Ainda não passaram algumas horas sobre a decisão da organização do Lisboa/Dakar de cancelar a prova deste ano, e já os autarcas de Portimão e de Benavente vieram reclamar ser indemnizados pelos prejuízos sofridos com a organização do evento cancelado. O primeiro foi mesmo ao ponto de dizer que a decisão foi um erro, não pela presença ou ausência de riscos para os participantes que iriam atravessar a Mauritânia, mas pelos prejuízos que a sua autarquia e a região algarvia sofrerão com o cancelamento. Independentemente do folclore que estes eventos sempre proporcionam, e da visibilidade que conferem a alguns pacóvios sempre sedentos dos seus cinco minutos de fama, aos quais nos vamos dificilmente habituando, não deixa de ser lamentável e ridículo o tipo de preocupações manifestado pelos senhores autarcas. Desconhece-se que informações tem o edil de Portimão para dizer que a anulação da prova é um erro, mas seguramente que não diria o mesmo se a prova viesse a ser cancelada 4 ou 5 dias depois da partida. Nessa altura, o problema já não seria de Portimão, nem de Benavente, nem das outras autarquias envolvidas. Os marroquinos que ficassem com o prejuízo. Lamentariam o desfecho é certo, mas é sempre mais fácil lamentar quando se tem os bolsos cheios e os mortos morrem longe. Pela sua parte os autarcas portugueses já estariam reembolsados. Esquecem os senhores autarcas que contratualizaram com a organização o apoio à prova, que esse apoio implica, como qualquer negócio, os riscos a ele inerentes e que quem assume os riscos do negócios é natural que depois também daí retire os proventos, ou os prejuízos, se os houver. Ao longo dos anos o Daker tem passado por inúmeras vicissitudes conducentes à anulação de etapas e à alteração de percursos. Querer ignorar isso para agora retirar dividendos políticos e económicos para as respectivas regiões, sem curar dos riscos envolvidos, designadamente em vidas humanas, denota umbiguismo, falta de sentido das responsabilidades e desprezo pela segurança e a vida de terceiros. E se é certo que já se perderam muitas vidas no Dakar, inerentes aos riscos da própria competição, mandaria o mais elementar bom senso que os autarcas de Portimão e de Benavente, em especial o primeiro, fossem mais comedidos nas afirmações. Ninguém acredita que o cancelamento tivesse sido decidido de ânimo leve. A organização também tem os seus prejuízos. E havendo seguros não se vê a razão de tanta preocupação. Ou será que Portimão quis poupar nos advogados e nos prémios dos seguros quando negociou com João Lagos? Queriam o Lisboa/Dakar? Pois aí têm! Como diziam os latinos, "ubi commoda, ibi incommoda", ou seja, quem recebe as vantagens também deve arcar com as desvantagens. Convém recordá-lo aos senhores autarcas antes que venham pedinchar ao Governo o pagamento de compensações pelo cancelamento da prova.
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