Ouvi e
li este fim-de-semana as declarações de um jovem deputado da nação, actualmente presidente da JSD, que saiu em defesa do "canudo" de Miguel Relvas, apontando as críticas relativamente à obtenção da licenciatura não a quem recorreu a esse expediente "insólito" para obter a certificação do conhecimento que não tinha, mas ao ex-ministro Mariano Gago. Confesso que ainda não me tinha ocorrido essa, mas não deixa de ser brilhante.
Sugiro, aliás, ao primeiro-ministro que promova o jovem deputado a ministro, pois que a inteligência do argumento poderá libertá-lo, também ao ministro Gaspar, de uma série de preocupações. Com efeito, a aplicação de igual argumento levar-nos-ia a considerar que a culpa da austeridade que hoje vivemos também não é nossa, nem deste Governo nem dos anteriores, mas dos "palermas" da troika que nos disponibilizaram fundos para honrarmos os nossos compromissos. Claro que se aqueles não tivessem mostrado abertura para nos financiarmos também nunca teríamos recorridos a tais créditos, mais, nunca teríamos assinado o Memorando e Portugal continuaria alegre e serenamente a caminhar para o fundo elegendo mais um punhado de Duartes para brilharem nas bancadas de S. Bento e aos microfones da TSF.
Depois de ouvir essas declarações, imaginei que o dito deputado tivesse um currículo imaculado e tratei de aprofundar. E de facto assim é.
O que está disponível na página da Assembleia da República permite-nos saber que para além de uma licenciatura em Relações Internacionais, o deputado tem "frequência" de um mestrado, o que, como se sabe, pode querer dizer que se inscreveu num curso onde nunca pôs os pés ou estar inscrito e não fazer nenhuma cadeira, ou, ainda, numa hipótese mais benigna, fazer uma cadeira com 10 valores, o que seria suficiente para, como fez o ministro Relvas, depois dizer que frequenta o 2º ano desse mesmo curso.
Profissionalmente
o jovem deputado assume-se como consultor, embora não se saiba bem de quê ou em quê, visto que em matéria de interesses só lá aparece uma "ONG" para o desenvolvimento sem fins lucrativos. Presumo que seja esta entidade que lhe permita pôr no currículo "consultor", apesar de na minha modesta opinião fizesse mais sentido lá colocar "político" ou "consultor político".
De facto, vê-se que
o rapaz tem singrado "profissionalmente" como político e já é senhor de um currículo que certamente lhe valerá uma equivalência a um diploma de mestrado na Universidade Lusófona, tão depressa ele o requeira. Ou de doutoramento.
Nem tudo consta da sua biografia oficial, é verdade, mas ter sido chefe de gabinete do grupo parlamentar do PSD no Parlamento Europeu durante cinco anos, cargo a que naturalmente ascendeu por concurso e em função da sua experiência profissional e mérito anteriores como coordenador "
do Programa de Voluntariado Jovem nas Florestas, organizado pelo Instituto Português da Juventude em cooperação com a Federação dos Produtores Florestais de Portugal", "
Assessor do Ministro de Estado, da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, Dr. Nuno Morais Sarmento, durante o XVI Governo Constitucional", "
Assessor do Ministro da Presidência, Dr. Nuno Morais Sarmento durante o XV Governo Constitucional", sem esquecer os cargos que coleccionou na JSD, talvez seja mesmo equiparável a um doutoramento. Não me peçam é para dizer em quê, tantas poderão ser as áreas. Em todo o caso, isso não passará de um pormenor absolutamente irrelevante num currículo de excelência.
Com este invejável lastro, o deputado Duarte Marques só podia estar na linha da frente da defesa da licenciatura do ministro Relvas. Para isso é que foi incluído na lista por Santarém.
O deputado Duarte Marques será a melhor garantia que os portugueses podem ter de que quando o ministro Relvas se reformar para se dedicar, sei lá, ao folclore, a tempo inteiro evidentemente, deixará na política um continuador à altura dos seus pergaminhos. E não apenas pela inteligência.
Convém é que não volte a dizer nas
entrevistas que concede que "
temos uma classe dirigente que anda a gozar connosco". É que se isso acontecer ainda aparece por aí alguém que o leve a sério, o que não deixaria de ser um contratempo. O ministro Relvas poderia não gostar e o caldo entornaria.
Seria uma pena e uma perda inqualificável para o País que por causa de uma frase anódina o ministro o recambiasse para a origem. É que enquanto o deputado Duarte Marques estiver em S. Bento sempre teremos a garantia de que não será autarca. E poderemos continuar a ouvi-lo, sem perigo de maior, na TSF.
Adenda: É evidente que nada do que José Pacheco Pereira aqui escreve se aplica ao deputado Duarte Marques. Este é de outra cepa, nada de confusões.