terça-feira, janeiro 15, 2013

In memoriam


Soube há pouco da partida do João Carvalho, graças a uma nota da Leonor Barros e a mais um excelente texto do Pedro Correia.
Quando um amigo se vai embora, como refere o Pedro, há muito pouco para dizer. Mas eu, que tive a sorte de conhecer o João Carvalho e de disfrutar da sua companhia, não podia neste momento ficar calado e guardar em silêncio décadas de amizade, de boa convivência e camaradagem.
Conheci-o graças aos gosto pelos jornais e à circunstância de termos amigos comuns. Durante algum tempo reuníamos regularmente em animados jantares em casa da N. e do J., onde falávamos de política, de cultura, de cinema, de viagens, de motas e de carros clássicos, enfim, de tudo um pouco.
Depois, quando regressei a Portugal, soube que ele estava no STJ e acompanhava o saudoso Aragão Seia. Mais tarde voou para os Açores onde foi exercer funções no gabinete do Ministro da República, mas apesar da distância retomámos o contacto. Encontrámo-nos algumas vezes. Poucas para aquelas que seriam desejáveis, sendo que a última vez que estive com ele foi num jantar do Delito de Opinião, no Museu do Oriente. Mas íamos comunicando via e-mail, sms e telefone.
Quando fui a Braga tive notícia de que ele estaria em Gaia e quis visitá-lo antes de regressar a Lisboa. Em vão. O João já estava de volta aos Açores e ao seu posto.
Na dolorosa hora em que tomei a decisão de deixar de escrever no Delito de Opinião foi com o João com quem falei. Ele compreendeu as minhas razões. E registou-as.
Quaisquer que fossem as circunstâncias, o João era sempre um interlocutor à altura. Pelo seu saber, pela sua educação, pela sua boa disposição, pela sua frontalidade, pela amizade que colocava em cada gesto, e, acima de tudo, por um inestimável sentido da vida e uma lucidez desarmante.
Gostava de ter podido rever o João, mas não quis a vida proporcionar-me mais esse momento de convívio, nem que o pudessemos continuar a ler com gosto. 
Sei que um dia vou encontrar o João. Como sei que o mesmo acontecerá com muitos outros amigos que nos foram deixando ao longo do caminho que diariamente percorremos. E também sei que só nessa altura vou poder dizer as palavras que a escrita não consente. Mas até lá, até esse dia, não poderia ficar a dever mais estas palavras ao João, tendo como tenho a certeza de que os meus textos não deixarão de ser revistos e as minhas gralhas continuarão a ser assinaladas por ele com a boa disposição de sempre. Ainda que as correcções já não venham com um sms a avisar.  

P.S. João, penso que o Alfa da fotografia era aquele que tu querias ter.     

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