quinta-feira, setembro 04, 2008

NO DIÁRIO DE NOTICIAS OS MORTOS JÁ COMEM

É verdade, no Diário de Notícias (DN) os mortos comem o mesmo, ou mais, que os vivos. Se a errância fosse critério, o DN estaria hoje algures entre um boletim de paróquia e a revista Nova Gente. É certo que ainda há quem lá escreva coisas que se deixam ler, mas são cada vez menos. Tal como dizia há dias numa entrevista o popular Gabo (Gabriel Garcia Márquez), também eu leio todos os dias muitos jornais e revistas e me irrito com o mau jornalismo. Em causa já nem sequer estão pequenos erros (leia-se a notícia sobre Paulo Pedroso e a oposição criada entre o Acórdão da Relação e a sentença agora proferida, dizendo-se que esta vai "de encontro" ao outro, quando se quer dizer exactamente o contrário), mas verdadeiros tombos que me fazem duvidar que o jornal tenha um editor. As fotografias coloridas do putedo (não tenhamos medo das palavras) até seria o menos se o resto do jornal tivesse algum interesee. Acontece que hoje o DN já só vale mesmo pelas senhas da BP e pelos livros que oferece. Ontem, o jornal deu mais uma forte machadada na sua credibilidade. Numa notícia assinada por Henrique Botequilha, Hortêncio Sebastião e Nisa Mendes, todos jornalistas da Lusa, a propósito das eleições angolanas e com o título "O 'Passeio' que sonha ser Adélia", é possível ler, a abrir o texto, que "António 'Passeio' tem sete filhos vivos e dois mortos. Vive com 150 dólares...". Logo depois, mais à frente, somos esclarecidos de que o tal António "pai de nove filhos, dois dos quais falecidos, chegou a partilhar a casa com as suas duas mulheres, mas uma delas morreu há sete anos", o que me levou a concluir que a outra mulher lá continuava a viver. Mas eis que nos é dito, alguns parágrafos à frente, na mesma notícia (página 27), que o tal António aufere um salário de 12 mil cuanzas, que "adicionados aos rendimentos de um anexo da sua casa que alugou, a par de alguns produtos agrícolas que produz na sua pequena lavra, garante o sustento dos nove filhos, quatro dos quais rapazes, e do único neto que tem". Como se vê, a vida deste António é bem mais difícil do que reza a notícia. É que não basta alimentar os sete filhos vivos. Os dois filhos mortos também têm as suas necessidades. O DN lá saberá porquê.

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