Tenho acompanhado com um misto de curiosidade e espanto a viagem de Bento XVI a Portugal.
Ainda com a imagem bem fresca na minha memória de João Paulo II e da viagem que fiz a Roma e ao Vaticano no ano que antecedeu o seu desaparecimento, confesso que tenho olhado para o pontificado de Ratzinger com uma grande desconfiança. O seu papel enquanto guardião da doutrina oficial e a forma como tem conduzido a Igreja desde que assumiu o seu comando, em nada contribuíram para afastar esse estado de espírito.
A imagem do Papa, para além daquilo que é transmitido pelo próprio nas suas fugazes aparições, textos e discursos, é muitas vezes a que resulta do que é transmitido pelos seus adjuntos e secretários e da forma como as suas mensagens são filtradas até chegarem ao exterior. E é exactamente por aqui que as coisas têm claudicado. Sucessivos escândalos, declarações evasivas e pouco esclarecedoras sobre os mesmos, uma certa complacência com os poderosos e um perdão sempre pronto em relação a situações de extrema gravidade, deram alimento às vozes que fazem do ataque às religiões e, em especial, ao catolicismo, uma bandeira de afirmação no contexto mundial.
A Igreja perdeu força e protagonismo com Bento XVI mas parece que aos poucos começa de novo a recuperar a sua influência e a resgatar uma credibilidade que tão mal tratada tem sido.
A melhor prova dessa recuperação é dada pelas corajosas palavras que proferiu no voo que o trouxe até Lisboa. Ao condenar de forma tão clara e directa os erros cometidos, ao afirmar e reconhecer que os maiores inimigos da Igreja estão dentro dela, Bento XVI assume de novo o protagonismo e garante que está atento ao que se passou e está a passar. Essa é a maior e melhor mensagem de esperança e de confiança no futuro que poderia transmitir.
Como católico e cidadão esse é um estímulo poderoso para o trabalho futuro. A fortificação do espírito numa muralha ética, a coragem de enfrentar os desafios, o ser capaz de olhar para dentro e de ajuizar qual o melhor caminho a seguir, percebendo que é a Igreja que terá de se adaptar aos novos tempos e não o contrário, é o papel e o que se espera de um líder com a dimensão religiosa e política do sucessor de S. Pedro.
Mas o conforto que isso me dá não me descansa o espírito noutras vertentes.
Percebo e reconheço a importância e o interesse para todos da viagem a Portugal de Bento XVI, numa altura de crise internacional e interna, num momento em que todos os esforços serão sempre insuficientes e ficarão aquém do necessário para minorar o sofrimento de muitos milhões, mas tenho muita dificuldade em aceitar alguns excessos, venham eles de onde vierem.
Dou de barato as complicações estradais, a tolerância de ponto decretada pelo Governo ou os milhares que foram gastos na preparação da visita e no alindamento de Lisboa. Estou certo de que os católicos portugueses não chorarão a contribuição que os seus impostos irão dar para as despesas da visita, embora qualquer pessoa de bom senso e no seu perfeito juízo possa pensar que setenta e cinco milhões de euros para serem "derretidos" em três dias é uma verba excessiva para com a contenção, e a discrição, que a fé também reclama e de que a Igreja deveria ser a primeira a dar exemplo.
Incomoda-me a ostentação excessiva, a forma bajuladora e até certo ponto subserviente como as instituições da República e os seus titulares se comportam nalgumas cerimónias públicas; o tempo dado pelos canais públicos de rádio e de televisão à visita, e, em especial, determinado tipo de manifestações que apenas servem para rebaixar o evento, o seu interesse ecuménico e político e conferir natureza folclórica àquilo que era suposto ser sério. A oferta de camisolas de equipas de futebol em pleno Terreiro do Paço é um exemplo disso mesmo.
Seria bom que momentos como esse, e que eu sinceramente espero não ver repetidos, não servissem para desvalorizar a importância desta visita e que, naquilo que ainda falta cumprir, as instituições da República e os seus titulares não se comportassem como meros serventuários da Santa Sé ou dos secretários de Bento XVI. Tudo o que é excessivo é contraproducente. Tudo o que é forçado é ridículo. A Igreja e a República não podem em momento algum ser confundidas e seria bom que isso não passasse despercebido. Para bem de uma e de outra instituição.
Ainda com a imagem bem fresca na minha memória de João Paulo II e da viagem que fiz a Roma e ao Vaticano no ano que antecedeu o seu desaparecimento, confesso que tenho olhado para o pontificado de Ratzinger com uma grande desconfiança. O seu papel enquanto guardião da doutrina oficial e a forma como tem conduzido a Igreja desde que assumiu o seu comando, em nada contribuíram para afastar esse estado de espírito.
A imagem do Papa, para além daquilo que é transmitido pelo próprio nas suas fugazes aparições, textos e discursos, é muitas vezes a que resulta do que é transmitido pelos seus adjuntos e secretários e da forma como as suas mensagens são filtradas até chegarem ao exterior. E é exactamente por aqui que as coisas têm claudicado. Sucessivos escândalos, declarações evasivas e pouco esclarecedoras sobre os mesmos, uma certa complacência com os poderosos e um perdão sempre pronto em relação a situações de extrema gravidade, deram alimento às vozes que fazem do ataque às religiões e, em especial, ao catolicismo, uma bandeira de afirmação no contexto mundial.
A Igreja perdeu força e protagonismo com Bento XVI mas parece que aos poucos começa de novo a recuperar a sua influência e a resgatar uma credibilidade que tão mal tratada tem sido.
A melhor prova dessa recuperação é dada pelas corajosas palavras que proferiu no voo que o trouxe até Lisboa. Ao condenar de forma tão clara e directa os erros cometidos, ao afirmar e reconhecer que os maiores inimigos da Igreja estão dentro dela, Bento XVI assume de novo o protagonismo e garante que está atento ao que se passou e está a passar. Essa é a maior e melhor mensagem de esperança e de confiança no futuro que poderia transmitir.
Como católico e cidadão esse é um estímulo poderoso para o trabalho futuro. A fortificação do espírito numa muralha ética, a coragem de enfrentar os desafios, o ser capaz de olhar para dentro e de ajuizar qual o melhor caminho a seguir, percebendo que é a Igreja que terá de se adaptar aos novos tempos e não o contrário, é o papel e o que se espera de um líder com a dimensão religiosa e política do sucessor de S. Pedro.
Mas o conforto que isso me dá não me descansa o espírito noutras vertentes.
Percebo e reconheço a importância e o interesse para todos da viagem a Portugal de Bento XVI, numa altura de crise internacional e interna, num momento em que todos os esforços serão sempre insuficientes e ficarão aquém do necessário para minorar o sofrimento de muitos milhões, mas tenho muita dificuldade em aceitar alguns excessos, venham eles de onde vierem.
Dou de barato as complicações estradais, a tolerância de ponto decretada pelo Governo ou os milhares que foram gastos na preparação da visita e no alindamento de Lisboa. Estou certo de que os católicos portugueses não chorarão a contribuição que os seus impostos irão dar para as despesas da visita, embora qualquer pessoa de bom senso e no seu perfeito juízo possa pensar que setenta e cinco milhões de euros para serem "derretidos" em três dias é uma verba excessiva para com a contenção, e a discrição, que a fé também reclama e de que a Igreja deveria ser a primeira a dar exemplo.
Incomoda-me a ostentação excessiva, a forma bajuladora e até certo ponto subserviente como as instituições da República e os seus titulares se comportam nalgumas cerimónias públicas; o tempo dado pelos canais públicos de rádio e de televisão à visita, e, em especial, determinado tipo de manifestações que apenas servem para rebaixar o evento, o seu interesse ecuménico e político e conferir natureza folclórica àquilo que era suposto ser sério. A oferta de camisolas de equipas de futebol em pleno Terreiro do Paço é um exemplo disso mesmo.
Seria bom que momentos como esse, e que eu sinceramente espero não ver repetidos, não servissem para desvalorizar a importância desta visita e que, naquilo que ainda falta cumprir, as instituições da República e os seus titulares não se comportassem como meros serventuários da Santa Sé ou dos secretários de Bento XVI. Tudo o que é excessivo é contraproducente. Tudo o que é forçado é ridículo. A Igreja e a República não podem em momento algum ser confundidas e seria bom que isso não passasse despercebido. Para bem de uma e de outra instituição.