domingo, agosto 17, 2008

A IMAGEM QUE RECORDAREI

Depois do (já) fiasco olímpico, que nem Vanessa, Naide ou Nélson poderão escamotear, do descalabro das estrelas adolescentes que vivem reclamando apoios do Estado e vão amealhando chorudos contratos publicitários e tratamento vip sem apresentarem resultados nos momentos decisivos, graças a uma inexistente política de fomento desportivo, a uma tribo de dirigentes medievais que se passeia à custa das federações e do Comité Olímpico e de uma mentalidade de sacristia, eis que surge alguém que não só pede desculpa aos portugueses por ter ficado aquém dos resultados, como ainda por cima o justifica, dizendo que deve um esclarecimento aos contribuintes que lhe pagam as viagens e lamentando não ter alcançado o êxito por todos almejado. Ser-lhe-ia mais fácil, a ele que já tinha a prata, o sucesso e o prestígio internacional, dizer que era falta de apoios, culpa dos sapatos ou da etiqueta dos calções que lhe fazia comichão. Ninguém o levaria a mal. Ao invés, assumiu a sua quota-parte de responsabilidade e deixou-nos o exemplo de que o sucesso não se constrói com o discurso estafado e o choradinho habitual. Dele não recordarei o fracasso nem a desilusão, mas a ambição, a força de vontade, o trabalho, a humildade e a seriedade com que envergou as cores nacionais. Oxalá o Algarve saiba recebê-lo como ele merece. Ele que é um produto da democracia e da civilização, não um ícone do regionalismo bacoco que se vê a comer bacalhau com natas no calçadão de Quarteira, enquanto passeia ostentatoriamente a barriga proeminente em discursos inflamados e inconsequentes contra o poder político de Lisboa. Francis foi um grande atleta. Será sempre um grande homem e um português como poucos.

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