Moro numa terra que gosta de carnavais, em que homens muito machos e de bigode se mascaram de mulher, pintam os lábios e usam saltos altos. Em que as ruas são fechadas temporariamente num dia útil para as crianças das escolas poderem marchar e em que mulheres feias, roliças e cheias de celulite imitam as esculturais cariocas, dançando desajeitadamente pelas ruas fora com um fio dental enfiado no rabo e o buço mal aparado. Não gosto de carnavais ao jeito brasileiro e fora do Brasil. Mas aprecio o humor fino e requintado de um sul-americano chamado Adolfo Bioy Casares. Talvez por ele e outros como ele, eu prefiro a Argentina ao Brasil, a Patagónia ao Nordeste, o Mar del Plata à Baía de Guanabara, prefiro o tango ao samba e as pernas longas de uma mulher argentina à bunda carioca. Por isso mesmo também, e uma vez que o Carnaval é para mim mais um período de reflexão e de visita a alguns amigos como eu do que um momento de desbunda parola, vou continuar a deliciar-me com as páginas do "Diário da Guerra aos Porcos". O livro que, se outros méritos não tivesse, foi Prémio Cervantes. Para quem não conhece o autor referirei apenas que de Casares disse Borges, pessoa que não era de elogios, ser ele "um dos maiores escritores da América Latina". Eu assino por baixo, acrescento "e do Mundo" e congratulo-me por em Portugal, país de floribelas, ainda haver uma editora como a Cavalo de Ferro que arrisca editar Bioy Casares.
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