"Que futuro pode ter uma sociedade sem esperança e sem poesia? Uma sociedade em que a esperança se reduziu progressivamente à mera sobrevivência individual e cujos valores se personificam em modelos como Silvester Stallone ou Madonna? Vejo a sanha com que os nossos líderes políticos e os "pivots" dos telejornais espezinham furiosamente os restos da tragédia em que descambou a utopia comunista e pergunto-me se, neles, nesses terríveis destroços, eles odeiam os crimes do socialismo real (o maior dos quais terá sido, provavelmente, o da traição à utopia igualitária) ou se não é, antes, a própria ideia de utopia e de esperança que, incapazes de compreender, eles sobretudo odeiam e perseguem. (...)
Em Portugal, a metástase cavaquista do fenómeno contamina até hoje os que, pessoas e partidos, aparentemdente deviam estar do outro lado. O "fim das ideologias" e o "fim da História" são saudados euforicamente por quase todos e os raros que persistem em alguma forma de fidelidade ou de fé são olhados despeitadamente de viés como sobreviventes dinossáuricos.", JN, 07/10/1992
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