhava ainda não ter ouvido nenhum comentário dele sobre o assunto. O regime de tributação das mais-valias era mais um dos seus projectos de investigação que ficou a meio.
Hoje, infelizmente, percebi a razão para o silêncio, confirmada há pouco depois de passar pela sua página na Internet.
Morreu José Luís Saldanha Sanches.
Ele, que era pouco dado a lamechices e muito virado para o lado prático das coisas, certamente que encararia este dia como apenas mais um. Eu é que não ficaria de bem com a minha consciência se não deixasse aqui ficar umas breves linhas.
Por muitos que sejam os manuais, as folhas escritas e as palavras gravadas sobre as matérias que ele gostava de tratar e de investigar, mais dia menos dia, com a velocidade de produção legislativa deste país, tudo isso ficará desactualizado.
Porém, há uma coisa que nunca ficará desactualizada nem mudará por mais anos que passem: o exemplo. O exemplo de um homem simples, interessado, senhor de um humor de rara inteligência, de uma extraordinária lucidez e de uma verticalidade e coragem à prova de bala.
O país pode ter perdido um ilustre jurisconsulto, um notável pedagogo e um emérito fiscalista. Não deixará de haver por aí quem tenha capacidade e conhecimentos e esteja disponível para ocupar esse lugar e continuar a notável lição do mestre.
Mas os portugueses, esses, perderam um dos seus. Os portugueses perderam um cidadão. Um dos melhores. E isto é que é dramático. Num país onde são cada vez menos os cidadãos e mais os homens-massa, não há nada nem ninguém que possa fazer esquecê-lo.
quarta-feira, maio 12, 2010
EXCESSOS POUCO REDENTORES
Tenho acompanhado com um misto de curiosidade e espanto a viagem de Bento XVI a Portugal.
Ainda com a imagem bem fresca na minha memória de João Paulo II e da viagem que fiz a Roma e ao Vaticano no ano que antecedeu o seu desaparecimento, confesso que tenho olhado para o pontificado de Ratzinger com uma grande desconfiança. O seu papel enquanto guardião da doutrina oficial e a forma como tem conduzido a Igreja desde que assumiu o seu comando, em nada contribuíram para afastar esse estado de espírito.
A imagem do Papa, para além daquilo que é transmitido pelo próprio nas suas fugazes aparições, textos e discursos, é muitas vezes a que resulta do que é transmitido pelos seus adjuntos e secretários e da forma como as suas mensagens são filtradas até chegarem ao exterior. E é exactamente por aqui que as coisas têm claudicado. Sucessivos escândalos, declarações evasivas e pouco esclarecedoras sobre os mesmos, uma certa complacência com os poderosos e um perdão sempre pronto em relação a situações de extrema gravidade, deram alimento às vozes que fazem do ataque às religiões e, em especial, ao catolicismo, uma bandeira de afirmação no contexto mundial.
A Igreja perdeu força e protagonismo com Bento XVI mas parece que aos poucos começa de novo a recuperar a sua influência e a resgatar uma credibilidade que tão mal tratada tem sido.
A melhor prova dessa recuperação é dada pelas corajosas palavras que proferiu no voo que o trouxe até Lisboa. Ao condenar de forma tão clara e directa os erros cometidos, ao afirmar e reconhecer que os maiores inimigos da Igreja estão dentro dela, Bento XVI assume de novo o protagonismo e garante que está atento ao que se passou e está a passar. Essa é a maior e melhor mensagem de esperança e de confiança no futuro que poderia transmitir.
Como católico e cidadão esse é um estímulo poderoso para o trabalho futuro. A fortificação do espírito numa muralha ética, a coragem de enfrentar os desafios, o ser capaz de olhar para dentro e de ajuizar qual o melhor caminho a seguir, percebendo que é a Igreja que terá de se adaptar aos novos tempos e não o contrário, é o papel e o que se espera de um líder com a dimensão religiosa e política do sucessor de S. Pedro.
Mas o conforto que isso me dá não me descansa o espírito noutras vertentes.
Percebo e reconheço a importância e o interesse para todos da viagem a Portugal de Bento XVI, numa altura de crise internacional e interna, num momento em que todos os esforços serão sempre insuficientes e ficarão aquém do necessário para minorar o sofrimento de muitos milhões, mas tenho muita dificuldade em aceitar alguns excessos, venham eles de onde vierem.
Dou de barato as complicações estradais, a tolerância de ponto decretada pelo Governo ou os milhares que foram gastos na preparação da visita e no alindamento de Lisboa. Estou certo de que os católicos portugueses não chorarão a contribuição que os seus impostos irão dar para as despesas da visita, embora qualquer pessoa de bom senso e no seu perfeito juízo possa pensar que setenta e cinco milhões de euros para serem "derretidos" em três dias é uma verba excessiva para com a contenção, e a discrição, que a fé também reclama e de que a Igreja deveria ser a primeira a dar exemplo.
Incomoda-me a ostentação excessiva, a forma bajuladora e até certo ponto subserviente como as instituições da República e os seus titulares se comportam nalgumas cerimónias públicas; o tempo dado pelos canais públicos de rádio e de televisão à visita, e, em especial, determinado tipo de manifestações que apenas servem para rebaixar o evento, o seu interesse ecuménico e político e conferir natureza folclórica àquilo que era suposto ser sério. A oferta de camisolas de equipas de futebol em pleno Terreiro do Paço é um exemplo disso mesmo.
Seria bom que momentos como esse, e que eu sinceramente espero não ver repetidos, não servissem para desvalorizar a importância desta visita e que, naquilo que ainda falta cumprir, as instituições da República e os seus titulares não se comportassem como meros serventuários da Santa Sé ou dos secretários de Bento XVI. Tudo o que é excessivo é contraproducente. Tudo o que é forçado é ridículo. A Igreja e a República não podem em momento algum ser confundidas e seria bom que isso não passasse despercebido. Para bem de uma e de outra instituição.
Ainda com a imagem bem fresca na minha memória de João Paulo II e da viagem que fiz a Roma e ao Vaticano no ano que antecedeu o seu desaparecimento, confesso que tenho olhado para o pontificado de Ratzinger com uma grande desconfiança. O seu papel enquanto guardião da doutrina oficial e a forma como tem conduzido a Igreja desde que assumiu o seu comando, em nada contribuíram para afastar esse estado de espírito.
A imagem do Papa, para além daquilo que é transmitido pelo próprio nas suas fugazes aparições, textos e discursos, é muitas vezes a que resulta do que é transmitido pelos seus adjuntos e secretários e da forma como as suas mensagens são filtradas até chegarem ao exterior. E é exactamente por aqui que as coisas têm claudicado. Sucessivos escândalos, declarações evasivas e pouco esclarecedoras sobre os mesmos, uma certa complacência com os poderosos e um perdão sempre pronto em relação a situações de extrema gravidade, deram alimento às vozes que fazem do ataque às religiões e, em especial, ao catolicismo, uma bandeira de afirmação no contexto mundial.
A Igreja perdeu força e protagonismo com Bento XVI mas parece que aos poucos começa de novo a recuperar a sua influência e a resgatar uma credibilidade que tão mal tratada tem sido.
A melhor prova dessa recuperação é dada pelas corajosas palavras que proferiu no voo que o trouxe até Lisboa. Ao condenar de forma tão clara e directa os erros cometidos, ao afirmar e reconhecer que os maiores inimigos da Igreja estão dentro dela, Bento XVI assume de novo o protagonismo e garante que está atento ao que se passou e está a passar. Essa é a maior e melhor mensagem de esperança e de confiança no futuro que poderia transmitir.
Como católico e cidadão esse é um estímulo poderoso para o trabalho futuro. A fortificação do espírito numa muralha ética, a coragem de enfrentar os desafios, o ser capaz de olhar para dentro e de ajuizar qual o melhor caminho a seguir, percebendo que é a Igreja que terá de se adaptar aos novos tempos e não o contrário, é o papel e o que se espera de um líder com a dimensão religiosa e política do sucessor de S. Pedro.
Mas o conforto que isso me dá não me descansa o espírito noutras vertentes.
Percebo e reconheço a importância e o interesse para todos da viagem a Portugal de Bento XVI, numa altura de crise internacional e interna, num momento em que todos os esforços serão sempre insuficientes e ficarão aquém do necessário para minorar o sofrimento de muitos milhões, mas tenho muita dificuldade em aceitar alguns excessos, venham eles de onde vierem.
Dou de barato as complicações estradais, a tolerância de ponto decretada pelo Governo ou os milhares que foram gastos na preparação da visita e no alindamento de Lisboa. Estou certo de que os católicos portugueses não chorarão a contribuição que os seus impostos irão dar para as despesas da visita, embora qualquer pessoa de bom senso e no seu perfeito juízo possa pensar que setenta e cinco milhões de euros para serem "derretidos" em três dias é uma verba excessiva para com a contenção, e a discrição, que a fé também reclama e de que a Igreja deveria ser a primeira a dar exemplo.
Incomoda-me a ostentação excessiva, a forma bajuladora e até certo ponto subserviente como as instituições da República e os seus titulares se comportam nalgumas cerimónias públicas; o tempo dado pelos canais públicos de rádio e de televisão à visita, e, em especial, determinado tipo de manifestações que apenas servem para rebaixar o evento, o seu interesse ecuménico e político e conferir natureza folclórica àquilo que era suposto ser sério. A oferta de camisolas de equipas de futebol em pleno Terreiro do Paço é um exemplo disso mesmo.
Seria bom que momentos como esse, e que eu sinceramente espero não ver repetidos, não servissem para desvalorizar a importância desta visita e que, naquilo que ainda falta cumprir, as instituições da República e os seus titulares não se comportassem como meros serventuários da Santa Sé ou dos secretários de Bento XVI. Tudo o que é excessivo é contraproducente. Tudo o que é forçado é ridículo. A Igreja e a República não podem em momento algum ser confundidas e seria bom que isso não passasse despercebido. Para bem de uma e de outra instituição.
terça-feira, maio 11, 2010
segunda-feira, maio 10, 2010
FOTO DEL GIORNO
É a imagem que corre mundo. A fotografia é da ANSA, mas a notícia veio de Itália. É assim o Benfica: grande cá dentro e lá fora.
CAMPEÃO É QUEM CHEGA NO FIM À FRENTE
Trinta jogos depois, com mais de cem golos marcados, setenta e seis pontos amealhados, o melhor marcador do campeonato e cinco pontos de diferença em relação ao segundo classificado. Ali ao lado dediquei o título a quem gostava de futebol. Agora é hora de celebrar cá em casa, com a minha gente, serenamente, em paz. Campeões, pois claro. E não é que desta vez o campeão da pré-época foi o mesmo que ganhou a Liga Sagres?
sexta-feira, maio 07, 2010
CADA VEZ MAIS LATINOS
Para quem aqui há uns anos advogava a alteração do nosso sistema de representação proporcional para um sistema maioritário do tipo britânico, com o argumento de que dessa forma seriam geradas maiorias fortes e governos estáveis, o resultado das eleições legislativas de ontem no Reino Unido não deixa de ser uma lição para quem sempre se preocupou mais do que devia com a estabilidade. O problema, como se vê, não está no sistema eleitoral. Só há bons ou maus governos e normalmente os maus é que criam problemas, qualquer que seja o sistema. Acontece por lá do mesmo modo que acontece por cá. O povo é que sabe.
quarta-feira, maio 05, 2010
QUALQUER COISA
Duas linhas aqui a anunciar outras duas no Delito de Opinião, que hoje bateu todos os recordes e se tornou no primeiro blogue nacional em termos de audiência. É só para vos dizer que estou vivo e de boa saúde. Não tarda estarei de volta.
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