sexta-feira, janeiro 04, 2008

O CAMARADA FERRO RODRIGUES

O camarada Ferro Rodrigues é militante (ainda é?), foi dirigente do PS, deputado e ministro da República. Também quis ser primeiro-ministro. Por força de acontecimentos que não dominava não conseguiu e foi preterido por Pedro Santana Lopes. Depois, contra a sua vontade, por obra e graça de caluniadores, viu-se envolvido no processo Casa Pia. Defendeu a sua honra e o seu bom nome como pôde. Foi ilibado de todas as acusações. O PS nunca lhe regateou apoios. Ele queria mais. O partido foi arrastado pelas ruas da amargura com as intervenções à flor da pele do seu secretário-geral. Todos ficaram salpicados. No fim, o camarada Ferro Rodrigues teve direito a uma prateleira dourada, em Paris, tornou-se entretanto embaixador, passando a poder frequentar sem a preocupação dos aviões ou dos hotéis os perfumados salões da burguesia, participar em eventos sociais, comprar bons livros, assistir a espectáculos magníficos, viver uma vida boa longe das agruras que enfrentam os seus camaradas e os portugueses que dentro do país travam o combate de lutar por um país melhor. O camarada Ferro Rodrigues podia e devia ter feito mais e melhor. Dirá que deu o que pôde, é certo, mas também ninguém lhe exigiu mais. E isso devia ter sido o suficiente para que ele tivesse um pouco de contenção. Não percebi, por isso mesmo, se ele desejou dar a entrevista à Visão ou se procurou evitá-la. De qualquer modo, sei bem que quando se está confortavelmente instalado em Paris tudo se torna mais fácil. Em especial falar em sacríficios. Tudo se torna mais distante, mais longínquo, mais etéreo. O camarada Ferro Rodrigues já sabia que Paris era uma festa. Agora tem a certeza. Vir lembrá-lo a quem cá ficou é que era escusado. Quem fica tem sempre memória.

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