O homem não era um santo, nunca o foi, bem pelo contrário. Não terá o background académico e profissional exigível a qualquer homem que se abalance a ser primeiro-ministro. E, apesar disso, depois de ter sido corrido da forma que foi, justa ou injustamente, o que ontem se viu na RTP1 foi uma lição de comunicação política.
Sócrates mantém os defeitos e as qualidades. Foi igual a si mesmo. E divertiu-se. Percebe-se agora melhor o temor que PSD e CDS/PP tinham em ver o homem a ser entrevistado no horário nobre da televisão pública.
O que ontem se viu foi de facto uma lição de comunicação política, provavelmente a primeira de várias que se seguirão, por parte de um político profissional que quis ajustar contas com o passado recente. Mas será que depois de tudo aquilo que o acusaram esperavam que o "animal feroz "viesse "mansinho"?
Não tenho saudades dele como primeiro-ministro, nem como líder do PS. Menos ainda de muitos dos que o rodeavam e que Seguro herdou no grupo parlamentar, nuns casos, ou que, noutros, acabou por colocar nos órgãos nacionais do seu partido. Porém, o que se viu deve ter chegado para muitos portugueses que assistiram ao descalabro dos últimos vinte meses compreenderem o grau de incapacidade política, incompetência comunicacional e má-fé de quem actualmente nos governa.
Espero que Passos Coelho, Gaspar, Santos Pereira e Miguel Relvas tenham visto, pois tiveram uma boa oportunidade de aprender alguma coisa sobre comunicação política.
Quanto ao Presidente da República, lamento dizê-lo, no seguimento da "esperteza" (não tem outro nome mas está ao nível daquilo a que ele nos habituou) do prefácio, da história das acções da SLN/BCP, das "andanças" de alguns assessores que foram por si protegidos, e da forma como não tem sabido gerir nem a crise nem os silêncios, teve o tratamento que merecia. Não foi bonito, pois não. Mas tendo-se colocado várias vezes a jeito, algum dia acabaria por levar como levou. Perderam-se algumas, mas a seu tempo virão.
Quanto ao mais, algumas coisas foram esclarecidas, os entrevistadores mostraram pouco à-vontade para contraditarem a avalanche de números e de factos, e o tempo de emissão pareceu-me excessivo.
De qualquer modo, valeu a pena. Depois de tantos meses a ouvir um líder de oposição com estratégia e estilo de seminarista, enquanto "o Relvas" se pavoneia e goza com a Grândola, já fazia falta alguém que desse uma bordoada "nessa gente". Pena que tenha tido que ser José Sócrates a fazê-lo. Os portugueses também não mereciam isso, embora hoje lhe devam estar agradecidos.
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