Depois de uma tarde magnificamente passada no aconchego da biblioteca do ICS, um verdadeiro oásis na cidade de Lisboa, e da autora simpaticamente me ter agradecido o interesse pela sua obra facultando-me um texto que ainda nem sequer foi publicado, prova de que a verdadeira genialidade não esconde o conhecimento mas aspira à sua divulgação, o mínimo que poderia fazer seria mandar vir o último livro que foi publicado e que com o anteriormente editado - "Adhérer à un parti - Aux sources de la participation politique" - me vão ser de grande utilidade. Acabado de chegar, fará as delícias do fim-de-semana que se adivinha. Este ano os carros vão ter que aguardar.
sexta-feira, abril 12, 2013
Brandos costumes
"O senhor ministro das Finanças erra constantemente as previsões: sobre o PIB, sobre o défice, sobre a economia da Europa. O que aparentemente não obsta a que seja considerado um homem de suprema competência e um menino querido da UE. Suponho que o tencionam beatificar, se por acaso ele não se enganar mais de 15 dias e apresentar um orçamento que o Tribunal Constitucional aceite. Este ano, pela segunda vez, não aceitou; e Passos Coelho com a criatura à trela resolveu ir a Belém para se queixar ao Presidente. Porquê? Porque provavelmente o génio das Finanças ameaçou emigrar para um país civilizado em que os números concordassem com os dele e não houvesse leis que interferissem com o seu superior serviço. Mas, para nossa futura felicidade, o episódio acabou bem. A pedido pessoal da República, este novo salvador da Pátria prometeu continuar." - Vasco Pulido Valente, Público, 12/04/2013
segunda-feira, abril 08, 2013
Falta de imaginação
Deve haver alguma razão especial. Comunicações aos portugueses às 18:30. Até nisto são parecidos.
Leituras (8)
"A crise orçamental e da dívida pode, e deve, ser o pretexto para repensarmos o nosso contrato social e melhorá-lo. A pior coisa que podemos fazer é tomar as medidas que nos são impostas pela troika e nada mudar de essencial no funcionamento da nossa democracia. Porque, à semelhança do que aconteceu no passado (com as anteriores intervenções do Fundo Monetário Internacional), melhoraríamos temporariamente a situação das finanças públicas, para mais tarde cairmos no mesmo."
Só no fim-de-semana que findou tive oportunidade de acabar de ler o pedagógico ensaio de Paulo Trigo Pereira publicado na colecção dos cadernos da FFMS com o n.º 24. À semelhança do que aconteceu com outros livros da mesma colecção, este também não foge à regra: é claro, conciso e oportuno.
Sem pretensões académicas, dirigido ao grande público, mas não sendo por isso menos rigoroso, e com sugestões de leitura no final para quem queira aprofundar conhecimentos, o Prof. Trigo Pereira dá-nos uma visão desapaixonada da crise que atravessamos. Mas mais do que isso, há todo um conjunto de propostas tendentes à melhoria da nossa democracia, ao aprofundamento da cultura cívica e elevação dos padrões de decência em que a nossa sociedade e o Estado vivem, que importaria ver discutidas e, se possível consagradas.
Autor e editor estão,pois, ambos de parabéns por este serviço à comunidade.
sexta-feira, abril 05, 2013
Falta de vergonha
(clique na imagem para ampliar e ver com os seus olhos)
Será normal nomear jovens de 21 e 22 anos, que acabaram os cursos em 2012 e 2011, respectivamente, como "especialistas" para exercerem "funções de acompanhamento da execução de medidas do memorando conjunto com a União Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu" e cuja única experiência profissional foram estágios não remunerados realizados com este Governo que se encontra en funções? Que pensarão disto as centenas de milhares de desempregados com qualificações e experiência profissional? Que pensarão disto as pessoas sérias? Que pensar desta gente que os nomeia?
quinta-feira, abril 04, 2013
Até ao fim
É escusado dizer muito mais porque a declaração fala por si: "falta de condições anímicas" (sic). Nem na hora da despedida o sujeito tem um mínimo de humildade, de sensatez, um pingo de dignidade institucional? E era preciso chegar até aqui, acabar assim? Está tudo dito.
Passos Coelho teve do seu capanga a despedida merecida.
quarta-feira, abril 03, 2013
Hoje escreve o José Gomes André
Com a devida vénia, tomo por empréstimo para aqui vos deixar as geniais e incontornáveis palavras que José Gomes André deixou numa casa onde já morei e continuo a ter bons amigos.
Na hora crítica que o País atravessa, com uma crise económica, financeira e social nunca vista em democracia, com um Governo à deriva e perfeitamente esfrangalhado, errando por aí como um náufrago sem tábua onde se agarrar e com um primeiro-ministro que quer transformar o Tribunal Constitucional numa filial do Banco de Portugal e do Ministério das Finanças, ainda há mainatos sem o mínimo tino a organizarem números de circo. Felizmente que também ainda há quem sem estar comprometido com o passado nem depender do presente continue a ter os olhos no futuro.
Na hora crítica que o País atravessa, com uma crise económica, financeira e social nunca vista em democracia, com um Governo à deriva e perfeitamente esfrangalhado, errando por aí como um náufrago sem tábua onde se agarrar e com um primeiro-ministro que quer transformar o Tribunal Constitucional numa filial do Banco de Portugal e do Ministério das Finanças, ainda há mainatos sem o mínimo tino a organizarem números de circo. Felizmente que também ainda há quem sem estar comprometido com o passado nem depender do presente continue a ter os olhos no futuro.
"Nasceu uma nova estrela. Um tal de Miguel Gonçalves, que Miguel Relvas (e quem mais?!) viu no Youtube e convidou para "embaixador" do "Impulso Jovem" (só esta frase já provoca um asco de morte). À semelhança de outros fenómenos da nossa praça, distingue-se pela "irreverência", pelo discurso "positivo" e por outras coisas que vêm sempre juntas neste tipo de pacote ("dinâmico", "criativo", "pró-activo", etc. - é ouvir o dito cujo).
O problema de Miguel Gonçalves não é a referida "personagem", mas o facto de os seus dislates reproduzirem um discurso público cada vez mais difundido e aceite acriticamente pelos media, pelos governantes, pelas elites e pela população em geral. Discurso esse que mistura o pior do "darwinismo social" (o elogio do conflito social e a glorificação da lei do mais forte), um moralismo pseudo-científico de pacotilha (que condena os que sucumbem, imputando-lhes a culpa do seu "insucesso") e os elementos mais abjectos do novo totalitarismo linguístico "made in Wall Street" (que apela ao "empreendedorismo", à "reinvenção pessoal", ao "acreditar em si próprio" e ao "tornar-se senhor do seu destino").
Em suma, estamos perante um discurso político, social e económico que combina as inanidades de livros como "O Segredo" ("tu podes ser quem quiseres") com a profundidade da reflexão filosófica de um Zézé Camarinha. O pior de tudo isto? É que este discurso tem tanto de disparatado quanto de perigoso. Denunciá-lo já não é uma simples questão de bom-senso; é um dever de todos os homens civilizados."
segunda-feira, abril 01, 2013
Chegar, ver e vencer sem a ajuda da troika
Na corrida inaugural do Campeontato FIA GT, Álvaro Parente e Sebastien Löeb conseguiram um resultado histórico para as cores "luso-franco-britânicas". A vitória em Nogaro com o McLaren será seguramente umas das mais recordadas. Esperemos que seja a primeira de muitas, já que Parente não só venceu sem a ajuda da troika como cilindrou a concorrência alemã. Mais notícias no site da FIA.
quinta-feira, março 28, 2013
José Sócrates na RTP1
O homem não era um santo, nunca o foi, bem pelo contrário. Não terá o background académico e profissional exigível a qualquer homem que se abalance a ser primeiro-ministro. E, apesar disso, depois de ter sido corrido da forma que foi, justa ou injustamente, o que ontem se viu na RTP1 foi uma lição de comunicação política.
Sócrates mantém os defeitos e as qualidades. Foi igual a si mesmo. E divertiu-se. Percebe-se agora melhor o temor que PSD e CDS/PP tinham em ver o homem a ser entrevistado no horário nobre da televisão pública.
O que ontem se viu foi de facto uma lição de comunicação política, provavelmente a primeira de várias que se seguirão, por parte de um político profissional que quis ajustar contas com o passado recente. Mas será que depois de tudo aquilo que o acusaram esperavam que o "animal feroz "viesse "mansinho"?
Não tenho saudades dele como primeiro-ministro, nem como líder do PS. Menos ainda de muitos dos que o rodeavam e que Seguro herdou no grupo parlamentar, nuns casos, ou que, noutros, acabou por colocar nos órgãos nacionais do seu partido. Porém, o que se viu deve ter chegado para muitos portugueses que assistiram ao descalabro dos últimos vinte meses compreenderem o grau de incapacidade política, incompetência comunicacional e má-fé de quem actualmente nos governa.
Espero que Passos Coelho, Gaspar, Santos Pereira e Miguel Relvas tenham visto, pois tiveram uma boa oportunidade de aprender alguma coisa sobre comunicação política.
Quanto ao Presidente da República, lamento dizê-lo, no seguimento da "esperteza" (não tem outro nome mas está ao nível daquilo a que ele nos habituou) do prefácio, da história das acções da SLN/BCP, das "andanças" de alguns assessores que foram por si protegidos, e da forma como não tem sabido gerir nem a crise nem os silêncios, teve o tratamento que merecia. Não foi bonito, pois não. Mas tendo-se colocado várias vezes a jeito, algum dia acabaria por levar como levou. Perderam-se algumas, mas a seu tempo virão.
Quanto ao mais, algumas coisas foram esclarecidas, os entrevistadores mostraram pouco à-vontade para contraditarem a avalanche de números e de factos, e o tempo de emissão pareceu-me excessivo.
De qualquer modo, valeu a pena. Depois de tantos meses a ouvir um líder de oposição com estratégia e estilo de seminarista, enquanto "o Relvas" se pavoneia e goza com a Grândola, já fazia falta alguém que desse uma bordoada "nessa gente". Pena que tenha tido que ser José Sócrates a fazê-lo. Os portugueses também não mereciam isso, embora hoje lhe devam estar agradecidos.
quarta-feira, março 27, 2013
Absolutamente genial
Se há livro que vale o preço, e não me refiro ao papel, é este. Está lá praticamente tudo, tudo, o que de mais e de menos básico se deve saber sobre este período da história europeia. O resto, o que não está neste magnífico livro, está nas restantes obras que Tony Judt nos deixou e que em boa hora foram editadas entre nós. O editor que se abalança a uma obras destas merece uma palavra de apreço. E de estímulo.
Uma escrita clara, simples, cativante. Uma simplicidade desarmante na forma como aborda as questões, a medida exacta do tempo e da importância dos factos.
Tony Judt partiu numa altura em que ainda tinha imenso para nos dar, mas o que deixou acompanhar-nos-á, a todos os que tivemos o privilégio de lê-lo, e saboreá-lo, pela vida fora. Deus não dorme.
terça-feira, março 26, 2013
Reavivar a memória
A foto é do "The Guardian" e ilusta um texto sobre a ajuda grega e espanhola à Alemanha do pós-Guerra. A chanceler Merkel, que além do mais vivia na zona leste da Alemanha, sob domínio russo, pode ignorar o que então aconteceu, mas é bom que alguém lhe diga o que se passou.
Lição de bom português
"Para grande parte de nós, Chipre não significará grande coisa, razão que talvez explique - mas não que justifique - que se ande a grafar por aí "o Chipre", acrescentando-lhe um artigo que o país dispensa. Afinal, não passa pela cabeça de ninguém escrever "a Andorra", "o Cabo Verde", "a Angola", "a Paris", "a Cuba", "o Gibraltar", "a Londres" ou "o Istambul", tudo exemplos descaradamente roubados a Mário de Carvalho" - Ana Cristina Leonardo, Expresso, 23/03/2013
Pode ser que com a insistência (Miguel Esteves Cardoso já tinha escrito há algumas semanas um artigo sobre isto no Público) alguns portugueses com responsabilidades, como alguns jornalistas que ganham milhares sem saberem falar, aprendam o básico e deixem de influenciar (mal) aqueles portugueses que os ouvem e nunca tiveram oportunidade de aprender.
sábado, março 09, 2013
Bem lembrado, melhor escrito
"Com a mudança de Governo e a chegada da troika, Cavaco Silva mudou também. Dantes tão claro, presente e decidido, hoje tão dúbio, ausente e temeroso, parece ter desistido - se não de exercer a função, pelo menos de trabalhar para a História. É para isso que serve o segundo mandato de um Presidente, mas este, por medo ou impotência, tem vindo a apagar-se quando mais se esperava que brilhasse, tantas vezes invocou a sua qualidade de economista para convencer os eleitores de que era o mais preparado para o exercício do cargo." - Fernando Madrinha, Escutar as Vozes, Expresso, 09/03/2013.
segunda-feira, março 04, 2013
Leituras (7)
"Em 1957, Corrêa d'Oliveira, à semelhança dos relatórios preparados pela OECE ao longo do período, era da opinião de que os principais problemas que a economia portuguesa enfrentava eram a criação de infra-estruturas de base, a reforma do ensino, o aumento das competências técnicas e a reforma do sistema fiscal. Segundo o relatório económico sobre o país realizado pela OCDE em 1999, e que se mantém actual, as prioridades de Portugal eram o melhoramento de infra-estruturas, o aperfeiçoamento das competências técnicas e a revisão do sistema fiscal. Por conseguinte, não é tão surpreendente que o Portugal democrático tenha adoptado uma política europeia semelhante à do regime autoritário de Salazar. A diferença reside no facto de o Estado Novo não ter reconhecido que a ditadura e o império eram anacronismos". - cfr. página 281.
sábado, março 02, 2013
Leituras (6)
"[E]ssential reading in the extent and depth of democratization in the early twenty-first century" - Ian McAllister, Distinguished Professor of Political Science, The Australian National University
quinta-feira, fevereiro 21, 2013
Outra vez "o Relvas"?
A razão, salvo raras excepções,
nunca está só de um lado. E por vezes é conveniente deixar passar o alarido
para se poder olhar com distância e claridade para os factos.
Os “episódios Miguel Relvas” são
apenas o culminar de um processo de apartamento dos cidadãos dos seus actuais
governantes que nada tem de novo nem de particularmente relevante. O que neles
há a notar é a rapidez da erosão, a que não será alheia a degradação da
situação social, política e económica a que temos assistido. A cara-de-pau do
ministro das Finanças, depois de falhar todas as metas de 2012, a comunicar ao
Parlamento que se havia enganado nas contas em 100%, é disso mesmo o melhor
exemplo.
Posto isto convém dizer que a
democracia não está em causa, que as liberdades e os valores constitucionais não
foram postos em causa, e que tudo não tem passado de atitudes de rebeldia e
propaganda às quais o ministro Relvas tem emprestado o seu estímulo.
Convenhamos que as coisas só têm
a importância e o relevo que se lhe queiram dar. O que aconteceu com Passos
Coelho na Assembleia da República no último debate era previsível que se
repetisse depois de um grupo de comandos ter feito ecoar o grito de guerra no
parlamento. Nessa altura eu critiquei a atitude por muito compreensível que
pudesse ser, mas sabia que iria criar um mau precedente. Não me enganei. Na
ocasião nem a senhora presidente da AR veio pedir a evacuação das galerias, nem
a bancada do PSD, nem o cronista Henrique Raposo, se queixaram.
Agora que as coisas começam a
piar mais fino já vêm falar, imagine-se, em fascismo. São eles e Mendes Bota
quando este há uns anos comparava a ASAE a uma “nova PIDE”. Haja decência e
tino, senhores.
Evidentemente que o que se passou
no Clube dos Pensadores ou no ISCTE não é nem foi bonito. Porém, importa também
perguntar qual a medida de participação de Miguel Relvas para o que aconteceu. Com
Passos Coelho e Paulo Macedo os protestos fizeram-se ouvir. A seguir os
manifestantes calaram-se ou foram-se embora e tudo prosseguiu. Com normalidade.
Uns protestaram, os outros discursaram.
De diferente nos “episódios
Relvas” foi a provocação, foi a petulância.
Quando um ministro com a pose, o
estilo e a arrogância de Relvas, se predispõe a participar num protesto em que
ele é o visado, ensaiando cantar de forma desafinada e sem sequer conhecer a
letra uma canção simbólica da democracia portuguesa, só pode estar a querer
gozar com aqueles que se manifestam.
De igual modo, quando um ministro
cujo currículo académico e profissional tem tanto de medíocre quanto de sofrível
e de nebuloso, com um diploma feito de equivalências e folclore, que nem a
privatização de um canal da RTP conseguiu levar a bom porto, depois de andar a
atirar foguetes no Copacabana Palace com Dias Loureiro e Marques Mendes, e mais
a mais numa altura em que os estudantes mais carenciados não têm bolsas nem
dinheiro para propinas e o país sofre a bom sofrer com a insânia dos
economistas ao serviço do Governo, se predispõe a discursar numa das melhores
escolas públicas portuguesas sabendo que a hostilidade em relação à sua figura
vem em crescendo, só pode estar a provocar o pagode.
E a sua falta de vergonha e de
senso é tão grande que nas tristes imagens que se viram ainda deu para ouvir Sua
Excelência a dizer à segurança, que naturalmente não lhe fez a vontade, que queria
sair, naquelas circunstâncias, pela porta por onde tinha entrado, no que não
pode deixar de ser entendido como mais uma atitude provocatória e de desafio.
É verdade, nisso estamos todos de
acordo, que o que se viu no ISCTE ou há dias em Gaia foi lamentável e não pode ser
acolhido por ninguém. Não há “arruaças democráticas”, não há “enxovalhos
democráticos”, não há “insultos democráticos”. A democracia tem de saber conviver
com os excessos de alguns e há mecanismos para corrigir esses excessos.
Por isso mesmo, antes de se
apontar o dedo aos “indignados”, seria bom que Passos Coelho e os membros do
seu governo, em especial Miguel Relvas, percebessem, como escreveu Tony Judt,
uma coisa muito simples: “A seriedade moral na vida pública é como a
pornografia, difícil de descrever mas imediatamente identificável quando a
vemos. Descreve uma coerência de intenção e de acção, uma ética de responsabilidade
política. Toda a política é a arte do possível. Mas também a arte tem a sua
ética”.
De outra forma, como esse mesmo
autor também escreveu, a política transformar-se-á num fraco produto do qual só
sairá o tagarelar constante e uma retórica infindável para disfarçar o vazio.
Não creio que Judt conhecesse o ministro Relvas e se estivesse a referir a ele.
Daí que as suas palavras tenham ainda mais significado quando se olha para o
que se passou entre nós.
sexta-feira, fevereiro 15, 2013
Os contribuintes são cobaias?
Esta notícia do Público é reveladora do que abaixo referi: entrámos já na fase da "gozação" com os contribuintes, agora transformados em cobaias tributárias. A acção não tem nada de pedagógico, não visa informar, mas sim testar os limites da paciência dos contribuintes para se ver até onde estes se deixam atropelar, pisar, espezinhar.
Alguém que nos acuda
Aqui há uns meses, a propósito do arrendamento de uma casa de férias no Algarve, onde passou duas semanas de Agosto, o Diário de Notícias quis questionar o primeiro-ministro sobre se tinha pedido factura ao proprietário da casa onde se alojou. Pedro passos Coelho considerou a pergunta uma intromissão na sua vida privada e como tal escusou-se a prestar esclarecimentos.
Agora, o fisco anuncia a obrigatoriedade de todo o cidadão, por transacções de valor insignificante, exigir factura sob pena de lhe ser aplicada uma multa que pode ir dos € 75,00 a € 2.000,00. Pretende o fisco que os cidadãos se substituam a acção dos seus próprios fiscais e se transformem em bufos da máquina fiscal. Um verdadeiro nojo.
Um ex-secretário de Estado do governo de Passos Coelho, dirigindo-se ao seu secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, já se manifestou sobre o assunto, em termos que, não sendo os mais curiais num debate público, são seguramente os mais genuínos e que melhor espelham aquele que será o sentimento da maioria dos portugueses que paga impostos em relação a uma política fiscal fraudulenta e a uma actuação do fisco que raia o absurdo e se aproxima rapidamente do intolerável.
Independentemente da situação do país, a falta de senso (já nem digo bom, que este há muito desapareceu), o desatino das decisões que vêm sendo tomadas, a profunda iniquidade tributária e a forma despudorada como o fisco e seus agentes vêm actuando, em situação que se assemelha a um verdadeiro 'gangsterismo' fiscal em que tudo vale para aumentar a colecta - de cálculos de juros errados, a avaliações patrimoniais via "Google" e a interpretações das leis fiscais que invariavelmente acabam em prejuízo do cidadão que se quiser defender os seus direitos será obrigado a derreter rios de dinheiro a alimentar a ineficiência da máquina judicial - em qualquer outro país que tivesse uma opinião pública forte e uma elite política e intelectual com dimensão e dotada de uma aceitável consciência cívica, seria impensável e já teria gerado uma fronda.
Os resultados da execução orçamental de 2012 são um desastre, aproximando-nos rapidamente dos níveis de rendimento e dos padrões de vida de há três décadas, com uma miséria em crescendo e um empobrecimento geral das classes remediadas.
Bem sei que o que está a acontecer não é mais do que a penalização pela falta de empenho cívico e político da maioria dos portugueses que de há muito se resignou a entregar a política, a que diz respeito à vida de todos nós, a grupos de fedelhos mal estruturados, ignorantes e oportunistas que medravam nas organizações juvenis dos partidos políticos. Mas isso não justifica a passividade com que a generalidade dos portugueses continua hoje a encarar as coisas e a reagir aos maiores atropelos, enqaunto autarcas condenados continuam a fazer uso de expedientes dilatórios para se manterem em funções, e outros se permitem ler na lei aquilo que lá não está para proteger os interesses das suas camarilhas.
Há muito que apelei a uma fronda cívica, a um levantamento da sociedade civil contra o atavismo, a ignorância política e a prepotência tributária.
Perante um Estado tributário-pidesco, que quer transformar todos os portugueses em pides, bufos e fiscais ao seu serviço, com um poder político pantanoso (e merdoso), o problema já não se resolve com desabafos e expressões como a de Francisco José Viegas.
Por isso mesmo, deixo aqui um apelo à sociedade civil, aos homens bons deste país, à gente que consegue ler e ver para lá da opacidade dos partidos e que se habitou a lutar pelas suas ideias, que reconhece a existência de um sentimento nacional que se sobrepõe às conveniências conjunturais, ao tacticismo político, aos interesses de meia-dúzia de traficantes de influências e vendedores de banha da cobra, a gente que vai da direita à esquerda, de Adriano Moreira a António Barreto, de Pacheco Pereira a Pedro Lains, de José Reis a Medina Carreira, de Maria Filomena Mónica a Vasco Graça Moura, de Eduardo Lourenço a Bagão Félix, de Hélder Amaral a Francisco Louçã, e peço-lhes que se manifestem, que congregueme sforços, que unam num movimento único, genuíno, de defesa da cidadania e do interesse nacional que obrigue à capitulação da asneira e chame à razão o Presidente da República, obrigando-a a sair do seu sarcófago e a intervir.
Está na hora de Cavaco Silva fazer alguma coisa por Portugal e pelos portugueses que seja um pouco mais do que um acervo de frases triviais e inócuas.
Está na hora de ser formado um governo de iniciativa presidencial que conduza o país até ao final do cumprimento do memorando com a troika e que prepare o país para as legislativas de 2015.
Portugal não pode correr o risco de suportar durante mais uma dezenas de meses a incompetência, a ignorância, a teimosia e a pesporrência de Coelho, Gaspar, Relvas, Borges, Santos Pereira e de toda a sua trupe de coveiros pefumados.
Os portugueses têm o direito de viver com dignidade cumprindo as suas obrigações. E têm também o dever de exigir dos seus políticos o respeito pela razão, pela seriedade da actuação política e um mínimo de sentimentos de compreensão e humanidade perante a verdadeira tragédia social e moral que neste momento se abate sobre a maioria da comunidade.
Há muito que apelei a uma fronda cívica, a um levantamento da sociedade civil contra o atavismo, a ignorância política e a prepotência tributária.
Perante um Estado tributário-pidesco, que quer transformar todos os portugueses em pides, bufos e fiscais ao seu serviço, com um poder político pantanoso (e merdoso), o problema já não se resolve com desabafos e expressões como a de Francisco José Viegas.
Por isso mesmo, deixo aqui um apelo à sociedade civil, aos homens bons deste país, à gente que consegue ler e ver para lá da opacidade dos partidos e que se habitou a lutar pelas suas ideias, que reconhece a existência de um sentimento nacional que se sobrepõe às conveniências conjunturais, ao tacticismo político, aos interesses de meia-dúzia de traficantes de influências e vendedores de banha da cobra, a gente que vai da direita à esquerda, de Adriano Moreira a António Barreto, de Pacheco Pereira a Pedro Lains, de José Reis a Medina Carreira, de Maria Filomena Mónica a Vasco Graça Moura, de Eduardo Lourenço a Bagão Félix, de Hélder Amaral a Francisco Louçã, e peço-lhes que se manifestem, que congregueme sforços, que unam num movimento único, genuíno, de defesa da cidadania e do interesse nacional que obrigue à capitulação da asneira e chame à razão o Presidente da República, obrigando-a a sair do seu sarcófago e a intervir.
Está na hora de Cavaco Silva fazer alguma coisa por Portugal e pelos portugueses que seja um pouco mais do que um acervo de frases triviais e inócuas.
Está na hora de ser formado um governo de iniciativa presidencial que conduza o país até ao final do cumprimento do memorando com a troika e que prepare o país para as legislativas de 2015.
Portugal não pode correr o risco de suportar durante mais uma dezenas de meses a incompetência, a ignorância, a teimosia e a pesporrência de Coelho, Gaspar, Relvas, Borges, Santos Pereira e de toda a sua trupe de coveiros pefumados.
Os portugueses têm o direito de viver com dignidade cumprindo as suas obrigações. E têm também o dever de exigir dos seus políticos o respeito pela razão, pela seriedade da actuação política e um mínimo de sentimentos de compreensão e humanidade perante a verdadeira tragédia social e moral que neste momento se abate sobre a maioria da comunidade.
sábado, fevereiro 09, 2013
Leituras (5)
"Soft power arises in large part from our values. These values are expressed in our culture, in the policies we follow inside our country, and in the way we handle ourselves internationally". Joseph S. Nye Jr.
sexta-feira, fevereiro 01, 2013
Leituras (4)
"A situação social portuguesa é anti-cristã. As estruturas da economia nacional assentes na plutocracia e na formação de capital à custa do baixo nível de vida das classes trabalhadoras, representa um compromisso de êxito duvidoso entre as formas de expansão capitalista-industrial do século XIX e do dirigismo planificador do Estado moderno [..]. Já não há emigração mas sim um êxodo em massa. O homem português não tem presente e não acredita no futuro [...] Exigimos o direito ao diálogo. A presença do pensamento católico na vida portuguesa justifica-se por oito séculos de história [...]" - Panfleto escrito por Joaquim Pires de Lima, em nome do Movimento Cristão de Acção Democrática, em Agosto de 1965, citado por Filipe Ribeiro de Menezes, p. 604
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