sexta-feira, outubro 06, 2006

APLAUSO


Não o conheço de lado nenhum. Nunca falei com ele. Eu não sou do CDS. Não temos a mesma idade nem frequentamos os mesmos círculos. Temos em comum apenas o facto de sermos ambos advogados e de Cascais (por mais anos que passem e por mais longe que esteja nunca deixarei de pertencer a essa terra de adopção) . Todavia, isso não tem qualquer interesse.

O que importa frisar é que sendo ele quem é, tendo a vida profissional que se lhe conhece (e quem anda na advocacia a sério sabe disso) e o passado que tem no CDS/PP, incluindo no Governo do “defunto” Santana Lopes, Luís Nobre Guedes não perdeu nem as convicções nem a verticalidade.

A entrevista que Luís Nobre Guedes deu a Judite de Sousa foi verdadeiro serviço público que ambos e a RTP prestaram ao país.

Nobre Guedes é um homem sério. É um homem decente. É um homem frontal. É um homem vertical.

Reconhecer isso não me obriga a partilhar as suas convicções, a aplaudir-lhe as ideias ou as suas manifestações públicas em relação ao aborto.

E apesar de poder nutrir alguma simpatia por aquilo que ele disse em relação ao Governo do eng.º Sócrates (“Nós temos um bom Governo” ou “Quando se tem um bom Governo só tem de se actuar em conformidade, reconhecer os méritos”), há, porém, uma coisa que não posso deixar de aplaudir. De pé de preferência. É, para além da sua educação e temperança, a sua enorme clarividência.

A sua tentativa de querer acabar com a fulanização, num partido que deu campelos e avelinos em barda, de querer abrir o partido à sociedade, reposicionando-o no espaço político nacional, de querer ser simpático para com Ribeiro e Castro, pode não levar a lado algum. Até pode ser que ele consiga chegar à liderança do partido e o volte a colocar dentro de um táxi a caminho de São Bento. Mas nada disso é importante quando se é confrontado com a dimensão política do homem. Com o seu sentido táctico e estratégico. O seu sentido de cidadania chega a assumir, num partido como o CDS, que tem na bancada parlamentar Nuno Melo e João Almeida, foros shakespearianos, uma dimensão trágica.

Só que como português e amante da política, no sentido nobre da palavra, também tenho que confessar que é por aí que passa a cidadania. Mas que seria dele sem a dimensão abissal da sua clarividência? Como dizia o Lobo Xavier “as pessoas sérias não gostam de vender ilusões”. Portugal precisa de gente assim. Precisa de políticos assim. E os partidos que não perceberem isto não percebem nada de política.

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