O facto de haver 230.000 funcionários públicos que correm o risco de não progredir na carreira devido à singela circunstância de não terem sido avaliados pela sua chefias, pode parecer um facto banal, mais um resultado da incúria e do desleixo em que este país caiu. Mas, infelizmente, é bem mais do que isso. O Sistema Integrado de Avaliação da Administração Pública (SIADAP) foi criado com um objectivo muito concreto, visando a melhoria da qualidade dos serviços prestados aos cidadãos e ao país, a elevação do nível e premiar o mérito e o esforço de cada funcionário. O Estado e as autarquias pagaram entre cerca de 6 a 10 mil euros por cada acção de formação, di-lo o Correio da Manhã, para que as chefias pudessem estar preparadas para avaliarem os seus subalternos quando fosse necessário. E o resultado qual é? Muitos chefes recusaram--se a avaliar os seus colaboradores. Independentemente das razões objectivas que alguns tenham, e alguns haverá que até as têm, a maior parte não cumpriu. E não foi por falta de tempo ou desconhecimento sobre o que fazem os seus colaboradores. Não cumpriram simplesmente porque neste país os chefes são genericamente incompetentes, têm medo de mandar, receiam os juízos dos inferiores hierárquicos e têm dificuldade em assumir as suas próprias responsabilidades. Chefe sim, mas só para receber o ordenado certinho ao final do mês. Esta mentalidade é fruto de uma cultura de serviço público inexistente e de uma maneira de estar atávica. Por isso, quando os sindicatos dizem que o SIADAP é um fracasso têm razão. Mas não pelas razões por que o afirmam. É que o problema não está no programa, está antes nas chefias. Muitos deste chefes já conheciam os seus colaboradores antes da entrada em vigor do SIADAP. E se antes os "avaliavam", distribuindo a classificação máxima por todos de forma indistinta, qual o motivo para agora não o fazerem? Mandar, chefiar, comandar, são funções que exigem capacidade de decisão, implicam escolhas, gente responsável e corajosa, não uns tipos medrosos e subservientes que despacham para baixo e para cima a torto e a direito, emitindo vistos de concordância e despachos "à consideração superior", fazendo seus de forma acrítica, rotineira e não fundamentada os argumentos das informações que lhe são submetidas, sendo que algumas de tão mal escritas nunca deviam passar de rascunhos. Se os juízes seguissem igual caminho, e não fossem por lei obrigados a decidir, ninguém neste país seria julgado. Por isso mesmo, seria bom que o Governo desse um sinal de força e determinação, cumprindo a lei, ou seja, promovendo a imediata cessação de funções dos que impedem a progressão na carreira de 230.000 funcionários. Estes poderão não progredir este ano, mas todos ficamos com a certeza de que da próxima vez eles serão avaliados, que o país se livrará de uma assentada de uma catrefada de gente que anda pelas autarquias e pela administração pública sem qualidade nem competência para dirigir, que foge da resolução dos problemas como o diabo da cruz e que são um verdadeiro empecilho, um mau exemplo e um cancro que impede o desenvolvimento deste país.
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