sexta-feira, março 25, 2011
terça-feira, março 22, 2011
ARTUR AGOSTINHO
domingo, março 20, 2011
sábado, março 19, 2011
DIÁRIO IRREGULAR
19 de Março
Dia do Pai. Quantos pais terão pai? E quantos terão filhos? E quantos não terão? A nossa sociedade tem dias para todos; menos para os que não conseguiram ser pais. E também para os que quiseram ser filhos e nunca conseguiram sê-lo por não encontrarem pai ou não lhes terem dado oportunidade para isso.
Pego na Ípsilon de ontem. Na capa vem uma mulher alourada de fato de treino vermelho e sapatilhas claras. Olho com mais atenção e vejo que é Catherine Deneuve, protagonista do mais recente filme de François Ozon (“Potiche”). Sempre tive horror à “cultura” do fato de treino. Porque há roupa para todas as ocasiões. Ninguém vai fazer jogging de fraque. Aquelas primeiras imagens da democratização do fato de treino, no pós-25 de Abril, marcaram-me para sempre. Eram famílias inteiras, ao sábado e ao domingo, passeando pela cidade, nos mercados, nas cervejarias, nos cinemas e nos cafés, mais tarde nos centros comerciais. Elas com ar desmazelado; eles barrigudos, de bigode, com o maço de SG, o isqueiro e os Ray Ban da Praça de Espanha. Alguns de sapatos. À frente deles os petizes de bola na mão. Todos de fato de treino. Famílias inteiras. Ao ver agora a diva na capa da Ípsilon, de fato treino, vieram-me à memória essas recordações. Só Deus sabe o quanto amei a Deneuve na minha adolescência. Também amei a Bisset, a Tuner, a Antonelli, a Kaprisky, a Fonda, a Muti, e mais umas quantas que até tenho vergonha de confessar. Mas estas eram mais do tipo “flirt”. Nunca foi como a Deneuve. Não há perdão. A Ípsilon devia ser multada. Uma simples imagem da Deneuve de fato de treino e está tudo estragado. Não se pode transformar impunemente uma deusa numa sopeira de fato de treino. Assim se destrói o sonho de uma vida.
Congresso do CDS, em Viseu. As eleições estão à porta. A ruptura com o PSD é, por agora, total. Nuno Melo fez um excelente discurso, mas no melhor pano cai a nódoa. Diz ele que “o País precisa do PS na oposição”. Foi pena Luís Nobre Guedes ter discursado depois dele. É que ele podia ter recordado a Nuno Melo que da última vez que o PS esteve na oposição o CDS e os seus compinchas do PSD deram cabo de dois Governos em três anos, menos do que o tempo de uma só legislatura, e que seis anos depois continua às voltas com os submarinos, com os sobreiros, com umas histórias por causa do seu próprio financiamento e com as chatices de Abel Pinheiro por causa de uns telefonemas. E ainda por cima, dada a rapidez com que o CDS saiu do Governo, ainda teve de aturar com um líder do PS escolhido à pressa para poder ir a votos, sendo certo que por causa disso temos hoje José Sócrates como primeiro-ministro. No lugar de Nuno Melo eu teria sido mais discreto, mais contido, e jamais me atreveria a pedir com aquela veemência o PS na oposição. E muito menos, como fizeram depois outros congressistas, a falar no estado da justiça, em clientelismo e nas nomeações para a CGD. À boa maneira estalinista, o CDS já apagou dos seus registos a “amiga” Celeste Cardona.
No final da manifestação da CGTP, a RTPN entrevista Jerónimo de Sousa. Começa-se a cantar o hino nacional. A entrevista continua. Ao lado dele um rapaz com o boné do Benfica na cabeça. Continuam a cantar o hino. A entrevista prossegue. Os chapéus não saem das cabeças. Há quem acompanhe o hino com punhos fechados. A entrevista avança. Acabam de cantar o hino. Batem palmas. A entrevista também chega ao fim. Antigamente os homens destapavam a cabeça quando se cantava o hino nacional. Lá fora, nos outros países por onde tenho passado, ainda é assim. Na Tunísia até me obrigaram a sair de dentro da piscina quando o hino começou a tocar no seu dia nacional. Em Portugal, o secretário-geral do PCP permite-se continuar uma entrevista no momento em que à sua volta se canta o hino nacional. Se fosse na ex-URSS ou em Cuba tinha ido dentro.
Leio no Expresso, numa interessante rubrica coordenada por Freitas do Amaral chamada “Países como Nós”, que o crescimento real do nosso PIB entre 2000 e 2009 foi de 5,3% e que o da República Checa foi de 33,6%. A CGTP, Mário Nogueira e Carvalho da Silva deviam ser capazes de explicar a diferença. Ganhando os checos muito menos do que nós a diferença na produtividade não deverá estar nos euros.
Um discursa como se tivesse chegado ontem ao poder. Pode falar verdade que ninguém acredita nele. O outro discursa como se nunca tivesse saído do poder. Pode não dizer uma verdade que todos o que escutam acreditam nele. Talvez por essa razão é que o primeiro tenta conter o descalabro e o segundo se prepara, de novo, para crescer eleitoralmente.
Não sei quem é que disse à Mãe que o António (não disse o nome próprio quando se referiu a ele; aliás nunca diz) “é capaz de vir a liderar o PS”. Nos seus oitenta e dois anos deve ter sido a primeira vez que a vi entusiasmada, apesar de disfarçar, com o que se passava num partido à esquerda do CDS/PP. Há pessoas para quem, depois do Santo António, por uma razão ou por outra, quando pensam no país só acreditam em milagres feitos pela família. Nunca hei-de perceber isto. Mas ela, como boa cristã e centrista, não se comove com as minhas perplexidades e já deve estar a pedir por ele. O Portas que não saiba. Deus podia perdoar-lhe, mas ao fim destes anos todos não acredito que o Portas lhe perdoasse. Há coisas que não se dizem. E muito menos se pensam. Quanto mais pedi-las ao Altíssimo.
[também no Delito de Opinião]
sexta-feira, março 18, 2011
sexta-feira, março 11, 2011
quinta-feira, março 10, 2011
TRANSPARÊNCIAS
quarta-feira, março 09, 2011
PALAVRAS TARDIAS TAMBÉM SÃO PALAVRAS TRISTES. E HIPÓCRITAS.
Jaime Gama ainda tentou atalhar ao que se seguiu, mas já não foi a tempo. Quis lembrar que o Presidente da República não é o Governo, nem o líder da oposição, e aconselhou uma "magistratura arbitral" e uma "cooperação tranquila". Era tarde. O discurso já estava escrito.
Num remake do seu discurso de vitória em 23 de Janeiro, Cavaco Silva mostrou que além de ser hoje um homem amargo e amargurado, numa perspectiva simpática, é um presidente sem memória. Palavras tardias são palavras fora do tempo, desenquadradas. Palavras sem memória. É mau que assim seja.
Lamento, mas depois de tudo o que se passou no último ano e meio do seu mandato, e da campanha que fez, era previsível que as coisas se passassem desta forma.
Apelar a medidas conjunturais de combate ao desemprego não custa se não se disser quais. Apelar aos jovens e a um sobressalto cívico depois de ter enxameado o país de universidades de vão de escada quando foi primeiro-ministro, instituindo a cultura do salve-se quem puder e se puder tente salvar-se à sombra de um partido com um diploma obtido sabe-se lá como, não é bonito. Falar em reformas depois de ter estado mais de uma década no poder como primeiro-ministro e após cinco anos em Belém, falhando as reformas de que o país nessa altura, como hoje, carecia, deixando-o envolto em sombras, escândalos e entregue aos BMW do bloco central dos interesses que geraram os BPN e BPP da nossa desgraça recente, para vir agora fazer um discurso como o que produziu, deixa antever o pior. Ignorar o que aconteceu em Wall Street, na Irlanda ou na Grécia, revela a existência de uma agenda própria. E falar em transparência do Estado e das instituições é de quem já se esqueceu do caso das escutas, da protecção aos amigos e da falta de esclarecimentos sobre os negócios em que andou metido com Oliveira e Costa e o clã da Coelha. Pagar impostos todos pagamos, mas nem todos o conseguem fazer pelas razões que ele o fez, mesmo que o quisessem.
A um longo silêncio seguiu-se uma ainda mais longa recriminação e a desculpabilização de toda a sua geração. Tanto tempo em silêncio para isto.
Na sua ancestral sabedoria Lao Tse dizia "sincere words are not elegant; elegant words are not sincere".
O discurso de posse do Presidente da República podia ter sido uma coisa ou outra. Mas não foi. O Presidente da República conseguiu ficar a meio caminho entre a verdade e a sinceridade, sendo sempre profundamente deselegante. Era a última coisa que os portugueses necessitava para enfrentar os tempos difíceis que atravessamos. Um Presidente desmemoriado e azedo a trocar os papéis só pode deixar os portugueses mais inquietos. E tristes.
segunda-feira, março 07, 2011
sábado, março 05, 2011
sexta-feira, março 04, 2011
CARNAVAL EM CASA
DIÁRIO IRREGULAR
4 de Março de 2011
Dentro de uma semana, e Vasco Pulido Valente recorda-o na sua crónica do Público, vai ter lugar uma manifestação, um desfile, talvez um happening, de uma autodenominada “geração à rasca”. Eu já me tinha apercebido de que vinha aí coisa grossa. No outro dia ouvi uns moços a apregoarem o evento no “Prós e Prós” de Fátima Campos Ferreira. Fiquei elucidado sobre a natureza do movimento e as motivações deles. Aquilo de que eles hoje se queixam já eu me queixava há 25 anos quando acabei o curso. À rasca viveram sempre todos os que não se tendo filiado em partidos, integrado nas organizações maçónicas ou religiosas ou não beneficiando de cunhas e compadrios vários, uns herdados da outra senhora, outros adquiridos com os vícios trazidos pela revolução de Abril ou transmitidos pelos papás que se safaram no pós-25 de Abril, acabaram por se fazer à vida. Alguns foram mesmo condenados à liberdade e ainda hoje vivem à rasca. Uns dias melhor, outros pior.
A nossa democracia trouxe liberdade, mais mobilidade social, permitiu uma melhor repartição da cultura e do conhecimento, nem sempre devidamente aproveitada pelos seus destinatários, mas continuou a menosprezar os que sempre viveram à rasca. E o problema não foi de parvoeira. Foi de seriedade.
A menina dos “Deolinda” sabe que é parva mas não apresenta alternativas. Limita-se a cantar, bate palmas, e agora, também, quer desfilar na Avenida. É compreensível. Esta manhã já vi desfilar os filhos das meninas e dos meninos dos “Deolinda”, os filhos da “geração à rasca”, todos de bibe e serpentinas. E os seus professores e educadores. A partir de amanhã e até terça-feira vamos ver desfilar os seus pais e avós por esse País de foliões de mau gosto em que nos tornámos. Uns de bigode farfalhudo, mamas postiças e saltos altos. Outros de fio dental e silicone. Depois virá o desfile da "geração à rasca", que será como que uma espécie de baile da Pinhata. O tempo é de Carnaval. A “geração à rasca” e a canção dos “Deolinda” coincidem no tempo.
Ontem, em Faro, ao final da tarde, houve um debate sobre corrupção promovido pelo Correio da Manhã. Os debates prosseguirão pelo País. A corrupção também.
Algumas vozes mais sensatas já perceberam que eleições neste momento não servirão para nada. O problema, como já muitos estudaram, não está na maior ou menor oportunidade da sua realização. Está no sistema político e no sistema eleitoral. Rui Rio marcou pontos apesar de ter confundido o regime com o sistema, mas todos perceberam o que quis dizer. O PS precisava de ter alguém que pudesse responder-lhe com a mesma desenvoltura. Se necessário, um dia, entender-se com ele e que entendesse a sua linguagem. Desenvoltura até há quem a tenha. Credibilidade é que é mais difícil. E ainda assim restará sempre o problema de com o PSD nem o Sporting ser capaz de se entender.
De Cavaco Silva é que não se vê a sombra. Desapareceu atrás da sua marquise numa manhã de nevoeiro. Dizem-me que está a preparar o discurso da tomada de posse. Faz muito bem. Até agora limitou-se, qual Benfica, a dar algum avanço aos mercados que nos andam a lixar. A partir de dia 9 acaba-se a brincadeira. Oxalá não apareça mascarado. E que saiba aproveitar essa oportunidade para referir os reflexos positivos que a sua reeleição já trouxe ao País. Há coisas que podem passar despercebidas. E devem ser lembradas amiúde. Os portugueses precisam de estímulos.
“Je ne compte pas mes emprunts, je les pèse”, escreveu nos seus Ensaios. E que bem que ele escreveu. Se os nossos políticos lessem Montaigne nunca teríamos chegado ao estado a que chegámos. Montaigne não sabia de nós. Teve sorte. Não conheceu Cavaco Silva, José Sócrates ou Passos Coelho. Ainda bem que assim foi. Foi poupado. Se os tivesse conhecido ou sabido da nossa existência teria desistido de pensar e de escrever. Seria gestor. Ou inspector do fisco.
[também no Delito de Opinião]