Durante anos habituei-me a ouvir Kung Hei Fat Choi, no melhor cantonense, de cada vez que se entrava num novo ano do zodíaco chinês. Este fim-de-semana vai entrar o Ano do Porco. E este é um porco de ouro, o que só acontece uma vez em cada ciclo de 60 anos. Dizem os entendidos que vai ser um ano auspicioso. O porco é para mim um animal simpático e não é só por apreciar um bom leitão ou um bom presunto. É por sentir que eles são particularmente sensíveis, animados e sociáveis. E, em especial, depois do "Triunfo dos Porcos" passei a encará-los com outra atitude. São cada vez mais os porcos que triunfam e eu, embora seja um solitário tigre, não me posso deixar de associar a esses triunfos. Na China, desde que Deng levou à letra os ensinamentos do velho Mao e pôs os gatos a caçar, os porcos foram engordando. Tanto que nem mesmo após Tianamen eles passaram a fazer dieta. O mesmo se passa por cá. É vê-los barrigudos e anafados a arfarem nas conferências de imprensa, pondo ordem nos árbitros e nos negócios da bola, dando entrevistas de pijama, bebendo os melhores maltes, fumando charuto e ajeitando o capachinho enquanto bebem café com leite e comem a melhor fruta do mercado. Hoje em dia, neste país de brandos costumes, que o O´Neill e o Cardoso Pires tão bem retrataram, não há agremiação ou negócio que não tenha um porco bem colocado, em lugar visível e proeminente. E se antigamente esperavam que lhes atirassem com os restos, agora chegam-se à frente e só querem do bom e do melhor. Cultivaram e requintaram os gostos. A educação ficou para trás, mas essa não deu trabalho ou alimento. A maior parte das pessoas não imagina que o triunfo de um porco é o triunfo de todo um savor faire. É o reconhecimento por fim. Por tudo isso não posso deixar de acolher a chegada do novo Ano Lunar do Porco Dourado com um misto de alegria e de esperança. Alegria por senti-lo aqui tão perto, esperança por ter a certeza de que a colheita vai ser farta e que vou levar o ano a vê-los correr daqui para ali, petiscando aqui e ali com o Minsitério Público atrás deles para não os deixar sujar as partes limpas da pocilga. E não podendo ser um ano farto para todos, que também não fica bem pedir demais, ao menos que sobre um leitãozinho para mim. Pois se eu até gosto de porcos...
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