segunda-feira, fevereiro 16, 2009

SEM CONDIÇÕES

Quem, de forma tão determinada, afirmava não ter dúvidas sobre a reunião que mantivera com António Marta e relatou de forma tão circunstanciada o conteúdo do encontro em que, segundo o próprio, manifestou as suas preocupações sobre o que se estava a passar no BPN e na SLN, não pode agora vir dizer que não se lembrava de ter assinado os ruinosos contratos que o Expresso divulgou este sábado. Não é crível que não se lembrando Dias Loureiro de ter assinado nenhuma acta, simplesmente porque não havia actas e ele inclusivamente reparou nisso e foi queixar-se ao Banco de Portugal, se tenha entretanto esquecido dos contratos que assinou em nome do banco. Aliás, seria interessante, para se perceber até que ponto Dias Loureiro está a falar verdade, saber quantos contratos em nome do BPN e, em particular, quantos contratos de montantes tão elevados e com tanta repercussão nas contas do BPN foram por ele assinados durante os anos em que exerceu funções no banco e na SLN. Uma coisa é uma pessoa dizer que não se lembra dos factos, outra é lembrar-se perfeitamente para garantir que não assinou nada e que não tinha conhecimento do que se passava para depois, quando é confrontada com os documentos com a sua assinatura, vir dizer que não tinha um arquivo na memória e que "disse tudo o que era relevante". Esta última afirmação ao Correio da Manhã deixou-me deveras intrigado. Se actas não assinava, se não controlava a emissão de cheques e se os contratos que o Expresso revelou com a sua assinatura não eram relevantes, então o que seria relevante para Dias Loureiro na vida do banco e no exercício das funções que desempenhou? Tirar os extractos da sua conta? Ler as cotações no Financial Times? Assegurar a presença em torneios de golfe e outros eventos sociais? Dias Loureiro deixou de ter condições para permanecer no Conselho de Estado. O Presidente da República devia ajudar o seu conselheiro a ver as coisas com alguma distância e recomendar-lhe um médico para lhe tratar dos problemas de memória. Quem sabe, talvez o prof. Lobo Antunes. Os amigos não servem só para os bons momentos. É nos momentos difíceis que devem aparecer e todos sabemos que o doente é normalmente o último a reconhecer a necessidade do tratamento.