O último episódio com a chancela da DREN não teve origem na sua directora, mas provavelmente acabará por lá com um daqueles notáveis despachos que fazem as delícias dos sindicatos. Entre o que se passa na área sob jurisdição da DREN e o Entroncamento a diferença começa ser quase nula. O ensino, como se vê pelo edificante episódio de Espinho, é hoje uma coisa vagamente parecida com um happening, e as escolas, que é para onde a malta vai mostrar o piercing, o fio dental e as chanatas e, qualquer dia, também servirá para se ir buscar o imprescindível preservativo de sabor morango antes de se marchar para debaixo dos choupos, são um mero local de convívio e troca de opiniões entre ignaros. Não se espante, pois, ninguém ao saber que há professoras de História que em vez de falarem do João das Regras se dirigem aos alunos para falar de "linguados" e erecções nocturnas enquanto lhes anuncia que já têm "a folha feita". Eu diria, pelo tom inflamado e apego ao pormenor, que há ali uma certa lascívia envergonhada. O Miguel Esteves Cardoso (vulgo MEC), na sua coluna do Público, seguramente explicará isto melhor do que eu. As televisões vão incansavelmente repetindo, como é seu hábito, os ilustrativos e elevados monólogos, ignorando que a gravação e a sua divulgação constitui crime (cfr. artigo 199º, n.º 1, alíneas a) - quanto à gravação - e b) - quanto à divulgação, do Código Penal). Não creio que esta forma de fazer jornalismo sirva para alguma coisa, a não ser para espalhar e divulgar o lixo e dar a conhecer aos portugueses as virtudes da avaliação de professores. A edificante cena da escola secundária de Espinho teve o mérito de mostrar a validade e justeza do trabalho da ministra da Educação, uma mulher e professora que deve ter ficado chocada com o estilo peixeiral e o tom carroceiro daquela "educadora" e verdadeira "esposa" (esta vai direitinha para o meu amigo João Carvalho) dos tempos modernos. Admira-me é que a ERC e os sindicatos estejam tão silenciosos. Com todo o escarcéu que se fez entre ontem e hoje, era natural que a primeira se tivesse pronunciado sobre o trabalho das rádios e televisões sobre a matéria. E que os segundos, sempre lestos a reagir ao que a ministra diz, nos tivessem vindo esclarecer se essa professora já foi objecto de avaliação. Suponho que resida aí o interesse da gravação.