quinta-feira, dezembro 13, 2007

O QUE ANTES FOI ESCRITO

"O problema do 'futebol' que atravessou a campanha no Porto foi tudo menos uma questão de futebol: foi uma questão de poder político, nua e crua e até exemplar e reveladora dessa nudez e crueza. Em nenhum sítio do país o mesmo se passou. (...) A questão no Porto era pura e simplesmente a de se saber quem mandava na cidade, se o poder político legitimamente eleito, se um conjunto de poderes fácticos, que incluía os derrotados das últimas eleições autárquicas e o establishment que durante mais de dez anos se criou à sua volta. Esse establishment abrangia dirigentes desportivos como o Sr. Pinto da Costa, interesses imobiliários poderosos, uma corte de agentes culturais, jornalistas e jornais e um conjunto de 'personalidades' que apareciam a falar pelo Porto e que, por singular coincidência, eram, todas apoiantes de Fernando Gomes.(...) O Sr. Pinto da Costa é um demagogo populista típico, pouco educado, que fala alto e grosso, gosta de intimidar e ameaçar os seus adversários, faz ultimatos e chantagens. (...) O poder vem de não ter pejo de usar o Futebol Clube do Porto para obter poder político e benesses excessivas, para o clube sem dúvida, mas também para os seus amigos politicos. (...)Passou [Pinto da Costa] todo o tempo a fazer pronunciamentos políticos explícitos, muitos dos quais em prime time televisivo (...). Fê-lo no limite do que é admissível em democracia. Já se tinham passado as cenas em que uns valentões dos Super Dragões agrediam em matilha comerciantes idosos e senhoras numa contramanifestação a que as autoridades policiais fecharam todos os olhos. Depois começou por atacar de forma descabelada Rui Rio, a quem chamou entre outras coisas de 'Hitler', enquanto nas ruas os Super Dragões o chamavam de 'esgoto'. No entanto, apesar disso, muitos senhores finos da politica não desdenhavam a companhia dos ditos Dragões. Instigou um clima de insulto e violência. A maneira como comentou a tentativa de agressão que ocorrera contra mim - e eu sou a última pessoa que gosta de ser vítima, mas também não tenho feitio para alimentar a impunidade reinante - era em si mesma um apelo à violência. Os sites da Internet, mostrando bem que o acesso a novas tecnologias não altera a cabeça dos Dragões pós-modernos, enchiam a rede de hate mail, ecoando o Sr. Pinto da Costa e os amáveis Super Dragões, com o pedido para que da próxima vez fossem mais eficazes e agredissem mesmo." - José Pacheco Pereira, in O Paradoxo do Ornitorrinco

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